O Capas Legais de hoje traz uma das capas mais conhecidas no mundo do rock progressivo, e que revelou ao mundo a arte surrealista de Hans Giger, através de Brain Salad Surgery, lançado pelo Emerson Lake & Palmer em 1973. Essa linda capa possui um formato bem distinto, e acompanha um pôster interativo bem interessante. Veja!
sexta-feira, 25 de setembro de 2020
sábado, 19 de setembro de 2020
Cinco Músicas Para Conhecer: Performances Inacreditáveis na Bateria
A bateria é com certeza um dos instrumentos mais importantes no mundo do rock. Além de ditar o ritmo das canções, o instrumento também serve para que muitos artistas utilizem o seu baterista como uma forma de "descanso", deixando-o a vontade para solar enquanto curte umas biritas ou simplesmente relaxam durante a apresentação. Tanto que Jimmy Page do Led Zeppelin, por exemplo, utilizava os solos de John Bonham para "brincar" com algumas groupies nos camarins. Hoje, 20 de setembro, Dia do Baterista, trago Cinco Performances de bateria de cair o queixo. Nelas, o baterista não só faz a condução, mas também cria ritmos mirabolantes, ou simplesmente, inexplicáveis até mesmo para profissionais da área. E se lembrar de mais alguma, ou discordar das aqui mencionadas, os comentários estão à disposição.
Aqui é um caso típico onde técnica unida com perfeição e competência geram algo inacreditável. A suíte do álbum homônimo, lançada pelo Yes em 1972, tem várias partes que atraem o ouvinte. Mas ao se concentrar na performance de Bill Bruford, fica aquela pulga na orelha de "da onde ele tirou isso?". Na primeira metade da suíte, Bruford inventa uma forma de tocar totalmente em contra-tempo, tirando completamente do sério aquela mente acostumada a uma batida 2 x 4 comum, e faz o air drummer passar um constrangimento enorme por não acertar UMA batida se quer. O mais curioso é que Bruford faz uma série de maluquices e viradas em contra-tempos totalmente aleatórios, mas sem nunca perder o ritmo para o solo de Steve Howe (introdução), ou os vocais bem encaixados de Jon Anderson e Chris Squire. Na sequência final, é outra série de delírios baterísticos que nem Freud conseguiria explicar, batidas totalmente desencaixadas, mas que se encaixam perfeitamente para o grandioso solo de Wakeman. Coisa de gênio. Ok, na parte do "I Get Up, I Get Down" ele não participa, mas isso é pouco perante tudo o que ele faz antes e depois desse trecho. Tanto que ao vivo, Alan White jamais conseguiu reproduzir uma batida correta, e preferiu dar outro andamento para a música. Uma das melhores canções de todos os tempos só poderia ser tão grandiosa graças a um dos maiores bateras da história, infelizmente aposentado.
Uma das obras mais impressionantes lançadas pelo trio inglês, "Karn Evil 9" é um tour de force para colocar qualquer principiante de quatro. Dividida em três partes (Impressions) e concentrando-se apenas no que Carl Palmer faz com seu kit, o homem demole tudo o que vê pela frente sem piedade. A "1st Impression" apresenta um Palmer um tanto quanto contido, fazendo algumas batidas comuns, viradas igualmente comuns, nada demais durante boa parte do trecho que encerra o lado A. Só que na reta final do lado A, ele começa a soltar o braço, com um ritmo descomunal e uma série de viradas, marcações nos pratos, cowbells, entre outras, que já levam o batera a se destacar sobre a tecladeira de Keith Emerson. Então, o homem consagra o solo de guitarra de Greg Lake com um vigor descomunal, e quando colocamos no lado B, a frase "Welcome back my friends to the show that never ends ..." ressoa nas caixas de som para nos apresentar um show a parte de Palmer. O pouco que ele fez no lado A é ampliado no Lado B. A "1st Impression" surge como uma locomotiva sem freio, derrubando o que vem pela frente em um ritmo dilacerante, conduzido pelas batidas inacreditáveis de Carl Palmer. Claro que Emerson e Lake fazem seu trabalho muito bem, mas toda a condução rítmica que Palmer entrega para o solo de Emerson é para se escabelar de tanto sacudir a cabeça. Há um pequeno trecho para Palmer exibir-se com um solo destruidor, e cara, aqui o bicho pega. Velocidade absurda, batidas incontroláveis, cansa só de ouvir, e isso é levado até o encerramento da "1st Impression". Na "2nd Impression", Palmer dá uma aula de jazz para poucos, fazendo de tudo. Seu duelo com o piano de Emerson não se restringe apenas a mera condução. É pancadaria comendo solta, numa luta pouco ouvida nos discos de rock progressivo, e de difícil descrição com palavras. Só ouvindo! A "3st Impression" é igualmente fantástica, com rufadas, viradas, batidas em seco, pratos socados sem piedade, enfim, uma performance tremendamente justificada para estar aqui. E ao vivo, o bicho pegava mais ainda, com Palmer executando seu solo ferozmente, e ainda, geralmente, tirando a camiseta no meio do solo, marca tradicional do batera. Quem quiser ouvir a versão de estúdio, está no fundamental Brain Salad Surgery (1973), e quem quer conferir performances ao vivo da faixa, acesse o vídeo da banda no California Jam de 1974, ou então delicie-se com o ao vivo Welcome Back My Friends To The Show That Never Ends ... Ladies and Gentleman Emerson, Lake & Palmer (1973).
