Por Diogo Bizotto
Com Alissön Caetano Neves, André Kaminski, Bernardo Brum, Bruno Marise, Davi Pascale, Eudes Baima*, Fernando Bueno, Leonardo Castro, Mairon Machado e Ulisses Macedo
Participação especial de Thiago Sarkis, ex-redator da revista Roadie Crew
Muito esta série é criticada por sua tendência a exagerar na quantidade de discos de determinados gêneros, com especial ênfase para o heavy metal, desde que o estilo começou a dar as caras, e para o rock progressivo, em se tratando das edições abordando a década de 1970. Ao mesmo tempo que obviamente são válidas e expõem que há, sim, uma exacerbação, há de se levar em conta que o resultado de cada lista reflete a vivência das pessoas que fazem este site, que não são profissionais da crítica, mas sim fãs de música que não têm necessariamente o compromisso de representar determinados cenários, mas manifestar o amor que têm pelos artistas aqui citados, com seus defeitos e qualidades. Discutir música é saudável e divertido, desde que isso não seja levado excessivamente a sério. O maior de todos os compromissos deve ser com nosso própria honestidade intelectual. Dito isso, fiquem com o resultado para 1995, que sim, tem muito heavy metal – incluindo seu vencedor, o Down –, mas também dá destaque a grupos como Smashing Pumpkins e Oasis, além de uma certa banda brasileira que virou o País de cabeça para baixo durante o pouco tempo que esteve na ativa. Lembrando sempre que o critério para a soma de pontos segue o sistema de pontuação do campeonato mundial de Fórmula 1. Boa leitura!
Down - NOLA (75 pontos)
Alissön: O cheiro de whisky, pântano e Marlboro emanam quando este disco começa a rodar. Acredito que em nenhum outro trabalho Phil Anselmo sentiu tamanha liberdade para experimentar com os sons que fizeram sua formação musical. Exatamente por isso julgo NOLA o melhor disco que já compôs em sua carreira, somando todos os seus trabalhos com o Pantera e projetos paralelos. Obviamente Phil não pariu esta obra prima sozinho. A cozinha com Jimmy Bower na bateria e Kirk Windstein no baixo é devidamente primitiva, tocando com muita animalidade e pegada assombrosa. Os riffs do mestre Pepper Keenan e do gordinho Kirk (também nas guitarras) moldaram toda a estética sludge/stoner que incontáveis bandas copiariam dali em diante, enquanto Phil canta com mais desenvoltura e liberdade que em trabalhos anteriores. Arquétipo da sonoridade sludge e um dos pioneiros do stoner contemporâneo, NOLA é um belo aperitivo de rock sulista feito por um verdadeiro supergrupo. Primeiro lugar com louvores.
André: Não conhecia o Down até por eu nunca ter sido lá muito chegado a Phil Anselmo. E fui surpreendido logo na primeira faixa que botei para tocar aqui. Riffs matadores, baixo e bateria debulhadores e um Anselmo muito inspirado. Fazem um tipo de southern metal (próximo ao Black Label Society, banda que gosto muito), porém com um jeito que lembra bem o stoner, principalmente na afinação dos instrumentos. Não votei neles mas tá aí um disco muito merecedor de estar nesta prestigiada lista.
Bernardo: Debutando homenageando sua cidade natal (NOLA significa Nova Orleans, Louisiana), Phil Anselmo se juntou com o guitarrista Pepper Keenan do Corrosion of Conformity e a cozinha do Crowbar, Todd Strange e Jimmy Bower, e pariram um metal de ar sludge e marra stoner que não é brilhante como o Pantera que deixou Anselmo famoso, mas é singular e com uma qualidade consistente o suficiente para valer a ouvida.
Bruno: Eu não esperava nem que entrasse, ver em primeiro, então, foi uma baita surpresa. NOLA é mais uma daquelas pérolas subestimadas dos anos 1990. Muito mais do que um projeto paralelo do vocalista do Pantera, o Down é um supergrupo da cena metálica de New Orleans, berço do sludge. Trazendo Phil Anselmo (vocais), Jimmy Bower do Eyehategod (bateria), Pepper Keenan do Corrosion of Conformity (guitarra) e a dupla do Crowbar Kirk Windstein (guitarra) e Todd Strange (baixo). Diferente do som mais agressivo de suas respectivas bandas, o Down aposta em um stoner com fartas influências de Sabbath, Saint Vitus e Pentagram. A dupla de guitarristas cria uma parede sonora que junta os riffs monolíticos e absurdamente pesados de Kirk Windstein, com o timbre único, grooveado e melódico de Pepper Keenan, um cara injustiçadíssimo. "Stone the Crow", o "hit" da banda, por mais manjado que seja, continua sendo uma composição fortíssima e viciante, um verdadeiro clássico.
Davi: Excelente álbum de estréia do Down. Depois do Pantera, essa, para mim, é sua melhor banda. NOLA é uma aula de heavy metal. Excelente trabalho vocal, excelentes riffs, excelentes composições. Um cruzamento entre Pantera e Black Sabbath. Surpresa ver os caras ocupando o primeiro lugar de nossas listas.
Diogo: Acho que a presença do Down encabeçando esta edição foi uma grande surpresa para a maioria, mas uma surpresa positiva, pois a turma liderada por Phil Anselmo e Pepper Keenan soube cunhar uma sonoridade que, além de ser capaz de agradar diferentes tipos de ouvinte, é original e exala regionalismo sem cair nos excessos autoindulgentes, como certas horas é tão comum. New Orleans-Louisiana não está apenas no título do disco, mas nos andamentos arrastados que remetem a seus pântanos e nas melodias tão sinuosas quanto os canais do delta do Mississipi. Os vocais de Phil aparecem mais "soltos" do que no Pantera, combinando com o jeito mais displicente do Down de fazer heavy metal, algo bastante evidente nas conduções de Jimmy Bower atrás dos pratos e tambores. Pepper Keenan revela-se uma máquina de riffs ganchudos para fazer corar todo esse séquito de bandas stoner monótonas que dariam as caras nos anos seguintes, mostrando que peso não é nada sem criatividade e um mínimo de senso melódico. Ouçam "Lifer" e "Losing All" e entendam o que quero dizer. Por falar em melodia, "Stone the Crow" é, com mérito, aquilo mais próximo de um hit que o grupo conquistou, super bem construída em suas diversas camadas de guitarra. O final do disco ainda revela um pequeno épico na forma de "Bury Me in Smoke", não deixando dúvida dos talentos dessa turma. Não entrou em minha lista por pouquíssimo, mas talvez devesse ter entrado mesmo.
Fernando: O Down em primeiro foi uma surpresa enorme. Gostei! O Pantera estava em stand-by e o Down continuou a incluir o groove no heavy metal. Gosto da banda, mas não acompanho muito de perto.
Leonardo: A mistura de stoner/sludge metal com southern rock do Down nunca me empolgou muito, mas é inegável que estamos diante de um trabalho de muita qualidade. Os riffs de Pepper Keenan (Corrosion of Conformity) e Kirk Windstein (Crowbar) não deixam pedra sobre pedra, e o vocal de Phil Anselmo (Pantera) é ainda mais insano e agressivo do que em sua banda principal. Se o estilo da banda é a sua praia, pode ir sem medo, não tem como ficar melhor do que isso.
Mairon: O álbum de estreia do grupo de Phil Anselmo foi uma grata surpresa. Os riffs sabbáthicos de "Temptation's Wings", "Swan Song", "Stone the Crow" e "Lifer" agradaram bastante, mas NOLA não fica apenas nisso. Gostei, por exemplo, das melodias de "Rehab", do violão na vinheta "Pray for the Locust", do peso de "Underneath Everything" e também da influência inusitada do Black Sabbath em "Jail", mas não no peso da consagrada banda de Tony Iommi, e sim nas viagens psicodélicas da linda "Planet Caravan". Acho que o primeiro lugar é bastante demasiado, mas apesar de não conhecer a banda, não vejo com problemas este álbum entre os dez mais.
Thiago: Fiquei surpreso e feliz com NOLA em primeiro lugar; é certamente merecido. O Down é aquele tipo de banda para a qual você olha e pensa: "com esse tanto de cara bom, não tem como dar errado". Porém, constantemente, sim, dá errado! Com Phil Anselmo, Pepper Keenan, Jimmy Bower e Kirk Windstein não. Eles trouxeram o que havia de melhor em suas bandas principais e em suas raízes e formações musicais e o resultado foi esse: NOLA, um debute-obra-prima. Segui a discografia do grupo até Down III: Over the Under (2007), outro petardo sensacional, e já me disseram inúmeras vezes que eu deveria escutar os trabalhos posteriores. Não ouvi por falta de tempo, mas o interesse é enorme.
Ulisses: Disco fantástico de stoner/sludge misturado ao southern rock e vocal raivoso (mas não ao nível Pantera) de Phil Anselmo e sua turminha – por "turminha" entenda um supergrupo que conta também com membros de Crowbar, Corrosion of Conformity e Eyehategod. Faixas pesadíssimas como "Lifer" e "Pillars of Eternity" (minha favorita) convivem pacificamente com petardos como o hino "Eyes of the South", a melódica "Stone the Crow" e a épica "Bury Me in Smoke". As duas faixas instrumentais também são bem legaizinhas, principalmente a viajante "Jail". Primeiro lugar muito merecido.
