- Carcass: Ken Owen, Michael Amott, Bill Steer e Jeff Walker
Por Diogo Bizotto
Com Alissön Caetano Neves, André Kaminski, Bernardo Brum, Bruno Marise, Davi Pascale, Eudes Baima, Fernando Bueno, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo
Participação especial de Thiago Vakka, editor do All My Stuff
Em edições anteriores, o metal mais extremo mereceu algumas citações, vide Morbid Angel em 1989 e Death em 1991. Desta vez, porém, o destaque é muito maior. Além do Death marcar presença novamente, o Carcass não apenas faz sua estreia, como assume a posição mais alta com o paradigmático
Heartwork, para júbilo de alguns e desprezo de outros. Aliás, o que não falta são opiniões díspares avaliando vários dos discos aqui presentes, especialmente porque estão aqui compilados álbuns de estilos que angariam detratores na mesma intensidade que arrebanham admiradores. Ficou curioso? Então confira, avalie e deixe sua impressão. Lembrando sempre que nossa listagem final, baseada nas individuais, segue o
sistema de pontuação do campeonato mundial de Fórmula 1.
Carcass - Heartwork (72 pontos)
Alissön: Surpreendente essa primeira colocação, tendo em vista o gosto pessoal da maioria dos consultores. Falar da crescente evolutiva do Carcass já é chover no molhado, e Heartwork não deixa pedra sobre pedra, dando start no death metal melódico, terceiro gênero da música extrema criado pelos ingleses. Também é bem surpreendente quão popular o disco foi em sua época, tendo singles sendo executados na MTV e fazendo escola mundo afora, com inúmeras bandas seguindo o mesmo caminho, para o bem ou para o mal, mas aí já é conversa pra outra matéria.
André: Confesso que nunca dei tanto valor ao Carcass quanto dei ao Arch Enemy (a outra banda de Michael Amott). E agora vejo que andei perdendo muita coisa. Os riffs são pesados, há uma boa dose de solos de guitarra melódicos e os guturais de Jeff Walker são bem legais. Gostei principalmente de “Buried Dreams”, “No Love Lost” e “This Is Your Life”. Apesar do melodic death metal ter surgido em Gotemburgo, na Suécia, dá para se dizer que esses britânicos acabaram roubando a cena naquela época.
Bernardo: Gosto bastante dos riffs, mas, no geral, o resultado não me marcou muito.
Bruno: Se existisse um hall da fama do death metal, o Carcass com certeza estaria nele. Apesar de uma discografia relativamente curta considerando o tempo de carreira, a qualidade do material é tão alta que deixa pra trás muita banda prolífica do gênero. Após as desgraceiras grind do início de carreira, os ingleses deram um belo passo em frente com Necroticism: Descanting the Insalubrious (1991), que traz canções mais elaboradas e um instrumental construído com maior esmero. Em Heartwork, a evolução é ainda mais perceptível. Michael Amott já havia saído quando o álbum foi lançado, mas não antes de contribuir com um ótimo trabalho de guitarra, criando linhas surpreendentemente melódicas ao lado de Bill Steer, algo até então inédito dentro do gênero. Bill Steer que, aliás, é um guitarrista criminosamente subestimado. Grande responsável pela massa sonora do Carcass, colaborando aqui com riffs mais intrincados e dando prioridade à construção estrutural de cada composição ao invés da pancadaria pura e simples. As letras gore também saem de linha, dando lugar a temas mais sérios e introspectivos, o que dá uma credibilidade extra aos caras. Apesar de já esperar que Heartwork figurasse nesta lista, foi uma grande surpresa vê-lo em primeiro lugar. Uma vitória simbólica que prova o quanto o heavy metal evoluiu durante a década de 1990, ao contrário do que alguns detratores birrentos gostam de afirmar por aí.
Davi: Álbum muito bem gravado. Instrumental fantástico. Vocal insuportável. Tarefa difícil conseguir chegar no fim do disco.
Diogo: Não vai faltar pessoas dizendo exatamente o contrário, mas poucas vezes nesta série se fez tanta justiça ao elencar um álbum na primeira posição quanto nesta edição. Meu favorito em 1993, por alguns fios de cabelo, é Individual Thought Patterns, mas Heartwork, além de ser um disco fenomenal, gestou mais uma pequena revolução musical no metal extremo através de seu soberbo tracklist. Necroticism: Descanting the Insalubrious já havia injetado boas doses de melodia em seu death metal que já havia feito a metamorfose do grind inicial para algo bem mais trabalhado, mas em Heartwork a evolução foi muito mais evidente. Além do crescimento técnico a todo vapor, as músicas ganharam mais foco e concisão, resumindo em cerca de quatro minutos cada a exponencial de inspiração que a banda estava vivenciando. Bill Steer, em especial, mostra-se uma máquina de riffs certeiros e um dos grandes compositores do metal extremo, acompanhado em alguns casos do seu companheiro de seis cordas, Michael Amott. A Suécia pode ter se tornado uma espécie de Meca do death metal melódico, mas foi pelas mãos de uma banda inglesa que esse subestilo se cristalizou, através de faixas fenomenais como "Buried Dreams", "Embodiment" e "Arbeit Macht Fleisch", equilibrando extremismo e tradicionalismo como em pouquíssimos momentos na história do heavy metal. Isso sem falar em "No Love Lost", que chega a ter cara de hit, e na faixa-título, uma das melhores canções da década.
Eudes: Só conhecia de nome. Tentei ouvir agora por dever de oficio, mas confesso que não passei da segunda faixa. Melhor não me posicionar sobre coisas que não compreendo.
Fernando: Eu sempre tenho receio de ficar me repetindo, mas death metal nunca foi meu forte. Apenas de um tempo para cá tenho tido mais contato, mesmo assim sem o mesmo entusiasmo que tenho com algumas bandas de black metal, por exemplo. Ouvi Heartwork recentemente depois de ouvir bastante o mais recente, Surgical Steel (2013), e sei que os fãs vão querer me trucidar valendo-se de alguma maneira descrita em alguma letra da banda, mas prefiro esse último.
Leonardo: Um dos melhores discos de metal extremo da história. Rápido, pesado e ríspido, mas extremamente melódico e marcante. Os riffs e solos dos guitarristas Bill Steer e Michael Amott se fundem com perfeição aos vocais rasgados do também baixista Jeff Walker e às levadas insanas da bateria de Ken Owen. E a produção de Colin Richardson é soberba, clara, pesada e sem perder uma gota da violência contida nas composições. Em resumo, um dos discos que definiu os rumos do metal extremo nas décadas seguintes.
Mairon: Hahahahahaha, HAUHAUHAUHAUAU, KKKKKKKKKKKKKKKKK. Qualquer risada para mostrar a indignação de ver uma piada como esta em primeiro lugar na lista de melhores de 1993. Aturar os 40 e poucos minutos de um vocal gutural irritante como esse não é mais para mim. Ok, ok, eu gostei de Carcass um dia, e considero
Reek of Putrefaction (1988) um disco seminal e inigualável, mas colocar
Heartwork no topo de um ano com
Coverdale/Page,
Fate of Nations (Robert Plant),
Zooropa (U2),
Counterparts e
Vs. (Pearl Jam) é muito
zveitismo. Resumindo a ópera: o grupo mudou as letras de podridão e e sangue para todo lado com temas de problemas sociais, e o som ficou mais "trabalhado". A faixa-título e "Blind Bleeding the Blind" (ainda não acredito que é a mesma banda que gravou "Suppuration" e "Foeticide") são as principais provas de fogo do álbum, fazendo com que os fãs antigos torcessem o nariz e conquistando um novo mercado. Uma boa merda no fim das contas (fede, mas não fede tanto). Primeiro lugar? Fala sério...
Thiago: Talvez este seja meu disco preferido do Carcass, não pela qualidade das músicas, afinal, musicalmente, meu preferido é Symphonies of Sickness (1989), mas ele foi o primeiro disco de death metal que comprei na vida, aos 13 anos de idade, tudo por conta do clipe de "No Love Lost", que passou no Fúria Metal e ver aquilo foi um típico life changing event. Amo cada nota deste play, as dobras. Bill Steer sempre genial. O disco não tem os guturais excepcionais que ele fazia nos anteriores, mas o vocal marcante de Jeff Walker sozinho torna tudo icônico por si só.
Ulisses: Ótimo trabalho de guitarras e uma grande seção rítmica. Quando o disco começou, achei que seria cansativo, mas ele se segura muito bem. É um baita álbum, mas acho que, em termos de death metal, Individual Thought Patterns é melhor.
Sepultura - Chaos A.D. (64 pontos)
Alissön: Já está ficando maçante falar o quão boa é essa fase do Sepultura. Portanto, vou economizar nas palavras aqui para não soar cansativo. É bom, clássico e ponto final. Se não ouviu ainda, corrija o erro agora.
André: Este é o disco que menos ouço do Sepultura com os Cavaleras. Depois de dois álbuns fenomenais que são Beneath the Remains (1989) e Arise (1991), este primeiro registro com as influências tribais me soa incômodo. Há músicas boas tais como “Refuse/Resist”, “Propaganda” e “Manifest”, mas também umas bem fracas, como “Amen”, “Kaiowas” e “The Hunt” (cover que não me agradou). É um disco que considero muito irregular. Parece que depois do sucesso comercial no exterior, aquela sensaçãozinha interna da banda de “exibir mais brasilidade ao mundo para pagar de patriotas do mundo subdesenvolvido” parece tatuada na testa. Roots (1996) foi mais efetivo em misturar heavy metal com música indígena e me é muito mais agradável. Entendo sua entrada na lista, mas preciso de mais tempo para digeri-lo.
