quarta-feira, 26 de junho de 2024

Cinco Discos Para Conhecer: As Parcerias de Gil


Gilberto Passos Gil Moreira, ou simplesmente Gilberto Gil, completa hoje 82 anos. Ministro da Cultura de Lula no período de 2003 a 2008, tendo inclusive sido responsável pela organização do gigante festival Viva Brasil Em Paris (2005), ao lado de Gal Costa, Daniela Mercury, Jorge Mautner entre outros, Gil é inegavelmente um dos maiores nomes da música nacional brasileira, e gostando ou não de suas canções, certamente você já ouviu ou reconhece clássicos de sua carreira logo na primeira audição. 

Um dos maiores arroz de festa da história, Gil tem em seu extenso currículo incontáveis projetos, participações especiais e shows ao lado de artistas do mundo inteiro. Essa lista de Cinco Discos Para Conhecer traz parcerias em duplas com cinco artistas renomados de nosso país, deixando espaço para os comentários trazerem outras sugestões de discos em duplas feitos por Gil, os quais eu admito que ficaram vários possíveis de fora. 


Gilberto Gil E Jorge Ben - Gil e Jorge Ogum, Xangô [1975]

Um dos discos mais experimentais da carreira tanto de Gil quanto de Jorge Ben. Aqui, o produtor André Midani largou os dois em um estúdio, acompanhados do baixista Wagner Dias e do percussionista Djalma Corrêa, para registrar e capturar a energia insana que a dupla já havia apresentado ao vivo no Phono 73 dois anos antes, e criar uma obra única. O clima é de improviso total, onde Gil (principalmente) e Jorge parecem se deliciar com as improvisações vocais e instrumentais. O álbum já abre com a inédita oração criada por Jorge Ben "Meu Glorioso São Cristóvão", com a dupla dividindo os vocais, mas certamente com Gil se destacando com suas vocalizações e falsetes, em uma das faixas mais curtas do álbum, "apenas" 8 minutos. Gil traz de seu baú as pérolas "Nega", cantada em inglês e com fortes influências de Bob Marley no estilo vocal, com mais de 10 minutos de duração, apenas com dois acordes ao longo de todo o improviso, a então inédita, e alucinante, "Jurubeba", com seus 12 complexos minutos de vocalizações e muita percussão, sendo algo muito interessante de se ouvir algo que praticamente foi criado ali, e a dupla "Essa É Pra Tocar No Rádio" e os insanos 13 minutos de "Filhos de Gandhi" (também inédita à época), com Gil sendo a principal atração na última, seja nos vocais seja no violão. Já dos arquivos de Jorge Ben brotam o gingado de "Quem Mandou (Pé Na Estrada)", sucesso com Wilson Simonal em 1973, o estonteante ritmo de "Morre O Burro, Fica O Homem", e principalmente os explosivos 15 minutos de"Taj Mahal", nos quais as experimentações vocais e o violão imparável da dupla, agora com apenas três acordes sendo mudados entre si, agitam as paredes da casa, sendo ambas as faixas de Ben (1972). Gil e Jorge interagem o tempo todo, vocal e instrumentalmente, tornando cada canção muito especial. É impressionante que a Phillips tenha tido culhões de lançar este disco duplo totalmente anti-comercial em 1975, mas não é impressionante o culto que o mesmo tem até hoje. Afinal, trata-se de uma das grandes obras da carreira de Gil, e por que não, da música nacional

Gilberto Gil (vocais, violões), Jorge Ben (vocais, violões), Djalma Corrêa (percussão), Wagner Dias (baixo)

1. Meu Glorioso São Cristovão

2. Nega

3. Jurubeba

4. Quem Mandou (Pé Na Estrada)

5. Taj Mahal

6. Morre O Burro, Fica O Homem

7. Essa É Pra Tocar No Rádio

8. Filhos De Gandhi

9. Sarro

Rita e Gil na turnê Refestança

Gilberto Gil e Rita Lee - Refestança [1977]

Gil e sua Refavela uniram forças com Rita Lee e a Tutti Frutti em uma turnê nacional durante outubro e novembro de 1977, registrada neste álbum que marca a primeira participação de Roberto “Zezé” de Carvalho em um disco da futura esposa Rita. O contexto da turnê surgiu um ano antes, quando a imagem da dupla ficou manchada por prisões porte de drogas (a de Gil inclusive sendo tratada com detalhes no documentario Os Doces Bárbaros). Os antigos parceiros de Tropicalismo criaram o projeto para poder reerguer suas carreiras. Cada um tinha seu espaço no show, e também apresentavam-se juntos. A Refavela traz toda a sua pimenta percussiva na inédita "Refestança", composição criada por Gil e Rita, abrilhanta a linda introdução de “Odara”, que havia acabado de ser lançada por Caetano no exclente Bicho (1977), e manda ver no peso em "É Proibido Fumar", de Erasmo e Roberto Carlos (até para ironizar o que aconteceu no anterior). O lado B do vinil é particularmente um show a parte de Gil, seja no gingado estilo Refazenda de “Eu Só Quero Um Xodó”, interpretando a inevitável “Ovelha Negra” da “comadre”, com grande tempero progressivo, ou comandando os vocais de Rita na clássica  "De Leve", versão abrasileirada de "Get Back", dos Beatles. Enquanto isso, a Tutti Frutti se apresenta junto de Gil e Rita dando bons ares roqueiros para “Back in Bahia”, “Giló”, ótima homenagem criada pela paulista para o baiano, e “Arrombou a Festa”, com uma divertida brincadeira de Gil e Rita na introdução, fazendo perguntas a plateia como se fossem repórteres. Destaque total para a arrebatante melhor canção do álbum, o resgate de “Domingo No Parque”, com Rita relembrando o Festival da Canção da TV Record de 1967, ao lado dos Mutantes, fazendo os backing vocals deste clássico que revelou o grupo para o Brasil, e aqui com um final apoteótico. Um ótimo disco inclusive em termos de qualidade na produção.

Gilberto Gil (guitarra, violão, vocais), Rita Lee (Vocais).

Refavela (Banda de Gilberto Gil)

Péricles Santana (guitarras), Moacir Albuquerque (baixo), Milciades Teixeira (Teclados), Carlos Alberto Chalegre (bateria), Lucia Turnbull (vocais de apoio), Willi (vocais de apoio), Djalma Corrêa (percussão)

Tutti Frutti (Banda de Rita Lee)

Luis Carlini (guitarras), Roberto de Carvalho (Guitarra, teclados, vocais), Lee Marcucci (baixo), Sergio Della Monica (bateria), Naila Scorpio (percussão)

1. Refestança

2. É Proibido Fumar

3. Odara

4. Domingo No Parque

5. Back In Bahia

6. Giló

7. Ovelha Negra

8. Eu Só Quero Um Xodó

9. De Leve (Get Back)

10. Arrombou A Festa

11. Refestança


Gilberto Gil e Milton Nascimento - Gil e Milton [2000]

