sábado, 25 de dezembro de 2021

Capas Legais: Family - Bandstand [1972]


 O  episódio de hoje do Capas Legais apresenta a capa de Bandstand, sexto álbum do Family, e cujo formato é de uma TV. Confira, e aproveite para inscrever-se em nosso canal e compartilhar com os amigos.



terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Ouve Isso Aqui: Discos ao vivo de retorno lançados nos anos 2000


 Editado por André Kaminski

Tema escolhido por Mairon Machado

Com Daniel Benedetti, Davi Pascale, Fernando Bueno e Ronaldo Rodrigues


Os anos 2000 providenciaram o retorno, mesmo que por vezes apenas em um show, de grandes nomes do rock dos anos 60 e 70. Foram inúmeros grupos que trouxeram para uma geração do século XXI, ao vivo, aquele clímax que construíram quando eram bam-bam-bans na cena musical do auge de suas carreiras. Minha intenção aqui é discutir o retorno de cinco desses grupos, e pensar se realmente, o retorno aos palcos dos mesmos valeria a pena para uma série de shows e novos lançamentos, ou se esses retornos confirmavam que a nostalgia dos velhos bons tempos onde esses nomes eram tigrões, mas que a idade os fez se posicionar como tchuchucas, confirmavam que os nomes em questão não tinham motivos de seguir na ativa. Vamos as opiniões dos consultores para esses retornos de gigantes.

Led Zeppelin – Celebration Day [2007]

Mairon: O Led já havia feito alguns retornos depois da morte de John Bonham, mas foi somente o show no Ahmet Ertegun Tribute Concert em 10 de dezembro de 2007 que foi lançado para os fãs. Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones, junto de Jason Bonham (filho de John), se uniram na O2 Arena de Londres lotada (os ingressos esgotaram rapidamente), e emocionaram aos presentes. Como grande fã de Led que sou, eu tinha grandes expectativas dessa apresentação, as quais foram frustradas. O repertório é excelente, cobrindo quase todos os discos da banda (apenas In Through The Outdoor ficou de fora) e em muitas faixas a coisa dá um tesão bom, como “No Quarter”, “Ramble On”, “Misty Mountain Hop”, “For Your Life”, “Trampled Underfoot” e a sempre demolidora “Kashmir”,onde Bonham dá um show a parte. Mas ouvir a diminuída de tom em faixas como “Good Times Bad Times”, “In My Time of Dying”, “Rock and Roll” ou “The Song Remains The Same” (coragem tentarem tocar essa) torna a coisa um pouco arrastada, tirando a energia que sempre foi o forte dos caras. Page está  totalmente fora de forma nos solos, principalmente “Since I’ve Been Loving You”, bastante decepcionante. “Dazed and Confused” chega a ser constrangedora. Plant é outro que há muito tempo não tem a mesma voz, o que fica provado em “Black Dog”, “Nobody’s Fault But Mine” e “Whole Lotta Love”, onde ele também apresenta estar perdidaço na letra. Até “Stairway To Heaven”, que apesar de continuar linda, mostra o desgaste da voz de Plant. Aliás, o solo de Page neste clássico eu prefiro não comentar … Por outro lado, Jones e Bonham estão perfeitos, em uma performance digna de suas histórias, e que sustenta bastante Celebration Day para fazê-lo passar por média. Led é Led e sempre será Led, é empolgante ouvir o disco de uma maneira nostálgica, mas entendo perfeitamente por que a banda não se reúne mais para tours. Celebration Day para mim serve como um comprovante para os fãs pararem de encher o saco dos caras em seguir tocando juntos.

André: Eu já ouvi gente dizendo há muitos anos que este show de retorno foi fraco e decepcionante. Sei lá, apenas inacreditável ouvir isso. Não acho que eu precise dizer do quanto, ao menos, a lendária banda junto ao filho do lendário falecido baterista é incrível mesmo após tantas décadas afastados. Mesmo que eles estivessem enferrujados ainda são melhores do que muitas bandas contemporâneas que nunca pararam. Pelo menos ficou um registro do que poderia ter sido a banda com o passar dos anos.

Daniel: Eu gosto deste disco. É claro que é possível de se questionar alguma mudança no repertório como a falta que sinto de “Heartbreaker” ou “Communication Breakdown”, mas o desfile de canções clássicas, em sequência, já são fiéis amostras do poderio do repertório do Led Zeppelin. Sem mais nada a provar, vejo este disco como um digno pertencente à discografia da banda, por mais que a ausência de John Bonham sempre seja sentida.

Davi: Ainda me lembro das conversas nas rodas de amigos durante minha juventude: “Por que os Beatles não voltam à ativa e colocam o Julian no lugar do John?”. “Se o The Who excursiona, de tempos em tempos, com outros bateristas, por que o Led Zeppelin não faz o mesmo”? As opiniões, claro, eram divididas. Havia quem defendesse, havia quem achasse uma heresia. No caso do Led, havia até a justificativa de “você viu o terror que foi o show do Live Aid“? Contudo, de tempos em tempos, a pergunta voltava à tona. Décadas se passaram, mas finalmente, teríamos a resposta de como um desses lendários grupos soaria em uma reunião, ainda que de maneira bem breve. E, graças à Deus, o resultado, dessa vez, foi muito bom. Sim, John Bonham é inimitável e é bem superior ao seu filho. Contudo, o garoto não fez feio. Segurou bem a bronca, conseguiu manter o espírito, digamos assim. (Inclusive, prefiro a performance dele aqui, do que a que realizou ao lado da Jason Bonham Band, no álbum In The Name Of My Father). Outra coisa que me deixava com a pulga atrás da orelha era o trabalho vocal de Robert Plant. Será que ele ainda daria conta do repertório do Led? Assisti ele e o Jimmy Page no Hollywood Rock e gostei bastante do resultado, mas já havia se passado uma década. E, sim, Plant mandou muito bem, obrigado. Claro, ele adaptou para sua nova realidade, cantou conforme sua idade permitia. Cantou mais na manha, fez algumas linhas vocais mais para baixo, recorreu ao falsete em alguns momentos, mas o resultado final ficou muito bom. O show é excelente. Pesado, muito bem tocado e com um repertório impecável, onde voltaram a tocar inclusive, “Stairway to Heaven”, depois de terem negado por décadas. É uma pena a reunião não ter ido adiante.

Fernando: De todos os da lista, acredito que esse tenha sido fruto do acontecimento mais esperado pela comunidade rocker por anos, por todas as circunstâncias e a importância que a banda tem na história. Também é o que teve maior caráter de celebração, homenagem, como o próprio nome do lançamento deixa claro. Até por tudo isso a execução acaba sendo apenas um detalhe que pouco importa. Acredito que fizeram o certo em fazer alguns shows apenas, lançar esse material e não retomarem as atividades. Fizeram uma aparição e se mantiveram como lendas sem desgastar essa imagem.

Ronaldo: Há muita dignidade do Led Zeppelin em ter se preservado de tantas ofertas para voltar aos palcos, sem seu baterista original. A inadequação de Robert Plant para o estilo vocal de sua juventude fica claro na opção da banda por ter baixado os tons das músicas, contudo, a adaptação soa honesta dentro de suas limitações. O disco já ganha pontos por incluir como abertura músicas fantásticas que praticamente não fizeram parte do repertório ao vivo da banda nos anos 60/70 – “Good Times Bad Times” e “Ramble On”; outro ponto positivo é Jimmy Page com sua Les Paul sem se render ao som dos guitarristas modernosos. Suas seções psicodélicas em “Dazed and Confused” e “Whole Lotta Love” são totalmente respeitáveis. De ponto negativo, triste reconhecer que os engenheiros de som atuais não sabem dosar o som do baixo e da bateria ao vivo, deixando o primeiro enterrado e sem agudos e o segundo entupido de graves embolados. O próprio John Paul Jones soa um tanto básico demais no baixo, não saindo nenhuma linha além do tradicional (e mesmo que saísse, seu esforço não apareceria no disco). Já nos teclados, sua elegância e técnica estão devidamente registradas. O repertório da banda dá uma passeada bem representativa por toda sua discografia (com exceção de In Through the Outdoor). “Whole Lotta Love”, “No Quarter” e “Misty Mountain Hop” tocadas nos tons original e com a banda afiada, são destaques.

Triumph – Live at Sweden Rock Festival [2008]

Mairon: Depois de muitas brigas e discussões, eis que o mundo foi surpreendido pelo retorno do Triumph de Rik Emmett, Gil Moore e Mike Levine. Lembro da expectativa deste retorno, a possibilidade de uma turnê mundial, um novo disco, mas a guerra de egos foi maior que a grande capacidade dos canadenses criarem obras primas, o que por si só já indica o que foi este registro. Aliás, ele que foi minha inspiração para esse Ouve Isso Aqui. Quando o ouvi pela primeira vez, foi com um mixto de alegria e frustação. Alegria por que o disco começa muito bem, com Gil mandando ver em “When The Lights Go Down”, pesada, como nos bons tempos do Triumph. Tu vê o repertório e é perfeito, não há o que tirar, ainda mais para um show em um festival. Mas basta os primeiros acordes de “Lay It On The Line” para o nariz começar a ser torcido. Alguns tons abaixo e principalmente, um Rik que não tem mais a mesma voz dos anos 70 não conseguindo alcançar agudos de outrora, e tão pouco agudos atuais. É muito triste ouvir a voz de Rik falhando por diversas vezes, principalmente em “Never Surrender” ou “Magic Power”. Algo só mais lamentável que ter presenciado Ian Gillan não conseguindo cantar “Child In Time”, ou Geddy Lee fracassar ao longo de todo o show do Rush no Rio em 2010. Instrumentalmente, Live at Sweden Rock Festival é impecável, e claro, Rik ainda é um baita guitarrista. Ouçam o que ele faz na própria “Lay It On The Line”, “Blinding Light Show / Moonchild” e “Rock ‘n’ Roll Machine” por exemplo. Gil ainda é um baterista vigoroso e capaz de cantar muito bem, como atestam “Allied Forces” e “Rocky Mountay Way”, e Mike possui uma capacidade ímpar de aturar o ego de gigante dos dois colegas tocando com uma sobriedade e precisão raras. Mas honestamente, por mais que o instrumental seja perfeito, eu só iria curtir ver esse show se as vozes do Rik fossem substituídas por um vocalista que ainda consiga cantar aqueles agudos tão fascinantes. A reunião naufragou rapidamente, o disco ficou para a história como o último registro do Triumph, e infelizmente, um registro não digno da grandeza dessa banda fantástica!

