Por André Kaminski
Tema escolhido por Daniel Benedetti
Com Davi Pascale, Fernando Bueno e Mairon Machado
Eu não poderia começar este texto de outra forma. Após, no início de 2021, ter passado quase 30 dias em coma, estou em um longo processo de recuperação da Covid 19. E a música tem sido um instrumento poderoso para que eu consiga estabelecer uma reconexão com minha própria vida.
Tendo sido o sorteado para escolher o tema deste “Ouve Isso Aqui”, resolvi colocar alguns dos discos que têm sido “meus companheiros” nesta jornada. Espero que meus amigos consultores também tenham curtido as escolhas. Boa leitura! (Daniel)
Rory Gallagher – Deuce [1971]
Daniel: Disco sensacional de um dos guitarristas mais talentosos do rock setentista – e dos menos exaltados. Tendo o Rock como base, Gallagher flerta com o Folk e com o Blues, prioritariamente. Faixas cativantes e criativas como “Maybe I Will”, “Whole Lot of People” e “Crest of a Wave” são ótimos exemplos da forma agressiva e ‘elétrica’ com que Gallagher construiu as canções, tendo a guitarra como protagonista para realçar a beleza das mesmas.
André: Este é um dos grandes discos do irlandês fodão da guitarra. Muito blues, hard e como não podia deixar de faltar, uma pegada céltica típica da ilha principalmente nas partes mais acústicas. Particularmente gosto mais justamente destas músicas de levada mais folk como “I’m Not Awake Yet” e aquela delícia de canção western americana “Don’t Know Where I’m Going”. Rory nunca foi lá um grande vocalista, mas consegue se segurar razoavelmente nas vozes. Um ótimo disco que dá de todos apreciarem sem qualquer problema.
Davi: Grande guitarrista! Gosto bastante do trabalho dele. Dentro e fora do Taste. Deuce é seu segundo álbum solo e Rory queria que o disco capturasse a vibe de seus shows. Gallagher havia achado a sonoridade de seu primeiro álbum solo muito polida e queria corrigir isso. Sua jogada deu certo. A sonoridade do álbum é impactante. Musicalmente, os arranjos possuem influências variadas. “Out Of My Mind” traz influências de country na levada de violão. A gaita de “Don´t Know Where I´m Going” remete ao trabalho folk de Bob Dylan. “Shoud I´ve Learnt My Lesson” traz o músico caindo de cabeça no blues. Os momentos que mais gosto, contudo, são “In Your Town”, onde temos Rory Gallagher roubando a cena com sua slide guitar, e o rock sujo e honesto “Used To Be”, responsável por abrir o LP. Bom álbum!
Fernando: Essa foi uma das minha melhores descobertas recentes. Por algum motivo eu nunca tinha ouvido o Rory Gallagher e quando tomei conhecimento desse mesmo disco eu fiquei com aquele sentimento de recuperar o tempo perdido. Ouvi todos os discos de estúdio que ele gravou e também o Taste, sua banda anterior. Mas é claro que mesmo tendo ouvido tudo eu ainda não consegui captar todas as nuances de sua carreira solo. Deuce mesmo sendo o preferido de boa parte dos fãs não está no topo do pódio lá de casa. Acho o Tattoo (1973) melhor e mesmo seu disco de estreia roda mais lá em casa.
Mairon: Disco que dispensa apresentações. Outro mestre irlandês da guitarra fazendo misérias em um hard rock de primeira. Gosto muito das inspirações flamencas de “I’m Not Awake Yet”, até por que é raro ver e ouvir Rory ao violão, algo que ele faz também com um talento impecável em “Out Of My Mind” e na divertida “Don’t Know Where I’m Going”, quase dando uma de Bob Dylan com sotaque irlandês. Mas é o hardão de faixas emblemáticas do porte de “Used To Be”, “Maybe I Will” e “There’s A Light”, ou então solando ao slide em “In Your Time” e “Crest Of A Wave”, as mais Taste das canções de Deuce, e não por menos fortes candidatas a melhores do álbum, ou “Whole Lot Of People”, que fazem de Deuce um clássico atemporal, mostrando por que Rory é tão idolatrado ainda hoje. Ouça o blues “Should’ve Learnt My Lesson” e tente acreditar que é um irlandês quem está cantando/tocando. Baita disco de um artista que merece ser reconhecido muito mais do que alguns superestimados por aí.