Vários foram as parcerias de Gil nos anos 80 e 90, mas o salto para 2000 se deve justamente por este encontro gigantesco com o mineiro Milton Nascimento. Gil foi o responsável por apresentar Milton a Elis Regina, dando origem a uma série de grandes lançamentos da gaúcha qe revelaram o mineiro ao Brasil. Aqui, a dupla funciona super bem, mesclando seus estilos em uma peça única e exclusiva, e criando cinco novas faixas. Das cinco, para mim a melhor é a crítica ácida de "Sebastian", carro-chefe de Gil e Milton. Temos também "Trovoada", com seu ritmo nordestino no qual Gil canta a primeira parte da canção, deixando a segunda metade para Milton, acompanhado por uma interessante harmonia vocal, o rock cheio de críticas "Lar Hospitalar", em mais uma grande letra de Gil, e "Dinamarca",  com Milton ao piano e um espetacular arranjo por Wagner Tiso. Ok, esqueça a outra composição exclusiva de Gil e Milton para este disco, a caipira "Duas Sanfonas", com participação de  Sandy & Júnior, é muito fraca, concordo fortemente, assim como o baião "Baião Da Garoa" e o reggae destrutivo de "Something", que honestamente Gil, pra que você fez isso? Porém, é lindo ver Gil resgatando "Ponta De Areia (Theme)", pena que somente em vinheta, duelando com Milton na pérola "Canção Do Sal" (de Milton), ou emocionar junto do parceiro ao resgatar "Maria", de Luiz Peixoto e Ary Barroso, e principalmente "Dora", de Dorival Caymmin, com um esplêndido arranjo de cordas, e Bituca na sanfona. Já Milton traz toda a sua capacidade de interpretação para "Bom Dia" (de Gil e Nana Caymmi), acompanhado do Coro das Meninas do Colégio São José, fazendo um belo dueto vocal com Gil, e manda ver na reinterpretação de "Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón", de Fito Paez. "Xica Da Silva" (Jorge Ben) tem uma aura Santaniana para ninguém botar defeito, O disco rendeu uma boa repercussão de público e crítica quando da época do seu lançamento, além de uma extensa excursão que contou com apresentações, entre outras, no Rock in Rio III e no Festival de Montreux de 2001, e apesar de um pouco longo, vale a pena ser conhecido principalmente para quem curte a obra indiviudal de cada um dos artistas

Gilberto Gil (violão, guitarra, vocais), Milton Nascimento (vocais, violões, sanfona piano)

Sergio Chiavazzoli (guitarras), Wagner Tiso (teclados, piano), Arthur Maia (baixo), Alberto Contentino (baixo), Lincoln Cheib (bateria), Jorge Gomes (bateria), Naná Vasconcellos (berimbau)

Diversos outros músicos de estúdio

1. Sebastian 

2. Duas Sanfonas 

3. Ponta De Areia "Theme" 

4. Bom Dia

5. Trovoada

6. Something

7. Maria

8. Lar Hospitalar

9. Yo Vengo A Ofrecer Mi Corazón

10. Dora

11. Xica Da Silva

12. Canção Do Sal

13. Dinamarca

14. Palco "Theme"

15. Baião Da Garoa

Gil e Gal em Londres, 1971

Gilberto Gil e Gal Costa - Live In London Nov 25th 1971 [2014]

Gil e a musa da Tropicália possuem no mínimo 5 participações juntos (a saber: Tropicália Ou Panis Et Circensis - 68; Temporada de Verão - 74; Doces Bárbaros - 76; Trinca de Ases - 2018 e este aqui apresentado), além de Gil ter feito contribuições em álbuns da "Gaúcha" (como Gil apelidou Gal) como Gal Costa (1969), Gal (1969) e Cantar (1974). Este álbum é especialíssimo. O show no Student Centre da City University de Londres foi para alguns amigos e curiosos, e chegou ao mundo somente 40 anos depois. É um petardo para colocar o ouvinte na lona, em um clima que o próprio Gil define como "informal". Tudo começa calminho com "Coração Vagabundo", clássico da obra de Caetano gravada na estreia de Gal (junto de um ainda Caetano Velloso) Domingo (1967). Depois, o show desbanca para muitas improvisações e insanidades vocais / instrumentais, como já mostra a paulada "Sai do Sereno". Gil está super-feliz, conversando em inglês com a plateia, dando risadas em diversas vezes, vide a introdução de "Aquele Abraço" (dedicada a Dorival caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso), e um espetáculo à parte com o seu violão, seja em "Oriente", "One O'Clock Last Morning, 10th April, 1970" ou "Como Dois E Dois", instrumento que Gal também se sai modestamente bem. Acompanhados de Tutty Moreno (percussão) e Bruce Henry (baixo), os baianos mandam ver em um show dividido em duas partes. A primeira tem Gal como atração central, levando a pequena plateia versões explosivas e recheadas de improvisos para "Chuva, Suor E Cerveja", "Vapor Barato" e o festivo Medley com "Maria Bethânia / Bota A Mão Nas Cadeiras". Ela está cantando como nunca aqui, deliciosamente sensual em "Falsa Baiana", "Dê Um Rolê" como só ela sabia ser (o que é ela se derrentendo por diversas vezes na frase "eu sou amor da cabeça aos pés"?) e o ápice do show de Gal,  "Acauã", onde ela explora sua voz de forma como você nunca irá encontrar em algum outro momento de sua carreira. A de se lamentar que por vezes, os vagidos vocais de Gil acabam diminuindo o clima que Gal traz sozinha. A segunda parte tem Gil enlouquecido, e é aqui que o bicho realmente pega. Giló está endiabrado em faixas longas e repletas de improvisos, tocando seu violão com uma agilidade ímpar, e claro, com muitas vocalizações maluquíssimas. Destacam-se os 8 minutos de "Expresso 2222" e "Procissão", os mais de 10 minutos de "Brand New Dream" e "Viramundo", essa com um longo solo de vocalizações e muita percussão, e os quase 12 minutos de muita insanidade em "Aquele Abraço", dando indícios do que viria a aparecer posteriormente no já citado Ogum, Xangô. Há espaço para as recriação abaianada de "Up From The Skies" (Jimi Hendrix) e a desconstrução de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (The Beatles). Vocais por vezes estourados, microfonia pegando, erros, um show legititamente ao vivo, e um registro único na carreira de ambos.

Gilberto Gil (vocais, violões), Gilberto Gil (vocais, violões), Bruce Henry (baixo), Tutty Moreno (bateria)

1. Coração Vagabundo

2. Sai Do Sereno

3. Vapor Barato

4. Como Dois E Dois

5. Dê Um Rolê

6. Medley: Maria Bethânia / Bota A Mão Nas Cadeiras

7. Chuva, Suor E Cerveja

8. Falsa Baiana

9. Acauã

10. Procissão

11. Brand New Dream

12. Expresso 2222

13. Aquele Abraço

14. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

15. One O'clock Last Morning, 20th April, 1970

16. Oriente

17. Up From The Skies

Gilberto Gil e Caetano Veloso - Dois Amigos, Um Século de Música / Multishow Ao Vivo [2015]