André: Conheço menos do Triumph do que eu deveria. Então tirando algumas poucas músicas, assisti ao show quase que como ouvindo uma banda antiga desconhecida. Achei uma performance bacana e segura de uma banda de hard rock setentista. Acho que no caso da musicalidade deles, os anos prejudicam um pouco a questão de desempenho (principalmente em relação as faixas mais velozes), mas para uma banda veterana e experiente, foi um disco muito agradável. Deu mais aquele incentivo a ir atrás de mais discos deles.

Daniel: Sempre penso no Triumph como um grupo “criminosamente” subestimado. Basta ouvir o repertório presente neste álbum, com canções cativantes e com execuções bem fiéis aos originais presentes nos discos. Nunca havia ouvido e certamente vou voltar a este álbum.

Davi: Depois de aproximadamente 15 anos afastados do palco, o Triumph voltava à ativa. E aí? Será que funcionaria? Será que os músicos ainda dariam liga? E, sim, embora não tivessem tido muito cuidado com o visual (algo que fica claro para quem já assistiu ao DVD dessa apresentação), musicalmente a banda ainda tinha lenha para queimar. O show não tinha grandes novidades. Mike Levine, Rik Emmett e Gil Moore subiram ao palco, acompanhado de Dave Dunlop e relembraram os números mais marcantes de seu período auge. O repertório focava o período de 1977 a 1982. Ou seja, de Rock & Roll Machine  à Never Surrender. Na minha opinião, o melhor momento deles. Rik e Gil estavam com a voz em dia e a banda estava até que redondinha. Claro, não dá para comparar essa performance com a de Stages, nem a do US Festival, mas é um show bem agradável de assistir.

Fernando: Esse foi o que mais curti reouvir. Curto muito o Triumph, sempre achei ótima esse balanço que eles fazem com o hard rock e o progressivo, seus músicos são ótimos, grandes vozes, mesmos dando para perceber o óbvio declínio do que eram nos anos 80, mas nada que interfira muito na qualidade da execução. Achei ótima a versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh. Não costumo ouvir muitos discos ao vivo, porém esse vai acabar voltando ao som daqui uns dias.

Ronaldo: Não sou um grande conhecedor do repertório do trio canadense Triumph. Mas a primeira levada de bateria do disco já transporta o ouvinte para a década de 1980 e se essa é a intenção do ouvinte, a diversão está garantida. Tudo é  tocado com muito gás, bem cantado e executado. “Magic Power” tem aquele vocal agudo característico do rock de arena dos anos 80 e há ótimos momentos em todo o disco, que inclui uma boa versão de “Rocky Mountain Way” de Joe Walsh.

Mutantes – Barbican Theatre [2006]

Mairon: Outro retorno surpreendente. Creio que nem o mais esperançoso fã dos Mutantes (e eu me incluo entre eles) acreditava que um dia Arnaldo Baptista e Sergio Dias iam voltar a dividir o mesmo palco, ainda mais com Dinho Leme na bateria. Ok, Serginho fez uma jogada de mestre, pegou os (exímios) músicos que o acompanhavam em carreira solo, trouxe a voz de Zélia Duncan para substituir Rita, e assim foi para Londres em 2006 fazer um show sensacional. O repertório é perfeito, calcado essencialmente na fase Rita, e se aproveitando dos arranjos de Tecnicolor, o álbum que era para ter sido lançado na Europa, acabou não saindo nos anos 70, mas chegou ao mundo no início do século atual. Deste, ouvimos “Le Premier Bonheur du Jour”, “El Justiciero”, com uma linda introdução do violão de Sergio, “I’m Sorry Baby (Desculpe Baby)”, “I Feel A Little Spaced Out (Ando Meio Desligado) e “A Minha Menina”, todas ótimas, como manda o figurino Mutante. Somos surpreendidos com inesperadas apresentações para “Ave Gengis Khan”, “Cantor De Mambo”, com a engraçada apresentação de Serginho, e Arnaldo mandando ver nos vocais, “Ave Lucifer” e “A Hora e a Vez Do Cabelo Nascer (Cabeludo Patriota)”. É arrepiante ouvir a entrada com “Don Quixote” e “Caminhante Noturno”, parece que somos jogados aos anos 60. E claro, quando Arnaldo canta “Dia 36”, lágrimas correm pelo recinto. Tive a oportunidade de ver essa turnê em 2007, acho que foi o show que mais chorei em minha vida, e pena que o retorno durou pouco, mas o suficiente para fazer um grande registro, e uma grande turnê. Em tempo, Zelia não decepciona em nenhum momento, principalmente em “Baby” e “Fuga N° 2”, e Serginho ainda era (e é) o mais talentoso guitarrista que o Brasil já pariu! Grande disco!

André: Por mais que se elogie o esforço dos irmãos Dias de se aguentarem e voltarem a tocar juntos, não tem como desconsiderar o clima ruim dos bastidores desse retorno que viria logo depois a culminar na saída de Arnaldo no meio da turnê. Aliás, é triste ver ele ali sentado no teclado meio deslocado do restante, mesmo ocupando o centro do palco. OK, tem a questão da saúde e mesmo seus vocais não estarem lá em grande forma, mas porra, é o Arnaldo Baptista. Sinceramente, não consigo ver esse show e escutar estas gravações sem aquela sensação de incômodo. Aliás, não condeno o Sergio por essa tentativa. Apenas que foi a constatação definitiva que ele tem que levar a banda sozinho mesmo.

Daniel: Outro álbum que eu curti a audição. Sérgio Dias e Arnaldo Baptista capricharam na escolha do repertório e, mesmo que algumas execuções fujam dos originais, o resultado final me agradou. Gostei da presença do coral e se Zélia Duncan não é a Rita Lee, não chega a fazer feio. É outro álbum da lista que voltarei a ouvir em breve.

Davi: Assim como a do Led Zeppelin, essa foi uma reunião que me surpreendeu positivamente. Quando anunciaram que estariam fazendo esses shows, não botei muita fé. Ao contrário de muitos dos meus amigos, sempre preferi a fase tropicalista à fase progressiva, portanto, a figura da Rita Lee, era uma figura importante, para mim. E embora goste do trabalho da Zélia Duncan, me questionava se seria a cantora adequada para o projeto. Quando adquiri o CD e o DVD, lembro que fiquei bem impressionado. A banda estava com uma qualidade técnica muito alta e Zélia soube se adaptar ao projeto. Sua voz casou bem às canções. Eu, particularmente, sempre fui muito fã do Sérgio Dias. Para mim, trata-se de um dos melhores guitarristas do nosso país. E sua performance aqui é irretocável. Já Arnaldo, não tem como deixar de notar que estava bem debilitado. Principalmente, na parte vocal. Independente disso, a performance, como um todo, é excelente. Trata-se de um trabalho muito bem desenvolvido, com um ótimo repertório, que vale a pena você ter em sua prateleira. Trabalho que considero superior ao Mutantes Ao Vivo (1976), inclusive.

Fernando: Vamos lá … (deixa eu me preparar para as pedradas). Eu não tenho interesse nos Mutantes. Já ouvi bastante, até para tentar me habituar e por insistência encontrar o motivo de tanta admiração que muitos dos meus amigos vêem na banda. Eu não sei o que exatamente me incomoda, mas creio que a mistura de MPB e toda aura bicho grilo que a banda passa seja o motivo. Entretanto acho demais que lá fora o interesse por eles também tenha sido grande e achei uma pena não terem seguido mesmo com a grande aceitação que essa reunião teve na época.

Ronaldo: Ajudou o fato desse disco ao vivo dos Mutantes ser apoiado por um conjunto de músicos jovens e bem talentosos apoiando os veteranos irmãos Batista. Penso que se a coisa dependesse apenas deles em seus respectivos  instrumentos e vozes, o resultado ficaria bem prejudicado. Além disso, a banda não economizou nos playbacks e efeitos externos; temos aqui o registro de um espetáculo bem planejado e executado. Sergio Dias, nos momentos em que os holofotes lhe estão voltados, não decepciona e mostra sua envergadura técnica. Já Arnaldo Baptista, por sua condição de saúde, tem mais papel de figuração (tanto é que depois de algum pouco tempo, a banda prosseguiu sem ele apresentando o mesmíssimo show). Algumas adaptações dos efeitos psicodélicos dos discos da época para o palco ficaram muito interessantes e é louvável o esforço da banda nesse sentido. Como crítica, apenas a velocidade excessiva em algumas músicas e as adaptações para o inglês, que ficaram bem esquisitas. A nata do repertório tropicalista dos Mutantes está toda contida no disco, que é um trabalho agradável de se ouvir no geral.