Bernardo: Curto, principalmente o cover de "Polícia" (Titãs) que vem de bônus! A banda estava refinando cada vez mais seu estilo, e "Refuse/Resist" e "Territory" são clássicos.
Bruno: Consagrados com o petardo Arise, o Sepultura resolveu experimentar em seu álbum seguinte e cometeu mais um clássico. Chaos A.D. nos presenteia com a agressividade e garra de sempre, com alguns detalhes que dão um tempero especial à bolacha, seja no uso de percussões ("Refuse/Resist"), no hardcore “Biotech Is Godzilla”, com direito a letra de Jello Biafra, na instrumental e totalmente acústica "Kaiowas" ou no belo cover do New Model Army, “The Hunt”. O thrash metal tradicional dá espaço a momentos mais cadenciados e elementos do groove metal, que estava em alta na época. As composições são o melhor que o Sepultura pode oferecer, com a abordagem lírica curta e grossa de Max, botando o dedo na ferida ao abordar opressão policial, conflitos religiosos, censura, assassinatos em massa e guerra biológica. É um orgulho imenso ver o que o Sepultura produziu quando estava no auge, e ao mesmo tempo muito triste saber que a banda acabou quando estava a caminho de se tornar um gigante do heavy metal.
Davi: A banda já havia lançado álbuns fantásticos como Beneath the Remains e Arise, mas este de 1993 é o que considero sua obra-prima. Acertaram na mosca. Mantiveram a agressividade dos trabalhos anteriores e deram um passo além, apresentando arranjos um pouco mais cadenciados, um pouco mais experimentais até, além de trazer seus primeiros experimentos com elementos regionais (que se intensificariam no disco seguinte). “Slave New World”, “Territory” e “Refuse/Resist” já podem ser considerados clássicos do heavy metal.
Diogo: Prefiro Beneath the Remains e Arise, mas se precisasse apresentar o Sepultura para alguém através de apenas um álbum, Chaos A.D. seria o escolhido. Trata-se de sua obra mais representativa, aquela na qual o grupo encontrou uma sonoridade única, superando e muito a importância de suas referências iniciais, ainda bem presentes nos dois discos anteriores. Posteriormente, a banda e depois Max se perderiam um pouco nesses então novos rumos, mas em Chaos A.D. o equilíbrio é perfeito. Melhor ainda é que isso tudo, apesar do sucesso cada vez maior, não sacrificou peso e agressividade, ou alguém ousa dizer que "Refuse/Resist" e "Territory" não são pancadas avassaladoras? A escolha de Andy Wallace como produtor ao invés de Scott Burns também foi importante na aquisição dessa identidade mais genuinamente própria, pois o último, apesar dos ótimos serviços prestados, tinha uma grande associação com o death metal norte-americano e acabava puxando suas produções para esse lado. Sobre o álbum, ainda é necessário dizer que foi a confirmação máxima de Igor Cavalera como um dos grandes bateristas de sua geração. Além disso, "Slave New World", "Propaganda" e "Biotech Is Godzilla" não se tornaram clássicos à toa.
Eudes: E o Sepultura também quis ser moderno e contemporâneo nesse ano da graça de 1993 A.D. Chamou o produtor do moderníssimo Prince, encomendou uma produção state of the art e acrescentou o que os músicos achavam que era groovy e jogo de cintura. Mas quem nasceu para Jardel (faz gol e decide as partidas, embora esteja pouco além de um poste na escala evolutiva), não pode cartar de Garrincha, né? A tentativa de soar mais brasileiros, que depois deste disco se tornaria uma obsessão, não se torna orgânica e soa mais como um adorno sobre o som padrão da banda (depois, Max Cavalera chegaria a uma organicidade em sua cover de "Umbabarauma, Ponta de Lança Africano"... mas com material de Jorge Ben tudo fica mais fácil). De todo modo, “Refuse/Resist” e "Territory" são faixas legais e entraram para a mitologia do Sepultura.
Fernando: Parece que foi ontem que cheguei em casa com o vinil deste disco para ouvi-lo pela primeira vez. O Sepultura era a banda mais extrema da qual eu gostava e muito disso se dava pelo orgulho de ser um produto nacional. Hoje eu acho isso uma bobagem, gosto muito do grupo pelo seu som, mas era o sentimento da época. Naqueles dias, Chaos A.D. se tornou o meu preferido da banda até então. Hoje eu já tenho Arise como meu favorito de novo. Algumas faixas são um pouco monótonas, como “We Who Are Not as the Others” e “Manifest”. Essa última tinha pelo menos a intenção da mensagem que ela passava. A porradaria de “Biotech Is Godzilla” eu só conseguia ouvir como se deve, ou seja, muito alto, quando estava sozinho em casa.
Leonardo: O ápice da carreira da banda. Sem medo de experimentar, o grupo misturou suas raízes thrash metal a andamentos oriundos do hardcore, percussões brasileiras e muito groove, criando um estilo único, denso e pesado. A banda não apresentava a mesma velocidade dos tempos de Arise e Beneath the Remains, mas riffs como os de "Territory" e "Slave New Word" eram matadores. Ainda que os solos de guitarra sejam mais minimalistas que os de outrora, tudo funciona bem dentro do contexto, e os vocais de Max Cavalera são outro destaque do álbum.
Mairon: Outro álbum que tenho em minha retina nitidamente o estardalhaço que causou. Todo mundo que era fã de Sepultura esperava um sucessor do ótimo Arise, e os mineiros largaram um disco pancada, trazendo logo na primeira faixa percussões que introduzem um dos principais clássicos da banda, "Refuse/Resist". O que Igor Cavalera está tocando neste disco novamente é um absurdo, principalmente na pancada "Propaganda". No geral, o grupo sai um pouco do thrash e dá um salto no groove metal, algo que se tornaria uma banalidade para a banda a partir de Roots, com destaque para a instrumental "Kaiowas". Também gosto dos covers para "Biotech Is Godzilla" (original do Dead Kennedys) e "The Hunt", que ficou similar, mas não melhor, do que a bela versão original do New Model Army. Aliás, em 1993 saiu um dos melhores discos de covers da história, Acid Eaters (Ramones), que infelizmente não pôde entrar na lista particular deste consultor por conta das regras do jogo. Enfim, Sepultura é sempre bom de ouvir, e é um dos poucos discos desta lista final contra o qual não tenho nada.
Thiago: Clássico absoluto também. Fez a infância de todos da minha geração com certeza, não tem um riff deste disco que qualquer headbanger não tenha tocado pelo menos uma vez em um ensaio com uma banda.
Ulisses: Enquanto o Angra iniciava sua carreira passeando pelo lado melódico do heavy metal, o Sepultura lançava uma verdadeira bomba nuclear para as terras áridas da música extrema. Vêm à tona as cadências tribais que aprimoram o groove do quarteto mineiro e os colocam na linha de frente da cena metálica mundial, influenciando inúmeros músicos com petardos como "Refuse/Resist", "Territory" (a melhor introdução de bateria que já ouvi na vida!), "Propaganda" e "Manifest", criando uma trilha sonora para o que se passava no Brasil e no mundo.
Smashing Pumpkins - Siamese Dream (55 pontos)
Alissön: Tem bandas que são impossíveis de serem rotuladas, e definitivamente o Smashing Pumpkins é uma delas. Rock alternativo banhado em melodias barulhentas advindas do shoegaze, riffs pesados na linha do Black Sabbath e uma estranheza melódica: ao mesmo tempo alegres, mas desesperadoras e sufocantes. Parece que tudo isso junto resultaria em uma verdadeira salada, mas não é bem assim. Disco homogêneo e marcante, que facilmente deixa várias melodias e refrãos na mente, é um dos pontos altos do rock alternativo nos anos 1990 e o ápice da música nesse ano de 1993.
André: Não nego que o Smashing Pumpkins traz sonoridades interessantes. Mas meus problemas com eles são os mesmos que tenho com o Pearl Jam: tento, mas não consigo gostar.
Bernardo: Agora já dava para sentir Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995) começando a surgir.
Bruno: Poucas coisas são mais anos 1990 que o Smashing Pumpkins. A banda de Billy Corgan é uma perfeita representação do rock praticado naquela época: sempre buscando referências do passado e conseguindo soar original e atual ao mesmo tempo. O debut já tinha bons momentos, mas Siamese Dream trouxe a miscelânea de guitarras distorcidas, melodias pop, influência de shoegaze e a atmosfera melancólica retratada nas letras, com uma evolução considerável nas composições. No disco seguinte, a banda experimentaria ainda mais, entregando seu trabalho definitivo, mas Siamese Dream é o registro de uma grande fase do grupo, e a transição perfeita entre a crueza de Gish (1991) e sofisticação de Mellon Collie and the Infinite Sadness.
Davi: Álbum divisor de águas na carreira do Smashing Pumpkins e um dos grandes destaques da cena alternativa dos anos 1990. Disco bem pensado, bem resolvido. Contando mais uma vez com a produção de Butch Vig, os rapazes deram um grande salto no quesito composição. Os arranjos estavam mais complexos e mais bem acabados. Algumas canções consideradas clássicas do grupo, como “Cherub Rock” e “Today”, são daqui. Primeiro grande disco dos rapazes.
