sábado, 3 de março de 2012

Os 15 anos de Pop



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Para a maioria dos fãs e crítica especializada, o U2 possui quatro diferentes fases, e que são divididas sempre em três álbuns de estúdio. A primeira fase compreende os três primeiros álbuns (logicamente), que são Boy (1980), October (1981) e War (1983), e onde o grupo pregava canções de manifesto através de um rock simples, mas para a época, moderno. Depois, veio a fase áurea, que gerou os clássicos The Unforgettable Fire (1984), The Joshua Tree (1987) e Rattle and Hum (1988). Foi aqui que o U2 transformou-se na maior banda da Irlanda, e uma das maiores do mundo. Nada podia superar o rock feito pelo grupo, gerando clássicos como um chefe de cozinha gera pratos fantásticos, e assim, os irlandeses Adam Clayton (baixo), The Edge (guitarra, teclados e vocais), Larry Mullen Jr. (bateria) e o hiper-ultra-famoso Bono Vox (vocais) estavam no topo do mundo. Bastava seguir fazendo cançõs naquele estilo que de lá eles nunca sairiam.


The Edge, Adam Clayton, Bono e Larry Mullen Jr.
Porém, em 1991, o quarteto resolveu abandonar seu passado, e decidiu ingressar em um novo mundo: o mundo da eletrônica. Primeiro veio Achtung Baby, que chocou pela (ainda pequena) presença de sintetizadores e batidas eletrônicas. Essas pequenas mudanças quase levaram o U2 ao seu fim. Se The Edge e Bono estavam alucinados com as experimentações com sintetizadores, samplers e outros sons do gênero, Clayon e Larry preferiam manter o básico que havia levado o grupo ao sucesso. 

A vontade de The Edge e Bono foi o que prevaleceu, e assim, o grupo partiu para a gigantesca turnê Zoo TV Tour. Nela, o contato com o eletrônico começou a crescer ainda mais, assim como Bono passou a assumir um papel de destaque, como um ator em frente ao grupo, fazendo interpretações e encenações que por vezes chocavam, já que aquilo não era comum nos shows do U2. Efeitos visuais e um enorme telão acompanharam a Zoo TV Tour, que foi um verdadeiro sucesso.



Bono

No meio da turnê, o segundo disco "eletrônico" foi lançado em 1993. Batizado de Zooropa, o disco foi inicialmente planejado como um EP, mas acabou saindo no romato full lenght, com quase uma hora de duração, e fincando o pé ainda mais no eletrônico. Canções como "Lemon" e "Numb" chocaram até mesmo aos fãs de Achtung Baby, principalmente pela enorme quantidade de samplers e experimentações eletrônicas que o grupo estava usando. As vendas cairam, mas eles não estavam nem ai. A trilogia eletrônica precisava ser concluída.

Compacto de "Mission: Impossible"
Como estavam com o currículo um pouco manchado, o quarteto resolveu mudar temporariamente de nome, e escondidos sob o pseudônimo de Passengers, tendo ainda a produção e colaboração do músico Brian Eno, lançaram-se em um projeto que culminou no álbum Original Soundtracks 1, lançado em 1995, que conta com a participação especial do cantor Luciano Pavarotti na canção "Miss Sarajevo", que foi um dos singles mais vendidos daquele ano. Ainda em 1995, Clayton e Mullen Jr. gravaram "Theme from Mission: Impossible" (Tema do filme Missão Impossível) de forma totalmente eletrônica, e receberam o Grammy de Melhor Performance Pop Instrumental.

Com a reputação um pouco recuperada, o U2 viu que finalmente podia concluir a trilogia com seu próprio nome. Assim, começou a compor as canções do seu nono disco. A ideia era ampliar ainda mais ainda mais as experimentações, juntando agora o chamado alternative rock, alternative metal, techno, dance e funk. Para isso, passaram a estudar e trabalhar em cima de loops, samplers, programações e sequenciadores.