Cozy Powell tem uma carreira repleta de altos e baixos. O auge de suas performances, quando ele realmente ganhou destaque mundial, após passar pela trupe da Jeff Beck Group, foi ao lado de Ritchie Blackmore no Rainbow. No disco Rising (1976), temos duas performances inacreditáveis. O que ele faz na introdução de "Stargazer" já é impressionante, mas é em "A Light in Black" que Powell mostra por que foi um dos maiores bateristas de todos os tempos. A velocidade absurda que ele emprega logo no início da faixa, acompanhando o riff grudento da guitarra com marcações precisas e rápidas nos pratos, é mantida por mais de oito incansáveis minutos, soberanos. Powell perpassa pelos solos de teclado e guitarra sempre com um ritmo fulminante e preciso, que dá vontade de sair batendo a cabeça e agitando os braços. Mas é nesses solos que ele mostra por que de estar aqui. O domínio dos dois bumbos, numa velocidade sempre precisa, a marcação na caixa e as viradas nos pratos, é coisa para mais de um polvo, fora que tudo isso é numa pancadaria sensacional. Quando ele trava duelo com os teclados, destruindo os pratos, já estamos batendo a cabeça na parede. Mas ainda vem mais. Acompanhando o rei Blackmore, Powell repete a mesma performance, adicionando mais marcações junto com o teclado, tornando a faixa ainda mais atraente. Por vezes, o solo de Blackmore nem parece estar na nossa mente, já que é aquela pancadaria nos bumbos e na caixa, com os pratos sendo estraçalhados, o que sobressai das caixas de som. Novamente temos o duelo com os teclados, pancadaria comendo, e Powell segue firme, incansável, destruindo seu kit, e encerrando uma das melhores músicas de todos os tempos com mais uma série de viradas impressionantes!
Os fãs de Peart podem dizer que há outras canções com performances mais inacreditáveis por parte do baterista, e até posso concordar, mas em "La Villa Strangiatto" acredito que o que ele faz é inacreditável por que ele torna-se o centro das atenções, diferente das outras. Desde o dedilhado inicial da guitarra, ele que puxa as batidas que vão explodir nos solos de Lifeson e Lee (também comandados por ele), com uma marcação singular no cymbal. As viradas que levam ao solo são virtuosas, e a marcação no cymbal é feroz e pontual. Mas é quando a faixa diminui o ritmo para o magnífico solo de Lifeson, que Peart faz algo descomunal. A marcação é quebrada, complexa, e somente depois de duas ou três audições percebemos que ele altera o bumbo e a caixa exatamente no mesmo número de compassos invertidos do cymbal, e sempre com um rolo extra em cada intervalo. Fazer isso uma ou duas vezes até vai, mas concentrar o cérebro para fazer coisas tão distintas em um intervalo de tempo tão longo, não é para meros mortais. A medida que o solo ganha corpo, Peart vai empregando mais força em suas batidas, e quando vê, ele está solando junto com Lifeson, mantendo o ritmo mas fazendo a música ganhar mais sentido do que apenas notas e escalas de guitarra. A marcação do cymbal é incansável, as batidas improváveis surgem espontaneamente, e então, mais uma explosão, agora para Peart conduzir a loucura de guitarra e baixo. Agredindo os tons-tons, Peart se dá ao luxo de degladiar com Lee em um solo jazzístico, apresentando rufadas impossíveis de serem reproduzidas (quiçá criadas), explorando o cymbal a la Buddy Rich, ou simplesmente, espancando seu kit sem piedade em uma virada brusca, mas perfeita. A faixa volta ao seu início, com toda a precisão que o trio canadense sempre soube trazer para suas músicas, e encerra-se como um clássico atemporal na música mundial, presente no fantástico Hemispheres (1978) e em vários álbuns ao vivo e coletâneas do Rush.