Diogo: Uma banda de difícil definição e influências que soam díspares, mas que se amalgamam bem na forma de Siamese Dream. As poucas audições que fiz do álbum não foram suficientes para emitir uma opinião mais terminativa, mas se trata de uma obra interessante. A produção não é exatamente do meu agrado e estampa aquele temido rótulo "rock alternativo", então é preciso prestar um pouco mais de atenção para perceber que, por trás dela, há uma banda com boas canções, como "Cherub Rock", "Quiet", "Today" e "Geek U.S.A.", feitas por gente que não tem medo de riff de guitarra. É a cara do rock dos anos 1990, mas felizmente do lado bom.
Eudes: A indicação com que eu mais concordei na presente lista. Na verdade um disco solo de Billy Corgan, lançado sob a marca Smashing Pumpkins, e com participação efetiva dos demais membros da banda até hoje posta em dúvida, Siamese Dream faz parte do projeto de fazê-los soar o mais pesado possível, livrando-se da etiqueta indie e sofisticada que carregava. O improvável resultado de um enxerto de cientista louco desses são faixas animadíssimas e com DNA hard rock inegável como "Cherub Rock", "Geek U.S.A." e a incursão pelo rock épico, "Silverfuck", tudo com temáticas e letras estranhas ao rock pesado. O ano de 1993 não foi assim tão ruim.
Fernando: Por ser uma banda difícil de classificar, o Smashing Pumpkins foi incluído na cesta do rock alternativo e por isso muita gente ainda torce o nariz para eles. A quantidade de riffs memoráveis e super pesados compostos por Billy Corgan é inegável. Vide “Cherub Rock”, seu riff é um daqueles que poderiam fica em loop durante horas... “Today” é muito provavelmente a música mais conhecida da banda e é excelente!!! Em “Disarm”, eles fizeram algo que iriam abusar no também ótimo Mellon Collie and the Infinite Sadness. Em tempo, fiquei mais fã de Billy Corgan depois de ver seu depoimento no documentário sobre o Rush.
Leonardo: Os anos 1990 foram uma época difícil para o rock mainstream. Enquanto as cenas mais extremas e underground efervesciam, as rádios eram dominadas por coisas como esse Smashing Pumpkings. Passo.
Mairon: Se Gish, o álbum de estreia dos norte-americanos, é um convite para serem exploradas músicas de qualidade que enaltecem uma das melhores bandas da década de 1990 (a saber, Sonic Youth), em Siamese Dream Billy Corgan e cia. descem a mão em um disco pesado, como atestam "Cherub Rock", a insana "Silverfuck" e "Geek U.S.A.", mas com belos momentos amenos, os melhores na verdade, através de "Today", "Hummer", "Mayonaise" e a dolorida "Disarm". Bom disco, deu para causar aquela velha e boa sensação nostálgica, mas não para os dez mais.
Thiago: Nunca ouvi o disco, mas a capa e o nome são terríveis, hahaha. Provável que a música seja ótima então pra compensar. Piro no Mellon Collie and the Infinite Sadness, mas parei aí.
Ulisses: Alt-rocks acelerados como "Cherub Rock", "Quiet" e "Geek U.S.A." convivem lado a lado com faixas mais calmas, como "Today" (bipolar: parece feliz, mas a letra é uma desolação) e a melodramática e superproduzida "Disarm". O maior problema do álbum é que sua metade final me pareceu bem fraca.
Nirvana - In Utero (52 pontos)
Alissön: Muitos desgostam deste disco pelo timbre mais seco e pegada mais raivosa. Mas é justamente isso que me atrai, mais até do que Nevermind (1991). Se precisasse resumir em uma palavra, diria “visceral”. Desde a abertura nada típica com “Serve the Servants”, a cáustica “Heart Shaped Box” e o encerramento com “All Apologies” (minha favorita), o álbum é uma sucessão de músicas gloriosamente sujas e com um aceno nitidamente mais noise (“Tourette’s” diz por si só). Belo canto do cisne de uma das bandas sobre a qual mais tenho curiosidade em saber quais seriam seus próximos passos, não fosse a morte prematura de Cobain.
André: O disco mais “volta às origens com produção porca” do grupo e o último registro da banda. Sempre gostam de citar Kurt Cobain como um gênio que odiava o mainstream e de coração underground, mas eu particularmente sempre achei que ele apenas fez tudo isso para trollar as gravadoras, as rádios e o próprio mercado musical. Prefiro muito mais Nevermind mesmo, mas é um disco com boas canções como “Heart Shaped Box”, “Rape Me” e “All Apologies”. Kurt continua resmungando mais do que cantando (e a produção só acentuou isso), Krist Novoselic continua limitado e Dave Grohl continua sendo o melhor músico da banda. Nada muito diferente do que o Nirvana sempre foi.
Bernardo: O "disco visceral" da banda de Seattle e a obra-prima de Kurt Cobain, no qual podemos ver tudo o que ele sabia sobre música popular, rock visceral e baladas melancólicas. In Utero é um álbum direto das entranhas.
Bruno: Incomodados com o sucesso repentino e descontentes com o tratamento polido de Nevermind, o Nirvana tentou fazer um álbum anticomercial, gravado em apenas um take e com Steve Albini na produção. Deixando isso de lado, In Utero é um belo disco. Não só a produção é mais crua, mas as composições são mais sombrias, rasgadas e a execução totalmente visceral. Incrível pensar que uma banda que é tão falada até hoje tenha gravado apenas três álbuns.
Davi: Excelente álbum do trio de Aberdeen. O grupo sempre gerou uma relação de amor e ódio, mas fez a diferença na cena roqueira dos anos 1990. In Utero traz um som um pouco mais pesado que seu antecessor, mas os arranjos não fugiam à regra. Os garotos mantiveram sua essência no disco. Se por um lado não eram grandes músicos, de outro eram excelentes compositores. Faixas de destaque: “Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle”, “Radio Friendly Unit Shifter” e “Dumb”. Os haters que me perdoem, mas o grupo faz falta.
Diogo: Sua banda é um sucesso de público e crítica. Seu último disco foi aclamado como um clássico pouco tempo depois do lançamento. Os fãs aplaudem seu talento, mas também qualquer macaquice que você protagoniza sobre o palco. O que você faz? O que bem entende! Um disco sujo, sem compromisso algum com ninguém a não ser você mesmo, quem sabe seus colegas de banda. Talvez o mesmo público e a mesma crítica tenham adorado, mas se Nevermind já não é exatamente "minha xícara de chá", In Utero é menos ainda. Aquele senso melódico e descaradamente pop do segundo álbum foi colocado para escanteio na maior parte do tracklist, excetuando faixas como "Heart Shaped Box", "Rape Me" e "All Apologies". Nenhuma delas, porém, consegue prender minha atenção por muito tempo. O Nirvana segue em baixa aqui em casa.
Eudes: Sim, o Nirvana conseguiu repetir Nevermind. Por obra e graça do talento de compositores dos rapazes! Tá certo que a produção de Steve Albini, balanceando com sabedoria peso, ruído e polimento, consegue colocar o disco no patamar raro de uma coleção de faixas intensas e acessíveis (pop, vá!). Mas de nada valeria sem pérolas do rock 'n' roll como as inspiradas "Dumb" e "Pennyroayal Tea", ou sem o frenesi melancólico de "Serve the Servants" e "Tourette's". Além do mais, é o disco de "All Apoligies". Nem precisava de mais!
Fernando: Sem a menor comparação entre as bandas e a qualidade dos discos, mas In Utero depois de Nevermind é o mesmo que Wish You Were Here (1975) depois de Dark Side of the Moon (1973). Como fazer o sucessor de um lançamento tão bombástico? Por melhor que seja o disco, a comparação é sempre desleal.
Leonardo: O disco tem um clima palpável de desespero e angústia. Mas as canções acabam se tornando cansativas. Não é péssimo, mas está longe de ser tudo que falam.
Mairon: Cara, Nevermind na lista de 1991 eu até entendi, mas esta bomba atroz entre os dez mais de um ano que teve pelo menos dois grandes álbuns de ex-Zep, não dá para engolir. O pior foi ouvir "Scentless Apprentice" e lembrar daquele tenebroso show do festival Hollywood Rock de 1993, uma das coisas mais horríveis que já ouvi. Os gritos histéricos e desafinados de Kurt Cobain são um atestado de deboche para a paranoia que toma conta desses consultores ao colocarem este e outros discos de METÁU em 1993. Vergonha.
Thiago: Bleach.
Ulisses: Disco chato de uma banda chata. Passo.
Angra - Angels Cry (51 pontos)
Alissön: Deve ter lá sua importância para o power metal (um dos troços mais chatos desse universo), mas ainda não consigo entender como isto entrou e outros discos muito mais bem gabaritados ficaram de fora.
André: Muita gente odeia, muita gente xinga a banda aos montes pela internet afora e não adianta em nada, eles continuam fazendo novos fãs pelo mundo todo. Gravando, em minha opinião, um disco na fase Andre (este mesmo) e dois discos na fase Edu Falaschi que são memoráveis, o Angra merece toda a fama que tem. Assim como o Sepultura, foram os principais representantes do heavy metal brasileiro durante muito tempo e, de certa forma, ainda são os dois principais nomes mais conhecidos fora do País. Álbum de estreia, composições clássicas e memoráveis e um Andre Matos impressionando todos com o poder da sua voz, cá está um dos discos mais conhecidos do power metal. “Carry On”, “Time”, “Streets of Tomorrow” e “Evil Warning” estão na memória de 91,42% dos ouvintes de metal nascidos nas décadas de 1980 e 1990 (seja de forma positiva ou negativa), o que já é suficiente para demonstrar o impacto desses caras na música.