The Smashing Pumpkins - Mellon Collie and the Infinite Sadness (63 pontos)
Alissön: Infinitamente inferior a Siamese Dream (1993), mas não menos essencial. Talvez pense assim pela quantidade de músicas (28 distribuidas em dois discos), causando menos impacto no ouvinte quando ouvido de cabo a rabo. Mas no fim essa megalomania alternativa de Billy Corgan se transformou em um disco que basicamente definiu a cara da música naquele ano. Clássico, apenas.
André: Céus, o que deu nesses caras? Às vezes tocam um popzinho chocho com Billy Corgan tentando imitar Axl Rose, como em “Tonight, Tonight”, e aí botam um peso enorme na faixa seguinte que é “Jellybelly”. Álbum duplo, com algumas faixas boas como “Zero”, “Fuck You (An Ode to No One)” e “Bodies”, com outras muito ruins sendo “Cupid de Locke”, “Stumbleine” e a enfadonha “By Starlight”. Talvez se fizesse um catadão das músicas mais enérgicas e eu poderia ter uma impressão diferente.
Bernardo: Muitas vezes me sinto tentado a ser superlativo e falar que a obra-prima de Corgan e os Pumpkins é a obra-prima dos anos 1990. Não sei, ainda não me decidi. Mas tudo que os Pumpkins tentaram nos álbuns anteriores alcança outro nível nesse ambicioso álbum de 28 músicas e duas horas de duração – o que provavelmente teve o impacto de um Clash quando lançou London Calling (1979) para a geração respectiva, provando que era possível fazer música popular criativa, complexa e ambiciosa, cruzar referências das mais variadas (do pop sessentista ao grunge passando pelo heavy metal, mais referências visuais carregadas de influências do cinema). O lado um, "Dawn to Dusk", concentra tantas pérolas – a beleza singular de "Tonight, Tonight", o clima esquisito de "Zero", o peso cadenciado e viciante de "Here Is No Why", o grunge explosivo e angustiado de "Bullet With Butterfly Wings", cujos versos lentos culminam em um refrão rasgado – que pode fazer até o ouvinte pensar menos do lado dois, "Twilight to Starlight", que traz a beleza introspectiva de "1979" quase como uma resposta à comoção expansiva de "Tonight, Tonight", a inusitada "We Only Come Out at Night", com seu ritmo e melodia de combinação estranha e resultado atraente e a longa viagem delirante de "Thru the Eyes of Ruby", que parece fazer dupla com a do primeiro lado "Porcelina of the Vast Oceans". Ainda hoje, Mellon Collie não envelheceu nem um pouco: estou sempre descobrindo coisas novas a cada audição, gostando mais de músicas que antes passavam (quase) batidas. Um dos discos da minha vida – por mais que os Pumpkins tenham uma carreira cheio de momentos incríveis, só esse disco já valeria a entrada na galeria histórica do rock and roll.
Bruno: O trabalho mais ousado e o ápice do grupo de Billy Corgan. Riffs pesados, melodias, guitarra fuzz, baladas, quarteto de cordas e rock progressivo é só um pouco do que encontramos neste disco duplo maravilhoso. Uma pena que a banda nunca mais conseguiria atingir o mesmo nível de seus três primeiros álbuns.
Davi: Álbum que considero a obra-prima do Smashing Pumpkins. Os músicos passaram a ousar mais nos arranjos. Utilizaram orquestra, bateria com looping, piano, sintetizadores. Tudo isso sem descaracterizar a banda. As guitarras com muitas distorções e poucos acordes continuavam no disco. Billy Corgan não alterou muito seu trabalho vocal. O CD é duplo, mas extremamente consistente. Sempre considerei “Tonight, Tonight” e “Bullet With Butterfly Wings” duas puta músicas. Merecido!
Diogo: Para quem não está acostumado com o Smashing Pumpkins, se deparar com um álbum duplo com mais de duas horas de duração constitui um pequeno desafio. Sinceramente, apesar de já tê-lo ouvido algumas vezes para tecer este comentário, ainda não devo ter digerido 20% de seu conteúdo, mas isso não é necessariamente negativo: gosto de projetos ambiciosos como este, pois revelam um compromisso com sua arte cada vez mais em extinção no mainstream. Apesar da cara inegavelmente noventista, Mellon Collie exala influências mais amplas, como a já conhecida queda pelos riffs sabbáthicos, melodias setentistas e flertes com o progressivo, inclusive com direito a cordas. Chega um certo ponto em que o álbum se torna um tanto cansativo, especialmente pois o segundo disco tem uma caída de qualidade, mas certamente trata-se de uma grande obra, que merece muitas audições atentas além das famosas (e ótimas) "Bullet With Butterfly Wings" e "1979".
Fernando: O que foi esboçado em algumas música em Siamese Dream foi feito em Mellon Collie. Como um todo, o disco é um pouco longo demais. Caso tivessem enxugado e colocado só as músicas mais marcantes seria um clássico incontéstável!
Leonardo: Sempre achei o The Smashing Pumpkins insuportável. Não gosto das composições, dos arranjos, e, principalmente, da voz de Billy Corgan. É inegável que o disco tem diversos hits, que os videoclipes eram muito bem feitos e que a banda marcou uma geração. Mas não é para mim. Passo.
Mairon: Um disco desafiador. Duas horas de depressão e melancolia jogadas para o ouvinte, que rendeu um álbum aclamadíssimo, tornando-se o primeiro do Smashing Pumpkins a assumir a primeira posição nos Estados Unidos. Seu único defeito é a longa duração (podia ser um pouco mais curto). No geral, entre as amenidades predominantes – adoro "Take Me Down" e a classicíssima "1979", que embalou muitas madrugas da minha adolescência –, os destaques vão para o peso de "Jellybelly", a pancadaria da clássica "Bullet With Butterfly Wings", a pegada alucinante de "Fuck You (An Ode to No One)" e o ritmo avassalador de "Tales of a Scorched Earth". É o meu 11° sem dúvidas!
Thiago: Eu penso The Smashing Pumpkins e logo me vem à mente todos aqueles fãs tão pretensiosos quanto o líder do grupo, Billy Corgan. Alguns mais bobinhos do que pretensiosos, mas enfim. E isso faz com que a vontade de um crítico musical descer o sarrafo vá a limites quase incontroláveis (isso responde a uma pergunta recente do próprio Corgan, indignado com a falta de reconhecimento para a banda, vendo-se perseguido). Sim, às vezes, avaliamos mais com a antipatia do que com a razão. Não farei isso aqui. A música é boa, o disco é excelente, as ideias são fascinantes, o instrumental muito caprichado e várias letras são lindas, realmente lindas. Grande trabalho.
Ulisses: Mais de duas horas de música, variando canções sublimes e lindamente construídas, como "1979", "Galapogos", "Tonight, Tonight" e "By Starlight", com bigornas como "Bodies", "Tales of a Scorched Earth" e "Jellybelly"; e o pior (melhor?) é que não soa deslocado! Uma certa atmosfera permeia o disco, fazendo tudo soar coeso, nunca forçado. Mas pô, dava para aparar um pouco, principalmente lá no fim do segundo disco.
Paradise Lost - Draconian Times (45 pontos)
Alissön: Que lista linda esta... Tudo bem que tem uma coisa ou outra pra queimar o filme (né, louro glam?), mas uma lista que privilegia Paradise Lost e Dissection merece ser levada em consideração. Falando sobre Draconian Times: facilmente um dos discos que mais trabalhou a questão da beleza melódica e uso de influências clássicas junto do som extremo, sem sair de estúdio com um disco inflado de nuances desnecessárias. Para aqueles que ainda têm preconceitos com heavy metal, recomendo uma audição atenta deste disco, um dos poucos de metal extremo que podem ser apreciados sem maiores problemas por ouvintes leigos no gênero.
André: O principal destaque na discografia dos caras. Após deixarem de lado aquele doom metal mais arrastado dos primeiros discos (também excelente), eles investiram no ainda iniciante gothic metal ao colocar mais dinamismo em sua sonoridade e fazer um disco que soa belo e sombrio ao mesmo tempo. “Once Solemn” e seus riffs cativantes e “Hands of Reason” com o baixo liderando o tom são as duas melhores músicas do trabalho.
Bernardo: Gostei, mas não achei nada de especialmente marcante. Aliás, minto: a capa parece uma carta de Magic.
Bruno: O disco mais representativo do Paradise Lost, com um trabalho de guitarras acima da média e a atmosfera melancólica das influências góticas da banda.
Davi: Conhecia algumas músicas do conjunto, mas nunca havia parado para escutar um álbum do início ao fim. Achei bacana. Pesadinho, melódico, melancólico. Bem tocado, bem gravado. Faixas como “The Last Time” têm um quê comercial, com um refrão meio pegajoso, poderiam ter se tornado grandes hits na época. Gostei. Vou procurar conhecer um pouco mais dos caras.
Diogo: Em uma trajetória que começou pelo lado extremo do heavy metal, equilibrando-se entre o death e o doom, até a transição para algo bem mais comercialmente viável, Draconian Times provavelmente seja o ápice da carreira do Paradise Lost, mantendo essa gangorra no centro através de músicas bem trabalhadas e de muito bom gosto melódico. Os guitarristas Greg Mackintosh e Aaron Aedy, em especial, estão afiados, criando camadas que dão suporte aos vocais agressivos, melancólicos e melodiosos de Nick Holmes. Não cheguei a votar no disco, mas excelentes canções como "Enchantment", "Hallowed Land", "The Last Time", "Forever Failure" e "Shades of God" era indicativo de que Draconian Times daria as caras por aqui em alta colocação e merecidamente.