O Helloween é um pioneiro no speed metal, muito graças as performances velozes de Ingo Schwichtenberg. O baterista infelizmente cometeu suicídio em 1995, mas entrou para os anais de maiores bateristas de todos os tempos com suas marcações nos pratos e tons, bem como a velocidade impressionante. "Eagle Fly Free" possui essas características de arrancada, acompanhadas de viradas muito precisas e complexas. Com um ritmo endiabrado, Ingo parece solar enquanto Kiske canta ("In the sky a mighty eagle Doesn't care 'bout what's illegal ... ), alterando batidas nos tons, pratos, viradas, e sempre marcando com precisão na caixa. No refrão, a velocidade continua absurda, os dois bumbos não param, e Ingo faz mágica para criar um ritmo tão impressionante com apenas quatro membros no corpo. Repetem-se as estrofes, e se você já está cansado, prepare-se para ouvir a sequência de solos, começando com as guitarras de Kai Kansen e Michael Weikath, passando pelo ótimo solo do baixista Markus Grosskopf, volta para as guitarras, e então, Ingo "duelar" com a banda, fazendo um solo furioso, espancando seu kit com viradas impressionantes, carregando algum efeito de eco na bateria, e retornando para o ritmo fulminante que leva ao refrão, encerrando a jornada sonora de uma locomotiva desenfreada com uma rufada e mais uma virada de tirar o fôlego, e uma das mais belas canções da história do Metal, presente no excelente Keeper of the Seven Keys Part II.
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Livro: A Divina Comédia dos Mutantes [1995]
Nada mais justo que hoje, dia da "Independência do Brazil", trazer aqui um texto sobre a maior banda que o país pariu em seus 520 anos de "descoberta", Os Mutantes. Há quase um ano, escrevi sobre o livro Rita Lee - A Autobiografia, lançado pela eterna ex-Mutante em 2017, e desci um pouco a lenha no livro, por diversas situações que você pode conferir aqui. Naquele livro, Rita, entre críticas diversas a pessoas diversas, critica também Carlos Calado, autor da biografia A Divina Comédia dos Mutantes, lançado primeiramente em 1995, e que até hoje, já recebeu uma segunda edição em 1996, e uma terceira em 2012.
Claro, o livro tem quase 25 anos, então é natural haverem outras edições, mas honestamente, para mim esse é uma das melhores biografias lançadas em nosso país sobre um artista legitimamente brasileiro. Com 360 páginas, 22 capítulos mais Prefácio por Mathilda Kóvak, Agradecimentos, Índice Remissivo, Discografia, Bibliografia e Crédito das diversas imagens raras que aparecem ao longo do livro, A Divina Comédia dos Mutantes é um prato cheio para quem quer conhecer a história da banda mais importante da história do Brasil, e por que não, uma das maiores do mundo.
O livro começa relembrando a tragédia que envolveu Arnaldo Baptista, quando o mesmo jogou-se, no dia 31 de dezembro de 1981 (aniversário de Rita), do terceiro andar do Hospital do Servidor Público de São Paulo, narrando todo o drama da recuperação de Arnaldo, e depois, em ordem cronológica, conta a formação dos Mutantes de forma envolvente e de fácil leitura, fazendo com que o texto passe rapidamente por nossos olhos. A infância e adolescência dos irmãos Sergio, Arnaldo e Claudio (o quarto Mutante) Baptista, bem como de Rita, são os primeiros capítulos, destacando as primeiras bandas e apresentações dos mesmos, até chegarem ao grupo O'Seis.