Paul Kossoff – Back Street Crawler [1973]
Daniel: Eu adoro os álbuns do Free. Paul Kossoff, guitarrista da banda, morreu muito jovem e jamais saberemos em que nível poderia chegar. Sem as amarras que o baixista do seu antigo grupo, Andy Fraser, o que se ouve é o espírito livre de Kossoff e todo o sentimento que ele conseguia colocar em cada nota que tocava, especialmente nos solos. Basta sentir a ótima “Tuesday Morning”, uma espécie de Jam Session, na qual Kossoff exerce toda sua criatividade.
André: Esse faz uma falta danada ao rock. O brilhante guitarrista do Free felizmente deixou este belo disco, com grandes passagens de guitarra que faz qualquer um que ame blues rock molhar as calças de tesão. Todavia, minha preferida é justamente a faixa “Molten Gold” com Rodgers nos vocais e os caras do Free tocando, música que podemos até considerar como parte da banda. Kossoff é daqueles casos que a guitarra canta sozinha, demonstra sentimento em suas linhas e até parece que sinto o cara dando a alma ali naquelas gravações. Uma pena mesmo que o vício em drogas nos tirou muito cedo um grande músico.
Davi: Gosto muito do trabalho de guitarra que Paul Kossoff realizou ao lado do Free. E também lamento muito que tenha partido tão cedo. Gostaria de ter escutado mais álbuns solo dele, tenho certeza que teria realizado trabalhos brilhantes. Mesmo! “Tá, mas o que você pensa de Back Street Crawler”? Bem, esse é um trabalho que considero sua audição satisfatória, mas que possui poucos momentos que realmente me chamam a atenção. Para ser mais preciso, as faixas “I´m Ready” e “Molten Gold” são as duas que gosto realmente de escutar. Essa última, aliás, nada mais é do que um outtake do álbum Free At Last e está registrado ao lado de seu ex-grupo. Resumindo: disco, sem dúvidas, agradável, mas que esperava mais por ter sido realizado por um músico desse calibre.
Fernando: Óbvio que eu gosto do Free, mas nunca me passou pela cabeça ouvir um disco solo de seu guitarrista. No fim, porém, foi o disco que mais gostei de ter ouvido. Os outros da lista, exceto o do Gary Moore, eu já conhecia, então eu já sabia o que esperar, mas desse eu não tinha ideia o que viria. Aí no início da faixa de abertura eu fiquei ressabiado vendo que seriam 16 minutos e pensei que seria duro chegar até o fim. Mas não…eu estava enganado!!! Gostei do modo como ele variou tempos, estilos e abordagens ao longo da faixa. Também fiquei curioso quando vi que tinham músicas cantadas também, mas esperava que o próprio Kossof tivesse cantado, mas nesse caso me frustrei, apesar das faixas serem muito boas e cantadas por quem conhece do ofício. No geral é um belo disco!
Mairon: A guitarra do Free seguindo carreira solo. O álbum por si só é uma prova de luta de Kossoff, que parece ter gravado o mesmo batalhando contra seu vício em drogas. O lado A é dedicado para a jam “Tuesday Morning”, com uma performance sensacional de Alan White na bateria, e claro, Kossoff rasgando a guitarra em bends épicos, duelando com o órgão de John “Rabbit” Bundrick, além de muito feeling, e por que não, algumas engasgadas que não fazem parte do que acostumamos a ouvir dele no Free, mas que aqui caem bem dentro da questão que estamos curtindo um improviso viajandão. Apesar do improviso de “Back Street Crawler (Don’t Need You No More)”, o lado B é mais “pop”, tendo ainda a dançante “I’m Ready”, e a cria de Free “Molten Gold”, onde Paul Rodgers solta seu vozeirão, Andy Fraser aparece no baixo e Simon Kirke comanda a bateria. Ou seja, é o Free enrustido na carreira solo de Kossoff, fazendo uma baladaça. A melhor faixa do LP para mim também está no lado B, a delirante “Time Away”, onde Kossoff faz a guitarra gemer como Jeff Beck faria, esbanjando feeling. Bom disco de um dos grandes nomes do hard setentista, e que fazia um bom tempo que não ouvia.
