terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Lynyrd Skynyrd - Parte I



Um dos principais grupos do Southern Rock terá sua longa e complexa história contada por mim aqui no Baú. O Lynyrd Skynyrd foi um desses fenômenos com poucos equivalentes na história da música. Em menos de meia década, foram de completos desconhecidos a mega astros mundiais, tendo uma infeliz ascensão a ícones após o fatídico acidente de avião em 20 de Outubro de 1977 que vitimou quase todos os integrantes do grupo, encerrando as atividades do Lynyrd Skynyrd em seu auge.

Dividirei o texto em duas partes. Nessa primeira, abordo os álbuns gravados pela banda na década de 70, período no qual o hepteto divulgou o estilo como poucos, conquistando fãs por todo o mundo (Estados Unidos principalmente) e que teve uma tragédia inexplicável encerrando as suas atividades no ano de 1977.


The One Percent em 1969: Ronnie Van Zant, Bob Burns, Gary Rossington (em pé);
 Larry Junstrom e Allen Collins (abaixo)

O grupo foi formado em Jacksoville (Flórida) no verão de 1964, através de Ronnie Van Zant (vocais), Bob Burns (bateria) e Gary Rossington (guitarras), com o nome de The Noble Five. Eles se conheceram em uma partida de beisebol, sendo Bob e Gary pertencentes ao grupo You, Me and Him, tendo como baixista Larry Junstrom. Mudam de nome para The Noble Five, e em seguida, em 1965, mudam para My Backward, ambas as formações já com Larry Junstrom (baixo) e Allen Collins (guitarras). O repertório era composto por versões de clássicos do British Rock, como Beatles, Stones e Yardbirds. Mudaram de nome por diversas vezes, até finalmente adotar The One Percent. 


O raro primeiro compacto da banda
Esse nome durou alguns meses, e enquanto ensaiavam, Burns e Rossington foram suspensos da Rober E. Lee High School, por terem cabelos longos. O professor que os suspendeu era de Educação Física, chamado Leonard Skinner. Como uma "homenagem" ao professor, resolvem adotar o nome que os consagrou, Lynyrd Skynyrd, 

Largam os estudos e começam a ensaiar de oito a doze horas por dia, em uma pequena cabana ao sul de Jacksonville. Nessa época, uma das principais atuações dos rapazes foi abrir para os The Allman Joys, dos irmãos Duane e Gregg Allman, os quais recomendaram o grupo a se esforçarem e criar suas próprias canções. Em 1968, o grupo compõe suas primeiras canções, "Need All My Friends" e "Michelle", registradas em um raro compacto pela gravadora Shade Tree. 



A The One Percent em 170: Allan Collins, Gary Rossington, Ronnie Van Zant, 

Bob Burns e Larry Junstrom



Em junho de 1970, durante o casamento de Collins, surge a primeira interpretação de "Free Bird", ainda sem os longos solos em homenagem a Duane Allman. Ainda em 1970, saem em turnê abrindo para o Strawberry Alarm Clock. Insatisfeito com a carreira musical, Burns decide voltar aos estudos, sendo substituído por Rickey Medlocke. Outro a sair - ser demitido, de fato, foi Junstrom. Sua baixa técnica não agradava aos colegas, e ele foi substituído por Greg Walker, além da entrada de Billy Powell (piano). Essa formação não durou muito. Walker e Medlocke decidiram regressar para a cidade de Blackfoot, e então, Burns retorna para as baquetas. No baixo, Leon Wilkeson é o novo músico. Este durou até o fim de 1972, sendo então substituído por Ed King, guitarrista de origem.

Depois de muitas gravações de demos, e tentativas frustradas em diversos selos, eis que o sol nasce para os garotos. Eles chamam a atenção do produtor Al Kooper, durante uma apresentação em Atlanta. Em março de 1973, com a ajuda de Kooper, assinam com a MCA Records, e assim, começam a gravar o álbum de estreia. Há diversos músicos de estúdio nessa gravação, como Robert Nix (bateria), Steve Katz (harmônica), Bobbi Hall (percussão) e o própio Kooper (baixo, mellotron, mandolin e órgão), creditado como Roosevelt Gook. Após o término das gravações, em abril do mesmo ano, Leon Wilkeson regressa como baixista, com Ed King tornando-se o terceiro guitarrista. 


Um dos pilares do Southern

(Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) é lançado em setembro de 1973. O álbum de estreia do Lynyrd Skynyrd é um dos quatro pilares de sustentação do chamado Southern Rock, ao lado de Idlewild South (The Allman Brothers Band), Poco (Poco) e Tres Hombres (ZZ Top). Através da suas oito faixas, estão a essência de um período distinto dentro do rock 'n' roll. O riff sacolejante e os assovios em "I Ain't The One" introduzem umas das vozes mais marcantes do rock 'n' roll. O poder de "Poison Whiskey" é tão alucinante quanto a de um uísque batizado, em uma das canções mais esquecidas no repertório do Skynyrd. 