Fernando: Já escrevi sobre este disco para o site, mas este é um dos muitos textos perdidos (obrigado, UolHost!!). Obra prima do Paradise Lost que fez muita gente se interessar pelo doom.
Leonardo: Belíssimo disco do Paradise Lost. Depois de se firmar como uma das principais bandas de doom metal em seus discos anteriores, o grupo inglês incorporou outros estilos em seu som, flertando com o hard e o gothic rock, além de experimentar diversas texturas em seu instrumental. O resultado foi fenomemal, com diversas músicas marcantes, como os hinos "Hallowed Land" e "The Last Time". Pesado, melódico e único, Draconian Times catapultou a carreira da banda.
Mairon: Quando olhei a lista pela primeira vez, não associei o disco à sua capa. Somente ao vê-la é que me dei conta de que já conhecia isto aqui. Não é um álbum ruim, mas ao mesmo tempo nada me cativou, a não ser uma certa lembrança de The Cult em "The Last Time" ou uma sacudida de pescoço na veloz "Once Solemn". No mais, canções arrastadas e cansativas, que não agregam nada para Draconian Times estar entre os dez mais.
Thiago: Eu adorei seguir o desenvolvimento desses caras, assim como de outras bandas congêneres, como o Anathema. Muitos desses grupos transitando inicialmente ali no doom/death fizeram trajetórias surpreendentes e Draconian Times marca o auge de uma destas metamorfoses paulatinas pela qual passou o Paradise Lost. Uma mistura de doom com Metallica e algo mais alternativo, resultando em um metal acessível e muito bem feito. O que me incomoda um pouco no Paradise Lost é que me parece que a assinatura deles vem sempre marcada por um rastro por demais expressivo de outros. Não são plágios, nada disso. Porém, seja de Depeche Mode, Metallica ou o que for, há sempre uma sombra na assinatura do grupo que diz de algo que não é totalmente deles; de uma boa banda, aberta a experimentos, mas influenciada demais e que me parece no conjunto dos seguidores, não dos líderes; ainda que assuma tantos admiráveis riscos com inúmeras modificações de rota.
Ulisses: ZzZzZzZz... A boa produção, a competência dos músicos e o clima soturno – por vezes angustiante – não salvam o CD de seu efeito sonífero, com um ou outro momento digno de nota e mais nada. Mas admito que a capa é lindíssima.
Oasis - (What's the Story) Morning Glory? (43 pontos)
Alissön: Definitely Maybe (1994) apresentou um belo disco de rock refrescante, simples e, mesmo que chupando várias ideias do Fab Four descaradamente, apresentava um conjunto de canções dignas de uma audição atenta. Estranhamente, Morning Glory? não me agrada tanto, mesmo sendo o álbum mais aclamado do quinteto. Onde estão aquelas guitarras estridentes, aquele rock básico com gravação analógica que me surpreendeu anteriormente? No lugar disso tudo, rocks tão bonitinhos quanto sem graça e baladas para entoar em grandes estádios. Não vou dizer que é uma porcaria, algo que está bem longe de ser, mas não é bem meu estilo.
André: Agradeço aos consultores por reforçarem o meu desgosto ao Oasis.
Bernardo: Muitas vezes se tem por tradição colocar o comportamento da pessoa como critério para analisar a música do artista, mas isso é besteira: os marrentos irmãos Gallagher são compositores de mão cheia: tem "Wonderwall", uma das baladas mais conhecidas da década, "Don't Look Back in Anger", na qual as referências a Bowie no título e a Beatles na música se cruzam para um refrão grandioso, e os sete melódicos, intensos e delirantes minutos da música de encerramento "Champagne Supernova", com Paul Weller do The Jam fazendo o solo de guitarra e ajudando nos vocais de apoio, naquela que é possivelmente a grande canção do Oasis.
Bruno: Gosto mais do primeiro, mas este é muito bom também. Destaque para a faixa-título, na minha opinião a melhor música do Oasis.
Davi: Ótimo disco dos irmãos Gallagher. Nunca fui fanático pelo grupo, mas sempre gostei muito dos três primeiros CDs da banda. Embora sempre tenham se passado por arrogantes perante a imprensa, na hora de compor a química dos irmãos funcionava. “Wonderwall”, “Roll With It”, “Champagne Supernova” e “Don't Look Back in Anger” são trilha sonora daquela geração. “Hello!” e “Some Might Say” são igualmente impactantes. Feliz de ver o álbum por aqui.
Diogo: Existe toda uma aura negativa ao redor do Oasis (vide fãs e imprensa musical), mas é inegável que, quando Noel Gallagher acertava a mão, o fazia da melhor maneira possível. "Don't Look Back in Anger" e "Champagne Supernova" estão entre as melhores músicas da década de 1990, mostrando um senso melódico belíssimo aliado a uma sensibilidade pop que só podia ter dado no sucesso que deu. E "Wonderwall"? Boa música, desgastada pela exposição excessiva, mas não tão boa quanto "Roll With It", "Hey Now!", "Some Might Say" e "Morning Glory". Brincando, citei quase todo o álbum, mas convenhamos, é merecido, assim como sua menção entre os melhores de 1995. Liam Gallagher podia ter toda a pinta de moleque insuportável, mas era o vocalista perfeito para o grupo, com seu tom certas horas quase debochado e indiscutivelmente representativo das origens da banda.
Fernando: Já escrevi sobre este disco aqui. Muita gente ainda torce o nariz para os grupos que surgiram nessa época na Inglaterra por elas terem um apelo pop. O Oasis também tinha esse apelo e mesmo assim foi uma ótima banda. Pena que os egos fizeram com que ela acabasse.
Leonardo: Nunca suportei a sonoridade do Oasis, e muito menos a atitude “somos os novos Beatles”. Ouvi o disco mais uma vez depois de anos e minha opinião não mudou. Pop rock rasteiro, com melodias simples e vocais insuportáveis. E alguém ainda aguenta "Wonderwall"?
Mairon: Disco recheado de clássicos e, acredito, o melhor dos britânicos. Quem viveu os anos 1990 não tem como não se lembrar do Oasis. Vivia tocando nas rádios, nas festas, na TV. A fama dos irmão Gallagher extramúsica acabou engolindo a banda, mas confesso que fiquei muito faceiro em ouvir de novo "Hello", "Morning Glory", "Roll With It" e "Some Might Say", ou ainda os superhits "Wonderwall" e "Don't Look Back in Anger" Músicas certeiras para animar a festa e ser um sucesso. A comparação com Beatles é totalmente válida, e – joguem as pedras – muitas vezes acho que as músicas do Oasis são melhores do que muita coisa que o Fab Four fez, principalmente neste disco. Saber que o álbum que tem uma das melhores canções da década de 1990, "Champagne Supernova", está na lista, é um alívio perante toda a tranqueira metálica que está nesta página. E como vendeu esse bichinho, hein? Não entrou por pouco na minha lista pessoal, mas perambulou um bom tempo por lá. Oasis, Mamonas, Pumpkins e FNM, o quarteto fantástico que apaga um pouco a vergonhosa metalurgia aberta pelos consultores nos últimos anos. Desta feita os consultores estão de parabéns (tomara que Morning Glory? esteja entre os três primeiros).
Thiago: Outra surpresa e das boas. Amo este disco, adoro a banda. Segui atentamente cada passo deles até Standing on the Shoulder of Giants (2000). Chequei Heathen Chemistry (2002) e pouco ouvi dos dois últimos antes do fim do grupo. (What's the Story) Morning Glory? é o meu predileto dos Gallaghers junto com Definitely Maybe, o trabalho de estreia. Além dos hits gigantescos "Wonderwall", "Don't Look Back in Anger", "Champagne Supernova", há quatro músicas simplesmente imperdíveis neste CD: "Morning Glory", "Cast no Shadow", "Some Might Say" e "Hey Now!". Esta última, se não me engano, jamais tocada ao vivo. "Hello" também é ótima, "The Swamp Song" aparece em momentos precisos, ainda que não seja necessária, "She's Electric" é leve, deliciosa, cairia como uma luva em boa parte dos discos dos Beatles. Apenas "Roll With It" me dá preguiça (e esta foi tocada à exaustão ao vivo). Grande banda! Maravilhoso álbum!
Ulisses: Me poupe. A voz do Liam Gallagher é irritante demais, mais ainda do que o próprio britpop meloso da banda. Até dá para entender o sucesso de "Wonderwall" e similares, mas não me desce.
Dissection - Storm of the Light's Bane (40 pontos)
Alissön: Por pouco não entrou na minha lista. Talvez em uma contagem de 20 discos, ele estaria lá pela 12ª ou 13ª posição. Talvez seja um dos poucos discos que transcendem barreiras de gênero. É black metal ou é death metal? Ou são ambos? Ainda não sei, mas a estética ríspida e as melodias sinistras aliadas ao peso absurdo da cozinha, os riffs tétricos e os vocais mais afiados que gilete de Jon Nödtveidt criaram um dos plays mais cativantes e absurdamente clássicos da história do metal pesado. Bela presença.