Steve Hackett – Voyage of the Acolyte [1975]
Daniel: O extraordinário guitarrista do Genesis, com seu estilo elegante, em uma obra que é uma verdadeira ode ao rock progressivo. Com muita criatividade, Hackett impõe sua própria personalidade neste excelente disco, demonstrando sua categoria em faixas como “Star of Sirius” e a épica “Shadow of the Hierophant”. Um álbum excelente e uma ótima porta de entrada para quem conhecer todo o requinte do rock progressivo.
André: Dentre os discos de guitarristas, este foi o que eu mais gostei. Acho que é porque ando numa fase bem progueira nos últimos meses. Basicamente, este aqui é o Genesis sem o Tony Banks. E pelo que disseram, estas músicas foram descartadas pela banda e do qual Steve resolveu gravar em seu primeiro solo. Collins e Rutherford participaram também e Collins fez alguns vocais pouco antes de os assumir no Genesis logo depois. Disco bem sinfônico, muitas quebras e solos, com os de guitarra obviamente se sobressaindo. Gostei de todas as faixas. O disco passou voando e tudo foi muito agradável. Hackett nunca me decepciona.
Davi: Esse é o primeiro álbum solo do ex-guitarrista do Genesis. Trabalho que, inclusive, foi lançado quando esse ainda fazia parte da cultuada banda. Trata-se de um álbum majoritariamente instrumental, muito bem tocado, como era de se esperar, mas que por algum motivo, não me cativou. A pegada progressiva se faz presente, não achei os arranjos exagerados (algo que me agrada), mas sei lá, as canções não me emocionaram. Para não dizer que não gostei de nada, gostei de algumas passagens de “Shadow Of The Hierophant” e achei a faixa cantada “Star Of Sirius” muito bonita. Essa, inclusive, tem a participação especialíssima de Phil Collins nos vocais. Trabalho muito bem feito, sem dúvidas, mas sei lá, não me pegou. Talvez precise ouvir mais.
Fernando: Esse é um clássico! Obrigatório ouvir esse disco, principalmente para quem está entrando na estrada no início da viagem pela longa estrada do rock progressivo. Praticamente um disco de sobras do Genesis que ele resolveu gravar como álbum solo. E pelas sobras dá de ter a noção do quanto a banda estava produzindo em alta qualidade naquela época. Até acredito que o sucesso desse disco solo tenha sido a chave de virada para a sua saída da banda. Não fique com medo de ouvir um disco completamente instrumental. Para quem já ouve o Genesis com suas longas passagens instrumentais em várias de suas músicas não vai nem sentir isso.
Mairon: Essa belezinha está na minha coleção há algum tempo. Um Hackett inspiradíssimo, e muito bem acompanhado (inclusive dos colegas Mike Rutherford e Phil Collins, mas destacando o irmão John Hackett nos teclados, assim como John Acock no mellotron e piano), cria um álbum magistral de rock progressivo. “Ace of Wands”, faixa que abre Voyage of the Acolyte, é uma obra-prima digna de ser chamada de Maravilha Prog, com diversas variações. O álbum é um espetáculo diverso, trazendo por exemplo a sutileza do violão, mellotron e flauta nas lindas duas partes de “Hands of the Priestess”, as claras referências de Genesis em “Star of Sirius”, com a participação de Phil Collins nos vocais, e aqueles dedilhados encantadores do violão de Hackett, a intrincada “A Tower Struck Down”, e a beleza de “Shadow of the Hierophant”, com os sopranos vocais de Sally Oldfield. “The Hermit” é a oportunidade de ouvirmos Hackett aos vocais, em uma linda canção ao violão, e claro, ele também nos brinda com mais uma linda composição ao violão clássico na fantástica “The Lovers”. Outro álbum em que a guitarra não é o centro das atenções, mas que a criatividade do guitarrista é fantástica.
Gary Moore – After Hours [1992]
Daniel: Eu sou fã da obra do Gary Moore, especialmente de seus discos voltados para o Blues. After Hours é o meu favorito. São 11 faixas, sendo 7 composições próprias, em um trabalho em que é possível perceber todo o sentimento que o guitarrista colocava em seus solos (como em “Story of the Blues”). A parceria com o mestre BB King, em “Since I Met You Baby” é um dos pontos altos do disco, bem como “The Blues Is Alright”, a qual conta com o também monstruoso Albert Collins. Para não dizer que tudo são flores, eu não curto muito a balada “Separate Ways”.