Cream – Royal Albert Hall London May 2-3-5-6 2005 [2005]

Mairon: Grande retorno aos palcos de Ginger Baker, Eric Clapton e Jack Bruce, para mim é o melhor retorno destes cinco aqui apresentados, muito por conta de que o trio está em ótima fase. Uma curta série de apenas quatro shows em maio de 2005, no Royal Albert Hall  de Londres, foram compilados nesse excelente álbum.  Repertório é fantástico, e é incrível como os anos passam, mas ainda assim, Bruce parece querer engolir Clapton, enquanto Baker quer engolir os dois, e Clapton, vendo que está sendo engolido pelos colegas, tenta herculeamente se desgarrar dos dentes afiados dos mesmos. De cara, “I’m So Glad” já mostra uma bela jam, o que vai sendo ampliado em “Born Under A Bad Sign”, “N.S.U.”, “Sweet Wine” e essencialmente, a clássica “Sunshine of Your Love”. Como não viajar em “Sleepy Time Time”, “Politician, “Spoonful” e “White Room”? Bruce é para mim o centro das atenções, cantando como nunca (ou como sempre) em “Deserted Cities Of The Heart”, “Pressed Rat & Warthog”, mandando ver na harmônica de “Rollin’ And Tumblin’ “, e arrancando lágrimas de estátuas e almas na arrepiante “We’re Going Wrong”, que música linda, PQP!!!!!. As faixas onde Clapton canta são as mais fraquinhas, com exceção de “Stormy Monday”, que só a introdução já faz o c* cair da bund@ com mais naturalidade que uma manga madura caindo da mangueira. Potências sonoras para lembrar como o Cream foi uma banda incrível e revolucionária em sua época. Posteriormente ainda houveram shows nos EUA, mas este foi o último registro oficial do grupo, e que registro!

André: Esse show demonstra bem o que ocorre quando o coração dos caras não está ali naquela reunião. Eric e Jack não harmonizam direito as vozes, a bateria de Baker soa sem vida e o próprio Bruce não parecia estar nada bem neste dia, embora seu esforço seja visível. Como era de se esperar, a reunião foi para uns poucos shows e Baker e Bruce quebraram o pau novamente. Para ajudar, não sou lá grande fã de nenhum dos três. Embora tenham grandes músicas, sem um pouco que seja de consideração aos colegas com quem você toca, dificilmente essas reuniões funcionam. Caso desta aqui.

Daniel: De todos os álbuns da lista, este é o que eu mais ouvi – e aquele de qual mais gosto. As versões aqui apresentadas, por vezes estendidas, agradam-me muito. Bom, em resumo, um desfile de clássicos que fazem jus ao mito em torno da banda.

Davi: Quando foi anunciada essa reunião, lembro que fiquei bem empolgado. O Cream é uma banda que faz parte da minha formação musical e o Eric Clapton sempre tive como um ídolo. No entanto, quando o álbum foi lançado, lembro que fiquei bem decepcionado com o resultado final. Sim, Eric Clapton estava tocando como nunca e entregando um ótimo trabalho vocal. Jack Bruce estava bem no baixo, mas parava por aí. Infelizmente, a voz de Jack Bruce não era mais a mesma e o vigor dos músicos também não. Ainda que o repertório fosse excelente, e recheado de clássicos, as músicas soavam sem punch, sem vida. Toda aquela energia que tinham no passado, foi por água abaixo. (O Ginger Baker parecia que estava tocando bateria usando um par de cotonetes). É um trabalho que vale como item de coleção, apenas. É um show que valeu pela curiosidade.

Fernando: Foi curioso quando ouvi esse álbum pela primeira vez. Eu estava exatamente em uma fase de descobrir o Cream. Estava ouvindo muita coisa que eles tinham feito lá na época deles e quando surgiu essa reunião e o disco saiu foi como se para mim eles nunca tivessem se separado. Então, para mim, não teve o fator de grande espera e expectativa pela volta. Foi como se uma banda atual que eu gosto muito lançasse um álbum ao vivo. E é um grande álbum, repertório certeiro e execução sem críticas.

Ronaldo: Nem gosto de ouvir muito esse disco, porque minha decepção foi grande com esse material. Não julgo os caras por quererem voltar após tantos anos após o término da banda. Contudo, é nítido perceber que o trio perdeu o “timing” de fazer esse esforço. Tudo soa muito sem energia, cansado e desgastado, o que é particularmente frustrante para um repertório que em sua época soava tão fresco (e até hoje soa assim para meus ouvidos). A cozinha do Cream era uma explosão, química pura, e nesse disco soa como uma fagulha fraquejante. Eric Clapton, mesmo mais contido, ainda soa muito bem, mas o mesmo não se podia dizer dos já falecidos Ginger Baker e Jack Bruce.

Genesis – Live Over Europe 2007 [2007]


Mairon: A Turn It On Again: The Tour marcou o retorno do time trio do Genesis (Phil Collins, Tony Banks e Mike Rutherford) junto de Daryl Stuermer e Chester Thompson, aos palcos. A ideia era trazer o quinteto com Peter Gabriel e Steve Hackett, mas acabou sendo a formação da fase pop do grupo que perambulou pela América do Norte e pela Europa, onde foi registrado Live Over Europe 2007, e o DVD When in Rome. Assisti o DVD inúmeras vezes, então, ouvir Live Over Europe 2007 certamente remonta as imagens daquele show. O track list lembra bastante a sequência The Way We Walk, curiosamente os últimos ao vivos da banda antes desse, recolocando novamente o fã nas apresentações da banda na turnê de We Can’t Dance, mesclando os grandes sucessos dos anos 80 com alguns clássicos dos anos 70. Todos estão em excelente forma, e claro, os momentos das Longs são as que mais me chamam a atenção, com especial atenção para a trinca “In the Cage”/”The Cinema Show”/”Duke’s Travels”, a sensacional “Domino” e as duas partes de “Home by the Sea/Second Home by the Sea”. Gosto muito dos clássicos da fase pop, “No Son Of Mine”, “Turn It On Again”, “Land of Confusion” e “Mama”, e fiquei muito surpreso com a inserção de faixas mais obscuras, como a linda “Ripples” e a sensacional “Los Endos”, com a introdução “Conversations with 2 Stools” onde Collins e Thompson dão um show a parte solando apenas em duas banquetas. Incrível! Claro que as baladas melosas teriam que aparecer, foram grandes sucessos, mas confesso que não é o que mais admiro no grupo. Disco muito bom, para uma audição muito boa, que funciona como uma boa coletânea dos aos vivos da fase trio. Um detalhe, Live Over Europe 2007 acaba perdendo, em relação a When In Rome, toda a espontaneidade e diversão de ver Phil Collins falando em italiano durante as canções, assim como assistir o duelo nas banquetas é algo marcante. Mas isso é um mero detalhe. Pena que a banda não seguiu adiante com esse projeto. Teria sido muito bem vindo por aqui.

André: Mesmo eu também não sendo grande fã do Genesis, aqui eu tenho que tirar o chapéu para os caras. Apresentação incrível e divina, com Collins ainda cantando muito e a banda afiadíssima. Tony Banks eterno mestre dos teclados. Mesmo dando pouco valor ao prog do começo da carreira, acho que um fã da banda (principalmente da fase Collins) deve considerar muito em ouvir esta bela apresentação.

Daniel: O Genesis é bem provavelmente a minha banda favorita dentro do Progressivo, mas curto apenas a “fase Peter Gabriel”. Nunca havia escutado este álbum e ao pesquisar sobre o que se tratava vi que era uma reunião do conjunto, mas sem Peter Gabriel e Steve Hackett. Aí, de antemão, já não me empolguei muito para a tarefa. Resultado final: larguei na metade – não é pra mim.

Davi: O público do Genesis sempre foi dividido. Há quem prefira a fase prog de Peter Gabriel, há quem prefira a fase mais pop e radiofônica, com Phil Collins no microfone. Descobri o Genesis durante essa fase mais comercial. O primeiro álbum que ouvi deles foi o LP auto-intitulado, que tem “Mama” e “That´s All”. Vivi bastante essa fase. Portanto, nunca tive problemas com esses discos. Mais do que isso, realmente curto o trabalho que fizeram nesse período. E já que o cantor, nessa apresentação, era o Phil Collins, era justamente essa a fase que mais queria ouvir. Aqui, a banda deu uma mesclada no material trazendo músicas dos dois períodos, numa tentativa de querer agradar aos dois públicos. Tentativa frustrada. Acabou agradando mais o publico da segunda fase. Até porque não há nenhum momento de grandes ‘viagens’ por aqui. O resultado final é bom. O Genesis sempre teve uma qualidade técnica muito alta (mesmo no período mais pop) e Phil Collins ainda estava cantando muito bem. Sim, cantando de maneira mais suave, descendo um pouco o tom em alguns momentos, mas nada que prejudicasse ou frustrasse. Ainda que eu prefira os dois volumes do The Way We Walk, não tem como descer o cacete. É um trabalho muito bem feito. A única coisa é que, na mixagem, eu teria deixado o som do público com um pouco mais de evidência, mas isso é chatice minha, é claro.

Fernando: Tenho um sentimento dividido por esse disco. De um lado, seria um sonho poder assistir à esse show, ver esses caras que eu admiro tanto. Já vi em vídeo e fico me imaginado lá no local. Seria incrível!!! Porém, para um disco ao vivo de uma grande banda é ruim quando ela foca praticamente em apenas uma fase de sua história. Eu gosto de ouvir os discos dos anos 80, não sou fã purista que abandonou a banda por conta de uma mudança de direcionamento. Porém, gosto tanto dos discos progressivos que é uma pena que tenham abandonado aquele repertório. Aliás, nessa época o Genesis perdeu a chance de ter sido a única grande banda de prog dos anos 70 a se reunir com sua formação clássica. Eles eram os únicos a poder fazer isso e agora, com as limitações físicas de Phil Collins, isso já não é mais possível.