Bernardo: André Matos pra mim só no "RockGol". Viva a Musa Nissei Sansei!
Bruno: RISOS.
Davi: Excelente álbum de estreia. Contando com a presença de Andre Matos no line-up, os músicos fizeram um álbum com bastante influência de power metal (gênero que estava em evidência na época). Por mais que goste de Edu Falaschi e dos trabalhos que fez com a banda, nunca mais os caras chegaram perto do nível dos dois primeiros álbuns. Os arranjos eram extremamente bem resolvidos. Andre sempre foi irregular ao vivo (tem shows onde canta bem e shows em que me pergunto o que estava a fazer ali), mas sempre fez um grande trabalho em estúdio, e aqui não é diferente. O CD mantém o nível das faixas, do início ao fim. Diversas músicas se tornaram clássicos do conjunto como “Carry On”, “Time” e “Evil Warning”. Se tivessem conseguido manter esse line-up, hoje seriam o melhor grupo de rock do Brasil. Belo álbum!
Diogo: O Angra já teve sua dose de importância para mim, mas confesso que não ouvia este disco na íntegra há anos. Isso significa que deixei de gostar do álbum? Não! Apenas que esse tipo de sonoridade hoje em dia não faz mais tanto sentido para mim, nem me causa grande empolgação. Boas músicas abundam no tracklist, como é o caso das óbvias "Carry On", "Evil Warning" e da faixa-título, além das menos óbvias "Streets of Tomorrow" e "Time". Angels Cry tem o mérito de, mais que trazer Andre Matos de volta à tona anos após deixar o Viper, revelar ao mundo os grandes guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, além do baixista Luís Mariutti, que sempre foi quem me chamou mais atenção desde que ouvi a banda pela primeira vez. Acho um tanto exagerada a inclusão de Angels Cry nessa lista, mas exagero por exagero, devo confessar que gosto do maior de todos os exageros presentes no disco: a versão para "Wuthering Heights", de Kate Bush. Ficou bem legal, vai!
Eudes: Apenas uma palavra sobre a inclusão deste disco: inacreditável!
Fernando: Quando conheci o Viper, em meados de 1992, fiquei maluco com aquele som. Instantaneamente Andre Matos se tornou um herói para mim. Afinal, era um “moleque” (ele tinha em média 17 anos na época dos lançamentos dos dois primeiros discos do Viper) que tinha qualidades parecidas com as do inatingível Bruce Dickinson. E ainda por cima brasileiro! Só que sabíamos que ele já não fazia parte da banda, e a história que rolava era de que ele saiu porque queria tocar o tipo de som de Theatre of Fate (1989), enquanto o restante não queria mais. Apesar de gostar do que veio em Evolution (1992), era clara a minha preferência pelo material que ele ajudou a fazer. Então acompanhei, da forma que tínhamos na época, tudo o que acontecia com Andre Matos. Sabíamos que ele estava montando uma banda nova. Quando saiu Angels Cry, foi algo inacreditável. Eles estavam tocando o que ouvíamos em Theatre of Fate de uma maneira muito mais trabalhada e orquestrada, e isso era algo inimaginável. Eles estavam acrescentando ao heavy metal sonoridades que até então eu entendia que eram proibidas.
Leonardo: Independente da maneira que a banda tenha sido formada e da situação na qual a mesma se encontra hoje em dia, é impossível negar o impacto que o disco de estreia do Angra teve na cena heavy metal brasileira quando foi lançado. Seguindo o caminho que o Viper iniciou em Theatre of Fate, o quinteto investia em músicas extremamente melódicas, com melodias marcantes, belos solos de guitarra e vocais em tons altíssimos de Andre Matos. Essa mistura funcionou muito bem, tornando Angels Cry um dos melhores discos de heavy metal lançados por uma banda brasileira.
Mairon: Sempre soube que os consultores têm uma grande queda por Andre Matos, e tinha Angels Cry como figura certa nesta lista. Não sei qual sua posição, mas o álbum deve ter entrado pelo menos abaixo do top 5, porque não tem tanto cacife assim para figurar entre os melhores, apesar de não ser um mau álbum. O pior da história de ver (e ouvir) Angels Cry é que me trouxe a sensação de que estou ficando veterano. Afinal, quando falávamos das edições da série dedicadas à década de 1970, com uma sensação de passado longínquo, agora, com o lançamento do Angra, tenho clara na minha retina a visão de entrevistas de Andre Matos mostrando sua nova banda e divulgando o clássico videoclipe de "Carry On". Angels Cry é um seguimento do que o Viper havia apresentado em Theatre of Fate, mas com ainda mais técnica empregada pelos virtuosos guitarristas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, além de mais espaço para Matos aprofundar seus conceitos musicais eruditos com arranjos orquestrais (inseridos na faixa-título e em "Evil Warning", por exemplo) e também nos teclados, algo que ele domina com surpreendente categoria, principalmente em "Time", "Streets of Tomorrow" e "Stand Away". Destaco a introdução de "Never Understand", com a citação à música nordestina, e que virou um marco nos discos seguintes do Angra, a mistura de elementos de diferentes regiões do Brasil e do mundo com o metal tradicional, e que me afastou bastante da banda. E vamos e venhamos, o cover de "Wuthering Heights" (Kate Bush) é muito afrescalhado e desnecessário.
Thiago: Acho o riff de "Carry On" massa, mas não é pra mim.
Ulisses: Uma das melhores estreias de todos os tempos, fundindo um power/prog metal de respeito com influências de música erudita e ritmos brasileiros, somente possível graças a um time de primeira (com ninguém menos que o mestre Andre Matos no vocal) e uma produção soberba de Sascha Paeth. A introdução matadora com o hino "Carry On" deixa qualquer um boquiaberto, mas o disco traz surpresas ainda maiores, como a épica "Never Understand" e sua inesquecível abertura ao estilo baião, ou a magnífica interpretação vocal de "Wuthering Heights" (quem imaginaria um cover de Kate Bush em um álbum de metal?!), ou o sublime encerramento "Lasting Child". Disco perfeito do início ao fim, e era apenas o começo de uma ótima discografia.
Rush - Counterparts (45 pontos)
Alissön: Não conheço quase nada dessa fase do Rush. Counterparts mesmo devo ter ouvido uma vez ou outra, portanto não tenho muito o que dizer sobre ele.
André: Melhor disco de 1993 e um dos melhores do trio canadense. Deixando os sintetizadores de lado (apesar de eu gostar da época, já era hora mesmo de mudar) e voltando a se focar na guitarra de Alex Lifeson, os caras lançaram um disco que voltou a colocá-los em evidência. Não é para menos, porque todas as músicas aqui são excelentes. Não tenho muito mais o que comentar, exceto: ouça esse disco maravilhoso.
Bernardo: Ligo muito pra Rush não.
Bruno: O Rush é uma das minhas bandas favoritas, mas sua fase de 1984 a 1991 é difícil de engolir. Era um desperdício imenso ver um dos power trios mais poderosos do planeta fazendo aquele sonzinho xoxo e insípido. Felizmente, em Counterparts eles voltaram com tudo, com um álbum pesado e direto ao ponto que é o seu melhor da década disparado.
Davi: Muita gente reclama quando colocamos artistas que não eram novidades na época em que lançaram determinado disco. Minha percepção sempre foi: música boa é música boa. Não importa se o artista em questão tem cinco, dez, 20, 30, 50 ou cem anos. Seja de idade ou carreira. Este álbum do Rush é uma prova disso. Os caras deixaram o sintetizador e a bateria eletrônica um pouco de lado e deram mais ênfase na guitarra. Adaptaram o som que faziam para a época em que estavam atravessando. Resultado? Disco absurdamente foda e infinitamente superior ao de muitos artistas que eram enaltecidos pela mídia da época como a salvação do rock. É melhor que Fly By Night (1975)? Não! Que Moving Pictures (1981)? Não! Mas não deixa de ser um disco empolgante, com arranjos extremamente bem elaborados e músicas cativantes. E ah, sim, o trio canadense ainda conseguiu emplacar dois videoclipes na MTV com este lançamento: “Nobody's Hero” e “Stick It out”. Mais do que merecido!
Diogo: Counterparts soa como uma tentativa do Rush de atualizar para os anos 1990 sua sonoridade inicial, com a guitarra de Alex Lifeson bem mais à frente do que aquilo que a banda vinha fazendo nos dez anos anteriores. Felizmente, a proposta foi bem executada e o disco é um vencedor, sendo provavelmente a melhor obra do grupo pós-Signals (1982). As três primeiras faixas ("Animate", "Stick It Out" e "Cut to the Chase") são especialmente vigorosas, virtuosas porém concisas, carregadas de levadas contagiantes e bons riffs de guitarra. A segunda, em especial, é um petardo praticamente heavy metal. A primeira "quebra", com a balada "Nobody's Hero", ao invés de romper o clímax, mantém a qualidade em alta, pois se trata de uma grande canção. Além das citadas, Counterparts tem outros bons momentos, caso de "Alien Shore", "Leave that Thing Alone" e "Cold Fire", que soa como algo que a banda faria anos antes, mas com guitarras mais na cara. Aliás, ainda vale frisar a ótima produção de Peter Collins, um dos meus favoritos nessa tarefa.