Caetano é sem dúvidas o maior parceiro musical de Gil. Ao lado do conterrâneo, são nada mais nada menos do que 8 lançamentos juntos e/ou com outros artistas (a saber, além deste aqui apresentado: Tropicália ou Panis Et Circensis - 68; Barra 69 - 72; Temporada de Verão - 74; Doces Bárbaros - 76; Brasil - 81; Tropicália 2 - 93; Especial - 2012), fora diversas apresentações e participações exclusivas em álbuns deles e/ou de outros artistas. Com mais de 50 anos de parceria, o clima é de desontração, como que se divertindo em plena sala. Assim, percebemos como essa parceria é afiada, seja nos acordes precisos dos violões (como Gil toca bem, barbaridade) ou nas harmonias vocais de "Andar com Fé", "Back in Bahia", "Eu Vim da Bahia", "É Luxo Só", "Nine Out of Ten" e "Nossa Gente (Avisa Lá)". É muito interessante Gil dando voz para clássicos de Caetano como "Coração Vagabundo", fazendo passagens sutis de violão em "Terra", ou batucando o violão durante "Sampa". Ao mesmo tempo, é um deslumbre ver eles resgatarem pérolas do repertório de Gil do porte de "Esotérico", "Filhos de Gandhi", "Marginália II", "Super Homem (A Canção)" e principalmente "Domingo no Parque". Como não curtir Gil brincando com a plateia em "Toda Menina Baiana", soturnamente batucar o violão cantando a tensa 'Não Tenho Medo da Morte" ou destruindo as mãos no violão da veloz "Expresso 2222",  além de emocionar cantando sozinho "Drão", de forma arrepiante. A dupla ainda traz sua primeira composição juntos, "É de Manhã", resgatam d'Os Doces Bárbaros "São João, Xangó Menino", fazem uma versão muito fiel ao original para a bela "Desde Que O Samba É Sama" (de Tropicália II), e criam o samba "As Camélias do Quilombo do Leblon" especialmente para este show, e fazem uma versão muito bela para "Come Prima". Falando em línguas estrangeiras, o que Gil faz em "Tres Palabras" é inexplicável! O mais interessante é que não há longos trechos onde os músicos aprensentam-se individualmente. Ambos dividem o espaço democraticamente, tornando o show uma peça realmente dos dois. Escolhi justamente o último lançamento da dupla principalmente por ser uma apresentação fenomenal desses gênios, apenas com violões, resgatando obras primas de seus vastos catálogos de criações, totalizando 28 (!) canções. 

Gilberto Gil (vocais, violões), Caetano Veloso (vocais, violões)

1. Back In Bahia

2. Coração Vagabundo

3. Tropicália

4. Marginália II

5. É Luxo Só

6. De Manhã

7. As Camélias Do Quilombo Do Leblon

8. Sampa

9. Terra

10. Nine Out Of Ten

11. Odeio

12. Tonada De Luna Llena

13. Eu Vim Da Bahia

14. Super Homem (A Canção)

15. Come Prima

16. Esotérico

17. Tres Palabras

18. Drão

19. Não Tenho Medo Da Morte

20. Expresso 2222

21. Toda Menina Baiana

22. São João, Xangó Menino

23. Nossa Gente (Avisa Lá)

24. Andar Com Fé

25. Filhos De Gandhi

26. Desde Que O Samba É Samba

27. Domingo No Parque

28. A Luz De Tieta

sábado, 22 de junho de 2024

Ouve Isso Aqui: Casais

                                       


Tema escolhido por Mairon Machado

Com Andre Kaminski, Anderson Godinho, Davi Pascale e Marcello Zappelini


Sei que esse tema já rolou por aqui em um Consultoria Recomenda, mas aproveitando o mês dos namorados, quis trazer algumas obras que ficaram de fora daquele Recomenda, e que acho que merecem uma atenção dos meus colegas. Vamos às pedras! (Mairon)
Ike & Tina Turner – Come Together [1970]

Mairon: Disco de total mudança na carreira do casal Ike & Tina Turner. Lançado em abril de 1970, traz uma guinada forte na direção musical do casal, influenciados por sua turnê abrindo para o Stones (inclusive participando do conturbado Concerto de Altamont, como filmado em Gimme Shelter). Se seus discos anteriores eram caracterizados por uma potência sonora avassaladora, aqui o que prevalece é a voz soberana de Tina sobre os arranjos e criações de Ike. Daí temos soul com vocalizações gospel (a cargo das Iketttes) em “Keep On Walkin’ (Don’t Look Back)”, “Why Can’t We Be Happy”, “Unlucky Creature”, rock suave em “Too Much Woman (For a Henpecked Man)”, e as embaladas “Contact High”, “It Ain’t Right (Lovin’ to Be Lovin’)” e “Young And Dumb”. Além disso, a provocante “Doin’ It” é um encerramento excitante para um álbum fabuloso, cujos grandes destaques vão para as versões de canções surgidas havia pouco tempo. No caso, a ótima faixa-título (que os Beatles tinham lançado em outubro do ano anterior), que como diz meu irmão Micael, todas as músicas dos Beatles ficam melhores em suas versões por outros artistas, “Honky Tonk Women” (que os Stones lançaram um pouco antes, em julho), muito fiel ao original, apenas com adaptações na letra para que a personagem central seja a própria narradora, “Evil Man”, com um belo naipe de metais, sendo outra que teve alterações na letra, já que essa é a mundialmente conhecida “Evil Woman (Don’t Play Your Games With Me)”, que o Black Sabbath imortalizou no seu álbum de estreia de 13 de fevereiro de 1970 (dois meses antes desse), e que o Crow tinha lançado originalmente em agosto de 69, e a espetacular “I Want to Take You Higher”, a mais “velhinha” das três, que o Sly and the Family Stone tinha colocado no mundo em abril de 69, e que aqui está totalmente fiel ao original, inclusive com o naipe de metais e os “boom-shaka-laka-laka-boom” dos vocais. Para perder o preconceito e conhecer uma das grandes duplas da história da música.

Anderson: Uma regravação muito forte e que traz o clássico dos Beatles para a praia do Soul e o R&B. A versão ficou muito energética e animada na voz da maravilhosa Tina Turner. Interessante, também, ficaram os arranjos e a guitarra funkeada de Ike em várias músicas como na ótima versão de “Too Much Woman”. Outro destaque, agora pela interpretação de Tina, é “Unlucky Creature” que conta com uma dramaticidade intensa enquanto a música em si faz uma ambientação para a atuação da artista. Destacaria também a intensidade da versão de “Honky Tonk Women” e a animação de “Contact High”. Por outro lado, esperava um pouco mais da versão do clássico “Come Together”, a versão é bem fiel à original, mas, uma vez que a proposta da reinterpretação ocorreu poderiam ter sido mais inventivos na proposta. Talvez o receio de mexer em um clássico tenha pesado. Por fim, gostei muito da versão de “Don’t it” que fecha o material muito bem. Com certeza é um material especial que merece a lembrança.

André: É um disco um tanto dolorido de ouvir em se tratando de contexto pelo fato de Tina ter sofrido horrores na mão de Ike Turner. É necessário “desligar a chavinha mental do contexto ruim entre eles” para apreciar uma dupla que fazia rocks com uma qualidade estupenda. Os covers também ficaram ótimos. Gosto mais dessa Tina Turner mais blues do que a pop dos anos 80 e 90. Ike também é um grande compositor e guitarrista. Um disco sem erros e excelente.

Davi: Todos conhecem a história conturbada do casal Ike e Tina Turner. Sendo assim, não é preciso dizer que Ike não era a melhor pessoa do mundo. É por essas e outras que precisamos separar a pessoa do artista. Afinal, não há como negar seu talento enquanto compositor e esse disco é uma prova disso. Misturando soul e rock, o LP mistura composições próprias com regravações e brilha tanto com a voz do furacão Tina Turner, quanto na qualidade do repertório. Entre os covers, a maior curiosidade fica por conta de “Evil Man”, originalmente lançada com o nome de “Evil Woman” pelo Crow (sim, aquela mesma que o Black Sabbath regravou), que ganha um singelo naipe de metais. A versão de “Come Together” não traz muitas novidades e a gravação não tem a mesma magia que tem a do fab four. Tem uma história de que certa vez, Ike Turner apontou uma arma para que Keith Richards demonstrasse como havia tocado na gravação de “Honky Tonk Women”. A faixa aparece aqui e dá para ver que ele foi muito bom aluno, só que assim como acontece com a versão dos Beatles, a música não chega nem perto da versão gravada pela trupe de Jagger e Richards. Entre as composições próprias, minhas preferidas estão no lado A: “Too Much Woman”, “Unlucky Creature” e “Young and Dumb”. Para a garotada que estiver lendo esse texto: ouça esse LP prestando atenção no (fabuloso) trabalho vocal de Tina e repare que muitos dos maneirismos vocais que Joss Stone faz hoje, já apareciam aqui. Será mera coincidência?