André: Apesar de, no geral, eu curtir mais a fase aorzenta oitentista do Moore, cara, esse disco me conquistou com o bom humor do norte irlandês, um repertório excelente e uma performance excepcional. Aqui ele conseguiu uma bela contribuição do gênio B.B.King em “Since I Met You Baby” mas a canção que mais gostei foi a lindíssima balada final “Nothing’s the Same”, com uma voz açucarada de Moore levada principalmente no teclado e com solos belíssimos de poucas notas à la David Gilmour pelos quais amo demais. Segundo melhor da lista.
Davi: Sem dúvidas, esse é meu trabalho favorito da lista. Sempre fui muito fã do Gary Moore e adoro essa fase. After Hours, nada mais é do que uma continuação de seu antecessor, o clássico Still Got The Blues. A sonoridade segue a mesma lógica. A mescla de rock e blues continua presente, o diferencial acredito que seja o uso dos metais, que já aparecia no anterior em canções como “Oh Pretty Woman”, mas que aqui aparecem mais encorpados. O tracklist não possui nenhuma canção que tenha tocado tanto quando “Still Got The Blues”, mas traz bastante momentos marcantes como “Cold Day In Hell”, “Story Of The Blues” e “Jumpin´ At The Shadows”. Isso sem contar nas participações especialíssimas de B.B. King em “Since I Met You Baby” e Albert Collins em “The Blues Is Alright”. Discaço!
Fernando: Nunca tinha ouvido a carreira solo do Gary Moore. Esse disco é indicado para quem gosta desse blues rock mais eletrificado e cheio de distorção que aparece em alguns momentos da carreira do Eric Clapton. É música para levantar o clima de qualquer lugar. “Story of the Blues” é excelente! A participação de B. B. King em “Since I Met You Baby” nos leva de volta lá para as raízes do rock and roll. “Separate Ways” é daquelas músicas que um professor deve colocar para seus alunos quando for ter uma aula de blues.
Mairon: Depois dos anos 80 bastante recheados de altos e baixos, Gary Moore entrou nos anos 90 contudo, e nesse álbum, traz o blues como base para criação de faixas espetaculares ao lado de ícones como B. B. King (“Since I Met You Baby”, animadíssima) e Albert King (“The Blues Is Alright”, uma aula de solo dos músicos), ou sozinho em “Cold Day In Hell”. Desprezando as chatinhas “The Hurt Inside” e “Separate Ways”, que nada acrescentam ao disco, o resto é de alto nível. Por vezes, parece que estamos ouvindo o também saudoso Stevie Ray Vaughan comandando as guitarras. Melhores faixas para a dolorida “Jumpin’ At Shadows”, para cortar os pulsos com tanto drama, a baladaça bluesy “Story of the Blues”, linda demais, e com Gary Moore fazendo a guitarra gemer sem sentir dor, em um dos melhores solos de sua carreira, bem como a paulada “Only Fool In Town”, pesada mas bluesy como só Moore conseguia criar. Ainda temos a animada “Don’t You Lie To Me (I Get Evil)”, comandada pela presença dos metais, e a arrepiante “Nothing’s The Same”, que apesar de não ser uma faixa de blues, fecha o álbum em alto nível, com uma letra que me emociona muito. É uma surpresa ter After Hours como indicação para um Ouve Isso Aqui no quesito Gary Moore, já que há outros grandes discos do guitarrista em sua carreira. Mas isso não significa que After Hours não seja um belo disco de guitarras.
Kiko Loureiro – Universo Inverso [2006]
Daniel: Para aqueles que apenas conhecem a faceta “metaleira” de Kiko Loureiro, este disco é surpreendente. Foi o meu caso. Eu não acompanhava sua carreira solo e, quando ouvi este álbum pela primeira vez, fiquei positivamente surpreso. E isto foi há muito pouco tempo. As influências brasileiras estão presentes por aqui, mas o que pega, pelo menos para mim, é a fusão do Jazz com a Música Latina, e esta mistura é muito saborosa aos meus ouvidos. Um trabalho que eu curti bastante e do qual estou cada vez mais fã.