Ronaldo: O apuro técnico do Genesis manteve-se intacto mesmo durante suas incursões na música pop a partir do fim dos anos 70. Não é diferente neste registro de 2007; há muito que se admirar em termos técnicos de música. A audição é agradável e a qualidade de gravação é formidável. Os poréns residem no repertório, no qual os fãs do Genesis progressivo quebram a cara, já que o lado pop tem maior destaque (o disco é uma coletânea de diferentes shows na Europa) e, mesmo as músicas do repertório prog adquirem uma roupagem mais polida, particularmente pelos teclados e pela bateria mais econômica. Engraçado que se nas bases e na sonoridade a banda economiza, há um desperdício de notas no icônico solo de guitarra de “Firth of Fifth”, que soa sem alma quando comparado ao original. Se por um lado, é compreensível que a banda valorize mais o repertório com o qual passou a lotar estádios e tocava em FMs ao redor do mundo, por outro lado é duro perceber que o Genesis chegou onde chegou rodando a estrada de um outro estilo e isso não pode ser apagado de sua história.

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

ABBA - Voyage [2021]



40 anos depois, o mundo foi surpreendido por um dos retornos mais inesperados da música. Muito se especulou sobre a reunião de Agnetha Faltskog, Benny Anderson, Bjorn Ulvaeus e Anni-Fryd Lingstad, ou simplesmente o ABBA, a maior banda pop de todos os tempos. Até uma oferta de 1 bilhão de dólares, no ano 2000, o quarteto sueco recusou para voltar aos palcos, o que praticamente descartou qualquer possibilidade dos ex-casais voltarem a se apresentar juntos, quiçá gravar um novo disco.

Björn, Agnetha, Frida e Benny

Porém, a Terra Plana dá voltas. Em 2017 Benny havia falado da possibilidade de uma turnê holográfica do grupo, nos moldes do Elvis: The Concert, mas isso passou quase despercebido entre os fãs. Então, em abril de 2018, o quarteto anunciou que o show iria realmente ocorrer, além de terem voltado aos estúdios para registrarem duas novas canções, "I Still Have Faith in You" e "Don't Shut Me Down". A pandemia veio, e então, o projeto ficou em banho-maria, até que simplesmente do nada, em 26 de agosto deste ano, o website ABBA Voyage foi lançado, e no dia 2 de setembro, os quatro músicos fizeram uma conferência de imprensa para anunciar o retorno aos palcos, de forma holográfica, seguido também de um lançamento de um novo álbum.

No dia 26 de outubro saiu o segundo single, "Just a Notion", e então, Voyage, o qual chegou às lojas e streamings no dia 5 de novembro deste ano, e rapidamente, se espalhou pelas casas do mundo como uma obra atemporal, que mostra como as mãos de Bjorn e Benny continuam sendo guiadas por uma genialidade ímpar no mundo da arte, e como as vozes de Agnetha e Frida permanecem aveludadas e sensuais como há 50 anos. Acompanham o quarteto Jan Bengtson (saxofone, flauta), Pär Grebacken (clarinete, saxofone), Per Lindvall (bateria, percussão), Lasse Jonsson (guitarras), Lasse Wellander (guitarra) e Margareta Bengtson (harpa).

A faixa que abre Voyage é "I Still Have Faith In You", cantada por Anni-Frid. As orquestrações aparecem trazendo a marcante voz da cantora, e de cara somos lançados nos anos 70. O complemeto vocal de Agnetha arranca os primeiros arrepios, e essa leve faixa vai crescendo, em uma ode a amizade e a capacidade de sobreviverem como amigos mesmo após as separações, em uma bonita balada típica do ABBA. O estouro final, com a entrada da guitarra, baixo e bateria, e os vocais explodindo, é fascinante, e já percebemos que ao longo de Voyage, estaremos realmente viajando no tempo. O vídeo da canção resgata imagens da banda no fim dos anos 70, além dos ABBAtares, e foi visto por 4 mihões e meio de pessoas ao redor do mundo em menos de 24 horas, tornando-se o terceiro vídeo mais assistido em menos tempos. Seguimos com "When You Danced With Me", canção com um embalo celta muito gostoso, comandado pelas flautas e mandolin, além das vozes esplêndidas de Agnetha e Frida. 

A canção natalina "Little Things", que acabou de sair no formato de single, vem na sequência, cantada por Agnetha, e sendo tipicamente uma faixa para acalorar os gelados Natais da Escandinávia. A presença do coral de crianças da Stockholm International School certamente irá fazer você se lembrar de "I Have A Dream". Mais uma sacada genial do grupo. 

Harpa e Agnetha introduzem "Don’t Shut Me Down", uma das melhores faixas de Voyage, começando lenta e depois tornando-se dançante como todo fã da banda aprecia. Não à toa a faixa alcançou o primeiro lugar nos charts de diversos países. O refrão é sensacional, de sair cantando e dançando pela casa, com uma sequência de palavras que automaticamente são gravadas e reproduzidas em nossa cabeça, ainda mais pelos acompanhamentos cadenciados do piano. Faixa fantástica, cujo clipe teve mais de 1 milhão e 400 mil visualizações em menos de 24 horas. 


Voyage versão Picture

Se você achava que o ABBA ia parar de impactar e te colocar nos anos 70, acalme-se, por que "Just a Notion" fará isso com ainda mais vigor. O piano, as batidas de mãos, as vocalizações de Agnetha e Frida, caraca, é de arrepiar. O que essas duas estão fazendo aqui é de chorar. Como o tempo pode não ter passado para elas? E o piano de Benny? E as harmonias vocais criadas por Björn. Se catar. Esse quarteto é o suprassumo da criação do pop. Gênios!!!  Ok, ok, ela foi criada lá em 1979, para Voulez-Vous, e já tinha aparecido de uma maneira um pouco diferente como parte de "Abba Undeleted", na coletânea Thank You For The Music, então, fica um descontinho. O baixista Mats Englund participa da dolorida balada "I Can Be That Woman", faixa onde os vocais de Agnetha e o piano de Benny são mais oitentistas, e com traços ABBA na linha de álbuns como The Visitors e Super Trouper, pegando a fase final do grupo.

Versão em vinil branco

Após essa pequena amenização, sintetizadores nos preparam para o orgasmático climax de "Keep an Eye on Dan". A faixa começa lembrando um pouco "S. O. S.", com um I de "I'm a Marionette". Então, os vocais vão aumentando a apreensão junto de batidas percussões, explodindo no refrão para se cantar em plenos pulmões! E dê-lhe sintetizadores, e dê-lhe vocalizações, e dê-lhe mais uma canção do ABBA para ficar na história, e mais uma lembrança de "S. O. S." no encerramento, com uma citação do riff de piano. Flautas a la "Fernando" aparecem em "Bumblebee", outra canção com muita orquestração, trazendo os vocais de Frida, e que acaba sendo o ponto mais baixo do álbum, talvez por aparecer depois de uma paulada como "Keep an Eye on Dan". 

Não há explicações para "No Doubt About It". Como que Benny e Björn criaram essa obra-prima, com um riff de banjo elétrico (?), a doce voz de Frida, um refrão poderoso, em uma faixa que apenas tem que deixar rolar, sentir ela conduzir seu corpo e dançar junto. Mais um ponto positivo para Voyage, que está na reta final, para ser concluído com "Ode to Freedom", faixa suave, com muita orquestração, com os vocais dos quatro membros, e que encerra com muita grandeza a carreira de uma banda gigante em uma espécie de despedida, celebrando com alegria a liberdade da separação, e deixando para trás aquela sensação triste que ficou marcada a despedida da banda em The Visitors

ABBA em primeiro no Reino Unido

Voyage debutou na posição número 1 do United World Chart, com mais de 750 mil cópias vendidas logo na primeira semana, fato causado por atingir o primeiro lugar em 15 países (Reino Unido entre eles, onde tornou-se o álbum mais vendido do ano, e o décimo do grupo a atingir a  primeira posição) e segundo no Canadá e Estados Unidos, mostrando como o nome ABBA ainda rende, e muito. E o disco realmente é ótimo, merecendo todas as honras que tem recebido. Ele foi lançado em diversos formatos, destacando a versão em CD Deluxe, com pôster e adesivo, bem como as colecionáveis versões limitadas em CD e K7 trazendo cada uma o rosto de um dos membros da banda ("Putz, como não me dei conta disso antes? [HARRIS, S. 2021]) e versões em LP branco, verde, azul, laranja, picture com a capa original e picture com capa alternativa (algumas versões nessa matéria). 

Bjorn e Benny divulgando entrevista no programa Child In Need, da BBC One


O show ABBA Voyage trará ABBAtares (apelido dado aos avatares do quarteto) como eles eram na segunda metade dos anos 70, e irão ocorrer no ABBA Arena, local que está sendo especialmente construído no Queen Elizabeth Olympic Park, em Londres, a partir do dia 27 de maio de 2002. A empresa Industrial Light & Magic, fundada pelo mago dos efeitos especiais George Lucas, foi a responsável pela captura e criação dos hologramas, e que já tem as datas disponibilizadas para vendas, prometendo ser um grande sucesso, e quem sabe, contar com mais surpresas até lá. Disco do ano, para fechar com chave de ouro um 2021 bem conturbado, e prepara o terreno para um 2022 que promete. Boas festas à todos!