Marcello: O casal mais disfuncional dessa lista, como ficou provado pela autobiografia de Tina. Entretanto, musicalmente falando, como se davam bem! O talento inacreditável de Tina, aliado à guitarra, aos arranjos e produção de Ike Turner, gerou muitas coisas boas ao longo dos anos, e este Come Together não é exceção. O duo (que participara com B. B. King da turnê dos Stones em 1969) tinha começado a se distanciar um pouco do soul e rhythm & blues, gravando material mais rock, como atestam “Honky Tonk Women”, a faixa-título e “Evil Man”, que as pessoas conhecem da versão do Black Sabbath baseada no original do Crow (e, aliás, a versão dos Turner é mais parecida com a do Sabbath do que com a original), “Evil Woman”. Há ainda uma versão para “I Want to Take You Higher”, do Sly & The Family Stone, em que as Ikettes têm cada uma sua chance de brilhar e as outras oito músicas são de Ike. Dentre estas, os destaques vão para “It Ain’t Right (Lovin’ to be Lovin’)”, “Too Much Woman (For a Henpecked Man)” – conta outra, Ike: você quer que a gente acredite que era dominado pela Tina? – e “Keep on Walkin’ (Don’t Look Back)”. Apesar de tentarem conquistar o público mais rocker, Ike & Tina Turner não foram muito bem-sucedidos na empreitada, pois o álbum só chegou ao 130º lugar na parada geral da Billboard – ainda que tenha sido 13º na de soul. Mas o álbum seguinte, Workin’ Together, trouxe a enérgica versão de “Proud Mary”, que ganhou um Grammy e levou o LP ao 25º lugar na parada geral da Billboard.


Paul Kantner & Grace Slick – Sunfighter [1971]

Mairon: Esse disco foi o que me baseou para este Ouve Isso Aqui. De imediato, o tema que pensei seria “Somos Nós, Mas Com Outro Nome”, só que o fato de ser o mês de junho me remeteu aos casais e como não são todas as músicas que os parceiros do casal Kantner / Slick participam (a saber Spencer Dryden e Joey Covington na bateria, Jorma Kaunonen nas guitarras, Jack Casady no baixo e Papa John Creach no violino), Sunfighter entrou de qualquer jeito. Os pombinhos haviam acabado de parir a pequena China Wing Kantner, que teve uma linda canção em sua homenagem, levada pelo piano e os vocais dramáticos da mamãe, após pouco mais de 1 ano de relacionamento (lembrando que Grace já tinha tido um affair com o Dryden), e lançou esse álbum sensacional tendo além dos colegas da Jefferson Airplane uma série de convidados, que passam por Jerry Garcia, Graham Nash, David Crosby, entre outros, como o novato guitarrista Craig Chaquico (que veio a fazer parte da Jefferson Starship anos depois), mandando ver na pesada “Earth Mother”. O disco já abre com a pancadaria comendo solta em “Silver Spoon”, tratando sobre veganismo (algo incomum para a época) com destaque para o peso do baixo de Casady, o insinuante violino de Papa e os vocais hipnóticos e gritados de Slick, paulada que mostra o que o Jefferson Airplane estava fazendo desde Volunteers, e que se estende até o derradeiro Long John Silver. Esse estilo se mantém na espetacular faixa-título, dedicada ao ex-parceiro de Airplane, Marty Balin, com o casal dividindo os vocais como nos bons tempos de “Volunteers” e “We Can Be Together”, na alucinógena “Million”, onde Jerry Garcia abrilhanta na guitarra junto do piano de Slick, e também na longa “Holding Together”, outra a contar com a marcante guitarra de Garcia. Crosby e Graham são peças centrais na ótima “Look at the Wood” e na linda demais “When I Was a Boy I Watched the Wolves”, com uma introdução acústica incrível e variações muito interessantes, e ambas com uma excelente harmonia vocal. E tente não se assustar com a recriação do que seria o Titanic afundando em “Titanic”, ou com o enigmático piano de “Universal Copernican Mumbles”, acompanhado de barulhos muito soturnos e um vocal ainda mais tétrico por Kantner. Assombroso em um disco assombrosamente ótimo!

Anderson: Não poderia faltar algo psicodélico pra valer e cá estamos. O álbum possui uma atmosfera criada tanto pelos vocais de Grace quanto pela instrumentação que vai de pianos/teclados, distorções de guitarra que achei um tanto excêntricas, violões e diferentes influencias como folk ou jazz em algumas passagens. As músicas não são, no geral, muito extensas mas demandam parar para absorver tudo que está acontecendo, vale o tempo disposto nesse trabalho. Quem curte um som intenso e complexo vai gostar. Particularmente me atraíram a primeira música: “Silver Spoon” com seus quase seis minutos (minha melhor experiência), curiosamente a, também extensa, “When I was a Boy I Watched the Wolves” me agradou bastante. No geral, não me agradou como os demais trabalhos da lista, me falte mais coisas dessa época na cabeça para poder contextualizar melhor o material. Assim de bate pronto, não me chamou muita atenção.

André: A riqueza instrumental é grande, há caras fodas como David Crosby e Graham Nash tocando, mas o casalzinho do Airplane não andava muito inspirado por aqui. Sinto falta de composições mais marcantes como faziam no Jefferson Airplane (e mesmo no Jefferson Starship) que aqui parecem mais sobras e lados B de ambas as bandas, mas com o acréscimo de mais instrumentos. A que eu gosto mais é a faixa título “Sunfighter”, com o restante bem abaixo do que todo esse time de músicos já produziu na vida. Não é um disco ruim, mas um menor na discografia particular do casal (que juntos, pelo que eu saiba só lançaram este mesmo).

Davi: Esse álbum é basicamente um trabalho solo de Paul Kantner com a participação de Grace Slick. Na maior parte das músicas, a voz dela fica em segundo plano, o que realmente é uma pena já que eu gosto muito mais da voz dela do que da dele. O disco captura bem aquela sonoridade San Franciso, com violões folk e arranjos sutis, e impressiona pelo time de convidados que contou, com nomes de peso como Graham Nash, David Crosby e Jerry Garcia. O disco é bom e deve agradar aos fãs de Jefferson Airplane. Contudo, para mim, o grande destaque é mesmo a faixa de abertura onde temos Grace Slick comandando a música que fez para provocar seus vizinhos vegetarianos que queriam doutriná-la. A letra era tão forte que muitas pessoas pensavam (e ainda pensam) que era uma ode ao canibalismo. Interessante…