André: Apesar de bem menos do que várias outras bandas de black metal, esse disco ainda possui aquela típica guitarra “zumbido de abelhas” que me incomoda tanto no estilo. Além dos vocais rasgados com eco, embora tenha o mérito de serem muito mais compreensíveis do que a média. Parece ser um ótimo disco para aqueles que são fãs do gênero, o que infelizmente não é o meu caso.
Bernardo: Menos inaudível que a maioria das bandas de black metal, mas ainda assim lá pelo meio da terceira música já tava morrendo de vontade de parar. Foi o que eu fiz quando a faixa acabou. Desculpa.
Bruno: Não curto.
Davi: Bem gravado, mas é o tipo de heavy metal que não me atrai. Bateria na velocidade da luz quase todo o tempo, vocal vomitado. Esse tipo de som me cansa rápido.
Diogo: Sim, eu sei, John Nödtveidt não era flor que se cheirasse. Como se não bastasse ter sido cúmplice de um assassinato, cometeu suicídio de maneira ritualística em 2006, aos 31 anos, após ter sido solto da prisão e ter gravado mais um disco e feito mais uma turnê com o Dissection. Só que também era um pequeno gênio, tendo lançado o magnífico The Somberlain (1993) com apenas 17 anos e este Storm of the Light's Bane com 19, sendo o líder e principal compositor do grupo. Ninguém soube equilibrar tão bem o death e o black metal quanto John. Suas linhas de guitarra, por mais ríspidas que fossem, apresentavam saudáveis flertes com o death metal e mesmo com o heavy mais tradicional, dosando canções como "Where Dead Angels Lie" e "Thorns of Crimson Death" com melodia e segmentos mais cadenciados, em oposição aos momentos mais violentos de faixas como "Night's Blood" e "Soulreaper". Sorte teve quem pôde testemunhar sua passagem pelo Brasil em setembro de 2005, tendo a oportunidade única de conferir ao vivo petardos como "Unhallowed" e "Retribution - Storm of the Light's Bane". Se você esteve lá, saiba que o invejo. Gostem ou não disso, e correndo o risco de ser mal entendido, John era a representação viva de sua própria música, algo cada vez mais em extinção.
Fernando: Se eu falar que gostei mais deste Dissection que do Death os fãs vão querer me trucidar?
Leonardo: O melhor disco de 1995, em minha opinião. A mistura da rispidez do black metal com riffs de metal tradicional e death metal apresentada no álbum é de uma eficiência poucas vezes vista na música extrema. O trabalho de guitarras de Jon Nödtveidt e Johan Norman é inacreditável, com riffs, solos e dobras sensacionais, executados com maestria e precisão. Há ainda o clima épico de faixas como "Where Dead Angels Lie" e "Thorns of Crimson Death", com muita influência da fase viking do Bathory. E o que dizer da avalanche de riffs de "Night’s Blood"? Obrigatório na coleção de qualquer fã de rock pesado, e indicado para quem acha que death, black e outros estilos mais extremos não passam de puro barulho. Escute este disco, sua opinião pode mudar.
Mairon: Um disco bom de se ouvir, mas que não me agregou nada de mais além de alguns minutos de uma audição interessante. Gostei de "Thorns of Crimson Death", disparada a melhor do disco, e do instrumental em geral, só que este álbum está longe de ter importância para 1995. Quantas bandas faziam algo igual a este álbum nessa época (e até antes)? Cito Possessed, Deicide, Morbid Angel, Hellhammer e o próprio Death, que entrou na lista. Não entendi a inclusão das vinhetas no início e no fim do disco – era para ser um álbum conceitual? – mas foram bem-vindas para aliviar a barulheira geral do disco. Mas tchê, sinceramente, É MUITO METÁU, pessoal, vamos variar um pouco. Abram suas mentes, consultores, o mundo não vive só disso.
Thiago: Falar deste disco me demanda neutralidade que atualmente dispenso para falar de música. No entanto, tentarei: não há como negar que o Jon Nödtveidt fez um baita trabalho aqui, levando o black metal a outro patamar. Mais melódico, com mais flertes com thrash e death. Mais acessível, musical, sem perder a essência do estilo. Não está na lista do que escutarei amanhã, nem depois, mas é brilhante, certamente.
Ulisses: Não sou chegado em black metal, mas este disco é bem legal. A química da dupla de guitarristas e as mudanças de andamento de faixas como "Night's Blood" e "Where Dead Angels Lie" mantém a música rolando sem cansar o ouvinte, além de vários momentos em que abunda melodia. "Thorns of Crimson Death" é simplesmente épica e o disco ainda encerra com a linda "No Dreams Breed in Breathless Sleep", simplesmente uma críptica composição de piano que termina abruptamente, casando muito bem com uma arte de capa que define sobremaneira o gênero black metal. Claro que, depois de poucos mais de 40 minutos de guitarras abelhudas e blast beats, meus ouvidos estavam implorando por piedade, mas valeu.
Gamma Ray - Land of the Free (35 pontos)
Alissön: Ouvi e, como esperava, não me representou. Passo.
André: Conheço muita gente que invoca com os vocais de Kai Hansen. Entretanto, digo que Kai possui a mesma característica de Dave Mustaine: voz sem técnica mas característica e reconhecível a qualquer um que os conheçam, seja na canção que for. E eu gosto desses vocais diferenciados, e Kai Hansen faz o típico “carneiro do metal”. No mais, ótimo disco e um dos melhores do Gamma Ray. Primeiro álbum sem Ralf Scheepers, que logo após formaria o Primal Fear com Mat Sinner. Hansen fez em Land of the Free um disco típico daquele que foi um dos fundadores do power metal: canções ora rápidas, ora melodiosas, refrãos em forma de hino para se cantar a plenos pulmões e solos de guitarra fritados. O disco é o mais ouvido e o mais tocado nos shows. Gosto da velocidade alucinante de “Man on a Mission”, “Land of the Free” e seu refrão inesquecível e de “Salvation’s Calling”, com vozes em coro, ôôôôôs, bumbo duplo e tudo mais o que o power metal dá direito. Só sei que eu curto tudo isso e mais um pouco.
Bernardo: Ouvindo este disco é inevitável pensar que, de todos os estilos de heavy metal, nenhum ficou saturado/datado tão rápido quanto o power metal/metal melódico. Pior para pioneiros que nem o Kai Hansen.
Bruno: Mais metal espadinha, gente? Pelo amor de Deus, hein...
Davi: Fazia tempo que não o escutava. Sempre gostei do Gamma Ray e sempre gostei do Kai Hansen. Gosto dele tanto cantando quanto tocando e quanto compondo. Em Land of the Free fez sua estreia como vocalista do Gamma Ray (os três primeiros discos foram gravados por Ralf Scheepers). “Man on A Mission” deixa nítida a influência que carregava dos seus tempos de Helloween. Por falar em Helloweeen, Michael Kiske dá as caras na ótima “Time to Break Free”. Outro vocalista que também aparece é Hansi Kürsch (Blind Guardian) na (razoável) balada “Farewell”. Ora com arranjos mais velozes, ora mais cadenciado, Land of the Free cativa o ouvinte. Trabalho memorável! Faixas de destaque: “Gods of Deliverance”, “Land of the Free”, “Rebellion in a Dreamland”, além das já citadas “Man on a Mission” e “Time to Break Free”.
Diogo: Gosto dos discos do Gamma Ray com Ralf Scheepers nos vocais, especialmente de Insanity and Genius (1993), mas Land of the Free realmente representou uma evolução muito especial na carreira do grupo, tendo à frente um Kai Hansen bem mais seguro com seus vocais do que na época do Helloween e compondo de uma maneira mais tradicional, mas explorando seus talentos com mais sapiência. O resultado foi um disco recheado de grandes canções, sejam mais diretas, na linha power metal, como "Man on a Mission" e a faixa-título, sejam mais épicas e ambiciosas, como "Rebellion in Dreamland" e a sequência "The Savior"/"Abyss of the Void". Entre elas, outras boas músicas de pegada mais puxada para o heavy metal tradicional, caso de "Gods of Deliverance", "Salvation's Calling" e "Afterlife". "Time to Break Free", com Michael Kiske nos vocais, agrada aos fãs de Helloween e mostra que o Gamma Ray não era uma banda tão sisuda quanto alguns que encaixam (erroneamente) o grupo na turma do "metal espadinha" poderiam imaginar. Belo disco que deve provocar reações bastante conflitantes nos comentários.
Fernando: No Helloween, Kai Hansen se cansou de tocar e cantar e chamou Michael Kiske. Com ele, gravaram dois superclássicos. No Gamma Ray, ele se cansou de ter que procurar um vocalista – já que Ralf Scheepers saiu da banda com a certeza absoluta de que iria substituir Rob Halford no Judas Priest – e resolveu ele mesmo cantar na segunda banda que ele criou e o resultado foi outro clássico do estilo. As músicas de Land of the Free são fantásticas, mas suas versões definitivas estão no disco ao vivo extraído de sua turnê. Lembrando que ainda temos uma participação de Kiske em “Time to Break Free” como uma espécie de cereja no bolo. Demais!!!