Mas a tarefa não era das mais fáceis, e o tempo de composição e gravação do novo CD foi longo. Além disso, a falta de um contato maior com esse novo mundo da eletrônica fez com que diversos produtores participassem do mesmo, com destaque para Steve Osborne, o qual foi o responsável pela inclusão de novas ideias e influências vindas da disco music e do techno-pop dentro do som do U2, e também Howie B, que inclusive chegou a levar o quarteto para casas noturnas e clubes onde a dance music era o som principal.



Adam Clayton na turnê de Pop

As primeiras composições surgiram ainda na época de Zooropa, sendo material que ficou de fora do mesmo. O grupo as trabalhou, e no final, chegou na versão definitiva, sendo as mesmas "If You Wear That Velvet Dress", "Wake Up Dead Man", "Last Night on Earth" e "If God Will Send His Angels". Na época do Passengers, surgiram "MoFo" e "Staring at the Sun".



O início das gravações começaram na Inglaterra, com breves momentos na França e na Irlanda. Em setembro de 1995, o grupo mudou-se para Dublin, onde passaram a experimentar ainda mais com loops de fitas, samplers e outros apetrechos eletrônicos. Em Dublin, o grupo permaneceu durante três meses, gerando entre 30 e 40 canções.


Larry Mullen Jr.


Logo no início das gravações, Mullen Jr. começou a sofrer com um problema nas costas, sendo que ele acabou sendo operado em novembro de 1995, ficando temporariamente afastado do trabalho. Isso facilitou ainda mais as experimentações de The Edge e Bono, que puderam aprender sobre sintetizadores e como usar samplers em pleno palco. 

Três semanas depois, Mullen voltou ao estúdio, mas, ainda sofria por causa da cirurgia. Somente em fevereiro de 1996 os trabalhos começaram novamente. O primeiro passo foi entender e ver aonde encaixar o material que os produtores Howie B, Flood e Nellee Hooper haviam preparado, sendo muitos deles remixagens e samplers de material gravado pelo grupo entre setembro e outubro de 1995.

Porém, Hooper deixou a produção em maio de 1996, pois começou a trabalhar na trilha do filme "Romeo + Juliet" (1996), e isso mudou radicalmente as sessões de gravação. Uma das principais modificações foi que os próprios membros do U2 passaram a fazer seus samplers, principalmente Mullen Jr.

O processo de gravação então durou todo o ano de 1996. A previsão era lançar o novo disco exatamente no Natal de 1996, mas um pequeno problema na conclusão das canções acabou atrasando o lançamento do mesmo. Outro problema foi na escolha do nome. Vários foram sugeridos, entre eles: Discola, Miami, Mi@mi, Novelty Act, Super City Man, YOU2 e Godzilla. No final, Pop foi o escolhido. O mais interessante é que Pop foi concluídoum dia antes de seu lançamento, com Bono adicionando as vozes no refrão da canção "Last Night on Earth".

The Edge
A frase que simboliza esse período de construção do álbum foi dita por Flood: "Nós tínhamos três diferentes mixagens de 'MoFo', e durante a mixagem final, eu editei uma versão final de "MoFo", que nada mais era do que uma mistura das três mixagens anteriores. Isso foi um longo processo de experimentação, e que durou alguns meses". Segundo The Edge: "Isso (n. r. o processo de composição) era simplesmente insano, e a pressa por lançar o disco fez com que atravessássemos um período conturbado tentando mixar tudo o que tínhamos, finalizar a gravação e ainda agendar com os empresários sobre a turnê que iria começar em abril".


Assim, no dia 03 de março de 1997, portanto 15 anos hoje, chegava as lojas Pop, o mais ousado e mais criticado disco da carreira do U2. Tido por 99.999999999999% das pessoas como o pior disco do grupo, quando de seu lançamento Pop foi massacrado pela maioria da imprensa, que chamava o grupo pelo nome do disco, e dando um certo toque de repúdio, repugnância e ódio perante ao som que o U2 estava fazendo. De fato, se os fãs do grupo na década de 80 não estavam satisfeitos com Achtung Baby, e tão pouco com Zooropa, Pop era a pior coisa que o grupo já poderia ter feito.