Marcello: Grace Slick e Paul Kantner iniciaram um relacionamento ainda nos anos 60, quando ela ainda estava casada com o primeiro marido (Jerry Slick) e tivera um caso com o segundo baterista do Jefferson Airplane, Spencer Dryden Os dois tiveram uma filha, China Wing Kantner (que nome mais era de Aquário!), que aparece na capa. Paul já gravara um disco com ela e os amigos da cena de San Francisco antes, “Blows Against the Empire”, e convidou a turma toda novamente neste álbum (Jack Casady, Jorma Kaukonen, Papa John Creach, Spencer Dryden e Joey Covington, do Jefferson Airplane; Jerry Garcia, do Grateful Dead; David Crosby e Graham Nash; o futuro guitarrista do Jefferson Starship, Craig Chaquico; e mais um monte de gente), que abre com a voz poderosa de Grace na excelente “Silver Spoon”. Kantner assume o vocal solo em “Diana Part 1” e “Sunfighter” (que traz Steven Schuster e parte da turma do Tower of Power nos sopros). “When I Was a Boy I Watched the Wolves” e “Earth Mother” são ótimas músicas que não fariam feio num álbum do Airplane. “Million” traz Jerry Garcia para formar uma espécie de Grateful Airplane em outro destaque do disco. Em “China”, Grace mais uma vez assume o vocal solo e homenageia a bebê do casal. “Universal Copernican Mumbles” é levada nos teclados, numa música diferente das demais, mas não menos interessante. A música mais longa do LP, “Holding Together”, encerra o álbum com brilho. Grace e Paul ainda colaborariam no álbum “Baron von Tollbooth & The Chrome Nun”, com David Freiberg e outros colegas de San Francisco, e, por anos, no Jefferson Starship. O relacionamento entre os dois durou até 1975, e Grace casou-se novamente no ano seguinte; quando Paul trouxe o Jefferson Starship de volta, ela colaboraria com o ex-companheiro, mas desde o início dos anos 90 ela se mantém afastada da música. Kantner, infelizmente, morreu em 2021.


Wings – Venus and Mars [1975]


Mairon: O casal Paul e Linda McCartney formaram o Wings, tendo como álbum cultuado Band on The Run. Porém, penso que é em Venus And Mars que Linda conseguiu mostrar algum talento para estar ao lado de um gigante musical como Paul. A técnica da garota era ínfima, mas pelo menos aqui ela aprendeu a ser “um pouco” mais instrumentista e fazer música. Os seus acordes no sintetizador na faixa-título já são uma pequena demonstração disso. Ela traz intervenções precisas do sintetizador em faixas como “Love Song”, “Medicine Jar”, e principalmente, além dos sintetizadores, nos vocais de apoio em “Magneto and Titanium Man”. Sua contribuição nos teclados e vocais de “Listen to What the Man Said” dão um charme a mais para essa boa faixa. Curto bastante o clima alegre de “Rock Show”, que também tem um sintetizadorzinho interessante ao seu final, o rock lisérgico de “Spirits of Ancient Egypt”, cantada por Denny Laine, e também com boa participação de vocais e sintetizadores por Linda, e a delicadeza de “Treat Her Gently – Lonely Old People”, que fecha muito bem esse belo disco. E para os fãs xiitas dos Fab-4, divirtam-se com “Call Me Back Again”, “Letting Go” e “You Gave Me The Answer”. Comentar sobre o trabalho de Paul aqui é desnecessário, já que nos anos 70, o cara ainda estava em alta criativamente. Joguem as pedras, mas para mim esse é o melhor disco da carreira de Paul, inclusive junto aos Beatles.

Anderson: Os anos 70 são incríveis, sempre me surpreendo com a qualidade e diversidade de coisas. Não conhecia o Wings que, liderado pelo Paul McCartney, faz um som Rock and Roll, com uma sonoridade pop em vários momentos. Talvez, pudesse enquadrar alguma coisa de soul, mas muito sutil no meu entender. O material começa fervendo com a ótima intro “Venus and Mars” casada com “Rock Show”, pegada que aparece em “Medicine Jar” só que aqui de modo mais pesado. Dentre outros destaques coloco “Magneto and Titanium Man”, música dinâmica, criativa e animada que me lembrou, por algum motivo, o que Queen faria posteriormente. Já “Letting Go” me chamou a atenção pela mescla de instrumentos que apontam um tanto para o soul, só que mais lento, algo que é presente nos Rolling Stones. Teclado, metais, guitarras na medida certa. Pra não me estender, poderia falar das baladas do álbum mas vou destacar a ótima “Call me Back Again” que me lembrou o Joe Cocker pela estrutura ascendente da música. Recomendadíssimo esse disco!

André: Confesso, nunca fui lá grande fã nem do McCarta solo e nem do Wings. Fui escutar esse disco sem nenhuma expectativa e me surpreendi positivamente com o que ouvi. Entre os besouros, o meu favorito ainda é o Harrison e sim, gosto mais do Ringo solo do que do Mac. Mas ele subiu alguns degraus no meu conceito apresentando uma sonoridade rica e classuda, diferente daquela coisa mais juvenil dos Beatles (que gosto tanto). Linda aparece legal aqui com seus backing vocals e colaborando nas composições e instrumentais. Me animei a ir atrás de outros discos do baixista canhoto, devo ter escutado os álbuns errados.

Davi: Paul McCartney é sobrenatural. Depois de ter feito parte dos Beatles (uma das maiores bandas da história do rock), ele criou mais um grupo de primeiríssima linha: os Wings. Venus and Mars é o quarto registro do grupo e mais um grande trabalho com a assinatura de Macca. O disco, que traz composições de Paul McCartney e sua esposa, a sua ‘gatchinha’ Linda (como ele gostava de dizer em suas passagens pelos Brasil), tinha a tarefa ingrata de suceder o brilhante Band On The Run. E não é que eles conseguiram entregar um trabalho à altura? O álbum é bem variado e demonstra muitas das facetas de Paul. O lado A, iniciando com “Venus and Mars/Rockshow” e encerrando com “Letting Go”, é simplesmente perfeito. Nenhuma música descartável. No lado B, temos como destaques; o blues “Call Me Back Again”, o single “Listen What The Man Said”, além de “Treat Her Gently – Lonely Old People”. Um dos grandes álbuns do sir Paul McCartney e o melhor dessa lista, sem sombra de dúvidas.

Marcello: Paul & Linda McCartney, mais Denny Laine, Jimmy McCulloch e Joe English (em algumas músicas, Geoff Britton): Wings em 1975, perto do auge da popularidade, e tentando ser uma banda de verdade, não um veículo para Paul. Quando recebi a lista, pensei comigo: por que esse disco e não Ram, creditado ao casal? De minha parte, nada contra: gosto muito de Ram, mas Venus & Mars sempre esteve perto do topo na minha lista do melhor que Macca fez em toda a sua vida. As músicas são creditadas a Paul e Linda (mas, honestamente, não sei o que Linda efetivamente contribuiu), à exceção de “Medicine Jar” (de McCulloch e Colin Allen; o guitarrista se encarregou do vocal principal) e “Crossroads Theme”, vinheta que encerra o disco, de autoria de um certo Tony Hatch. Os dois lados do álbum começam com a linda faixa-título, forte candidata ao posto de minha balada favorita de Paul. “Rock Show” é uma das músicas mais roqueiras de Paul, e daria nome ao filme que documentou a turnê mundial de 1976 do Wings. “Call Me Back Again” e “Letting Go” são mais bluesy, algo não muito comum na obra de Macca, “Listen to What the Man Said” e “Magneto and Titanium Man” são aqueles rocks descompromissados típicos dos anos 70 (a segunda, uma música ótima para uma letra ridícula), e ainda tem a curiosa “Spirits of Ancient Egypt” (com vocal de Denny Laine), a bela “Love in Song” e a linda “Treat Her Gently – Lonely Old People” – espere sentir o peso da idade para ver se você não se emociona com ela. Vou me estender nessa que é minha música favorita do disco; a balada mistura uma declaração de amor ao reconhecimento de que a velhice traz o fantasma da solidão. O truque genial foi seguir a música com o tema da mais popular soap opera da época na Inglaterra, “Crossroads”: Macca imaginou um casal de idosos assistindo à novela na TV. Ainda que inferior ao excelente Band on the Run, Venus & Mars prova que Macca poderia ter sido o melhor dos quatro na carreira solo – se tivesse tido saco para tentar provar isso. Confesso que quando soube da morte de Linda, achei que Paul não se recuperaria – mas ele continua ativo e excursionando.