Leonardo: Ainda que seja frequentemente classificado como “metal melódico”, ou “melodic power metal”, como o estilo é conhecido no exterior, sempre considerei o Gamma Ray uma banda de metal clássico, mais alinhada ao Iron Maiden e ao Judas Priest do que a Stratovarius, Sonata Artica e outras bandas que explodiram na Europa nos anos 1990. Land of the Free é um ótimo exemplo do porquê disso. Há faixas épicas, rápidas, cadenciadas, abrangendo praticamente tudo que o heavy metal engloba, e não apenas uma de suas facetas. E em todas a qualidade é absurdamente alta. Apesar de ter lançados bons trabalhos, principalmente o pesado Insanity and Genius, desde seus tempos de Helloween o guitarrista e líder da banda, Kai Hansen, não lançava um material tão inspirado. Um dos melhores discos de heavy metal da década, e, de quebra, ainda há a participação espetacular de Michael Kiske, ex-vocalista do Helloween, na faixa "Time to Break Free".
Mairon: E quem diria que Kai Hansen poderia fazer algo bom fora do Helloween? O Gamma Ray é uma boa banda, não muito além do que o Helloween já havia criado, mas o surpreendente é que Hansen, além de um excelente guitarrista, também é um ótimo vocalista. A faixa de abertura, "Rebellion in Dreamland" é uma obra-prima do power metal dos anos 1990, e put@ que pariu, que ritmo alucinante da faixa-título e de "Man on a Mission" (imaginem elas com Michael Kiske nos vocais). Dentre os discos metálicos que entraram nesta lista, o único com cacife para ocupar alguma posição entre os dez mais. Acho que ele só peca pela baladinha "Farewell", por algumas coisinhas mais acessíveis ("Time to Break Free" e "Gods of Deliverance") e por conta do excesso de vinhetas – são três ao todo – e por isso não entrou na minha lista final, mas chegou a circular bem no início (Anekdoten, Gov't Mule e UFO fizeram trabalhos mais legais para meus ouvidos).
Thiago: Enquanto uns não caem totalmente no meu gosto, outros caem totalmente no meu desgosto. Kai Hansen é um baita músico; não é difícil detectar isso, mas as composições são insuportáveis. Helloween, Gamma Ray & cia. com seus "feel-good-happy power metal" me incomodam demais. Quase nunca consigo desfrutar de um trabalho inteiro deles. Na verdade, acabo curtindo apenas uma ou outra faixa. Alegria, velocidade demais, faz-me pensar que enquanto tocam eles saltitam de entusiasmo meninil. Talvez eu me entusiasmasse com isso... Se gostasse do Show da Xuxa! Enfim, este disco é um truque de ilusionismo. O nome é Land of the Free, mas o significado é "Xuxa só Para Baixinhos".
Ulisses: Sei da relação entre o Helloween e o Gamma Ray, banda do guitarrista (e aqui, vocalista também) Kai Hansen, mas nunca me encantei muito pelo som. Mas jamais diria que é ruim. Land of the Free já empolga ao abrir com um épico de quase nove minutos, "Rebellion in Dreamland", e segue entregando sólidas composições que agradam a quem curte um power metal germânico bem tocado. O pulo de "bom" para "excelente" vai depender de quanto o ouvinte gosta do estilo.
Death - Symbolic (35 pontos)
Alissön: O que Chuck Schuldiner fez com o Death é acima de qualquer suspeita. Mesmo não sendo meu favorito da banda (Spiritual Healing, de 1990, ocupa esse posto), é outro ponto alto na carreira deste guitarrista que faz uma falta tremenda ao cenário da música pesada mundial.
André: Melhor disco dos caras e o ápice de Chuck Schuldiner. Guturais perfeitos, refinamento técnico impecável do instrumental e letras inspiradas. Este é Symbolic. Destaco “Zero Tolerance”, em que a bateria de Gene Hoglan me impressiona pelo bom gosto, e “1000 Eyes”, que apresenta ótimas melodias em seus riffs de guitarra praticamente inspirando a todos que viriam fazer esse tipo de death metal mais técnico e menos acelerado. Um disco clássico e recomendado a toda coleção que preze o metal extremo.
Bernardo: Rapaz, até que tá entrando uns METÁU decente. Com média de cinco minutos por música, Chuck Schuldiner estava cada vez mais ambicioso em fazer um death metal intricado e complexo. Ainda não é melhor que The Sound of Perseverance (1998), mas, ainda assim, belo álbum.
Bruno: Não curto essa verve mais técnica e progressiva do Death, por mais que Schuldiner e cia. já flertassem com isso antes, mas ainda assim fico com os discos anteriores.
Davi: Excelentes riffs, ótimo trabalho de bateria. Infelizmente, tudo foi desperdiçado com um terrível trabalho vocal. Se tivessem um cantor, poderia ser uma banda interessante.
Diogo: Sendo o Death minha banda favorita, falar sobre discos preferidos é tarefa dificílima. Entretanto, em se tratando de apresentar o grupo para um novato completo, inclusive no estilo, creio que Symbolic seja a introdução perfeita. Além da produção em um nível mais elevado, a musicalidade de Chuck Schuldiner e cia. atingiu seu provável zênite em Symbolic, utilizando técnica apuradíssima em prol de arranjos certeiros, sem "rebarbas", equilibrando canções mais ambiciosas, como a absurda faixa-título e "Perennial Quest", com outras mais diretas, como "1.000 Eyes", "Without Judgment" e "Crystal Mountain", que puxam a banda mais para o lado do heavy metal tradicional, algo que ficaria ainda mais forte no disco seguinte e derradeiro, The Sound of Perseverance (1998). Citei determinadas faixas, mas não ache que elas constituem destaques: todo o álbum é nivelado por cima e merece ser 100% ouvido com a maior atenção. Tente, por exemplo, não ficar de queixo caído com o que a banda faz nas introduções de "Sacred Serenity" e "Misanthrope". Você pode nunca ter ouvido falar no guitarrista Bobby Koelble e no baixista Kelly Conlon, mas o que essa dupla faz ao lado de Chuck e do genial baterista Gene Hoglan é para lamentar o fato desse time não ter registrado mais material juntos. Melhor disco do ano e certamente um dos melhores da década.
Fernando: Um dia vou entender o motivo do Death ser tão cultuado. Ouço os discos e não consigo perceber o motivo dessa adoração toda.
Leonardo: Talvez o ponto mais alto da carreira do Death, ainda que seja difícil classificar este disco como death metal. Ainda mais técnico que os anteriores, mas com músicas extremamente marcantes, Symbolic mostra o saudoso Chuck Schuldiner no auge da sua carreira como compositor, acompanhado por uma banda menos renomada do que em álbuns anteriores, mas não menos eficiente. Recomendados para fãs de death, thrash e heavy metal em geral.
Mairon: Talvez o trabalho mais bem produzido da turma de Chuck Schuldiner, e o mais tecnicamente interessante. As músicas longas para os padrões do estilo (todas estão acima de cinco minutos) são muito bem tocadas, com destaque para a cavalice de Gene Hoglan nas baquetas. Não à toa, muitos o consideram a obra-prima do grupo. Até que sua presença na lista final não é nenhuma blasfêmia, mas existem álbuns bem melhores nesse ano. Como citações, passo os nomes de "1.000 Eyes" e a pancadaria da faixa-título.
Thiago: O Death é uma banda importante demais (para o metal e para a minha vida). Certamente este é um disco que me agrada, apesar de preferir Individual Thought Patterns (1993), Human (1991) e The Sound of Perseverance (1998). No entanto, todos são parte da mesma fase... os anos 1990 do Death; o Death do technical death metal, provavelmente já devidamente influenciado por Cynic, Atheist e outros conjuntos de thrash e metal tradicional que também aumentavam significativamente a complexidade e o desafio técnico para a execução de suas músicas. É o momento de um crescimento tremendo de Chuck Schuldiner como guitarrista e músico. Uma pena que, com o falecimento dele, não tenhamos tido a oportunidade de ver ainda mais do que se desdobraria deste processo de evolução, experimentação etc.
Ulisses: A cada disco do Death que aparece na série, falar sobre a crescente técnica, peso, qualidade, produção etc. fica cada vez mais óbvio e repetitivo. Deixo pra quem é realmente fã entrar em detalhes.
Mamonas Assassinas - Mamonas Assassinas (34 pontos)
Alissön: Não vou negar que dei muitas risadas ouvindo este disco no auge dos meus 12, 13 anos. Hoje em dia sinto mais vergonha alheia do que qualquer outra coisa. 1995 foi um baita ano, e vocês acham que isso foi o que de melhor ele nos forneceu em relação a música?
André: Finalmente chegamos nos anos em que eu pude presenciar ao vivo certas explosões midiáticas aos quais os anos anteriores desta série me reservaram apenas comentar de longe através de pesquisa na internet. Eu era muito novo para entender a repercussão do grunge dos anos anteriores, mas sim, eu pude ver o Mamonas Assassinas do alto dos meus 9 anos de idade. Nem vou comentar sobre seu acidente trágico e nem de suas possibilidades futuras que todos já estão cansados de saber. Algo me diz que uma grande maioria de álbuns que hoje são alçados como “clássicos” foram compostos e gravados às pressas. Alguns comentam que quando a música não é tão pensada e trabalhada, as canções mais espontâneas e as tiradas mais geniais ocorrem. Foi o caso de todo este disco. Do início ao fim as faixas exalam deboche, tiração de sarro, paródias e piadas. O instrumental é simplesmente excepcional. O peso das guitarras de Bento Hinoto (o melhor músico da banda) sempre surgem intercaladas com os deboches de Dinho e Julio Rasec, estes os principais compositores da maioria das faixas. A banda era pesada para o mainstream (anos 1990 sem o politicamente correto de hoje), mas o próprio mainstream se rendeu ao bom humor dos caras. Exceto por “Débil Metal” e creio eu “Sábado de Sol”, tudo foi exaustivamente tocado na televisão (playback, mas se garantiam ao vivo). Nos shows, os caras eram como o Slipknot de hoje: fortes e enérgicos. Disco foda, engraçado e divertido, e por isso merece estar aqui.