Eudes: Não que faixas como "Animate", "Stick It Out" e o rock quase básico (exigir rock de caminhoneiro do Rush seria demais, né?) "Cut to the Chase" não sejam gostosas de ouvir. Não que a volta ao formato setentista, depois de anos de teclados sem graça, não deva ser saudada. Mas a inclusão deste disco de uma banda que, gostando ou não dela, teve seu auge nos anos 1970, a essa altura do campeonato tem, ao menos, o mérito de refletir sobre o estado da música e do rock nos últimos 20 anos. Reflitamos, irmãos!
Fernando: Depois de anos e anos fazendo músicas focadas em melodias de teclados eles perceberam que não podiam desperdiçar o fato de ter um dos melhores guitarristas do mundo em sua formação. Essa fase mais rocker desenvolvida pelo Rush em Counterparts vem se estendendo até os dias de hoje.
Leonardo: Depois de alguns álbuns não tão inspirados, o Rush voltou revigorado em Counterparts. Mais pesado e direto, o disco apresenta uma banda coesa, com composições fortes, como a excelente "Stick It Out".
Mairon: Depois de Moving Pictures, é inegável que o Rush entrou em um ostracismo que afugentou os velhos fãs e conquistou muito poucos novos seguidores durante a década de 1980, com discos carregados nos sintetizadores e na bateria eletrônica, que praticamente limaram a essencial guitarra de Alex Lifeson, apesar de curti-los. Presto (1989) foi uma tentativa de voltar aos padrões aceitáveis para um álbum do grupo, ampliada em Roll the Bones (1991), de onde saiu a clássica faixa-título. Porém, foi com Counterparts que o mundo redescobriu a banda. Reformulando seu som, o trio fez um disco praticamente perfeito para sua época, que só não foi superado – na minha modesta opinião – pela tecnologia e inovadora revelação de Zooropa. Temos baladinha acústica, com letra polêmica (a bela "Nobody's Hero"), baladinha para tocar na rádio ao lado da namorada ("The Speed of Love" e "Everyday Glory"), o embalo grudento de "Animate" e "Cold Fire" (só eu acho essa ultima uma obra-prima?) e o swing de "Alien Shore". O melhor é que os riffs de guitarra e baixo voltam à tona com força, seja na pesadíssima "Stick It Out", na estranha e destruidora "Double Agent" ou na instrumental "Leave that Thing Alone", forte concorrente com "YYZ" a melhor instrumental do Rush e melhor música da banda desde o lançamento da tal. Mesmo canções que ficaram esquecidas na vasta discografia trio, como "Cut to the Chase" e "Between Sun & Moon", trazem qualidades não ouvidas há um bom tempo nos discos dos canadenses. Desde então, o Rush manteve esse estilo de gravação, misturando peso e melodias com a experiência de uma das mais belas carreiras da música. Este disco ficar atrás de Heartwork é mais uma das infindáveis piadas destas listas, que estão cada vez mais sem noção, e espero que pelo menos um top 3 Counterparts tenha alcançado, além de ser mais um texto "perdido" pelo site (o colega Micael Machado dedicou uma edição da seção "Datas Especiais" a ele), que só rezando para que a Justiça traga de volta.
Thiago: Acho que foi a tentativa do Rush de soar atual nos anos 1990, como toda banda já com uma certa rodagem tentou, se é que você me entende. Gosto do disco, é pesado e "Stick It Out" é animal. Lembro quando rolava esse videoclipe na MTV e eu pirava naquilo. Deve fazer uns 15 anos pelo menos que não ouço nada dele, porém.
Ulisses: "Animate", "Stick It Out" e "Cold Fire" são algumas das surpresas do disco do parafuso, no qual o trio canadense se reinventa e traz uma sonoridade mais pesada e direta, antenada ao momento, sem a infestação de teclados e sintetizadores dos anos 1980.
Anthrax - Sound of White Noise (40 pontos)
Alissön: Nem me lembrava deste registro, para ser franco. A estreia com John Bush assumindo os vocais é um híbrido do thrash metal de guitarras mais cadenciadas e uma pegada mais industrial. O resultado me soa satisfatório, mesmo que pouco memorável. Dos poucos momentos que me lembrei ao redigir este texto, talvez “Only” seja o mais bacana de todos: melodicamente agradável e com riffs bem trabalhados.
André: Sabia que havia fãs do Anthrax no site, só não imaginava que havia fãs justamente dos álbuns da era John Bush. O novo vocalista é justamente quem chama mais atenção para si nesse registro. Belladonna tinha vocais mais ríspidos, tais como no thrash, e Bush se assemelha mais aos vocalistas noventistas da era grunge. Assim, o Anthrax ganhou mais senso melódico e menos espancamento de instrumentos e velocidade, o que acho positivo como um diferencial em uma banda thrash. “Room for One More” traz um trabalho instrumental divino. Guitarras perfeitas, baixo gorduroso, batidas diferenciadas e, claro, Bush mandando muito bem. A melhor música do disco. “Invisible” (distorcida e cheia de efeitos) e “This Is Not an Exit” (ótimos riffs) também se destacam em um disco que eu deveria ter considerado melhor em botar na minha lista. O único ponto baixo é “Hy Pro Glo”, música chata demais.
Bernardo: Primeiro disco de John Bush, já começando de forma arrasadora com quatro hits. Destaque para "Only".
Bruno: Em uma entrevista de 1993, Scott Ian defendeu a entrada do vocalista John Bush no lugar de Joey Belladonna, afirmando que o ex-Armored Saint era a voz que ele idealizara para o Anthrax desde o começo. E eu compartilho dessa mesma opinião. Por mais que Among the Living (1987) seja meu disco favorito e obra-prima incontestável da banda, sempre achei o estilo de Belladonna deslocado para o som mais rueiro dos novaiorquinos. Sound of White Noise é uma evolução lógica de Persistence of Time (1990), e condizente com o som pesado mainstream da época: menos velocidade e mais atmosfera. Mais melodias e flerte com outros gêneros. Apesar das mudanças e do som mais moderno, todas as características do velho Anthrax estão presentes: Um sem fim dos riffs viciantes de Scott Ian, cozinha afiadíssima com um Charlie Benante descendo a mão e cada vez melhor. Uma pena que a banda não tenha conseguido atingir o mesmo resultado nos álbuns seguintes com John Bush e só voltariam à forma dez anos depois.
Davi: Primeiro e melhor trabalho com o vocalista John Bush. Muita gente o odeia. Embora meus álbuns prediletos sejam da fase com Belladonna, não tem como negar que o rapaz era um senhor cantor. Timbre de voz extremamente agradável (até mais agradável que o de Belladona), casava bem com a nova sonoridade dos caras. Sound of White Noise trazia uma banda olhando para o futuro. Os músicos reinventaram seu som e não perderam a qualidade. Faixas como “Only”, “Room for One More” e “Hy Pro Glo” levantam até defunto. Álbum pesado, melódico e matador!
Diogo: Confesso que este álbum me deixa dividido. Não é segredo pra ninguém que prefiro a fase com Joey Belladonna, em grandes álbuns como Spreading the Disease (1985) e Among the Living. Ao mesmo tempo, acho positivo que a banda tenha se adaptado com sucesso à década de 1990, soando mais moderna sem deixar de ser Anthrax e aproveitando-se do potencial de John Bush. Dizer que "Only" é uma bela música soa repetitivo, então destaco também "Room for One More", outra obra cativante, "Invisible" e "Black Lodge", que soa sombria de uma forma que a banda jamais seria com Belladonna. Não acho que o restante do tracklist seja tudo aquilo que alguns fazem parecer, mas Sound of White Noise é um bom disco e significa uma recuperação, considerando que seu antecessor, Persistence of Time (1990), não havia sido tão bem sucedido musicalmente. Em se tratando de thrash metal, preferia ver o Fight, de Rob Halford, ocupando esta posição.
Eudes: Ouvi o álbum na época do seu lançamento e não me deixou maiores impressões. Reouvindo hoje, para esta coluna, é notória a tentativa da banda de sair da categoria heavy metal burro, para a de metal inteligente, com uma combinação de fúria thrash e espertezas instrumentais e líricas, a começar pelo nome do álbum, jargão da acústica para a convergência de sinais de rádio (chiado de TV fora de sintonia). As melhores faixas do disco, "Invisible”, “Only” e "Room for One More" talvez expressem de forma mais acabada esta vontade de ser moderno. De qualquer maneira, melhor do que discos da fase decadente de Rush e Aerosmith na lista.
Fernando: Lá no início da minha carreira de headbanger eu tinha lá minhas bandas preferidas. Forrava as paredes do meu quarto com pôsteres e recortes de revistas com várias dessas bandas. Eu tinha uma imagem do Anthrax com os componentes da época do Among the Living com um logo gigante com o nome da banda. Achava ess pôster muito legal. Ele veio junto de uma revista que havia pego com um primo, mas eu não tinha ideia alguma de como a banda soava. Coloquei esse pôster na parede porque gostava dele. Quando conheci os norte-americanos foi com o então novo disco deles, com um novo vocalista e tudo mais. Adorei o álbum e ele é até hoje meu preferido, mesmo entendendo o motivo da adoração que os fãs têm por alguns dos anteriores.