ABBA – The Album [1977]

Mairon: Todo mundo sabe que o ABBA era constituído não por um, mas por dois casais. O que poucos sabem é que The Album é o último de Bjorn Ulvaeus e Agnetha Faltskog (o outro casal era Benny Anderson e Anni-Frid Lyngstad) juntos. As consequências para a separação de Bjorn e Agnetha, após quase 8 anos juntos (6 como casados), são diversas. A insegurança familiar de Agnetha, os excessos de viagens, e também, o fato de Bjorn e Benny buscarem sempre uma perfeição tanto para fãs quanto para a imprensa. Aqui, a dupla alfa tentou calar a boca de muitos críticos, que em pleno 1977, com o nascimento do punk, alegavam que os suecos não eram capazes de compôr “música séria”. Foi com essa expressão em mente que nasceu obras-primas como a progressiva “Eagle”, que ganhou anos depois, entre outras, uma pesada versão feita por Sargant Fury, além do grupo punk Leatherface recriá-la de forma muito interessante, o rockaço “Hole In Your Soul”, que me remete muito ao que Styx faria anos depois, e claro, a suíte “The Girl With The Golden Hair”. Dividida em três partes (originalmente, a suíte era composta por quatro partes, apresentadas somente ao vivo, e que podiam superar facilmente os 25 minutos), é “inspirada” nas carreiras de Agnetha e Frida (o que teria sido mais um motivo para a separação do casal), e teve sua primeira parte como um dos grandes sucessos do grupo, a delicada “Thank You For The Music”. Porém, são nas outras duas partes que vejo os méritos dessa suíte. Afinal, o que Frida faz com a voz em “I Wonder (Departure)” é embasbacante, mas nada, nada supera a violência progressiva musical que Benny e Bjorn construíram para “I’m a Marionette”. É indescritível, só colocar as caixas de som no talo e admirar o solo de guitarra, as orquestrações e a harmonia vocal perfeita das meninas aqui. Uma pena a banda não ter registrado em estúdio “Get On The Carousel” (a quarta parte citada), que concluía a história muito bem, o que não impede do encerramento com “I’m A Marionette” ter sido no mínimo brilhante. Aos que já estão torcendo o nariz, saibam que nada mais nada menos que o Ghost fez uma versão para essa faixa, e ao meu ver, bem menos assustadora do que a original. Seguindo, naquilo que o ABBA era exclusivo em fazer, que era pop de melhor qualidade, nasceu a atemporal “Take a Chance On Me”, com sua inesquecível harmonia vocal de introdução, e as passagens de sintetizadores permeando as vozes de Agnetha e Frida. Se “I’m A Marionette” foi coverizada pelo Ghost, saiba que “Move On”, linda faixa com inspirações andina, teve uma versão feita por Rob Rock (que também regravou “Eagle”) com Tobias Sammet nos vocais (!). Um dia irão dar valor as baladas do ABBA como fazem com Fleetwood Mac por exemplo, já que o arranjo de “One Man, One Woman”, que já traz em sua letra indicios de que a coisa não estava bem entre Agnetha (voz principal) e Bjorn, ou então a suave soul de “The Name of the Game”, com seu complexo e fantástico arranjo vocal inspirado nos Beach Boys, mas que aqui é feito com um trabalho hercúleo de encaixe de vozes impossível de se reproduzir, e que como o próprio Bjorn atestou, somente Agnetha e Frida seriam capazes de fazer. Não é o melhor disco da banda, o que atribuo ao seguinte, Voulez-Vous, papo para um Recomenda ou Ouve Isso Aqui Discos de Separação, mas The Album é um disco a ser descoberto!

Anderson: Os suecos do ABBA são uma grande unanimidade dentre a geração Boomer e entre muitos dos Mileniuns, fato. Particularmente meu conhecimento não passa dos clássicos ouvidos pelos meus pais. Ao ouvir (pela primeira vez diga-se de passagem) um material completo da banda ficou um sentimento ambíguo de que realmente não é a sonoridade que me cativa, mas que foi uma audição agradável. Apesar de algumas coisas conhecidas como a, insuportavelmente animada, “Take a Chance on Me”, a sem sal “Eagle” ou a sonolenta “Thank You fot the Music” me chamou muito mais atenção as românticas “One Man, One Woman” e “I Wonder” (que com um solo no estilo Primal Fear em Tears of the Rage ficaria interessante). Porém, as que mais gostei foi a surpreendente “Move On” com uma sonoridade e ambientação muito gostosa em que percussão e instrumentos de sopro (ao que parece gravados com sintetizadores e teclados) proporcionam uma experiência diferente no álbum, e ainda a melhor do álbum: “I’m a Marionete” que traz um som orquestrado muito poderoso. No geral, particularmente, é um ótimo material de pop em sua concepção, mas me soa bem datado, não me empolga apesar de saber de sua importância para a música.

André: Sei que o Mairon ama essa banda, acho eles legaizinhos também, mas nunca me fizeram querer botar roupas coloridas e mostrar meus passos de dança por aí. É um disquinho divertido, com as vocalistas suecas cantando muito bonitinho, mas sem aquela coisa que me empolga. Mas isso sou eu em uma época não muito bem humorada de minha parte. Acho que eu mudaria de opinião se eu ouvir este disco uns anos depois.

Davi: Embora seja um dos grandes nomes da música pop, e eu seja um admirador de música pop, ainda não me aprofundei na discografia do Abba como deveria. Tenho alguns discos deles em minha coleção, mas não tenho tudo ainda. Esse é um dos que me faltam, sendo assim, ouvi ele pelo Spotify e a primeira impressão foi de um bom disco, mas não espetacular. O disco começa maravilhosamente bem como a belíssima “Eagle”, emendando no divertido hit “Take a Chance on Me” e nas bonitas “One Man, One Woman” e “The Name of the Game” (mais um grande hit do grupo sueco), mas o nível cai em “Move On” e a partir daí, a única que me chamou realmente a atenção foi “I´m a Marionette”, responsável por fechar o LP. É indiscutível a qualidade dos músicos e a influência deles na música pop, mas eu provavelmente teria indicado álbuns como Arrival ou Abba. De todo modo, foi bacana vê-los por aqui.

Marcello: Como alguém que cresceu ouvindo Rolling Stones, Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Uriah Heep, Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer, eu fui musicalmente educado para desprezar o quarteto sueco. Ao longo dos anos, passei a respeitar os dois casais (Anni-Frid, Benny, Agnetha e Bjorn), mas continuou não gostando; admito que são bons cantores, que a banda de apoio era ótima, que Benny e Bjorn são mestres em compor músicas que grudam no ouvido da gente, mas não adianta, não são para mim. Anos atrás, ouvi o catálogo completo do grupo, e o deixei de lado; ao reouvir esse The Album, fiquei surpreso com a pomposa “Eagle”, mas músicas como “Take a Chance on Me” e “One Man, One Woman” passam muito longe do meu gosto e me lembraram das razões para não gostar do ABBA. “The Name of the Game” me soou meio reggae, um ritmo que pouquíssima gente associaria à Suécia; atestando a versatilidade do grupo. “Move On” impressiona pelos vocais, em especial pela voz solo da bela Agnetha, mas é apenas um aperitivo para “Hole in Your Soul”, melhor música do disco, na minha opinião – apesar de, curiosamente, deixar a desejar no quesito vocais, o ponto forte do quarteto. O álbum se encerra com as três partes de “The Girl with the Golden Hair”, “Thank You for the Music”, “I Wonder (Departure)” e “I’m a Marionette”, que, com mais de doze minutos, mostra que o ABBA buscava fugir um pouco da sua fórmula consagrada. The Album acompanhou The Movie, filme sobre a banda lançado mais ou menos na mesma época, liderou a parada inglesa e chegou ao 14º lugar na Billboard – prova do massivo sucesso do grupo, até hoje uma das bandas que mais vendeu discos na história. O ABBA tem seu lugar na história do rock, mas nunca me atraiu e provavelmente nunca me atrairá.