Ronnie Van Zant fazia estardalhaços com simplicidade, como podemos comprovar nas baladaças "Tuesday's Gone" e "Simple Man", mostrando para os anos 80 como fazer uma mulher se derreter sem forçar com palavras melosas. Temos a participação de Al Kooper tocando mandolin na engraçada "Mississippi Kid", que assim como "Gimme Three Steps" e "Things Goin' On", apresenta as influências country que se tornariam uma constante em todos os álbuns do grupo posteriormente, destacando a harmônica de Steve Katz na primeira, o slide de Rossington na segunda e o piano de Powell na terceira. 

Hepteto mágico: Allen Collins, Billy Powell, Bob Burns, Leon Wilkeson,
Ed King, Ronnie Van Zant e Gary Rossington
O álbum encerra com a épica "Free Bird", composta em homenagem a Duane Allman e digna de um dos solos de guitarra mais famosos (e complicados) que já se gravou, no qual Allen Collins simplesmente faz chover utilizando uma sobreposição de três guitarras (que eram reproduzidas fielmente nos shows ao vivo, com Rossington e King complementando o trio). 

O compacto de "Don't Ask Me No Questions"
Não é em vão que (Pronounced 'Lĕh-'nérd 'Skin-'nérd) conquistou platina dupla, vendendo até hoje mais de dois milhões de cópias (apenas nos Estados Unidos) e frequentemente encontrado na lista de melhores de todos os tempos. A participação de Wilkeson ficou relegada apenas para "Mississippi Kid" e "Tuesday's Gone", e na foto que hoje consiste na capa do álbum. 

O single "Gimme Three Steps" fracassou nas paradas, mas o disco chegou na posição 27 da Billboard, levando o pessoal do Lynyrd a abrir para o The Who durante a turnê americana de QuadropheniaEm janeiro de 1974, começam a gravação do segundo disco. Pouco antes do lançamento, sai o single "Don't Ask Me No Questions", outro fracasso comercial. 


O segundo álbum do Lynyrd, tão fundamental quanto seu antecessor

Em abril daquele ano, Second Helping chega às lojas. Se o primeiro álbum é essencial, a sequência é tão fundamental quanto. Um dos melhores trabalhos do Southern Rock, é nele que está o maior hit do grupo, "Sweet Home Alabama", trazendo vocalizações femininas (Clydie King, Sherlie Matthews e Merry Clayton) eternizada posteriormente nos jogos de beisebol e futebol americando ocorridos naquele estado. Mais uma platina dupla para a coleção do hepteto. É uma resposta às críticas de Neil Young, que criticou o passado racista do sul Norte-Americano em "Southern Man". Foi o segundo single de Second Helping​alcançando a oitava posição na Billboard, a melhor da carreira do grupo.

Outro grande clássico é "Workin' for M. C. A.", afinal, quem nunca cantou a melodia feita pela introdução da guitarra, junto com Van Zant, que levante a mão. Al Kooper novamente participa, agora tocando piano na agitada "Don't Ask Me No Questions", a qual conta com um trio de metais composto por Bobby Keys, Trewor Lawrence e Steve Madiao, e "The Ballad of Curtis Loew", uma linda balada country. Outra balada, porém extremamente caprichada, é "I Need You", com Mike Porter na bateria, e capaz de cortar os pulsos apenas com a voz de Van Zant. 

Billy Powell, Allen Collins, Leon Wilkeson, Bob Burns,
Ronnie Van Zant e Ed King (sentados); Gary Rossington (em pé)

Já "Swamp Music" é um boogie tipicamente Skynyrd, com um ritmo sacolejante. O maior destaque fica por conta de "The Needle and the Spoon", com um show a parte de Allen Collins no wah-wah, e mais um riff poderoro. Os metais também estão presentes em outro boogie, "Call Me the Breeze", que encerra um álbum exemplar de como é possível fazer uma sequência perfeita para um álbum perfeito. Alcançou a posição 12 da Billboard, recebendo platina dupla nos Estados Unidos. 

O single de "Free Bird"
Veio o single de "Free Bird", que chegou a posição 19 da Billboard, levando-os para uma turnê europeia em dezembro de 1974, abrindo para Queen, Humble Pie e Golden Earring. Encerrada a turnê, Bob Burns é substituído por Artimus Pyle. Com a pressão da MCA, devido ao sucesso de Second Helping, logo em janeiro de 1975 começam os registros do terceiro álbum. O grupo usa "Saturday Night Special", composta para o filme The Longest Yard (Robert Aldrich) como música central, lançando-a em single que alcançou a posição 27 da Billboard. 