Mas na verdade, nem mídia nem fãs entenderam o que era Pop. Na verdade, Pop é um desabafo contra o consumismo e o domínio dos Estados Unidos no comércio mundial, usando justamente de sonoridades americanas para provocar e criticar aquele país. Segundo Bono: "O que queremos demonstrar com Pop é o lixo que está a cultura popular, mas somos incompreendidos por parte da mídia e até por grande parte de nosso público. Não é um evento de luzes. É uma crítica à americanização do mundo. A ideia de democracia nos Estados Unidos não significa liberdade de expressão, e sim, uma variedade de representação, onde todos somos obrigados a comprar os mesmos plásticos coloridos, como que 'comprar' fosse mais importante do que 'saber', e muito acima do que 'sentir'".

Fora a crítica aos americanos disso, havia quatro anos que o U2 estava fora da mídia, e quando apareceu de novo, foi com o clipe de uma das canções do novo álbum, no caso "Discothèque". The Edge e Bono cantando face-a-face, quase encostando os narizes um do outro, guitarra brilhante, closes excessivos no órgão genital de Bono e uma dança para lá de ridícula, imitando claramente o Village People, porém usando fantasias ainda piores que o do famoso grupo que gravou "Y. M. C. A." (mais um símbolo popular americano), com a de The Edge sendo a pior de todas, soaram como um desacato ao rock, e ainda, com diversos grupos da imprensa dizendo que o quarteto havia assumido uma homossexualidade que estava enrustida até então.

O clipe passou a rodar de hora em hora em tudo quanto era emissora que transmitisse algo relacionado a música, principalmente na MTV, e acabou de uma forma ou de hora, como que uma lavagem cerebral, entrando na mente dos viventes da década de 90, principalmente os adolescentes, que se quer sabiam (ou muito pouco conheciam) da existência de clássicos como "Sunday Bloddy Sunday", "When the Streets Have No Name", "Bullet the Blue Sly" ou "Bad". 

Assim, quando Pop saiu, a massa jovem e adolescente, hipnotizada e como que lobotomizada pelo clipe de "Discothèque" foi direto às lojas, e por isso, as vendas foram tão boas nos primeiros dias. Apesar de ter sido classificado como pop, o álbum está longe de ser isso. Na verdade, definir o que está registrado no álbum é complicado, pois a mistura de ritmos, e a variação lenta que o disco demonstra de uma canção para a outra, saindo de um clima de batidas insanas para um triste e arrastado andamento final, tornam a assimilação direta um fator quase impossível.


Capa do single original de
"Discothèque"
Pop só poderia começar com essa canção. Barulhos eletrônicos abrem "Discothèque", com o violão destorcido e ainda com efeitos de sintetizadores por cima de suas notas, puxando o riff principal. Bono passa a cantar com vozes sobrepostas, para Mullen Jr. comandar o ritmo de uma frenética canção, quadrada mas muito agitada, com eletrônicos sobrepostos às guitarras e o baixo, o qual está carregado de efeitos. Barulhos diversos surgem entre a maçaroca sonora que o U2 construiu para a faixa de abertura, com Bono carregando de efeitos sua voz. A canção alterna entre esses momentos eletrônicos e outros mais viajantes com o dedilhado de The Edge, mas sempre, sempre o riff principal do baixo, repleto de distorção, repetindo-se infinitamente ao fundo. Nem em Zooropa, nem em Achtung Baby, encontramos algo tão eletrônico e complicado de se descrever, o que já chama a atenção para tornar Pop um disco diferente.


Os momentos de The Joshua Tree e The Unforgettable Fire aparecem em "Do You Feel Loved", com um riff de guitarra bem oitentista, acompanhado por uma bateria extremamente anos 90. O baixo de Clayton ganha espaço e Bono dessa vez canta sem efeitos em sua voz. Não temos tantos eletrônicos nessa canção, que de forma geral, é uma sequência do trabalho proposto pelo grupo nessa fase mais eletrônica, com destaque para o sensual refrão que entoa o nome da canção.

