quinta-feira, 7 de julho de 2011

5 anos sem Syd Barrett?



Ainda lembro daquela manhã da sexta-feira, dia 07 de julho de 2006. Em um frio de ranguear cusco, me acordei e fui direto para o PC acompanhar os downloads que o antigo winmx havia feito para mim. Na época, eu ainda morava com o meu irmão Micael, e tínhamos a mania de acessar essa espécie de e-mule para fazer downloads de diversos discos e vídeos que jamais teríamos acesso se não fosse a bendita internet criado pelo CERN lá nos anos 90.

Pois eis que abro a página de um tradicional jornal local e me deparo com a notícia: "Líder do Pink Floyd morre em Cambridge". Como assim? David Gilmour? Ou Roger Waters? Claro, o sono e o frio do amanhecer não me fizeram racionar, e somente quando abri a notícia é que estava lá: o líder era Syd Barrett.

Mason, Waters, Wright e Barrett
Confesso que na hora não entendi, e até hoje não entendo a notícia. Deixe-me explicar. Guitarrista, vocalista, principal letrista, fundador e autor do nome de uma das maiores bandas do rock progressivo mundial, Syd Barrett veio ao mundo em 06 de janeiro de 1946, e com apenas 19 anos, fundou o Pink Floyd, ao lado do citado Roger Waters (baixo, voz). Contando com a companhia de Nick Mason (bateria) e Rick Wright (teclados, voz), o grupo lançou em 1967, logo na sua estreia, um álbum que mudou a história do rock para sempre.

The Piper at the Gates of Dawn mostrou aos americanos (e ao mundo) que os ingleses também estavam absorvendo a cultura LSD, e além disso, estavam empregando as viagens alucinógenas para criar canções delirantes e incrivelmente sem sentido para um 'careta', mas que abriam um novo mundo para um cara que já tivesse 'andado por outros mundos'.

Canções como "Pow R. Toc H.", "The Gnome" "Bike" e as essenciais "Astronomy Domine" e "Interstellar Overdrive" são aulas de experimentalismo, chapação e psicodelia, carregando em teclados viajantes, notas perdidas e vocalizações mais que estranhas, fundamentais para influenciar diversas bandas com o passar dos anos, que aperfeiçoaram essa psicodelia e transformaram-na no rock progressivo que conhecemos hoje em dia.

Fundamental estreia do Pink Floyd
Obviamente, a mente de Syd Barrett, criadora de toda essa parafernália sonora, não podia ser uma mente sã, e creio que 99% das canções compostas por ele saíram em um momento de extrema viagem no LSD. O consumo pesado da droga afetou diretamente o cérebro do músico, que em uma escala muito veloz, acabou deteriorando sua vida. Em uma questão de semanas após o lançamento de The Piper at the Gates of Dawn, Barrett já não era mais o mesmo.

Mal conseguindo ficar em pé nos shows, quieto durante as entrevistas e perdido em uma viagem única, Barrett acabou sendo demitido do Pink Floyd, substituído por David Gilmour, e assim, o Pink Floyd ganhava uma sonoridade mais amena para seu lado psicodélico, que o levou ao topo das maiores bandas de rock progressivo (a frente de Yes, King Crimson, Genesis, Emerson Lake & Palmer, ...). A última participação de Barrett com o Pink Floyd foi no álbum A Sacerful of Secrets, na canção "Set the Controls for the Heart of the Sun".

O enlouquecido Madcap Laughs

Com a ajuda dos amigos, o guitarrista ainda conseguiu registrar dois LPs: o incrível Madcap Laughs (ouça "Terrapin" e depois dos arrepios, duvido que você não fique uma semana pensando: "como ele gravou isso?"), lançado em 1970, e Barrett, esse não tão bom, lançado também em 1970. Depois, literalmente sumiu do mapa. 

Syd Barrett visitando o Pink Floyd em 1975
Sumiu mesmo, ninguém sabia do seu paradeiro. Até que durante as gravações do álbum Wish You Were Here (lançado pelo Pink Floyd em 1975), que curiosamente homenageia o guitarrista, ele apareceu nos estúdios onde o Pink Floyd registrava o LP, totalmente diferente do que os seus ex-companheiros de banda o conhecia. Gordo, careca e ainda com seu estilo quieto, passou despercebido por David Gilmour e Nick Mason, sendo reconhecido apenas por Waters, que ao ver as grossas sobrancelhas do amigo, lhe deu um emocionado abraço.

Sessão de fotos de Madcap Laughs
"Shine On You Crazy Diamond", canção que ocupa boa parte de Wish You Were Here, é uma das mais emocionantes canções já gravadas por um grupo em homenagem à um ex-membro, que expressa todo o sentimento que os membros do Pink Floyd sentiam pela ausência do amigo Syd Barrett, mesmo ele estando vivo.

E aí que está o problema de eu não entender a tal morte de Syd Barrett, e da interrogação no título desse post.  Ele realmente faleceu em 07 de julho de 2006? Bom, eu honestamente não creio. O legado deixado por ele, mesmo tendo gravado apenas três discos, e recebido diversas coletâneas com material inédito, como Opel (1988) e Crazy Diamond (1993), permanece correndo pelas ruas e becos de todo planeta através de jovens que nem se quer conhecem a história de Barrett, mas que por exemplo, ao ouvirem bandas como Radiohead, Oasis, White Stripes entre outros, de uma forma ou de outra recebem a dose psicodélica do suor com LSD que Barrett expeliu durante as gravações de The Piper at the Gates of Dawn.

Syd Barrett e seu sorriso sombrio

Ainda, particularmente, não são poucas as vezes em que, nas minhas 'viagens alcoólicas' no meu quarto escuro, ouvindo algum disco mais delirante, Barrett sentou-se do meu lado e começou a conversar comigo. Por que disso, fácil. Barrett simplesmente vive na minha mente dia e noite, e sempre que aparece algo mais viajante para fazer, com um sorriso sombrio, sobrancelhas grossas e o olhar longe no infinito, vem compartilhar suas cores caleidoscópicas com a minha viagem.

Sessão de fotos de Madcap Laughs
Hoje, 07 de julho de 2011, está o mesmo frio que há cinco anos atrás (3 graus pela manhã). Certamente, durante a noite, o PULSE ou o Atom Heart Mother irão rolar na vitrola, e obviamente The Piper at the Gates of Dawn irá encerrar a noite, acompanhado de um Johnny Walker 12 anos e alguns pedaços de salame com queijo. Barrett deve aparecer, e essa noite, eu vou dizer para ele: "You are still shining on, Crazy Diamond!".

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