André: Muita gente reclamaria de “como um músico de metal espadinha vai se atrever a gravar um álbum de fusion”? Nunca tive esse preconceito, muito pelo contrário, admiro ainda mais quando músicos saem da segurança do estilo de sua banda principal e buscam outros gêneros e inspirações para o seus discos solo. Universo Inverso se destaca mais ainda no repertório de Kiko justamente por fugir do prog/power do Angra. Uma pena que eu sou minoria. Adorei a delicadeza e simplicidade de “Recuerdo”. Esqueçam o passado do músico em questão e admire a obra pelo que ela realmente apresenta.
Davi: Kiko Loureiro sempre foi um dos meus ídolos e tive o prazer de receber esse CD das mãos do mesmo, quando estive presente na sede da revista Rock Brigade para realizar uma entrevista com o famoso guitarrista no ano de 2006. Sucedendo o (bom) No Gravity, seu segundo trabalho solo mantinha elementos do rock e do fusion, e se distanciava de tudo que já havia feito antes por adicionar doses cavalares de jazz, música brasileira e música cubana. Os músicos são excelentes e fiquei muito feliz pela participação de outro músico que admiro muito, o baterista Cuca Teixeira. Musicalmente, esse é o álbum que menos gosto de Kiko, ainda que tenha alguns momentos brilhantes como “Feijão de Corda”, “Camino a Casa” e “Havana”. De todo modo, estou curioso para ver os comentários dos colegas sobre o disco.
Fernando: Quando vi que o tema seria álbuns de guitarristas eu imaginei que teríamos uma série de discos gravados por músicos virtuosos tocando para outros músicos. Até aqui isso não tinha acontecido e acredito que o Daniel quis brincar com isso quando escolheu o tema e os discos que entrariam. Mas esse é o representante de disco de guitarrista para guitarristas da lista. Gosto muito do Kiko Loureiro, as coisas que ele fez com o Angra fazem parte da minha vida como fã de metal, adorei o Distopia com o Megadeth, mas ultimamente eu tenho preguiça de ouvir esses discos. Só que Kiko é um guitarrista fantástico e mesmo que você não goste dos estilos que ele aborda em algumas músicas a audição te prende pela curiosidade de saber o que vem depois na música. Quem conhece a carreira dele e e já viu pelo menos uma entrevista sabe que ele tem todo esse background de música brasileira e latina. Apesar de tocar metal ele sempre foi interessado nisso e o próprio Angra foi criado para que esses estilos fossem de alguma forma agregados no tipo de som que o André e o Rafael estavam querendo fazer. Por isso Kiko foi o cara perfeito para aquela hora da banda.
Mairon: Kiko Loureiro vem usando de inspirações latinas pra criar um álbum bem interessante. De cara, “Feijão de Corda” já mostra traços nordestinos no estilo de tocar do rapaz, em uma ótima faixa que equilibra solos melodiosos com um acompanhamento jazzy muito bom, principalmente por conta do piano de Yanel Matos, para mim o principal nome do CD, ao lado dos membros da Point of View (Cuca Teixeira na bateria e Carlinhos Noronha no baixo). O Brasil é a principal fonte de inspiração de Kiko, com o samba jazz de “Samba da Elisa”, com um piano maravilhoso, a leve “Realidade Paralela”, o samba “Espera Aí”, com Kiko ao cavaquinho, “Anastácia”, uma das mais fracas do disco, e na dupla “Arcos da Lapa” / “Monday Mourning”, sendo que a última certamente poderia ter sido concebida pela mente de Tom Jobim, enquanto admirava a baía de Guanabara durante uma segunda pela manhã. “Ojos Verdes” advém do tango, e novamente, é a Point of View quem dá seu show, assim como a belíssima e dolorida “Recuerdos”, na qual o casamento do piano com o violão é simplesmente perfeito. Já “Camino a Casa” é o momento onde Carlinhos brilha no baixo, e as inspirações advém de uma milonga uruguaia com elementos brasileiros, principalmente pela presença da cuíca. “Havana” vem com inspirações da terra do charuto, e é uma das faixas onde Kiko mais se solta. Um álbum que me surpreendeu positivamente, e essa banda que acompanha Kiko aí, bah, seria perfeita para assistir em um boteco enfumaçado e com um bom uísque. Disco muito bom, onde apesar da guitarra ser o instrumento central, é exatamente quando ela se ausenta onde o álbum cresce mais.
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