Bernardo: Este é um dos discos que se você botar em uma festa, galera vai cantar o disco todo – e mesmo depois de duas décadas de lançamento. Piada que ainda não perdeu a graça depois desse tempo todo é porque foi bem construída: os caras sabiam trabalhar com os clichês de tudo, sabiam brincar não apenas com as letras mas com clichês rítmicos e melódicos, deixavam citações que são quase easter eggs para fãs de rock... Mas desculpem os amigos consultores, o grande momento do disco é mesmo Dinho imitando Netinho de Paula com o Pagode com Pê maiúsculo "Lá Vem o Alemão". Que música, meu camarada!
Bruno: Marcou a infância/adolescência de muita gente, foi um fenômeno pop no Brasil, é engraçado e os caras tocavam bem. Mas melhores de todos os tempos não, né, galera?
Davi: Álbum muito bacana. Extremamente inteligente, fundiu a cabeça de diversos críticos musicais da época que acusavam a banda de não ter estilo. Na verdade eles tinham: era uma banda de rock que satirizava outros gêneros. O japonesinho Bento Hinoto era um ótimo guitarrista. Entretanto, para aqueles que, assim como eu, tiveram a oportunidade de assistir uma apresentação do grupo, era claro que o diferencial do conjunto era Dinho. A razão era simples: mais do que o cruzamento com outros estilos, o forte da banda era a veia humorística. E aí era ele quem predominava mesmo. Tanto na criação das letras quanto na dinâmica do show. Extremamente criativos, fico me perguntando como teria sido o segundo disco dos meninos (em termos de sonoridade, não de sucesso), caso a famosa tragédia não tivesse ocorrido.
Diogo: O que me incomoda em relação ao Mamonas Assassinas não é sua presença em detrimento de outros discos, nem o fato de muitos terem achado absurda a entrada de Revoluções por Minuto (RPM) na edição dedicada a 1985 enquanto consideram perfeitamente normal Mamonas Assassinas por aqui. O que até hoje acho meio decepcionante é o fato de que justamente uma de suas faixas menos interessantes, "Pelados em Santos", ter se tornado seu maior sucesso, considerando que a maior parte do tracklist é formada por grandes hits em potencial. Especialmente quando a intenção é voltar o escracho para o lado da paródia, a banda acerta na mosca, vide "Vira-Vira" (Roberto Leal), "Uma Arlinda Mulher" (Belchior) e "Cabeça de Bagre II" (Titãs). Destaque também para a versatilidade dos músicos, que alternam gêneros musicais com facilidade enorme e conseguem amalgamá-los com o rock de maneira natural, especialmente em "Jumento Celestino" e "Bois Don't Cry" (percebam a citação ao Rush). Menção especial ao guitarrista Bento Hinoto, que conduz o disco com sua técnica apurada e é o destaque maior, especialmente quando fica bem à frente, como na ótima "Débil Metal", dona de um riff principal e um solo para fazer inveja na maioria dos grupos de heavy metal supostamente sérios.
Fernando: Fui um dos que citaram este disco que certamente vai causar muita discussão nos comentários, mas o fiz só para dar um destaque para algo que na época todo mundo curtiu. Não achava que iria entrar entre os dez. A música descompromissada da banda fez muita gente assistir o Domingão do Faustão aos domingos. Não tenho ideia se a banda conseguiria continuar seu sucesso se o trágico acidente de avião não tivesse acontecido, mas este disco merecia pelo menos uma menção aqui no site.
Leonardo: Tantos discos interessantes, principalmente o espetacular Imaginations from the Other Side, do Blind Guardian, ficaram de fora desta lista para que uma piada fosse citada. É engraçado? Sim, muito. Marcou a infância/adolescência de muita gente? Com certeza. É um dos melhores discos de 1995? De maneira alguma. Diverte, traz boas recordações, gera comoção devido ao acidente com a banda, mas é só. Talvez faria sentido em uma lista de melhores discos de humor lançados no Brasil, e ainda assim ficaria atrás de O Peru da Festa (1980), do Costinha, e Preto Com um Buraco no Meio (1989), do Casseta e Planeta.
Mairon: Um álbum que marcou a minha e a adolescência de diversos aqui. Não gostava da banda enquanto eram vivos, e só fui descobri-los praticamente uns dez anos após este disco ser lançado, quando o encontrei com um precinho bem acessível em um sebo de Porto Alegre. Caiu meu queixo com a qualidade instrumental. Apesar de começar com "1406", uma adaptação do que o grupo apresentara antes como Utopia (banda que antecedeu os Mamonas Assassinas), o que vem na sequência são dois clássicos que ficarão para sempre na memória da geração anos 1990, a hilária "Vira-Vira" e a divertida (e por que não romântica) "Pelados em Santos", que hoje muitos torcedores de futebol adotaram como música de apoio para seu time. Com esses dois clássicos, o Mamonas já garante sua posição entre os dez mais, só que estamos apenas no início do lado A. Em "Pelados em Santos", o guitarrista Bento Hinoto começa a soltar suas garras. Inspiradíssimo em Eddie Van Halen, o japonês voador faz solos velozes enquanto Dinho canta debochadamente – e joguem as pedras, Dinho era um baita vocalista. "Chópis Centis", inspirada no riff de "Should I Stay or Should I Go" (The Clash), é outra que se tornou um clássico e apresentou o grupo britânico para muita gente, mesmo com uma letra muito, mas muito debochada (e, de novo, Dinho arregaçando na interpretação escrachada e sem-vergonha que fácil arranca um riso dos lábios). "Jumento Celestino" é uma das melhores músicas do disco, construída sobre a base de um ritmo nordestino e Dinho dando uma de Tom Cavalcante, cantando (sim, ele canta) com uma velocidade impressionante a história do baiano que sai de seu Estado em direção a São Paulo montado em um jumento (um carro, na verdade), e pior – ou melhor – ele conseguia reproduzir isso ao vivo, e o peso da guitarra de Bento comendo solto. "Sabão Crá Crá" divertiu muitas crianças Brasil afora, e adultos também, convenhamos, e o Lado A encerra com a melhor canção da banda, a complicadíssima "Uma Arlinda Mulher", com Dinho novamente dando um show de interpretação através de uma letra intricada, e Bento estourando as caixas de som em acordes densos e muita microfonia. No lado B, “Cabeça de Bagre II” traz doses funkeadas com uma pegada um pouco mais pesada, inspirados em “The Crunge” do Led Zeppelin. A partir de então, Mamonas Assassinas desfila uma sequência inesquecível das melhores canções que o grupo de mesmo nome criou, começando pela engraçadíssima baixaria de “Mundo Animal”, com o riffzão pegado da guitarra e do baixo, uma letra ridiculamente impossível de não se rir, cantada por Dinho no estilo do cantor brega Falcão, seguida pela mais que clássica “Robocop Gay”, outra que é impossível de não segurar o riso, e da metálica “Débil Metal” (quantas bandas de heavy metal verdadeiro gostariam de ter criado um riff tão poderoso quanto o dessa faixa??). Entre elas, outra candidata para melhor do disco, a breguíssima “Boys Don’t Cry”, trazendo a trágica mas hilária história de João do Caminhão. Para completar o disco, a acústica e perfeita faixa de luau “Sábado de Sol” e o pagode sarcástico de “Lá Vem o Alemão”, que fez muito pagodeiro encarar o rock com um novo ouvido, e vice-versa. Se o RPM ficou em primeiro em 1985, uma banda que simplesmente estraçalhou com as vendas no Brasil inteiro logo no seu primeiro lançamento tinha que estar por aqui, até porque o disco é muito bom, tendo Dinho e Bento como os pontos máximos do divertido e inesquecível talento dos Mamonas Assassinas. As letras debochadas são apenas uma constatação de que é possível tocar um rock muito bem feito com todo o espírito de diversão que o estilo prega. Parabéns aos consultores que perderam o preconceito e colocaram talvez o melhor disco do rock nacional na década de 1990 entre os dez mais, e me perdoem pelo longo texto, mas o álbum merece.
Thiago: E este, que de fato fez a festa dos baixinhos, eu gosto (risos). Sensacional que este álbum tenha aparecido na lista. Tivesse eu lembrado que ele havia sido lançado em 1995 e o teria listado também. Quantas bandas de metal não gostariam de ter composto o riff e o solo de "Débil Metal"? Aposto que um monte. Ou ao menos, um monte deveria, porque de fato é invejável e espetacular. Bem executado, bem pensado, tudo. O álbum inteiro é cheio de boa musicalidade, irreverência, boas sacadas. Nunca tantos boçais escutaram boa música pensando ser só mais uma estupidez qualquer.