ABBA em estúdio

Track list

A1 I Still Have Faith In You

A2 When You Danced With Me

A3 Little Things

A4 Don’t Shut Me Down

A5 Just A Notion

B1 I Can Be That Woman

B2 Keep An Eye On Dan

B3 Bumblebee

B4 No Doubt About It

B5 Ode To Freedom


terça-feira, 23 de novembro de 2021

Consultoria Recomenda: Discos Desconhecidos do AOR

Cutting Crew - Broadcast [1986]






Editado por André Kaminski 

Tema escolhido por Fernando Bueno
Com Daniel Benedetti, Davi Pascale e Mairon Machado

Se formos resumir a definição de AOR encontradas em alguns sites especializados podemos citar a produção sofisticada, a presença de melodia marcantes e o estilo vocal em altas tonalidades. É basicamente isso mesmo que representa o AOR musicalmente, mas não conseguimos dissociar o estilo da cultura dos anos 80 principalmemte dos filmes e comerciais de televisão. Também foi chamado de soft rock em alguns momentos na sua época de ouro e hoje as gravadoras preferem o termo melodic rock. Quando sugeri o tema a ideia foi tentar trazer bandas fora daquele eixo de bandas comumente associadas ao AOR como o Journey, REO Speedwagon, Foreigner, Survivor e outras. Algumas ainda são adicionadas à essas listas por conta de alguns sucessos específicos sendo que seus trabalhos não são completamente orientado por esse tipo de música, como é o caso do Boston e do Kansas, só para citar alguns. Também não podemos deixar de lembrar das diversas bandas com sonoridades distintas que fizeram suas contribuições ao estilo como Styx, Chicago, UK e até Led Zeppelin. Vamos ver quais foram as recomendações dos nossos consultores dessa vez. (Fernando)


Cutting Crew - Broadcast [1986]

Por Fernando Bueno

Não sei qual o conhecimento de vocês em relação ao Cutting Crew. Eu nunca havia ouvido algo deles e nem lido seu nome em algum lugar. Descobri a banda ao acaso por uma indicação do Youtube. Seu quase sucesso “(I Just) Died In Your Arms” me chamou atenção e fui ouvir o restante do álbum. Esse foi o grande single do álbum, que deve ter feito seu sucesso localizado, mas não explodiu como certamente era o esperado. Tinha tudo o que toda música que fez sucesso em algum filme da época precisava, até mesmo um daqueles video clips meio contrangedores. “Any Colour” certamente foi também um candidato à sucesso. É uma música muito melhor que a que virou single e, para quem ouvir com calma vai identificar alguma coisa de Genesis oitentista nela. Também me parece um pouco o John Wetton a voz em “I’ve Been In Love Before”.E a relação à essas bandas mais clássicas que foram para essa vertente nos anos 80 não pára por aí. Em “Life In A Dangerous Time” aquela aura mais etérea do Yes vem à tona. Ahh... e se o Toto rompeu fronteiras com “Africa”, por que não uma música chamada “Sahara”? Ou seja, Broadcast rechea suas ótimas músicas com muitas influencias de grandes bandas, é um excelente disco que vai fazer você deixar de ter que recorrer toda vez ao Escape (1981) para tocar naquele churrascão à beira da piscina com família e amigos.

André: Uma boa banda da linha mais leve do estilo, com guitarras ali muito mais no overdrive e uma produção bem limpa. Só ouvi um disco deles (Compus Mentus de 1992) e nada que tenha me chamado muito a atenção. Mas este aqui é um disco bacana no qual destaco a balada "I've Been in Love Before" o rock tipicamente oitentista (com saxofone) de "Don't Look Back" e aquele pop rock ao estilo Roxette de "Sahara". E claro, tem o hit "(I Just) Died in Your Arms" que aparece muito em programas de rádio de rock dos anos 80. Chamo a atenção para os vocais de Nick Van Eede. O cara tem uma voz muito bonita. Poderia facilmente assumir os vocais de qualquer banda maior do estilo caso alguma delas precisasse de um novo cantor.

Daniel: Este eu não posso falar muito, pois a experiência foi terrível. Aliás, o que eu consegui ouvir, já que a balada “I've Been In Love Before” me fez desistir do resto do disco para nunca mais voltar.

Davi: Não tinha muito conhecimento desse grupo. A única faixa que conhecia é "(I Just) Died In Your Arms" que havia escutado em algum programa de flashback por aí. Quando usam o termo AOR, não é esse o som que vem em minha cabeça, costumo pensar mais naquelas bandas meio Journey, Toto, Foreigner e afins. Aqui já vai para um lado mais Mr. Mister. Pouca guitarra, teclado em evidência, som bem clean, linhas vocais bem melódicas, arranjos mais pop. De todo modo, o trabalho é muito bem feito. É um bom disco, dentro daquilo que os músicos se propõe a fazer. As minhas canções preferidas ficam por conta de “Any Colour”, “One Of The Mocking Bird”, “It Shouldn´t Take Too Long”, além da já citada “(I Just) Died In Your Arms”. Interessante...

Mairon: Não conhecia o som do Cutting Crew, e cara, me lembrou muito o Simple Minds. Fui atrás de informações, e não me surpreendi ao saber que os caras são de Londres. Ainda, descobri que esse álbum fez 36 anos ontem, 22 de novembro. É um som bem típico daquela região à época, com uma batida quadradinha, presença de sintetizadores, vocais mezzo sussurrados e uma guitarra distorcida que surge vez que outra, como atestam "Any Colour", "Life In A Dangerous Time" e "The Broadcast". O destaque em geral vai para "I've Been in Love Before", que foi um grande sucesso. Me lembrei dela na hora que ouvi, mas não saberia dizer que pertencia a esta banda. Me atraíram bastante as experimentações de "Sahara" (tem até um fretless ali), a vibe agitada de "One for the Mockingbird" e principalmente "(I Just) Died in Your Arms", que se colocasse para rodar, eu só não chutaria que é Asia por que conheço bem a turminha do Geoff Downess. Achei mais fraquinhas "Fear of Falling" e "It Shouldn't Take Too Long". É bem interessante conhecer algo nessa linha, e ver como os anos 80 também pariram um número diversos de grupos com características muito parecidas, mas que ficaram relegados a ser um one hit wonder, no caso "I've Been in Love Before", e olhe lá.


Jefferson Starship - Freedom at Point Zero [1979]

Por Mairon Machado

A história desse disco é tão complexa quanto as várias fases do Jefferson Starship. Depois de saírem das entranhas do Jefferson Ariplane, e começarem como uma expansão musical dos métodos hippies do casal Paul Kantner e Grace Slicke, junto também dos ex-Airplane Marty Balin e Papa John Roach, isso na primeira metade dos anos 70, a coisa começou a degringolar. Grace passou a beber álcool quase 24 horas por dia, chegando ao ponto de ofender aos alemães em plena Alemanha, gritando aos microfones "quem ganhou a guerra"? Ela foi afastada da banda, assim como qualquer ligação aos anos 60, e para seu lugar, entrou o vocalista Mickey Thomas, bem como Aynsley Dunbar foi chamado para socorrer na bateria, deixando apenas para David Freiberg e Paul Kantner tentar manter uma raiz flowe power. Pois essa mistura gerou um AOR de primeira qualidade no final dos anos 70, através desse álbum, que evoluiu nos anos 80 até chegar na sensacional Starship. Faixas como a faixa-título, o mega sucesso "Jane", a espetacular "Just The Same", são canções fortes, onde o potente vocal de Thomas, junto as melodias e harmonias exclusivas de Kantner, quebram qualquer paradigma musical até então já ouvido advindo de bandas do ensolarado leste americano. Até baladinha os caras fizeram, e bem lindinha por sinal, chamada "Fading Lady Light". Por outro lado, "Lightning Rose" ainda traz um certo de ar adolescente de Airplane, mas com toda a maturidade de um Starship, vide a presença certeira do saxofone de Steven Schuster, ou então os sintetizadores das pancadas 'Girl With The Hungry Eyes" e  "Things To Come". A longa "Awakening" é o atestado máximo da excelência de Freedom at Point Zero, com uma participação mais que fenomenal de Craig Chaquico nas guitarras, além de Dumbar destruindo na bateria. A produção de Ron Nevison colabora e muito para esse clima espetacular. Alguns aqui vão dizer que isso não é AOR, mas daí deixo para eles só o que há letra de "Rock Music" diz, e nada mais. Na essência de todas as grandes bandas do AOR, o que o Jefferson Starship fez em Freedom at Point Zero é a mais legítima representação desse pilar central que é o estilo. Disco divisor de águas na carreira do grupo, e forte candidato a melhor dos mesmos.

André: O Jefferson Airplane e seus filhotes possuem uma história tão complicada que é melhor nem perder meu tempo de contextualizar aqui. Mas após mudarem sua sonoridade, eles resolveram se adequar aos "novos tempos" e partir para uma sonoridade sem o psicodelismo pelo qual o Airplane era conhecido. Este disco não é tão "AOR" quanto outros da lista (seria meio que um proto-aor), mais se encaixando no estilo "soft rock", mas ainda assim é um bom representante do início do que o estilo iria se tornar nos anos 80. Particularmente não sou muito fã de "Jane", o single principal do disco, mas acho "Things to Come" simplesmente fantástica em seus arranjos, ritmo e encaixe das vozes. "Fading Lady Light" e sua pegada acústica para depois vir um acompanhada de um show de órgão Hammond é outra que é brilhante. Infelizmente não acho que as outras faixas estejam no nível dessas duas que citei. Contudo, é um bom disco e vale uma checada se você curte este tipo de música.

Daniel: Este é disparado o melhor disco da lista, muito melhor até que minha própria indicação. É bem notável que o grupo bebeu nas fontes originais do estilo (Boston, Foreigner) e acrescentou sua própria identidade nas composições. Ótimas faixas como “Jane”, “Things to Come” e principalmente “Awakening” merecem uma conferida.

Davi: Freedom At Point Zero marca um ponto de virada na carreira do Jefferson Starship. A lendária Grace Slick pulou fora do barco e trouxeram para o seu lugar, o cantor do Elvin Bishop Group, Mickey Thomas. A sonoridade também mudou. Começaram a fazer um rock mais direto, mais radiofônico, que dividiu a opinião de crítica e público. O (bom) single "Jane" já deixa explícita a vontade de serem mais pops e acredito que seja a faixa que tem maior relação com o tema do post, já que ela tem uma pegada bem Foreigner. Além dela, gosto bastante da balada "Fading Lady Light" e dos rocks "Things to Come" e "Rock Music". Embora não seja um álbum impecável, o disco é, de fato, bem interessante. O único senão é que não considero esse trabalho tão obscuro assim.