Nesta passagem, muito bem detalhada, destacam-se a criação do Six Sided Jazz, que mudou rapidamente para Six Sided Rockers, e então O' Seis, as apresentações dos Rockers na TV (Programas Jovem Guarda, Show em Si-monal, Papai Sabe Nada e Almoço Com as Estrelas), a primeira gravação com um Mutante (o compacto "Pertinho do Mar" e "O Meu Bem Só Quer Chorar Perto de Mim", de Tony Campello, acompanhado pelas Teenage Singers, que tinham Rita nos vocais), e a gravação do raríssimo compacto do O'Seis.
No limbo pós debandada geral dO'Seis, surge Ronnie Von, responsável por acolher o trio Rita, Arnaldo e Sergio, além de batizá-los, e levá-los para a TV, cuja estreia foi no dia 15 de outubro de 1966, no programa O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Surgem as participações no Quadrado E Redondo da TV Bandeirantes, Divino Maravilhoso da Tupi, os encontros com Gilberto Gil e Caetano Veloso, e os Mutantes participando (e chocando) nos grandes festivais nacionais da segunda metade dos anos 60. Novamente, Calado preenche o texto com muitos detalhes, o que torna a leitura bastante atrativa, e ainda traz informações pertinentes e raras, como a participação do grupo no filme As Amorosas, o registro de Tropicália ou Panis et Circensis, disco símbolo do tropicalismo, contando com o trio, o inflamado discurso de Caetano no TUCA em 1968, durante o FIC daquele ano, e a esperada (e elogiada) estreia de 1968, no álbum homônimo que hoje é aclamado como um dos Melhores Lançamentos nacionais da história. Outro ponto interessante, e bastante desconhecido até então, foi o festival organizado por Caetano na boate Sucata, contando com os Mutantes, que acaba levando a conturbada prisão (e deportamento) de Caetano e Gil em 27 de dezembro de 1968.
Com o status de grande banda alcançado logo no primeiro lançamento, chega então Mutantes, o segundo disco, e a estreia de Dinho "I Du Rancharia" Leme na bateria. O autor traz a primeira passagem do grupo pela Europa, apresentando-se no MIDEM, em Cannes, França (1969), onde ganharam muitos elogios da imprensa francesa, apresentações em Portugal, e ainda uns dias de férias nos EUA, onde viram Janis Joplin, que deixou-os de boca aberta, e decepcionaram-se com os Mothers de Frank Zappa.
Como novidade não-musical para os fãs da banda, Calado traz detalhes da participação da banda como convidados da Feira de Utilidades Domésticas de São Paulo, em abril de 1969, com o desfile Moda Mutante, apresentando as coleções masculina e feminina da Rhodia, com os Mutantes como atração central, em um evento que durou quase três semanas, e a peça de teatro Planeta dos Mutantes, espetáculo que estreou em julho de 69, escrito e idealizado pelo trio, e que chocou a pauliceia desvairada com cenas bastante bizarras, e que acabou resultando em certo prejuízo financeiro ao grupo. Porém, é aqui onde a sonoridade dos Mutantes começa a mudar.
Essa mudança aparece em A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado, que contou com a fundamental colaboração do amigo Élcio Decário nas composições, Liminha, fã dos Mutantes desde adolescente, no baixo e participações de Naná Vasconcelos e Raphael Vilardi. Arnaldo mergulha nos teclados, influenciado pelo que viu e ouviu na Europa, e começa a ter suas primeiras brigas e separações com Rita, levando inclusive a uma breve "estacionada" dos Mutantes, já no final de 1969, com Rita passeando pela Europa e Arnaldo viajando de moto pela América Latina. Essa separação acabou sendo boa visualmente para Rita, que acabou sendo convidada para ser protagonista dos shows-desfiles Nhô-Look e Build Up, outra grande novidade para os fãs do grupo, e também lançou seu primeiro álbum solo, Build Up, com participações dos demais membros da banda.
Com a chegada dos anos 70, os Mutantes mudam-se para a serra da Cantareira. Novamente, a banda vai à Europa, agora para uma temporada de shows no Olympia francês. Voltam ao Brasil para fazer parte do elenco do programa Som Livre Exportação, da Rede Globo, e com muitos ácidos europeus na mente, registram Jardim Elétrico, disco com canções de um álbum inicialmente planejado para ser lançado na Europa (Technicolor), mas que acabou ficando engavetado por quase 30 anos, e mais algumas novidades. Os detalhes que Calado nos apresenta até aqui são muito reveladores não só da intimidade mutante, mas da importância e pioneirismo do grupo em ser um dos primeiros nomes nacionais a conseguir conquistar o mercado europeu com shows lá no Velho Continente, destacando ainda mais a relevância do nome Mutantes para a música mundial.