Elis Regina – Transversal do Tempo [1978]

Mairon: Esse aqui vai trazer discussão, certeza que geral vai torcer o nariz, mas foda-se. O papel de Cesar Camargo Mariano neste disco é fantástico. Ele comanda os arranjos para a esposa Elis desfilar a sua técnica, que aqui estava perfeitamente mais que perfeita. Logo de cara, ele já manda ver no seu mais novo brinquedinho, um moog, introduzindo “Fascinação”, na qual Elis arrebenta acompanhada pelo piano sempre emotivo. Mas vem mais: o piano dá o tom dramático de “Sinal Fechado”, uma das obras mais complexas de Chico Buarque, que Elis canta numa naturalidade invejável. E então entra a bandaça formada por Nathan Marques (guitarras), Crispin Del Cistia (guitarra, teclados), Dudu Portes (bateria) e Fernando Sizão (baixo), para interpretar versões apocalípticas de “Deus Lhe Pague”, intrincadíssima e progressiva para abrir um sorriso na cara amarrada de Robert Fripp, Os arranjos de Cesar desconstróem clássicos da MPB do porte de “Boto” (Tom Jobim), com acordes tensos no piano elétrico, “O Rancho Da Goiabada” (João Bosco e Aldir Blanc), mandando ver no piano elétrico e acrescida com uma monumental “Construção” (Elis se rasgando em tristeza aqui, e que arranjo sombrio), tendo apenas a vinheta da polêmica inserção de “Gente” (Caetano veloso), e até a “Saudosa Maloca” de Adoniran Barbosa, aterrorizante o que Cesar e Elis fazem nessa. O auge da dramaticidade, soturna e desconstrução musical vai para “Meio Termo / Corpos”, com um show a parte do violão e da guitarra de Nathan, e canções de letras pesadas que Elis e Cesar jogam na cara dos fãs com um descomunal desprezo aos arranjos originais. Fecham o play versões depressivas (e belas) de “Cão Sem Dono” e “Querelas do Brasil”, mas com um forte tom de que “a vida continua” através da empolgante “Cartomante” de Ivan Lins. O casal permaneceu juntos, entre brigas, idas, vindas e o temperamento sempre “apimentado” de Elis Regina, por mais 2 anos, criando no mínimo mais duas grandes obras (Elis … Essa Mulher, e Saudades do Brasil). O show Transversal do Tempo percorreu e foi aclamado pelo mundo, e também recebeu fortes críticas justamente por seu teor complexo e pesado. Já o álbum Transversal do Tempo peca por ter as músicas “cortadas” do nada muitas vezes, mas ainda hoje, 20 anos depois de ouvir ele pela primeira vez, ainda me choca. Quem sabe um dia lancem a obra em sua totalidade.

Anderson: Realmente uma lista complexa e diferente esta proposta pelo nosso querido Mairon! Elis Regina é uma referência em muitos sentidos e, mesmo sem conhecer sua obra a fundo, imagino que esse ao vivo é uma prova de seu gigantismo como artista. Pois bem, é impressionante o que essa mulher canta! Não gosto de material ao vivo, não ouço quase nada dessa categoria, mas fiquei realmente abismado com esse disco. Logo de cara “Fascinação” já eleva o nível a um patamar altíssimo. Feita a aposta, na sequência “Sinal Fechado” continua intensamente!! Extremamente emocionante a canção de Paulinho da Viola, mas que com a voz de Elis se torna algo surreal. Todavia não para por aí, a terceira é “simplesmente” “Deus lhe Pague” do Chico Buarque que traz um arranjo agressivo e icônico, e, novamente, Elis deita e rola! Ela destrói tudo por meio de uma interpretação que faz jus a cada palavra da música. Esse começo arrebatador da espaço para experiências em um degrau mais abaixo, porém ainda assim muito bom! Após um “intervalo” com o pot-pourri de O “Rancho de Goiabada” e uma breve interpretação de “Construção”, entra uma bossa nova de “Saudosa Maloca”. Creio que a ideia não é uma resenha, mas é difícil de não comentar todas as músicas. Vou parar por aqui destacando, ainda, as versões lindas de “Boto”, e o ótimo pot-pourri de “Meio Termo/Corpos”, lembrando que todas as músicas ficaram fenomenais.

André: Cara, acho que esse é o disco mais “pesado” da Elis que eu já ouvi na vida. Tem guitarras aqui. Guitarras de verdade, com overdrive e tudo mais. O baterista Dudu Portes batendo forte, com viradas e tudo mais. Uma interpretação intensa, forte, não sei o que o César Camargo Mariano fez com ela, mas eu gostei. Discaço hein Mairon, acertou em cheio aqui.

Davi: Elis é considerada, por muitos, a maior cantora da música brasileira e ouvindo esse álbum dá para entender o porquê. Nessa apresentação gravada no Teatro Ginástico (Rio de Janeiro), a pimentinha transborda emoção em cada uma das interpretações, além de ter uma invejável técnica vocal. Embora eu goste muito de seu trabalho inicial, é indiscutível que sua obra toma outro nível quando seu marido César Camargo Mariano assume as rédeas. Todo esse cuidado com o arranjo também é perceptível no show. O concerto não está completo. Inicialmente seria lançado um volume 2 com as outras faixas, mas o projeto acabou sendo abortado. Sabendo da importância da Elis e do barulho que causou na época, se eu trabalhasse na gravadora, nem teria corrido esse risco, teria lançado um álbum duplo de uma vez. Voltando ao álbum em questão, colocaria como destaque os clássicos absolutos “Fascinação” e “Querelas do Brasil”, além de “Sinal Fechado” e “Cartomante”. Se você tem interesse na música brasileira, além do rock/metal, diria que essa é uma audição obrigatória.