Fernando: Banda “das antigas”. O Jefferson Airplane, ícone, da psicodelia californiana do clássico “White Rabbit” dá uma folga para Grace Slick, faz um upgrade em seu nome e ataca uma sonoridade que estava começando a se estabelecer. Eu não consegui decidir se a voz de Slick fez falta no disco. Acredito que ele soaria menos hard com ela nos vocais e a banda pode, ou se permitiu, variar um pouco mais. Como em várias bandas de AOR que vieram dos anos 70 a sonoridade mais progressiva era uma das características e isso aparece em “Awakening”, uma bela faixa.


Quarterflash - Quarterflash [1981]

Por Daniel Benedetti

Sendo um tema no qual não sou grande conhecedor, o único disco que consegui pensar para indicação foi este e, confesso, nem sei se cabe perfeitamente no tema. O que mais me atrai neste álbum é a voz da vocalista Rindy Ross e o saxofone safado que permeia as músicas, também tocado por ela. Na verdade, depois de tantos anos sem o ouvir, nem o achei grande coisa. Uma curiosidade: o percussionista brasileiro Paulinho da Costa participou das gravações do trabalho.

André: Gosto muito do Quarterflash. Acho a voz de Rindy Ross muito lindinha. Parece um anjinho. Curiosamente, já ouvi outros três discos da banda mas nunca ouvi o primeiro e principal lançamento deles. Assim como o Jefferson Starship, não fui muito com "Harden my Heart", seu principal hit, mas gostei muito mais do que as outras músicas têm a oferecer que, por sinal, foram as duas últimas do Lado B.  "Love Should Be so Kind" é um amorzinho na voz doce voz de Rindy e "Williams Avenue" tem mais um tema sacolejante do saxofone da cantora junto a um baixo incrível de Rich Gooch dando um jeitão funkeado a música que mais gostei do disco. Também não diria que é um AOR aorzento como todo AOR deveria ser, mas que é um ótimo registro musical para quem curte uns rocks mais leves como do Rick Springfield ou da carreira solo do Eagle Don Henley.

Davi: Não conhecia essa banda. Ouvi o disco de cabo à rabo, mas infelizmente não gostei do resultado. Particularmente, não gosto da voz de Rindy Ross e seu trabalho de saxofone também não me emocionou. Pelo contrário, aliás. O trabalho de sax em "Harden My Heart", que é a principal faixa do grupo, me lembrou o mala sem alça do Kenny G. O instrumento não aparece em excesso, está bem dosado, mas acho um diferencial meio chatinho. Do mais, achei o som polido em demasia. Bateria sem peso, trabalho vocal bem regular e as composições bem fracas. A melhorzinha acho que foi "Right Kind of Love", ainda assim longe do que considero uma grande canção.

Fernando: Claro que logo de cara reconhecemos “Harden My Heart”, o difícil foi lembrar de onde que essa música era reconhecível. Aí lembrei do filme Rock of Ages, procurei pela sua trilha sonora e bingo! Apesar de agradável, a voz da moça carece de um pouquinho mais e força, achei contida demais, mas fiquei com dúvidas se não foi a mixagem que jogou sua participação mais no fundo da gravação. O guitarrista Jack Charles canta em “Critical Times” em uma música bem característica do que as rádios comerciais da época procuravam, ou seja, um soft rock inofensivo. Aqui lembrei do Asia que mesmo fazendo um som que muita gente torce o nariz botava uma guitarras na cara das pessoas, bem diferente do que se ouve nesse disco do Quarterflash. Achei fraquinho no todo.

Mairon: O Quarterflash teve muito sucesso no início dos anos 80, baseado nos vocais e no saxofone de Rindy Ross, e em uma linha musical que me lembra muito o Fleetwood Mac de Rumours. Este álbum de estreia da banda traz o mega-hit "Harden My Heart", um daqueles momentos de eternização de um riff, no caso, o do saxofone. Há outros bons momentos, como a lindinha "Right Kind of Love" (saxofone manjadíssimo, mas ótimo para se brincar de air-sax), a magnífica voz de Rindy na ótima "Love Should Be So Kind", o baixão destacado de "Valerie" e a melhor do disco, "Find Another Fool", com um final sensacional. Todas elas apresentam a essência do Quarterflash, centrada em um refrão grudento, uma batida que te envolve e aquela sensação de relaxamento durante a audição. Faixas mais datadas como "Find Another Fool", "Try to Make It True" e a longa "Williams Avenue" também são de qualidade no mínimo nota 7, e sempre com a participação crucial do saxofone. Não consegui gostar das faixas com o guitarrista Jack Charles nos vocais, as quais são a chatérrima "Critical Times" e "Cruisin' With the Deuce", essa última até com poucos momentos de destaque nos vocais de apoio e nos solos de piano e guitarra, mas no geral, ambas não agregam nenhum valor ao disco. No geral, as letras são bem bobinhas, o som é bem simplesinho, mas é bem gosto de ouvir sem pretensões. Isso é O AOR!


The Ladder - Sacred [2007]

Por André Kaminski

O The Ladder parte para o lado mais pesado e "hard rocker" do AOR, com guitarras mais baixas e de mais distorção, uma sonoridade que também me agrada quando ouço o estilo. Steve Overland é um vocalista que gosto bastante e sabendo que o tema encaixa com este projeto paralelo (que rendeu apenas dois discos, com Steve depois retornando o seu foco ao FM), achei que era uma boa colocar algo aqui mais moderno para o pessoal ouvir. Aqui a receita do gênero é seguida à risca.

Daniel: Se você já ouviu a maior parte das bandas de AOR deste milênio, você já ouviu o The Ladder. Totalmente comum e genérico, o ouvinte não encontrará nada de novo por aqui. Não necessariamente ruim, mas indico só para fanáticos pelo estilo.

Davi: Esse é um projeto paralelo do Steve Overland, vocalista do FM. Steve sempre foi um grande cantor, portanto não preciso dizer que seu trabalho vocal é acima da média. No entanto, por conta de seu passado, esperava um projeto mais raiz. Esse álbum do The Ladder tinha uma preocupação em soar um pouco moderno. Há várias programações por trás dos arranjos (sutis, ok, mas estão ali), guitarras com afinação mais baixa e coisas do tipo. O repertório mistura faixas bem bacanas como “Body and Soul”, “Here I Am” e “Abandon Me” com outras bem sem sal como “Something To Belive In” e “Mean Streets”. Resumindo: bom disco, mas por ter um músico desse calibre, esperava mais.

Fernando: Trazendo de volta músicos do FM, Ultravox, Asia e Wildlife o The Ladder conseguiu reunir a sonoridade que todas essas bandas tinham para uma sonoridade mais alinhada com a época que foi lançada. Ótimo disco e com o clima do que eu pensei para o tema dessa edição, apesar de achar que os anos 80 iriam dominar as indicações. (Nota: o que vai me marcar em relação ao The Ladder foi que no momento em que eu cliquei para ouvir a primeira música do disco eu recebi a informação que minha cachorrinha querida tinha morrido na clínica veterinária e só fui voltar ao disco dias depois. Triste!)

Mairon: Mais uma banda que não conhecia, e surpreendente que esses caras sejam dos anos 2000. Sonoridade puramente AOR, como manda o figurino, encaixando vocais muito bem, camas de tecladinhos e aqueles solos de guitarra recheados de bends e arpejos. Ainda há inclusão de alguns eletrônicos, vide "All My Life", "Believe in Me" e "Here I Am", que as vezes parece que as band boys como N' Sync resolveram colocar uma distorção em seus sons, o que prejudica bastante o resultado final.  Claro, há baladinhas melosas como sempre, e no caso, "Run To You" e "Something To Believe In" cumprem seu papel com propriedade, apesar de não curtir muito. O violãozinho e os eletrônicos de "Make A Wish" são constrangedores, e o mesmo se repete em "Abandoned", com uma letra que certamente o pessoal do sertanejo universitário iria adorar regravar. A faixa inicial, "Body And Soul", é a melhor em disparado, o que gerou uma expectativa maior para a audição. Ouvir "Mean Streets", "Sea of Love" e a faixa-título foram um tanto quanto momentos de chatice, desculpem. Não consegui curtir, creio que muito por conta de que "Body And Soul" é muito acima das demais!


Perfect Plan - Time for a Miracle [2020]

Por Davi Pascale

Quando foi lançado o tema, fiquei pensando por dias qual álbum deveria indicar. E eis que, aos 45 do segundo tempo, me recordei desse álbum do Perfect Plan. Um dos discos que mais me chamaram a atenção no ano passado. O Fernando havia explicado que queria indicações de discos de AOR, mas queria que a galera saísse dos nomes óbvios, que focassem em trabalhos mais obscuros. O Perfect Plan é uma banda nova desse segmento. Na verdade, esse é o segundo disco deles. E como eles não tiveram nenhum hit (afinal, esse som hoje está fora das rádios), achei que tinha a ver. Além do tracklist extremamente bem consistente, o que mais me chamou a atenção foi justamente o trabalho vocal Kent Hilli. Para mim, uma das melhores vozes da nova geração, ao lado do Dino Jelusick (Animal Drive). Curioso para ver os comentários da galera.

André: Para falar bem a verdade, gostei mais deste disco do que o meu próprio que indiquei. É daqueles AORs clichezentos que eu gosto bastante. Um teclado bem tinhoso, vocais melosos, umas baladas açucaradas e aqueles refrãos feitos para cantar com a força dos pulmões. Muito bom, pode botar no seu carro conversível e sair pelas estradas do deserto brasileiro até a costa oeste.