Ulisses: Tenho a impressão de que este disco entrou mais por sua importância do que por sua qualidade geral, mas nem reclamo. Praticamente impossível alguém não gostar de canções como "Pelados em Santos" e "Robocop Gay".
Bon Jovi - These Days (34 pontos)
Alissön: E cá temos novamente o louro glam marcando presença, desta vez com um disco "maduro, sério e menos festivo". Soou mais broxante que levar um chute entre as pernas na primeira vez que ouvi. Dispenso outra dose.
André: Olha, eu sou um farofeiro daqueles de gostar de muita coisa “cheesy”, mas não adianta, não consigo apreciar nenhum trabalho que contenha o João Bom Jovem em seus créditos. OK, “Hey God” é boa. “Hearts Breaking Even” também vá lá. Mas tantas baladas… não dá.
Bernardo: Carência de sal e excesso de açúcar.
Bruno: Horrível como tudo que essa maldita banda já fez.
Davi: Ótimo álbum do Bon Jovi, no qual os rapazes assumiam de vez sua proposta de serem comerciais. Afinal, tirando umas três ou quatro músicas, é praticamente um disco de baladas. O que chama a atenção, contudo, é a qualidade das canções. Extremamente bem estruturadas, muito bem tocadas, muito bem cantadas. A jogada deu certo. “Lie to Me”, “These Days”, “This Ain't a Love Song” e “Something for the Pain” ficaram por semanas nas paradas da MTV. E a ótima apresentação que fizeram aqui na época (o show, ao contrário do disco, era bem rock 'n' roll) foi lotado de garotas histéricas que fizeram com que me sentisse no Ed Sullivan Show assistindo aos Beatles. Ainda gosto bastante deste CD. Outras faixas de destaque: “Hey God” e “Damned”.
Diogo: Se há um disco do Bon Jovi que subiu muito em meu conceito desde que o escutei pela primeira vez, este é These Days. Ir além do óbvio e descobrir suas nuances é uma tarefa que sigo empreendendo. Um hammond aqui, uma guitarrinha acolá... Mérito não apenas da banda, que talvez tenha feito seu trabalho mais ambicioso em estúdio, mas também do produtor Peter Collins, que, ao lado de Jon Bon Jovi e Richie Sambora, ajudou These Days a ter uma sonoridade absurdamente massiva e ao mesmo tempo clara. Mas nada disso adiantaria se o disco não viesse carregado de boas composições, e elas abundam. A começar pela pesada "Hey God", é fácil notar o tom menos alegre do álbum, introspectivo em diversos momentos, como nas boas "My Guitar Lies Bleeding in My Arms" e "Something to Believe In", ambas com excelentes performances vocais de Jon. Em se tratando de baladas, as de maior destaque são "This Ain't a Love Song", "Hearts Breaking Even" (criminosamente nunca tocada ao vivo, talvez por sua exigência vocal) e "Lie to Me", sendo esta última uma de minhas favoritas em todo o catálogo do grupo, tão boa quanto "I'll Be There for You" e "Always". No lado mais roqueiro, destaque ainda para "Something for the Pain" e "Damned". A melhor canção de todas, porém, é mesmo a faixa-título, de tom épico e com uma grande performance de Richie, que, aliás, toca um absurdo em todo o álbum e extrai timbres maravilhosos de suas guitarras. Não vai faltar gente chiando com a presença deste disco por aqui, e bem sei que sequer devem ter se dado ao trabalho de ouvir These Days uma única vez.
Fernando: O último grande disco do Bon Jovi. Depois dele, só álbuns genéricos com uma ou outra música de destaque. Com a saída de Richie Sambora, a esperança que eu tinha de que o Bon Jovi ainda fizesse algo legal acabou de vez.
Leonardo: Keep the Faith (1992) já havia sido decepcionante, mas These Days foi ainda pior. A faixa-título ainda se salva, mas onde estão os riffs de guitarra ganchudos, os refrãos inesquecíveis? No geral, o que se ouve no álbum é um pop rasteiro, com baladas em demasia, nenhuma com a força de "Wanted Dead or Alive" ou "Never Say Goodbye". E pensar que a coisa ainda iria piorar, e muito...
Mairon: Bon Jovi em 1995? Depois de Keep the Faith, não tem nada de suportável nos discos desse grupo, tirando Richie Sambora, que faz um esforço sobrenatural para conseguir soar como o grande guitarrista que um dia foi. Ver These Days entre os melhores de 1995 é muito ofensivo. Posso destacar, de forma geral, apenas algumas passagens de "Hey God", "All I Want Is Everything" e o embalo de "Damned", mas aturar "Something for the Pain" e "Something to Believe In" foi um parto a fórceps. "Hearts Breaking Even" é a versão falsificada do Aerosmith tentando cantar "Cryin'", e confesso que pulei várias faixas, das quais cito "Lie to Me", "Diamond Ring", "My Guitar Lies Bleeding in My Arms", e as terríveis "Bitter Wine", "This Ain't a Love Song" e "(It's Hard) Letting You Go". Quase dormi ouvindo este disco, que é CHATO BAGARÁI! Pior ainda é que ouvi uma música em espanhol que acredito que foi gravada nessa época, que coisa TERRÍVEL!!!
Thiago: Como diria um amigo meu: "Você conhece um bom álbum pelas baladas". Acho que isso não funciona sempre, mas no caso do Bon Jovi dá certo e este trabalho tem baladas fracas. Por essas e outras, acho These Days um trabalho apenas mediano de uma boa banda. Não deixa de me agradar, mas jamais entraria na minha lista dos melhores de um ano... Nem de 1961, 1995, 2002, nem de 2090 (putz, provavelmente já nem estarei aqui, mas enfim, se lançarem mais de cem discos em 2090, é certo que do além eu grito: Bizotto, These Days não!).
Ulisses: Confesso que me surpreendi com este disco. Tem um montão de baladas, mas soa down to earth, e acabei gostando de quase todas as canções. As mais roqueiras são a abertura "Hey God" e a ótima "Something for the Pain", enquanto a faixa-título tem uma linda pegada e realmente gruda na mente. Melancólica, "My Guitar Lies Bleeding in My Arms" é uma das melhores do play: vai crescendo até atingir um clímax extasiante, com uma performance impecável de Jon Bon Jovi. Alguns certamente irão chiar sem nem ter ouvido, mas a qualidade do disco justifica sua presença. Até guardei para ouvir mais vezes depois.
Faith No More - King for a Day... Fool for a Lifetime (30 pontos)
Alissön: Sou eu, sei disso, mas o som do Faith No More nunca me agradou além de The Real Thing (1989).
André: Certo, vou dar mérito aos caras desta vez: este disco é infinitamente melhor e mais ouvível do que os torturantes The Real Thing e Angel Dust (1992), que deram as caras por aqui em seus respectivos anos de lançamento. Parecem ter pescado alguma influência do Alice in Chains, visível em “Ricochet”, o que me atraiu muito mais. Isso sem contar que as faixas diferem muito umas das outras. Pena existir a horrenda “Ugly in theMorning”, que o System of a Down fez um trabalho muito melhor em anos posteriores no quesito “vocal ao estilo João Canabrava”.
Bernardo: O Faith No More se virou muito bem, obrigado, sem o guitarrista Jim Martin. Com Trey Spruance do Mr. Bungle como guitarrista, o Faith No More assumiu de vez a pecha de ser a banda da música popular dos anos 1990 sempre no limite entre a ousadia e a esquisitice, a genialidade e a bizarrice, e se não entrega uma obra-prima como Angel Dust, não dá pra reclamar de um disco que mistura a música popular em um caldeirão sempre à beira da explosão. Destaque para a porrada "Digging the Grave", o metal noventista de "The Gentle Art of Making Enemies", o groove do excelente soul "Evidence", o peso e agressividade neuróticos de "Cuckoo for Caca" com Mike Patton no auge da demência criativa. E os destaques curiosos ficam para a faixa bônus "I Started a Joke", inusitado mas muito bem executado cover do Bee Gees, e a bela e comovente homenagem ao público brasileiro com a épica "Caralho Voador".
Bruno: O disco mais subestimado do FNM, unindo o experimentalismo e esquizofrenia de Angel Dust com as canções mais diretas de The Real Thing. Trey Spruance, companheiro de Mike Patton no Mr. Bungle, fez um bom trabalho substituindo Jim Martin, contribuindo com vários riffs inspirados.
Davi: Menos experimentais do que em Angel Dust, mais pesados do que em The Real Thing, o grupo de Mike Patton fez em 1995 aquele que considero seu último grande álbum. Apesar de ter sido inspirada no Brasil, sempre achei “Caralho Voador” bem chatinha. Preferia que tivessem gravado “Evidence” em português, como fizeram em alguns shows realizados aqui em nossa terrinha. Canções como “Get Out”, “Ricochet”, “The Gentle Art of Making Enemies”, “Digging the Grave” e “Take this Bottle” estão entre as melhores composições do grupo. Belo disco!