A estreia de Artimus Pyle no Lynyrd

Em apenas um mês, concluem as gravações de Nuthin' Fancy, o primeiro ao chegar no Top 10 da Billboard, chegando na nona posição, e também o primeiro a entrar nas paradas britânicas, atingindo a posição 43. Com a participação especial de Barry Harwood (dobro, mandolin), David Foster (piano) e Bobbie Hall (percussão), além de Jimmy Hall tocando harmônica no country arrastado de "Made in the Shade" e na agitada "Railroad Song", que imita o som de uma locomotiva no andamento de Pyle, é mais uma bela sequência para os dois antecessores, apesar de eu achar o mais fraco dos três. 

A pegada característica do grupo aparece no boogie "I'm a Country Boy", na citada "Saturday Night Special", com um riff extremamente grudento, e em "On the Hunt", disparada a melhor canção do LP. "Am I Losin" resgata os momentos country, e é interessante como o órgão surge com força no blues "Cheatin' Woman". O álbum encerra com mais um clássico, "Whiskey Rock-a-Roller", que assim como "Sweet Home Alabama", virou obrigatória nos shows do grupo. 


Uma das últimas fotos com King (segundo da direita para a esquerda), e uma
das primeiras com Artimus (terceiro da direita para a esquerda)

Durante a turnê de promoção do álbum, que durou três meses, duas importantes mudanças ocorrem. Primeiro, King pede demissão, deixando o grupo como um sexteto. Em compensação, o conjunto vocal feminino The Honkettes (formado por Leslie Hawkins, Cassie Gaines e Jojo Billingsey) passa a prestar sua voz às canções do grupo, dando uma boa renovada a partir do quarto LP.


O único disco como sexteto

Com um novo produtor, Tom Dowd, o qual havia trabalhado com Cream e The Allman Brothers Band, em fevereiro de 1976 é lançado o quarto álbum, Gimme Back My BulletsÚnico disco do Lynyrd Skynyrd gravado como sexteto (apesar de uma longa sessão de audição para guitarristas, que inclusive contou com o renomado Leslie West como reprovado), esse álbum era para ser originalmente chamado de Ain't No Dowd About It

A faixa-título possui uma levada típica do Skynyrd, mas com um peso que dificilmente encontramos em outras canções do grupo. A pancadaria acalma com “Roll Gypsy Roll”, levada pelos violões e pela voz rasgada de Ronnie, e “Every Mother’s Son”, uma tímida canção com um andamento leve, e que também fez relativo sucesso assim como a faixa-título. O momento mais calmo fica para a bonita balada acústica “All I Can Do is Write About It”, tendo um violino (não identificado no álbum) e Barry Lee Harwood no mandolin. 


Formação como sexteto: Allen Collins, Leon Wilkeson, Gary Rossington,
Artimus Pyle, Ronnie Van Zant e Billy Powell

Lee Freeman apresenta sua harmônica no boogiezão “The Same Old Blues”, representante clássico do Southern Rock, com destaque para Rossington, que também faz misérias com o slide durante toda “Searching”. Ainda temos “Trust” e “Double Trouble”, sendo a última com uma maravilhosa participação das Honkettes, que também dão uma ótima contribuição para “Cry for the Bad Man”, detentora de mais um grande solo de Rossington. Apesar de ter sido o álbum com pior desempenho nos charts britânicos durante a década de 70, ele está muito acima de seu antecessor, batendo de frente com dois primeiros.

Do álbum saíram os singles "Double Trouble" e "Gimme Back My Bullets", que não emplacaram, assim como disco, que recebeu apenas ouro. Pouco depois do lançamento de Gimme Back My Bullets, o irmão mais novo de Cassie Gaines, Steve Gaines, foi adicionado como terceiro guitarrista. 


O ótimo álbum ao vivo


Uma extensa turnê pelos Estados Unidos elevou o nome do Lynyrd Skynyd novamente, além de um famoso show no festival de Knebworth em 1976, abrindo para os Rolling Stones e Todd Rudgren. Essa turnê foi registrada no espetacular One More From The Road (1976), um dos melhores discos ao vivo da história, tendo performances impecáveis par "Free Bird", "Tuesday's Gone", "The Needle and the Spoon" e "Workin' for M. C. A.", entre outras. É o álbum mais vendido da carreira da banda, conquistando platina tripla, chegando a nona posição da Billboard e na décima sétima do Reino Unido, levando-os para um grandioso show, diante de 200 mil pessoas no dia 21 de agosto, no Knebworth Park, ao lado de Rolling Stones, 10cc e Hot Tuna.​

Allen Collins e Artimus Pyle (acima);
Leon Wilkeson, Ronnie Van Zant, Gary Rossington, Steve Gaines e Buddy Powell (abaixo)



1977 começou com a Street Survivors Tour, a qual levou o Lynyrd Skynyrd para suas primeiras apresentações no Japão. Em abril, novamente com Tom Dowd, voltam aos estúdios para gravar o quinto álbum. Uma pequna turnê pelos EUA ocorre entre abril e junho do mesmo ano, e em agosto, voltam para concluir as gravações de Street Survivors, lançado no dia 17 de outubro daquele ano.