Daniel: Nunca havia ouvido falar nesta banda, mas, com um minuto e meio de audição, percebi que se tratava de mais um produto da fábrica inesgotável de bandas AOR da Frontiers Records. Apesar de “genérico do genérico", não é o pior da lista, afinal consegui o ouvir todo. Ah, as baladas são verdadeiramente constrangedoras.

Fernando: A Frontiers faz um excelente trabalho nessa seara do AOR ou melodic rock. Porém é difícil não dissociar o caráter meio caça níqueis dos trabalhos que eles lançam. São muitas bandas com as mais diversas formações que duram pouco tempo, o que faz o fã desanimar ao tentar acompanhar. Gostei muito das músicas do Perfect Plan por um motivo: todas elas são candidatas à hit do álbum, pois são muito regulares e podemos dizer que não há fillers. Por outro lado nenhuma chamou mais a tenção para ser citada individualmente. Acho que isso acaba atrapalhando o álbum. Vou ouvir mais!!!

Mairon: á havia ouvido falar da Perfect Plan, mas nunca tinha parado para ouvir. Sempre foram comentários bem vindos do pessoal do AOR, e cara, realmente, para o estilo os suecos não ficam atrás em nada. Lembram um pouco o auge do Journey, ao meu ver, principalmente pelos arranjos bem encaixados de teclados e guitarras, e claro, o vozeirão rouco e choroso de sempre. Se colocassem "Every Time We Cry" certamente iria chutar que era Boston, enquanto "Give A Little Lovin'" me lembrou muito o Van Halen de Sammy hagar. Aliás, o vocalista se puxa bastante em tentar imitar o Red Rocker né?. Fiquei surpreso com a introdução bluesy de "Nobody's Fool", pena que não seguiu nessa linha, mas é uma ótima faixa, assim como a faixa-titulo, bem pesada e diferente das demais. Faixas como "Better Walk Alone", "Living on the Run", "What About Love" agradam quem curte o melhor do AOR, principalmente pelos refrãos grudento, camadas de teclados e os solos de guitarra cheios de bends e vibratos. Em tempo, "Fighting To Win" e "Don't Leave Me Here Alone" são baladaças, sem tirar pontos, enquanto "Don't Blame It on Love Again", "Just One Wish e ""Heart To Stone" são totalmente desnecessárias, ou eu que não tive saco para a melosidade das letras. Interessante que o álbum tenha saído aqui no Brasil, e que o Perfect Plan consegue passear por diversos estilos ao longo de composições puramente AOR. Bom disco.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Capas Legais: Milton Nascimento - Milagre dos Peixes [1973]



O episódio de hoje do Capas Legais resgata a linda capa de Milagre dos Peixes, o controverso álbum anti-ditadura lançado por Milton Nascimento em 1973, e que se abre em um formato oval bastante distinto. O mesmo ainda conta com encartes especiais. Confira!



terça-feira, 9 de novembro de 2021

Led Zeppelin - Untitled [1971]

O ano é 1989. Gaspar Kundera, um surfista quarentão, pai de cinco filhos, passa por uma série de conflitos com o irmão mais novo, Alex, em uma trama que envolvia ainda Duda, uma jovem e atraente modelo, numa trama que acabou sendo um gatilho para a criação de programas voltados exclusivamente para a geração adolescente, o que se conheceu como Malhação. Para quem não sabe do que estou falando, trata-se da novela Top Model, a qual contava com Nuno Leal Maia (o Gaspar), Cecil Thiré (o Alex) e Malu Mader (Duda), a qual foi ao ar na TV Globo no horário das 19:00. 

Gaspar e seus cinco filhos

Mas o que que essa novela tem a ver com o Led Zeppelin? Simples, o tema que surgia para mostrar as cenas envolvendo Gaspar era nada mais nada menos que "Stairway To Heaven". Sim meus amigos, a Globo por algumas vezes colocou velhos bons sons nas trilhas de suas novelas, e não à toa, com o passar dos anos, essas trilhas se tornaram itens para colecionadores fanáticos do exterior que desejam ter tudo o que seus artistas preferidos tem com seus nomes no Discogs. Eu tinha 6, 7 anos quando essa novela passou na TV, e ficava lá, brincando ou até mesmo vendo a mesma, sem entender o que ela tratava, mas uma coisa me encantava na novela: o som que vinha de "Stairway to Heaven".

Jimmy Page, Robert Plant, John "Bonzo" Bonham e John Paul Jones "Jonesy"

É daquelas coisas que não tem explicação. Por que gostamos de uma música é algo que tem a ver com várias circunstâncias, como letra, melodia, um determinado momento em que você ouve a música e ela bate ..., mas amar uma música de cara, ainda mais quando se é criança, é um evento que eu realmente não sei explicar, e eu amei (e ainda amo) "Stairway To Heaven". É a música que me formou como admirador de rock, e que foi a responsável por me levar a comprar meu primeiro disco, ainda com meus 8, 9 anos, que foi The Song Remains The Same, não só por "Stairway To Heaven", mas também por conta da curiosidade de ouvir uma música de 26 minutos, chamada "Dazed and Confused". 

O Led em Headley Grange

Na época, não tinha ideia de que "Stairway to Heaven" fazia parte de um disco sem título, mas que ficou mundialmente conhecido como Led Zeppelin IV, o que acabei descobrindo anos depois, quando  mesmo foi parar lá em casa via um amigo de meu irmão e colaborador do site, Micael Machado. Lembro que naquela feita, chegaram "IV", Houses of the Holy e o VHS de The Song Remains The Same, e eu fiquei ainda mais fascinado não só por "Stairway to Heaven", mas por que ali no quarto álbum também estava "Rock and Roll" (que abre The Song Remains the Same, e eu curtia bastante) e por que a magia que era exalada dos sulcos do vinil ao passar por faixas que eu nem tinha noção de como pronunciar ("When the Levee Breaks", "Four Sticks", "The Battle of Evermore"!!!!) mas que batiam na minha cabeça e no meu coração como aquela pessoa que vai te conquistando por suas atitudes e pensamentos que se destacam irresistivelmente mais que as já encantadoras beleza e elegância.

Era impossível eu não virar um fã de Led Zeppelin, e eu tive muita sorte deste ter sido o primeiro disco de estúdio que ouvi de Robert Plant (vocais), Jimmy Page (guitarra, violões), John Paul Jones (baixo, teclados, mellotron, mandolin, violões) e John Bonham (bateria, percussão). A fórmula condensada com precisão em "Stairway to Heaven", unindo momentos acústicos suaves com pancadarias adimensionais da bateria, gritos dilacerantes e solo de guitarra para se brincar de air guitar sem nem lembrar que a guitarra tem 6 cordas, é diluída com uma precisão tamanha ao longo das oito faixas do álbum.

Bonzo e Page em Headley Grange

Mas antes de falar das oito faixas, vamos voltar no tempo e contar a história da gravação de "IV". A banda flertou (ou melhor, teve um relacionamento forte) com o seu lado acústico em Led Zeppelin III, como tratei aqui, e decidiu levar isso adiante de uma forma mais centrada. No outorno de 1970, Page e Plant voltaram para Bron-Yr-Au, um chalé na região ao norte de Machynlleth, Powys (parte central do País de Gales) para compor as novas canções, acompanhados apenas de dois roadie, muitas ovelhas e tranquilidade para trabalhar. Dali, partiram para Headley Grange, junto de Jonesy e Bonham, um pouco de maconha, bebidas e o pessoal de apoio nos registros. A ambientação de Headley Grange foi crucial para a conclusão das ideias originárias em Bron-Yr-Aur. O local úmido e idílico foi o clímax daquilo registrado no quarto disco da banda. Como disse o administrador de turnês Richard Cole, "eles estavam brincando de serem senhores de terra ... Tinha até um labrador preto correndo por aí". O labrador deu origem a um dos grandes clássicos de "IV", "Black Dog". Page vai além: "Foi uma sorte que ninguém tenha contraído bronquite ou pneumonia". 

Page e o "Black Dog" em Headley Grange

O grupo fez uma turnê de 12 shows em 17 dias pelo Reino Unido, na qual o quarteto  optou por divulgar as novas canções em locais com público menores, ao invés das gigantescas arenas por onde estavam se apresentando até então. Nela, "Stairway to Heaven" foi apresentada ao público pela primeira vez em 5 de março de 1971, no Ulster Hall de Belfast, junto ao mais novo brinquedinho de Page, a linda e hoje famosa guitarra Gibson SG de dois braços. O grupo excursionou pela Europa, onde houve  um grave incidente em uma apresentação em Milão (Itália) no dia 5 de julho, descrito por Plant da seguinte forma: "escapamos por um corredor de acesso e as tropas italianas atiravam bombas de gás na gente ... entramos em um camarim, fiz uma barricada na porta com um gabinete de remédios ... eles quebraram as janelas e jogaram mais algumas bombas da rua", o que levou a banda a nunca mais se apresentar na Itália. 

Plant, Jonesy, Bonzo e Page em Milão, 1971

Após mais uma (a sétima) turnê pelos Estados Unidos, uma passagem de cinco shows pelo Japão, e ainda um erro estupidamente técnico na mixagem do disco, por conta da incompatibilidade entre as gravadoras de fitas com as quais as músicas haviam sido gravadas e mixadas, e de uma looooooooonga discussão por conta da capa do disco (tratarei adiante), o quarto álbum da banda foi lançado exatamente em 8 de novembro do mesmo ano o disco. 