Leonardo: Não foi apenas o vocalista que mudou no Anthrax em Sound of White Noise. A voz de John Bush era bem diferente da de seu antecessor, Joey Belladonna, mais rasgada e visceral, mas a sonoridade da banda também havia mudado bastante, apostando menos em riffs de heavy metal clássico e mais no groove e em diferentes texturas. E essa nova sonoridade funcionou muito bem em Sound of White Noise, que tem faixas excepcionais como "Only" e "Room for One More". Pena que a fórmula não tenha funcionado tão bem nos discos seguintes...
Mairon: Joey Belladonna é um bom vocalista, claro que é, mas os discos com John Bush para mim são os melhores do Anthrax. Peso e melodias misturadas com precisão, e aqui o maior clássico da carreira da banda, "Only". Temos performances individuais de Charlie Benante ("Potter's Field", "Invisible" e "Hy Pro Glo"), Frank Bello (na thrashona "Burst"), Scott Ian e Dan Spitz (a pancada de "C11 H17 N2 O2 S Na") que são muito acima do que encontramos nos álbuns anteriores do grupo, principalmente na melhor faixa do disco – e talvez do grupo – "Packaged Rebellion", uma das introduções mais fodásticas da história. E John Bush possui uma voz que se encaixou perfeitamente na sonoridade da banda. Fora tudo isso, temos a avassaladora "Room for One More" (que baita riff), e o arrastado andamento de "1000 Points of Hate" e "This Is Not an Exit". Lembro que o amigo Pablo Ribeiro fez uma bela matéria comemorando os 20 anos deste álbum, onde será que foi parar...? Disco maduro, fundamental para quem curte um som mais pesado. Cheguei a ter medo de que ele não entrasse entre os dez melhores, mas pelo que foi apresentado aqui, no mínimo top 3 para ele (se bem que em uma lista que tem Carcass em primeiro, pfffffffffffffffff...).
Thiago: Acho esse disco massa, nunca ouvi muuuuuito, mas "Only" e "Room for One More" acho foda.
Ulisses: No primeiro disco com John Bush nos vocais, o Anthrax adquiriu uma sonoridade mais hard e cadenciada, criando um álbum com vários bons hits, como "Only", "Room for One More" e "Invisible", mas também com bastante filler; eu simplesmente não consigo ouvir este álbum sem me entendiar, apesar de gostar de John Bush no Armored Saint.
Aerosmith - Get a Grip (35 pontos)
Alissön: Mesmo fã de Aerosmith, Get a Grip nunca foi unanimidade para mim. Possui bons singles, caso de “Eat the Rich” e “Crazy”, mas acho-o um tanto longo demais se comparado a Pump (de 1989, melhor registro da banda, na minha opinião). De qualquer forma, é um momento de glória na carreira do grupo e que merece este reconhecimento, mesmo não compartilhando da mesma paixão da grande maioria.
André: O disco é bom, tem uma pegada hard rock muito boa, gosto do baixo de Tom Hamilton e até me surpreende seu sucesso comercial, visto que nem acho que o álbum tenha lá hits memoráveis, mas possui músicas muito boas. Diferente do Bon Jovi, a banda não se entrega ao pop meloso por aqui (viria a fazer isso alguns anos depois, infelizmente) e por isso me ganha neste disco. Mesmo “Crazy”, cujo videoclipe tocou à exaustão na MTV, não parece ter tanto apelo. Independente disso, o álbum da teta da vaca me cativa com “Get a Grip” e com “Walk on Down”, uma das poucas (e a única com Perry nos vocais) sem ter a ajuda de compositores externos e que soam daquele jeito mais hard rock oitentista farofento que eu sempre gostei. Para ajudar, tem o excepcional Don Henley fazendo backings em “Amazing”.
Bernardo: Como grande parte dos discos do Aerosmith, algumas músicas realmente impressionantes, mas a maioria esquecível.
Bruno: Como já disse em outras edições desta série, considero o Aerosmith uma banda de singles, e não consigo gostar de nenhum álbum da banda em especial. Mas confesso que acho "Cryin’" uma grande balada.
Davi: Excelente disco da trupe de Steven Tyler. A banda seguia a linha do antecessor Pump, só que adicionava um pouco mais de baladas no disco (talvez, por conta do grande sucesso radiofônico de “What It Takes”). Para nossa sorte, as baladas eram boas e os videoclipes também (quem não se lembra das atuações das belíssimas Liv Tyler e Alicia Silverstone nos vídeos dos rapazes?). Steven Tyler estava no auge enquanto vocalista (o que pude presenciar de perto na apresentação do festival Hollywood Rock de 1994) e o álbum é repleto de músicas memoráveis, como “Livin' on the Edge”, “Fever” (não, não é a do Elvis) e “Shut Up and Dance”. Provavelmente, seu último grande disco.
Diogo: Estava torcendo para este disco não dar as caras por aqui, mas pelo visto não me dei bem. O álbum não é ruim nem nada, longe disso, mas acho que a partir de Get a Grip aquilo de bom que o Aerosmith representava se diluiu um pouco demais. O renascimento do grupo nos anos 1980 foi saudável para a cena e Permanent Vacation (1987) e Pump são discos muito legais, mas acho que em Get a Grip o quinteto começou a soar um tanto artificial, algo que chegaria ao ápice em Just Push Play (2001). O álbum segue a fórmula bem sucedida de equilibrar rocks mais pesados com pegada blues e baladas à risca, destacando no primeiro front "Eat the Rich" e "Shut Up and Dance", e no segundo "Livin' on the Edge" e "Amazing", apesar dessas últimas estarem mais que saturadas. Não tanto quanto, contudo, que "Cryin'" e "Crazy", que hoje em dia soam formulaicas demais para mim. Fala-se muito sobre o Bon Jovi ter caído de amores pelas paradas de sucesso e ter feito de tudo para não ficar longe delas da década de 1990 em diante, orientando sua sonoridade nesse rumo, mas a verdade é que o Aerosmith foi vítima desse mal com muito mais intensidade. Gostem ou não, Keep the Faith (1992) e These Days (1995) são obras muito mais interessantes e criativas que este Get a Grip.
Eudes: Este é o disco predileto de Steven Tyler. Mas também, depois de dois prêmios Grammy, primeiro lugar no ranking da Billboard e top 10 em mais nove países, seis músicas nas paradas norte-americanas, 12 milhões de cópias vendidas (7 milhões apenas nos EUA!)... São credenciais de respeito, mas que, ao meu ver, apenas atestam a enorme carência do público roqueiro nostálgico do blues rock dos anos 1970, o que explica em grande parte o sucesso de bandas como o Guns n' Roses. Disco agradável, com faixas boas, mas não de tirar do ramo, como “Eat the Rich”, “Walk on Down”, “Shut Up and Dance”, “Line Up” (little help from Lenny Kravitz), mas também com coisas justamente mal afamadas, como "Cryin'”, “Crazy” e “Amazing”. Talvez a melhor coisa sejam os videoclipes, nos quais podemos apreciar gemas da composição genética como as jovens Alicia Silverstone e Liv Tyler, esta mostrando como as gerações melhoram.
Fernando: O Aerosmith nos anos 1970 era ótimo até
Rocks (1976). Depois foi decaindo até chegar ao fundo do poço em algum ponto da década de 1980. Aí uma reviravolta espetacular ocorreu e eles se tornaram relevantes novamente Com três ótimos discos na sequência, com
Get a Grip sendo o último deles (os outros são
Permanent Vacation e
Pump). Porém, eles pegaram como exemplo para o futuro da carreira apenas a parte ruim do enorme sucesso que tiveram com esses discos. Ou seja, viram que as baladas faziam sucesso e despejaram uma enxurrada delas nos discos seguintes, fato que afetou o apreço de muito rocker pela banda.
Leonardo: Confesso não ser grande entusiasta do Aerosmith dos anos 1980 e 1990, preferindo os discos que a banda lançou na década de 1970, mas é inegável que Get a Grip possui algumas grandes músicas, como a empolgante "Eat the Rich" e a épica "Livin' on the Edge". Entretanto, algumas das piores canções do grupo também estão neste disco, como as insuportáveis baladas "Cryin'" e "Amazing". No geral, o disco é bom, mas ainda fico com Rocks ou Toys in the Attic (1975).
Mairon: Depois do estouro de Pump em 1989, o Aerosmith voltou a ser a banda do momento. Uma nova geração de fãs passou a seguir o grupo, menosprezando a fase hard dos anos 1970 e toda uma história que ficou obscurecida pelo sucesso daquele álbum e deste seu sucessor. Depois de quatro anos de turnês e muitos discos vendidos, Steven Tyler e cia. capricharam a mão em um álbum que encontrou a fórmula do sucesso de Pump novamente, seja com baladas tocantes (as clássicas "Cryin'" e "Crazy", e a menosprezada, mas melhor que as anteriores, "Amazing") ou canções preparadas para serem hits (a perfeita "Livin' on the Edge", o embalo da faixa-título e a pancada de "Shut Up and Dance"), além de músicas segundo plano, mas de boa qualidade, no caso "Flesh", "Line Up" e "Gotta Love It". Porém, o diferencial para o álbum de 1989 é que existem resquícios do hard setentista em quase todo o disco de 1993, principalmente em "Eat the Rich", "Fever", "Can't Stop Messin'" e na linda bluesy instrumental "Boogie Man". Baita disco, merecidamente entre os dez mais, apesar de não ter entrado na minha lista por uma teta.
Thiago: Nunca ouvi o disco.