A capa original do derradeiro Street Survivors

Esse é daqueles discos que marcaram época. Através de seus sulcos, temos a sensação de uma banda alegre por estar vivendo a melhor fase da carreira. Um naipe de metais é utilizado para deixar o clima ainda mais para cima, como ouvimos em “What’s Your Name”. Como sempre, temos momentos mais calmos através da bonita introdução de “I Never Dreamed”, a qual conta com um interessante arranjo acústico, além do boogie tradicional (com leves pitadas de jazz e blues) em “Honky Tonk Night Time Man”, na qual Collins simplesmente detona seus dedos com um solo muito veloz.

“That’s Smell” parece ter saído das gravações do clássico Layla and Other Assorted Love Songs, de Derek and the Dominoes, tamanha a similaridade das guitarras do grupo com a guitarra de Eric Clapton, e claro, além dos solos de guitarra, a participação das The Honkettes torna a canção ainda mais agradável. “One More Time” foi gravada em 1971, tendo na formação Ed King (guitarra), Greg Walker (baixo), Rick Medlocke (bateria), Tim Smith e Leslie Hawkins (ambos nos backing vocals), além de Van Zant, Collins e Rossington.



Imagens do terrível acidente de avião do dia 20 de outubro (acima);
Notícia contando sobre a tragédia com o Lynyrd (abaixo)



O slide come solto em “You Got That Right”, com a participação de Steve nos vocais, e ainda temos dois blues alucinantes: “Ain’t No Good Life”, também cantada por Steve, com momentos sacanas ao piano e momentos pesados na guitarra; “I Know a Little”, capaz de colocar a casa abaixo através da hipnotizante escala de baixo. Quinto lugar nas paradas da Billboard, alcançando ouro dez dias após seu lançamento, e platina dupla nos Estados Unidos pouco tempo depois, com mais de dois milhões de discos, enfim, esse é o grande disco da carreira do Lynyrd Skynyrd. Uma pena que tenha sido o último dessa fase do grupo.

Três dias após o lançamento desse LP, com cinco shows de grande repercussão, vivendo a melhor fase de sua carreira, o grupo embarcou no avião Convair V-300, que acabou ficando sem combustível a poucos quilômetros do aeroporto de Greenville (Carolina do Sul). Apesar da tentativa desesperada do piloto em fazer um pouso de emergência, tentando aterrisar em uma pequena pista de pouso, o avião acabou chocando-se contra árvores de uma floresta em Gillsburg, Mississippi, vitimando Van Zant e os irmãos Steve e Cassie Ganies, além de três pessoas da equipe do grupo (piloto, co-piloto e assistante de turnês). Os demais integrantes da banda, bem como o resto da equipe,de apoio, sofreram ferimentos gravíssimos, escapando por pouco da morte.


A capa sem chamas de Street Survivors

O acidente (e a ótima qualidade) alavancaram as vendas de Street Survivors, e não demorou muito a aparecer com uma nova capa, já que a capa original traz uma imagem dos integrantes da banda cercados por forgo, sendo Gaines o que mais contém chamas à sua volta. A pedido da esposa de Gaines, a nova capa contém apenas uma imagem do grupo com um fundo negro.

Lynyrd Skynyrd & The Honkettes: Leon Wilkeson, Artimus Pyle, Allen Collins, Leslie Hawkins,
Gary Rossington, Ronnie Van Zant, Steve Gaines e Jo Billingsley (em pé);
Billy Powell e Cassie Gaines (sentados)
 

O Lynyrd Skynyrd acabou suas atividades depois da tragédia. Allen Collins e Gary Rossington se reuniram na casa de Van Zant, e concordadam em nunca mais voltar com o Lynyrd Skynyrd. Era o fim de uma das grandes bandas dos anos 70. Mas não por completo, como veremos em alguns dias.

3 comentários:

  1. Desculpem a minha correção, mas é Carolina do Sul, e não Califórnia do Sul.
    No mais, gostei da matéria. :-)

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    1. Brigadao meu caro. Foi corrigido. As vezes se passa. Abração e bom Natal

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  2. Muito bom teu blog, teu texto... Vamos perpetuar o nome do Skynyrd pra eternidade!

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