O single de "Rock and Roll"

Abrindo com "Black Dog" e seu riff forte, já somos socados na parede com as batidas de Bonzo e os vocais agudos de Plant, em uma canção cercada de mistérios sobre sua letra. "Rock and Roll" foi a faixa mais inesperada do disco. Enquanto a banda ensaiava "Four Sticks", Bonham tentou tocar a abertura de "Keep A-Knocking", de Little Richard. Dali saiu uma das introduções de bateria mais conhecidas da história, e um rock de altíssima qualidade, para sacolejar o corpo e destacando a participação do piano de Ian Stewart (não creditado no disco). A canção foi lançada como single em alguns países, inclusive no Brasil, tendo "Four Sticks" no lado B (algumas edições americanas trazem as versões estéreo e mono em cada lado da bolachinha). Como diz Mike Wall, "'Rock And Roll' é um número retrô-mas-futurista que olha para trás enquanto avança para frente impetuosamente". 

Bonham, Plant, Sandy Denny e Jimmy Page
A runa de Sandy Denny

"The Battle Of Evermore" vem na sequência. Deixamos Page explicar como a canção surgiu: "Eu e Plant descemos uma noite, e o bandolim de Jonesy estava lá. Eu nunca tinha tocado bandolim, peguei o instrumento, comecei a mexer, e então ela saiu". A letra é baseada em trechos do Senhor dos Anéis (livro que Plant estava devorando à época) e também em um livro sobre a guerra de independência da Escócia, que perambulava na cabeceira de Plant. É a única canção do grupo a contar com uma voz além da de Plant. A escolhida foi Sandy Denny, então vocalista do Fairport Convention, que com sua voz cristalina, fez o contraponto harmônico perfeito para as vocalizações de Plant. Uma linda faixa acústica, onde o mandolin é a base para os contrapontos vocais, em uma ampliação magnífica daquilo que já havia sido explorado em "That's The Way", em Led Zeppelin III. A colaboração de Sandy foi tão crucial que ela recebeu uma runa no encarte do álbum, no caso, três triângulos invertidos. 

Chegamos no momento máximo do disco, a obra que deu origem a este texto, "Stairway To Heaven". É daqueles momentos que uma entidade baixa na Terra e diz :"faça isso!", e sai algo realmente sobrenatural. O próprio Plant afirma que, ao escrever a letra, estava sendo "guiado por alguma coisa", que não era realmente ele quem estava controlando a caneta. Antes do lançamento, Page já informava um pouco sobre "Stairway to Heaven": "É algo começando com uma guitarra nua, sem efeitos de pedal ... Bonham entra para dar um efeito, deixar a coisa correr, e então, há um grande orgasmo no final". Não há descrição mais perfeita para o que ocorre em "Stairway To Heaven". 

O single de "Stairway to Heaven"

Difícil tentar falar de uma música tão importante e conhecida, mas vamos lá. O lindo dedilhado inicial ao violão (que causou problemas por conta da similaridade com "Taurus", do Spirit), a entrada das flautas, o vocal doce de Plant, quase que chorando, só essa vasta introdução já arrepia. A cada "u-u-uh, and it makes me wonder" de Plant, a canção vai crescendo, com Page sendo o responsável por comandar esse crescimento, lentamente. Na segunda estrofe, Page sai do violão e vai para a guitarra, entram os teclados, e o ritmo só acelera, de forma controlada. Mais uma série de "u-u-uh, and it makes me wonder", e entra o baixo, timidamente, na terceira estrofe da letra.

A bateria entra na quarta estrofe, e a canção já está em outro patamar. As cinco batidas de Bonzo são suficientes para catapultar "Stairway To Heaven", e um ouvinte que nunca ouviu a canção, já fica percebendo que a canção está sendo elevada cada vez mais para níveis estratosféricos. Com todos os instrumentos fazendo sua parte, Plant canta a última estrofe em cima da melodia original, e assim, vem a mais famosa série de variações em Am que a música já ouviu, para então Page demolir no seu solo, sobre a base daquela que é a sequência de acordes mais copiada da história da música (Am, G, F), e que arranca lágrimas, faz você criar bolhas nos seus dedos de tanto tocar a sua air guitar, e ainda vem mais. Complementando essa sensação de êxtase, Plant surge cantando a berros as lindas frases finais da canção, e não há outro sentimento para o cérebro e o corpo de um orgasmo inesquecível e acachapante, quando Plant lança a penúltima frase da canção, "To be a rock and not rooooooooooooooooooll". O Led ainda nos brinda com mais 5 segundos, só com a voz de Plant, dizendo, "and she's buying a Stairway to Heaven", e pronto, caímos diante desta gigante obra-prima da história da arte.

A letra de "Stairway To Heaven" no encarte do quarto álbum

Tentando se recuperar (se possível) de algo tão impactante como "Stairway To Heaven", voltamos para Tolkien em "Misty Mountain Hop", faixa que abre o lado B com o predomínio do piano elétrico de Jonesy, em uma faixa dançante e bem em anti-clímax ao que encerrou o lado A. Mas mesmo sendo uma faixa aquém das demais, é uma faixa bem legal para "voltar a vida" e recobrar as energias depois de tudo que aconteceu em "Stairway To Heaven". "Four Sticks" foi uma das músicas mais difíceis de serem criadas. Baseadas em um raga indiano, com andamento intrincado que varia entre cinco e seis compassos, só foi concebida após uma noitada de Bonham, na qual, após ver um show da Ginger Baker's Airforce, já pela manhã, ele chegou, pegou quatro baquetas e construiu o ritmo avassalador do raga pensado por Page. O riff de baixo e guitarra é pesado e forte como os agudos de Plant, e a entrada dos violões e dos sintetizadores dá mais tensão para a canção. Impressionante os vocais de Plant aqui. Essa faixa é daquelas que ficou perfeita quando dos arranjos que Page e Plant fizeram anos depois em No Quarter

Mais do Led em Headley Grange

Chegamos em "Going To California", uma homenagem de Plant para Joni Mitchell, a garota com amor nos olhos e flores no cabelo: "quando você se apaixona por Joni Mitchell, você realmente precisa escrever a respeito agora e sempre", disse Plant certa vez. Outra obra de arte genial, com Page mudando a afinação do violão para D, o mandolin de Jonesy serpenteando as notas dedilhadas pelo violão, e Plant mais contido, apaixonado por sua musa inspiradora e cantando de forma ebriante. Linda faixa, e que mostra mais uma vez como Page estava iluminado nessa época.

Por fim, a versão Zeppeliana de "When The Levee Breaks", original de Memphis Minnie e Kansas Joe McCoy , e que aqui teve boa parte da letra reaproveitada por Plant, mas convenhamos, essa versão do Led é arrasadora, e muito diferente do original. Enquanto Memphis e Kansas criam um blues tradicional de pouco mais de dois minutos, o Led nos traz uma paula brutalmente pesada de 7 minutos. Bonham surge já socando seu kit, e então entra a banda fazendo o riff enquanto Plant esfola seus lábios na harmônica em um solo gigante, que raramente se encontra em um disco de uma banda de rock (lembro apenas de Keith Relf fazer algo parecido em "Buzzard", do Armageddon). São exatamente a harmônica e a bateria os diferenciais centrais em relação a versão do blues de 1929. A faixa passa por diversas variações, sempre pesadíssimas, alternando o brilho central entre a guitarra, a harmônica e o vocal dilascerante de Plant. Faixa grandiosa, pouco lembrada as vezes pelos fãs da banda, mas que eu também curto demais. 

Cartaz promocinal com as runas de cada membro do Led

A capa do álbum apresenta apenas quatro símbolos, as runas, e trouxeram uma sensação de mistério que ajudou ainda mais o disco a vender. Os símbolos estiveram em outdoors, jornais, e claro, nos palcos do Led, e foi totalmente intencional. Page foi quem deu a ideia para a capa, baseado no livro The Book of Signs, de Rudolph Koch: "No início eu queria apenas um símbolo, mas como era o quarto disco, e éramos quatro, cada um escolheu o seu próprio". Assim, Jones olhou o livro e escolheu um símbolo de um círculo trespassado por três arcos semicirculares interligados (símbolo usado para manter o mal longe). Bonham escolheu três anéis sobrepostos (símbolo da família). Já Page e Plant encomendaram seus símbolos. A de Plant, uma pena dentro de um círculo, representa coragem. Já a estranha "Zoso" não é uma palavra, mas segundo o próprio Page, um desenho sem sentido.

 O EP americano, com as runas na capa

Nos Estados Unidos, também foi lançado (1972) um EP promocional com "Rock and Roll", "Black Dog" e "Stairway To Heaven", canção que também saiu como single em alguns países (inclusive em uma versão pirata brasileira). A capa do EP é uma versão preto e branco do quarto álbum, apresentando também as quatro runas (imagem ao lado).

O fato de não haver o nome da banda ou qualquer sinalização ao Led na capa foi um empecilho gigante entre a gravadora Atlantic e o desejo de Page, por medo de que o público não iria comprar um disco sem saber de quem era, e assim o álbum naufragaria. A Atlantic acabou cedendo, e fez muito bem. O quarto álbum chegou ao topo das paradas britânicas rapidamente, e alcançou o segundo lugar nos Estados Unidos, onde ficou nos charts por mais de dois anos. Hoje, é o quarto disco da história da música, com mais de 35 milhões de cópias vendidas (23 milhões apenas nos Estados Unidos), e completa 50 anos como um verdadeiro clássico que você ouve pela primeira vez e parece ter ouvido antes, mas quando vai ouvir a milésima vez, parece que é a primeira.

As runas no palco do Led em 1971 (acima) e 1973 (abaixo)

Track list

1. Black Dog

2. Rock and Roll

3. The Battle of Evermore

4. Stairway To Heaven

5. Misty Mountain Hop

6. Four Sticks

7. Going To California

8. When The Levee Breaks

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