Marcello: Gravado ao vivo em apresentação da turnê do mesmo nome, realizada em 1977, Transversal do Tempo traz a melhor cantora da história recente da MPB – ao menos na minha opinião – ao lado do marido tecladista, produtor, arranjador, diretor musical, o que mais você quiser, César Camargo Mariano. Se o ABBA eu desprezava, Elis – e toda a MPB – eu não me interessava. E não me interesso, admito. Por isso não posso comparar esse disco com a produção da cantora, ou as versões de músicas conhecidas com outras. Abrindo com a linda “Fascinação”, com Elis soltando toda a extensão de sua voz privilegiada, o disco traz outro clássico da música brasileira (“Saudosa Maloca”), bem como “Sinal Fechado”, que mostra que só um talento como o de Elis consegue fazer você ouvir uma música do Paulinho da Viola sem sentir saudades do autor. “Querelas do Brasil” é outro destaque absoluto, com um acompanhamento fantástico dos músicos de apoio em um arranjo quase jazzístico. César Camargo Mariano é um tecladista de mão cheia e a banda é excelente, e o desempenho de Elis é impecável (só não curto muito a voz dela na versão de “Deus Lhe Pague”). O álbum se encerra com “Cartomante”, uma aula de domínio de voz no autor Ivan Lins (não entendam errado, o cara canta bem, mas Elis é covardia). Diferentemente do ABBA, este aqui eu vou ouvir mais vezes no futuro.

sábado, 8 de junho de 2024

W. A. S. P. - The Crimson Idol (Reissue Edition) [1998]

Há algum tempo, trouxe aqui aqui uma resenha detalhada sobre um dos maiores lançamentos da década de 90, The Crimson Idol. O quinto disco da carreira do W. A. S. P. , que completa hoje exatamente 31 anos de seu lançamento, é um álbum conceitual narrando a ascensão e queda do astro do rock Jonathan Aaron  Steele, e não vou entrar nos detalhes centrais do disco, deixando para o leitor acompanhar a matéria citada acima.

CD single de “Hold On To My Heart”, trazendo as bônus “When The levee Breaks”, “Hold On To My Heart” (acústica) e “The Idol” (Acústica)

Musicalmente, temos uma paulada do início ao fim. Comandado pelo baixista, vocalista, guitarrista, compositor, produtor e faz tudo Blackie Lawless, o W. A. S. P. tem aqui sua obra definitiva, na qual o rapaz está acompanhado de Bob Kulick (guitarras), fazendo talvez a melhor performance de sua carreira, assim como o batera Frankie Banalli (outro baterista, Stet Howland, também se faz presente). O álbum gerou quatro singles, a saber “Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)”, “The Idol”, "Hold On To My Heart" e “I Am One”, os quais foram relativamente bem sucedidos nos charts.

Para os colecionadores, o W. A. S. P. é uma banda que sempre traz novidades em seus lançamentos de singles, e não foi diferente com os da época de The Crimson Idol. O primeiro deles, de “Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue)”, saiu em uma tiragem limitada de um pacote contendo três mídias, chamada The Chainsaw Pack, assim como uma versão 12". A The Chainsaw Pack é constituída de uma pasta plástica com 3 bolsas, uma para cada um dos lançamentos individuais, os quais foram: um compacto de 7″ Picture Disc; Um compacto de 7″ etched com uma mensagem gravada a mão no vinil, feita por Lawless; e o CD single. Como novidades musicais, temos "Phantoms In The Mirror" (presente na versão 12", CD single e no 7" etched) e a faixa "The Story Of Jonathan (Prologue To "The Crimson Idol") Part 1" (presente na versão 12" e CD single), a qual narra a primeira parte da história presente no encarte que acompanha o Vinil e CD originais.

Versão Vinil Escarlate de “The Idol” (acima), trazendo a segunda parte de “The Story Of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)”; Versão Shaped de “The Idol”, tendo a inédita “The Eulogy” no lado B

"The Idol" recebeu versões em 12" e dois compactos 7" (vinil vermelhovinil vermelho e vinil shaped). A versão 12" traz a segunda parte de "The Story Of Jonathan (Prologue To "The Crimson Idol")" e a inédita "The Eulogy", as quais estão, de forma separadas, em cada um dos compactos 7". "Hold on to My Heart" saiu em uma tiragem trazendo uma versão editada desta incrível balada, acompanhada de uma versão para "When The Levee Breaks" do Led Zeppelin e versões acústicas para "The Idol" e "Hold On To My Heart". Já o single de “I Am one” saiu em uma versão 10" com a faixa  gravada ao vivo na espetacular apresentação da banda no Monsters of Rock Festival de 1992, assim como mais três faixas daquele show: "Wild Child", "Chainsaw Charlie" e "I Wanna Be Somebody". O resto do show foi levado para os fãs através da edição em CD do compacto de "I Am One", com a mesma faixa junto de "The Invisible Boy", ""The Real Me" e "The Great Misconception Of Me".

Vinil 10″ de “I Am One”, com quatro faixas ao vivo no Monsters of Rock de 1992

Obviamente que um colecionador do grupo irá desejar (e eu particularmente me falta só o CD de "I Am One", como mostram as imagens ao longo do texto, retiradas da minha coleção) ter todos esses itens diferentes, mas para quem não é colecionador, mas gostaria de ter todas as músicas, em 1998 saiu uma edição remasterizada de The Crimson Idol, dupla, apresentando além de The Crimson Idol na íntegra, todas as canções bônus citadas acima.  A formação nessa apresentação de Donington é de Lawless (guitarra, vocais), Doug Blair (guitarra, vocais), Stet Howland (bateria) e Johnny Rod (baixo, vocais), e pode ser encontrada na íntegra no Youtube. Mesmo com qualidade baixa na visão, o som é ótimo, sendo que quase todo The Crimson Idol é interpretado. E é o grande atrativo desta reedição.


The Chainsaw Pack, trazendo três diferentes formatos (CD single, 7″ etched e 7″ picture”) para a clássica faixa “Chainsaw Charlie” (Murders In the New Morgue)”, trazendo como novidade “Phantoms In the Mirror” e a primeira parte de “The Story Of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)”


Afinal, conferir a complexidade das canções ao vivo é bem interessante. Apesar de algumas falhas, a mais gritante em uma entrada totalmente atravessada de um acorde dos teclados durante "I Am One", a pancadaria come solta, e ouvir "The Great Misconception Of Me" ao vivo é de tirar o chapéu. Esta reedição, originalmente lançada no Japão e Reino Unido, posteriormente teve uma nova adaptação, em 2007, também no Reino Unido e Alemanha. Em 2012, foi a vez da Argentina, através do selo Icarus, relançar a obra nesse formato, e ano passado, a Hellion Records trouxe essa fantástica edição para o Brasil, acompanhada do lançamento oficial em nosso país do álbum ao vivo Double Live Assassins, originalmente lançado em 1998, fazendo o registro da turnê de Kill Fuck Die, álbum que marcou o retorno do guitarrista Chris Holmes para a banda. Mas isso já é papo para outro post, ficando este como uma forma de comemorarmos os 32 anos de The Crimson Idol, e uma indicação de aquisição agora possível de ser feita sem passar por taxações e/ou perdas através das compras internacionais via Discogs, Ebay e afins. Vale muito a pena!

Contra-capa da edição inglesa de The Crimson Idol Reissue Edition

Track list


1-1 The Titanic Overture

1-2 The Invisible Boy

1-3 Arena Of Pleasure

1-4 Chainsaw Charlie (Murders In The New Morgue)

1-5 The Gypsy Meets The Boy

1-6 Doctor Rockter

1-7 I Am One

1-8 The Idol

1-9 Hold On To My Heart

1-10 The Great Misconceptions Of Me

1-11 The Story Of Jonathan (Prologue To The Crimson Idol)


2-1 Phantoms In The Mirror

2-2 The Eulogy

2-3 When The Levee Breaks

2-4 The Idol (Live Acoustic)

2-5 Hold On To My Heart (Live Acoustic)

2-6 I Am One (Live Donnington 1992)

2-7 Wild Child (Live Donnington 1992)

2-8 Chainsaw Charlie (Murders In The New Morgue) (Live Donnington 1992)

2-9 I Wanna Be Somebody (Live Donnington 1992)

2-10 The Invisible Boy (Live Donnington 1992)

2-11 The Real Me (Live Donnington 1992)

2-12 The Great Misconceptions Of Me (Live Donnington 1992)

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