Envolvidos pela fácil e repleta de informações leitura, chegamos em 1972, e no capítulo 17, com os Mutantes lançando seu quinto álbum, e metendo-se em uma empreitada fantástica: uma turnê itinerante por pequenas cidades do país, começando por Guararema, onde foram saudados pelo prefeito local. Sobre Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, brigas com a censura e a exploração instrumental da faixa-título são os destaques. Com a casa na Cantareira, a banda passa a cada vez mais fazer ensaios e improvisos, culminando com uma forte guinada para o rock progressivo britânico de Yes e ELP (principalmente). Rita e Arnaldo separam-se novamente, com Rita indo para a Inglaterra, e na sua volta, gravam Hoje É O Primeiro Dia do Resto das Suas Vidas, segundo disco de Rita, mas que na verdade, é um álbum totalmente Mutantes.
Da Inglaterra também veio Mick Killingbeck, que mudou totalmente a cabeça dos rapazes da banda, tornando-se um guru de Arnaldo (e um affair de Rita). Ele é um dos principais influenciadores de "Mande Um Abraço Pra Velha", última canção com Rita na banda, já que logo em seguida, após declarar "estar cansada de ser o Jon Anderson", a ovelha negra havia sido demitida (ou convidada a deixar a banda) por Arnaldo. Esse é o ponto mais delicado de A Divina Comédia dos Mutantes. Calado coloca o dedo na ferida, e acaba sendo sensato, atribuindo a separação para os dois lados em termos de culpa (uma Rita que queria ser estrela e um grupo de rapazes que queriam ser a melhor banda do país).
O ano de 73 começa com o grupo vivendo a fase Uma Pessoa Só. Calado nos apresenta as gravações de O A E O Z e diversas apresentações da banda naquele ano, com o show Mutantes com 2 Mil Watts de Rock, para a época, o maior espetáculo sonoro que o país já vira. Calado também apresenta a (única) apresentação das Cilibrinas do Èden, banda formada por Rita e a amiga Lucia Turbull, na Phono 73, e os graves problemas de Arnaldo com as drogas, culminando com sua saída da banda (ele mesmo se demite) por tentar impor uma apresentação gratuita em São Lourenço, Minas Gerais, o que foi descartado pelos colegas de forma unânime. Arnaldo foi sozinho para Minas, e ali entrou em derrocada na carreira, enquanto Rita monta a Tutti Frutti e começa sua longa carreira solo de sucesso. Ah, o álbum Loki! também é narrado por Calado, em um clima de muita dor e emoção.
Chegamos na reta final do livro, com Sergio tocando o Mutantes e suas diversas formações, seja com Manito, Túlio Mourão ou Luciano Alves nos teclados, o batera Rui Motta e Antonio Pedro e Paul de Castro no baixo. É a época dos shows lotados, músicas longas e viajantes, das gravações de Tudo Foi Feito Pelo Sol - curiosamente, até então, o álbum do grupo que mais havia vendido - e Ao Vivo, de uma turnê pela Itália, e o fim de uma das bandas mais importantes da história da música nacional. A tentativa frustrada de unir o trio original em 1992, em um show de Rita, é tratada rapidamente por Calado, que conclui o livro dando um panorama atual (na época) de cada membro que passou pela banda.
Sergio, Arnaldo e principalmente Rita desceram a lenha no livro sem exagero algum. Tudo bem, o autor pode ter se passado em algumas informações bastante pessoais (principalmente nos casos amorosos e extra-conjugais do trio), mas esse tipo de fofoca é pouco perto da grandiosidade de pesquisa (foram quase 2 anos de trabalho e mais de 200 entrevistas) e informações que A Divina Comédia dos Mutantes traz. Para quem é um fã da banda, é uma ótima pedida de investimento. E para quem está a fim de aprender muito sobre uma época que não volta mais, e de todo o pioneirismo de Arnaldo, Claudio, Rita, Sergio, Liminha e Dinho, terá em mãos uma ótima escolha.
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