Ulisses: Disco bem divertido, isso eu não vou negar. O trio inicial de canções não decepciona, e o registro segue com vários exemplos de bom rock 'n' roll, como "Shut Up and Dance" e "Line Up". As baladas "Cryin'" e "Crazy" também não são ruins.
Death - Individual Thought Patterns (32 pontos)
Alissön: A técnica a serviço do death metal, que já tinha sido letalmente usada em Human (1991), aqui foi elevada a enésima potência. Belos exemplos de complexos arranjos que têm um propósito de existência, diferente dessa coisa pedante que virou o technical death metal de hoje em dia: palhetadas ultravelozes a 10 mil bpm. O leque de influências utilizadas por Chuck na criação das estruturas – como o jazz e música clássica – apenas tornam o disco mais apetitoso, mesmo que seu estilo favorito passe longe de coisas extremas. Belo álbum e uma surpresa sua presença por aqui.
André: Nunca tive o Death como uma banda espetacular e como as grandes obras primas do death metal como já vi muita gente argumentando, porém, é de se destacar que eles têm umas levadas diferentes de bateria e um uso de variações de velocidade muito interessante, algo que não dá aquela sensação de que se sabe o que esperar do próximo riff de guitarra. Symbolic (1995) é o trabalho deles do qual mais gosto, mas tenho Individual Thought Patterns em alta conta. As “paradinhas” de guitarra em “In Human Form” são bem legais. “Trapped in a Corner” mostra uma técnica excelente do grande baterista que é Gene Hoglan. Isso talvez explique por que eu gosto tanto dos discos do Dethklok nos quais ele vêm tocando nos últimos anos. Também passou da hora de ele gravar um disco novo com o Dark Angel. E o death metal não precisa ser só violência, como demonstraram tão bem naquela calma introdução acústica em “Destiny” para depois socar toneladas de peso instrumental, como de costume. Por parte dos vocais de Chuck Schuldiner, é algo diferente. Eu nunca sei se ele usa o vocal rasgado típico do black metal ou o gutural típico do death, até porque a pronúncia dele é muito boa. As vezes acho que a voz dele é rouca assim mesmo e ele simplesmente não faz esforço nenhum. Por fim, nada me convence do contrário de que “Nothing is Everything” tem um riff que foi chupinhado de “Amor Perfeito”, famosa na voz de Roberto Carlos.
Bernardo: Death metal que não faz questão apenas de ser death metal. Ouvir a banda de Chuck Schuldiner é sempre uma experiência intensa.
Bruno: Meu segundo álbum favorito do Death, ficando atrás apenas do subestimado Spiritual Healing (1990). Em Human, Chuck Schuldiner já havia dado um direcionamento mais técnico e progressivo ao death metal tradicional da banda. Individual Thought Patterns segue a mesma linha, com a manutenção do virtuoso Steve DiGiorgio no baixo e a entrada do monstro Gene Hoglan nas baquetas. Para a segunda guitarra, Chuck trouxe Andy LaRocque da banda de King Diamond, proporcionando um toque melódico especial ao paredão sonoro do grupo, com duelos de guitarras gêmeas muito bem encaixados entre as passagens mais intrincadas. É o ápice da fusão entre peso e virtuosismo que Schuldiner almejava, e que soaria um tanto exagerada e pretensiosa nos dois álbuns seguintes.
Davi: Pesado, bem tocado, mas muito chato. Trabalho vocal cansativo. O baterista precisa ser apresentado à lição "tocais o que a musica pede". O cara quer ser veloz até onde não há razão de ser. Algo nítido em diversos momentos do disco. Parece que ele estava tomando um choque na bunda enquanto gravava e queria sair correndo dali o quanto antes.
Diogo: Costumo dizer que, ao contrário do que muitos pensam, escrever sobre os artistas que mais gosto é bem mais complicado do que discorrer a respeito daqueles pelos quais o interesse não é tão grande assim. É exatamente isso que ocorre em relação a uma banda como o Death e um disco como Individual Thought Patterns, no qual cada música, cada passagem, cada riff, cada virada, cada detalhe soa exatamente como deveria. Entre músicas mais aceleradas ("Overactive Imagination", "Jealousy"), quebradas ("In Human Form", "Trapped in a Corner"), diretas ("Mentally Blind") e climáticas ("Destiny"), uma formação digna de sonho dá uma aula de técnica, criatividade e entrosamento. Tendo como base as geniais composições de Chuck Schuldiner e suas guitarras, Steve DiGiorgio (baixo), Gene Hoglan (bateria) e Andy LaRocque (guitarra) – formando com Chuck uma dupla de solistas estupidamente inspirada – dão vida a canções que, 22 anos depois, ainda soam ousadas e não cansam nem os ouvidos mais acostumados. Quando o álbum é fechado ao som de "The Philosopher" então, talvez a mais conhecida obra do Death, tenho ainda mais forte a certeza de que se trata do melhor lançamento de 1993 e um dos grandes discos na história do heavy metal. Que a edição de 1995 da série traga Symbolic, obra tão maiúscula quanto esta, de preferência em posição de destaque ainda maior!
Eudes: Nunca havia ouvido. Seria leviano dizer qualquer coisa sobre o assunto.
Fernando: Da mesma forma que o Carcass, o Death ainda não me desceu completamente. E olha que tenho até três CDs deles.
Leonardo: Com uma das formações mais talentosas já vistas em uma banda de metal extremo, contando com o fundador e líder Chuck Schuldiner, o baterista Gene Hoglan, o baixista Steve DiGiorgio e o guitarrista Andy LaRoque, o Death lançou mais um disco seminal na sua carreira. Menos inovador que seu antecessor, Human, mas extremamente refinado, Individual Thought Patterns era o disco perfeito para apresentar a quem dizia que o death metal era puro barulho. Com riffs intrincados, mudanças de andamento incomuns e solos de cair o queixo, a banda dava uma aula de musicalidade sem comprometer um milímetro de sua identidade e agressividade.
Mairon: Não é o tipo de som que eu admiro muito. Para mim, o death metal concentra-se em poucas bandas que gosto de ouvir (Deicide é a principal), e confesso que Individual Thought Patterns foi audível sem sofrimentos, mas, ao mesmo tempo, ao final do play não fiquei com nenhuma saudade. Enalteço as qualidades musicais de Chuck Schuldiner e Andy LaRocque, dois gigantes na guitarra metálica, e só. Bom disco, mas jamais um dos dez melhores do death metal, quiçá do ano de 1993.
Thiago: Outstanding. Como tudo do Death, é impecável, clássico em cada nota. Não é meu preferido do grupo, mas é absurdamente fantástico.
Ulisses: Death metal brutal e com técnica acima da média, com baixo proeminente (destaque em "Jealously") e ótimas viradas de bateria. Andy LaRoque traz grandes solos, que não destoam tanto assim do seu estilo lá no King Diamond. Destaque para "Overactive Imagination", "Trapped in a Corner" e "The Philosopher". Ótimo disco!
Type O Negative - Bloody Kisses (32 pontos)
Alissön: Devo confessar que fiquei realmente surpreso com o resultado desta lista: uma boa quantidade de discos realmente bons, diferente de outras listas cheias de álbuns eleitos apenas por conta do peso do nome da banda. Bloody Kisses é bem lembrado por ser um dos expoentes do gothic metal nos idos dos anos 1990, ao lado de Icon (Paradise Lost) e Dance of the December Souls (Katatonia). No fim, o disco é bem mais que isso: uma bela coleção de riffs sabbáthicos, baixo insanamente pesado e a voz sepulcral de Peter Steele. Mesmo que não tenha sido agraciado por mim em minha lista, não deixa de figurar entre os clássicos maiores da música pesada. Bela menção.
André: Ótimo que teremos pelo menos um disco de gothic metal, subgênero que costumeiramente é bem pouco apreciado neste ambiente em que escrevemos, em nossas listas. E um dos melhores registros do estilo (além de ser um dos primeiros) está aqui. O álbum fez um sucesso grande entre os góticos dos anos 1990, que costumavam ouvir discos como este ao mesmo tempo que jogavam "Vampiro: A Máscara". Nem mesmo uma canção como “Black No. 1”, que tirava sarro das garotas góticas adolescentes, atingiu de fato esse pessoal (aparentemente havia mais senso de humor na época). Independente disso, a beleza melódica de “Christian Woman” ou mesmo o doom agoniante de “Bloody Kisses (A Death in the Family)” são exemplos de canções que o falecido Peter Steele deixou ao mundo. Por sinal, a banda tinha um humor negro que faz falta hoje em dia.
Bernardo: Pior que eu gosto do Type O Negative, por esse lado quase cartunesco que a própria banda admitia. "Black No. 1" é viciante!
Bruno: Deixe o preconceito com o rótulo "gótico" de lado. O Type O'Negative é uma senhora banda de heavy metal, com um dos melhores compositores que o gênero já viu. Peter Steele era uma figura única, com sua imagem de vampiro gigante, vozeirão de barítono, linhas de baixo distorcidas e encorpadas e senso de humor sarcástico e autodepreciativo. Foi com Bloody Kisses que o grupo estourou através do hit (e que belíssimo hit) "Black No. 1", que representa de maneira perfeita a sonoridade do grupo, mesclando riffs sabbáthicos, melodias grudentas e passagens atmosféricas de teclado, com uma letra bem humorada, debochando dos estereótipos da imagem gótica. A herança do Carnivore (ex-banda de Steele) também dá as caras no hardcore “Kill All the White People”, uma resposta às acusações de racismo sofridas pelo vocalista. Provando a postura “foda-se” do grupo, o tracklist ainda conta com um inusitado cover de Seals & Croft, e a polêmica "Christian Woman", cuja letra se refere à uma jovem que se masturba pensando em Jesus Cristo. O Type O Negative é mais um dos fenômenos que só poderiam ter surgido na maravilhosa década de 1990, e é uma pena que Steele tenha partido tão cedo. Um cara como ele faz muita falta na música alternativa.