Diogo: Por incrível que pareça, considerando seus discos anteriores, King for a Day... apresenta um tom mais sério e menos experimental, algo que acabou funcionando novamente muito bem e mantendo a tradição de um grupo em que a repetição não é algo bem vindo. Nesse cenário, acaba tendo mais destaque a capacidade vocal de Mike Patton, que faz um trabalho excelente tanto nos momentos mais sóbrios, como nas destacadíssimas "Evidence" e "Take this Bottle", quanto naqueles mais agressivos, vide sua performance em "The Gentle Art of Making Enemies", "Cuckoo for Caca" e "Digging the Grave", outro grande petardo. Acabei não citando King for a Day, mas a presença do Faith No More é sempre muito bem vinda.
Fernando: Temos que ter respeito por um disco que tem uma música chamada “Caralho Voador”. Quantas vezes será que eles tiveram que explicar o nome dessa faixa? Porém, musicalmente, não a considero um dos destaques. Prefiro “Evidence”e “The Last to Know”.
Leonardo: Mais um disco variadíssimo do Faith No More, indo do metal de "Digging the Grave" ao jazz/funk de "Evidence". Apesar da diversidade, o álbum soa bem como um todo, mesmo que não apresente a genialidade de seu anterior, Angel Dust. Mas garante uma hora de diversão.
Mairon: Depois de dois discaços (The Real Thing e Angel Dust), o Faith No More perdeu o guitarrista Jim Martin. Para o seu lugar foi contratado Trey Spruance. Com a missão de manter o grupo como um dos mais amados do planeta, a turma de Mike Patton e cia. lançou seu quinto álbum. Só a faixa de abertura, “Get Out”, já é melhor do que 50% desta lista, junto com a veloz “What a Day”, mas ainda temos as malucas “Ugly in the Morning” e “The Gentle Art of Making Enemies”, surpreendendo com suas mudanças de andamento. O grupo consegue construir pelo menos mais quatro clássicos: a insana “Cuckoo for Caca”, a viajante “Ricochet” e a dupla “Caralho Voador” e “Just a Man”, ambas obrigatórias nos shows a partir de então, sendo que a última conta com frases cantadas em pseudoportuguês por Patton. A faixa-título é uma ótima viagem, daquelas que só o FNM consegue fazer, e o mesmo pode ser atribuído para os teclados delirantes de “The Last to Know”. Fecha o disco a leveza de “Evidence”, a agitada “Digging the Grave” e “Star A. D.”, com suas linhas funk, apimentadas por um belíssimo naipe de metais, que eleva ainda mais as qualidades de King for a Day, e “Take this Bottle”, talvez o único deslize do disco. Muitos esperavam um novo Angel Dust, mas na verdade o FNM sempre foi um grupo que se caracterizou por nunca se repetir, mas sim lançar discos de altíssima qualidade. Ainda bem que apareceu na lista final, pois seria um pecado ele ficar de fora.
Thiago: Assim como no caso do Bon Jovi, surge na lista uma banda que curto, mas com um álbum que não é dos meus favoritos em sua discografia e que jamais entraria em uma lista de melhores minha. Neste caso, no entanto, há uma questão: não há qualquer disco do Faith No More que eu ouça com agrado de cabo a rabo. Sempre gosto de uma série ou de algumas músicas, mas dispenso várias outras. E acho que meu incômodo é marca da qualidade e da excentricidade do grupo e de sua proposta, não de um problema efetivo no que fazem. Bom trabalho, relevante para a cena hard/heavy/rock, mas não cai totalmente no meu gosto.
Ulisses: Curiosamente, este é o tipo de disco em que eu curto as faixas menos pesadas. Talvez o fato de ser um álbum um pouco mais direto que os antecessores deva-se à menor participação do tecladista Roddy Bottum e a saída do guitarrista Jim Martin, mas o fato é que, apesar de ótimas, faixas como "Get Out", "The Gentle Art of Making Enemies" e "Cuckoo for Caca" me soam menos divertidas do que a balada "Evidence", o estilo big band de "Star A.D.", a bossa nova de "Caralho Voador", a soturna "Take this Bottle" e o ótimo encerramento com "Just a Man", que traz até um coro gospel no fim.
Listas individuais
Alissön Caetano Neves
- Down – NOLA
- Elliott Smith – Elliott Smith
- Paradise Lost – Draconian Times
- Ulver – Bergtatt: Et Eeeventyr i 5 Capitler
- Alice in Chains – Alice in Chains
- Clutch – Clutch
- 2 Pac – Me Against the World
- Björk – Post
- Anathema – The Silent Enigma
- Electric Wizard – Electric Wizard
André Kaminski
- Porcupine Tree – The Sky Moves Sideways
- Sinister – Hate
- Mamonas Assassinas – Mamonas Assassinas
- Storm – Nordavind
- Player – Electric Shadow
- Carmine Appice – Carmine Appice’s Guitar Zeus
- The Enid – Sundialer
- Death – Symbolic
- On Thorns I Lay – Sounds of Beautiful Experience
- Lacrimosa – Inferno
Bernardo Brum
- The Smashing Pumpkins – Mellon Collie and the Infinite Sadness
- PJ Harvey – To Bring You My Love
- Pulp – Different Class
- Oasis – (What’s the Story) Morning Glory?
- Radiohead – The Bends
- Genius/RZA – Liquid Swords
- Björk – Post
- Elliott Smith – Elliott Smith
- Mad Season – Above
- Faith No More – King for a Day… Fool for a Lifetime
Bruno Marise
- Down – NOLA
- Monster Magnet – Dopes to Infinity
- The Wildhearts – P.H.U.Q.
- Teenage Fanclub – Grand Prix
- Foo Fighters – Foo Fighters
- The Smashing Pumpkins – Mellon Collie and the Infinite Sadness
- Mad Season – Above
- Face to Face – The Biggest Choice
- Fugazi – Red Medicine
- Radiohead – The Bends
Davi Pascale
- Alanis Morissette – Jagged Little Pill
- Faith No More – King for a Day… Fool for a Lifetime
- The Smashing Pumpkins – Mellon Collie and the Infinite Sadness
- Bon Jovi – These Days
- White Zombie – Astro Creep: 2000
- Prince – The Gold Experience
- Van Halen – Balance
- Slash’s Snakepit – It’s Five O’Clock Somewhere
- Warrant – Ultraphobic
- Lenny Kravitz – Circus
Diogo Bizotto
- Death – Symbolic
- Bon Jovi – These Days
- Dissection – Storm of the Light’s Bane
- Bruce Springsteen – The Ghost of Tom Joad
- Harem Scarem – Voice of Reason
- At the Gates – Slaughter of the Soul
- Oasis – (What’s the Story) Morning Glory?
- Iron Maiden – The X-Factor
- Gamma Ray – Land of the Free
- Rammstein – Herzeleid
Eudes Baima
- Madredeus – Ainda (Trilha Sonora Original)
- Teenage Fanclub – Grand Prix
- The Smashing Pumpkins – Mellon Collie and the Infinite Sadness
- Wilco – A.M.
- Radiohead – The Bends
- Cesária Évora – Cesária
- Pato Fu – Gol de Quem?
- Stanley Clarke, Al Di Meola & Jean-Luc Ponty – The Rite of Strings
- Raimundos – Lavô Tá Novo
- Faith No More – King for a Day… Fool for a Lifetime
Fernando Bueno
- Gamma Ray – Land of the Free
- Paradise Lost – Draconian Times
- Fear Factory – Demanufacture
- Blind Guardian – Imaginations from the Other Side
- Oasis – (What’s the Story) Morning Glory?
- Iron Maiden – The X-Factor
- King Diamond – The Spider’s Lullabye
- Bon Jovi – These Days
- Porcupine Tree – The Sky Moves Sideways
- Mamonas Assassinas – Mamonas Assassinas
Leonardo Castro
- Dissection – Storm of the Light’s Bane
- Dark Tranquillity – The Gallery
- Blind Guardian – Imaginations from the Other Side
- At the Gates – Slaughter of the Soul
- Sentenced – Amok
- Gamma Ray – Land of the Free
- Death – Symbolic
- Paradise Lost – Draconian Times
- The Gathering – Mandyllion
- Iced Earth – Burnt Offerings
Mairon Machado
- Pandelis Benetatos, Yiorgos Fakanas & John Stavropoulos – Stand-Art
- Mamonas Assassinas – Mamonas Assassinas
- Glenn Hughes – Feel
- Iron Maiden – The X-Factor
- Uriah Heep – Sea of Light
- Faith No More – King for a Day… Fool for a Lifetime
- UFO – Walk on Water
- Deicide – Once Upon the Cross
- Anekdoten – Nucleus
- Gov’t Mule – Gov’t Mule
Thiago Sarkis
- Marillion – Afraid of Sunlight
- Van Halen – Balance
- Oasis – (What’s the Story) Morning Glory?
- Symphony X – The Damnation Game
- Down – NOLA
- Paradise Lost – Draconian Times
- Shadow Gallery – Carved in Stone
- Savatage – Dead Winter Dead
- Conception – In Your Multitude
- Eternity X – Mind Games
Ulisses Macedo
- Dr. Sin – Brutal
- Conception – In Your Multitude
- Down – NOLA
- Symphony X – The Damnation Game
- Therion – Lepaca Kliffoth
- Iced Earth – Burnt Offerings
- Iron Maiden – The X-Factor
- Morphine – Yes
- Faith No More – King for a Day… Fool for a Lifetime
- Citizen King – Brown Bag LP
* O colaborador Eudes Baima não conseguiu enviar seus comentários a tempo, mas participou da seleção que deu origem ao resultado final.
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