Davi: Existem alguns artistas que, mesmo sendo inacreditavelmente chatos, conseguem atingir um culto que seria caso de estudo acadêmico. Um desses é o Type O Negative. O instrumental é interessante. Pesado. Por vezes, sombrio. Agora, o trabalho vocal de Peter Steele é uma das coisas mais chatas que já surgiram nesta galáxia. Cantando quase sempre para baixo, arrastado, quase como se estivesse fora de rotação. Quando ele inventava de cantar com sustain, parecia que estava em uma interminável crise de arrotos. Não sei se ele queria trazer sensação de medo. Pra mim, tudo que conseguiu, foi gerar sono.
Diogo: Sequer tinha aparelho de som com CD player lá por meados dos anos 1990, mas mesmo assim entrava em uma loja de discos de minha cidade, Vacaria (RS), e ficava observando as paredes cobertas de discos, às vezes ouvindo alguns. Um dos que mais me chamavam atenção pela capa, mas que acabei não ouvindo na época, era Bloody Kisses. Anos se passaram até que eu tivesse contato com seu tracklist, e felizmente a expectativa foi superada. "Christian Woman" e "Black No. 1" são obras fenomenais desse grupo novaiorquino, que mistura gothic metal, hardcore, humor negro e referências sexuais com maestria. Melhor que isso: a banda ri da própria subcultura em que está inserida, além de fazer troça com aqueles que já criticaram infundadamente o grupo e seu líder, Peter Steele, vide as pancadas "Kill All the White People" e "We Hate Everyone". As duas primeiras que citei são mesmo os grandes destaques do disco, mas exalto ainda o cover para "Summer Breeze" (Seals and Croft) e "Too Late: Frozen". Que bom que este álbum foi lembrado por aqui.
Eudes: Não havia ouvido este disco e fui com bastante má vontade a ele. Mas não é que o bicho é bacanão? Faixas pesadas, mas atmosféricas; melodias soturnas, mas com bela pegada pop; influências indo da óbvia presença de Lou Reed a, vejam só!, Beatles, além de uma produção assustadora e uma capa que remete à estética do terror gótico dos anos 1920 e 1930. Tirando coisas chatinhas como "Can't Lose You", fiquei com vontade de ouvir mais.
Fernando: Não adiantou a minha insistência anterior com a banda do vocal cavernoso. Não gostei do disco e por consequência do grupo.
Leonardo: Eu até entendo a proposta do Type O Negative, mas confesso que a considero cansativa ao extremo. Funciona bem em uma ou duas músicas, como as excelentes "Black No. 1" e "Christian Woman", mas ouvir o disco inteiro sem bocejar é uma tarefa árdua.
Mairon: Outro disco cujo lançamento lembro nitidamente, e toda a polêmica envolvendo sua capa e a faixa de abertura (com a mulher atingindo o orgasmo). Impressionante que este é o terceiro disco do grupo, e até seu lançamento, praticamente ninguém os conhecia no Brasil. Músicas longas e arrastadas, com a clássica - e melhor do álbum - "Black No. 1" sendo o maior expoente do disco, mas não é para mim, definitivamente. As canções que lembram os dois primeiros álbuns ("Kill All the White People" e "We Hate Everyone"), assim como a surpreendente tecladeira de "Set Me on Fire", longe da arrastada levada de quase todo o disco, também são audíveis. Surpreso por vê-lo nessa lista, já que praticamente ninguém comentou a
discografia comentada que a Consultoria do Rock publicou há um tempo (felizmente, essa não foi perdida).
Thiago: Nunca fui muito fã de Type O Negative, achava "Black No. 1" impressionante, mas toda vez que tentei ouvir o play na época eu pensava: "Rapaz, se fosse um disco de 11 músicas iguais a 'Black No. 1', tava ótimo". Hoje em dia ainda não curto muito a banda, exceto alguns sons perdidos.
Ulisses: Disco bem irregular. Algumas faixas são legais, como "Black No. 1", "Summer Breeze" e "Set Me on Fire", mas o registro também tem vários momentos de tortura. Tinha coisa melhor que isso em 1993...
Listas individuais
Alissön Caetano Neves
- Smashing Pumpkins – Siamese Dream
- Nirvana – In Utero
- Björk – Debut
- Melvins – Houdini
- Carcass – Heartwork
- Crowbar – Crowbar
- Eyehategod – Take As Needed for Pain
- Sepultura – Chaos A.D.
- Neurosis – Enemy of the Sun
- Voivod – The Outer Limits
André Kaminski
- Rush – Counterparts
- Type O Negative – Bloody Kisses
- Helloween – Chameleon
- Montefeltro – Il Tempo di Far la Fantasia
- Paradise Lost – Icon
- Harem Scarem – Mood Swings
- Titãs – Titanomaquia
- Patrick Gauthier – Sur Les Flots Verticaus
- Meat Loaf – Bat Out of Hell II: Back Into Hell
- Angra – Angels Cry
Bernardo Brum
- Wu-Tang Clan – Enter the Wu-Tang (36 Chambers)
- Nirvana – In Utero
- A Tribe Called Quest – Midnight Marauders
- Smashing Pumpkins – Siamese Dream
- PJ Harvey – Rid of Me
- Radiohead – Pablo Honey
- Slowdive – Souvlaki
- Dinosaur Jr. – Where You Been
- Einstürzede Neubauten – Tabula Rasa
- De La Soul – Buhloone Mind State
Bruno Marise
- Dinosaur Jr. – Where You Been
- The Wildhearts – Earth vs the Wildhearts
- Anthrax – Sound of White Noise
- Type O Negative – Bloody Kisses
- Paul Weller – Wild Wood
- Sepultura – Chaos A.D.
- Smashing Pumpkins – Siamese Dream
- Carcass – Heartwork
- Melvins – Houdini
- Death – Individual Thought Patterns
Davi Pascale
- Aerosmith – Get a Grip
- Fight – War of Words
- Pearl Jam – Vs.
- Winger – Pull
- Nirvana – In Utero
- Poison – Native Tongue
- Mr. Big – Bump Ahead
- Anthrax – Sound of White Noise
- Vince Neil – Exposed
- Coverdale/Page – Coverdale/Page
Diogo Bizotto
- Death – Individual Thought Patterns
- Carcass – Heartwork
- Harem Scarem – Mood Swings
- Winger – Pull
- Morbid Angel – Covenant
- Dissection – The Somberlain
- Cynic – Focus
- Sepultura – Chaos A.D.
- Type O Negative – Bloody Kisses
- Fight – War of Words
Eudes Baima
- Al Green – Don’t Look Back
- Zizi Possi – Valsa Brasileira
- Chico Buarque – Paratodos
- Paul Weller – Wild Wood
- Smashing Pumpkins – Siamese Dream
- Grant Lee Buffalo – Fuzzy
- Nirvana – In Utero
- Edu Lobo – Corrupião
- Lenine e Marcos Suzano – Olho de Peixe
- Pato Fu – Rotomusic de Liquidificapum
Fernando Bueno
- Angra – Angels Cry
- Sepultura – Chaos A.D.
- Anthrax – Sound of White Noise
- Gamma Ray – Insanity and Genius
- Aerosmith – Get a Grip
- Mercyful Fate – In the Shadows
- Dr. Sin – Dr. Sin
- Savatage – Edge of Thorns
- Smashing Pumpkins – Siamese Dream
- Winger – Pull
Leonardo Castro
- Carcass – Heartwork
- Savatage – Edge of Thorns
- Dissection – The Somberlain
- Sepultura – Chaos A.D.
- Metal Church – Hanging in the Balance
- Dark Tranquility – Skydancer
- Death – Individual Thought Patterns
- Entombed – Wolverine Blues
- Fight – War of Words
- Rage – The Missing Link
Mairon Machado
- U2 – Zooropa
- Rush – Counterparts
- Coverdale/Page – Coverdale/Page
- Recordando o Vale das Maçãs – As Crianças da Nova Floresta II
- Robert Plant – Fate of Nations
- Anekdoten – Vemod
- Anthrax – Sound of White Noise
- David Bowie – Black Tie White Noise
- Pearl Jam – Vs.
- Ney Matogrosso – As Aparências Enganam
Thiago Vakka
- Anathema – Serenades
- Morbid Angel – Covenant
- Carcass – Heartwork
- Cathedral – The Ethereal Mirror
- Neurosis – Enemy of the Sun
- Eyehategod – Take As Needed for Pain
- Paradise Lost – Icon
- Darkthrone – Under a Funeral Moon
- Earth – 2
- Demilich – Nespithe
Ulisses Macedo
- Angra – Angels Cry
- Sepultura – Chaos A.D.
- Dr. Sin – Dr. Sin
- Motörhead – Bastards
- Morphine – Cure for Pain
- Living Colour – Stain
- Viper – Vipera Sapiens
- Conception – Parallel Minds
- Rush – Counterparts
- Pearl Jam – Vs.