Capa do single de "MoFo"
A bateria eletrônica surge de forma sincronizada e ensurdecedora, apresentando uma das principais e melhores canções de Pop, chamada  "MoFo". Aqui, o U2 extrapola o limite das experimentações eletrônicas, com a guitarra de The Edge mais do que nunca carregada de efeitos, parecendo uma serra elétrica, entre o baixo conturbado de Clayton e as batidas incansáveis de Mullen Jr. Bono canta emotivamente, lamentando a perda de sua mãe, e o ritmo da canção vai tomando conta do local aonde você está apreciando o CD. É muito efeito sonoro para pouca percepção inicial, e a medida que ouvimos "MoFo" mais e mais vezes, vamos percebendo as diversas camadas de ritmos e batidas utilizadas, assim como os diversos efeitos de guitarra e baixo que fazem a cama delirante para os vocais de Bono, deixando apenas para a parte central da canção o momento de relaxamento, com o baixo de Clayton fazendo notas que se repetem cronometradamente, as quais vão crescendo entre as viagens da gutiarra, voltando então para o ritmo inicial da mesma. Se viesse após "Discothèque", seria uma bela sequência, principalmente pelo abuso de eletrônicos e sintetizadores. E claro, é impossível não relatar o que falou na época Bono sobre essa canção: "'MoFo' é o principal motivo de eu sair de casa para tocar. Esta canção é animal, e eu sinto que minha vida inteira está dentro dela". Precisa dizer mais?

Capa do single de
"If God Will Send His Angels"
A bela balada "If God Will Send His Angels" surge com a voz de Bono acompanhada por efeitos e acordes de violão, implorando por uma ajuda divina. Percussão e sintetizadores vão sendo adicionados aos poucos, enquanto Bono canta a letra da canção emotivamente, chegando ao refrão para ser cantado a plenos pulmões. The Edge então puxa o riff da canção, e Bono passa a cantar com vozes sobrepostas, enquanto Clayton e Mullen Jr. fazem uma cadência lenta, oitentista pacas. Depois de algumas estrofes, o refrão é repetido, e então, é a vez do baixo ser o centro das atenções, e Bono continuar a letra, de forma lenta, sobrepondo sua voz com vocalizações, voltando para o refrão e fazendo o encerramento dessa bonita canção.

Capa original do single de
"Staring at the Sun"
A seguir, a clássica "Staring at the Sun", com seu riff de guitarra, tendo o acompanhamento dos violões, muda o andamento de Pop, sendo a canção mais acessível do mesmo, e por sinal, uma das que menos gosto de todas as canções do CD. O refrão, com a guitarra de The Edge em um timbre muito agudo, não me agrada, mas devo ser um dos poucos a não gostar dessa canção, já que ela foi a mais tocada do álbum na época de seu lançamento. Para os saudosistas do início da carreira da banda, o solo de The Edge é um dos principais momentos para relembrar o material registrado em Boy, October e War. É aqui que o disco muda completamente.

Capa do single de
"Last Night on Earth"
A guitarra com um riff pesado abre "Last Night on Earth", mas em seguida, sintetizadores, baixo sintetizado e bateria eletrônica, retornam aos ritmos dançantes que estavamos acostumados até "Staring at the Sun", porém com um tom mais para baixo e não tão agitado como no início do CD. Piano, baixo, sintetizadores e bateria eletrônica comandam a canção, a qual possui um poderoso refrão, preparado para levantar plateias ao redor do mundo.

Os eletrônicos também podem ser ouvidos em  "Gone" . O riff inicial da guitarra de The Edge surge cortando o cérebro do ouvinte ao meio, enquanto o andamento de baixo e bateria leva a canção suavemente a acompanhar Bono. Esta é mais uma canção que lembra os tempos de The Unforgettable Fire, com exceção claro da parte eletrônica. A presença do piano, sintetizadores e efeitos na guitarra marcam a canção, estabelecendo uma onda de viagem e exploração musical que deve ser curtida e absorvida aos poucos, lembrando muito o krautrock, sendo o seu encerramento, com a guitarra eletrônica delirando junto aos vocais de Bono, um dos principais momentos de Pop, além do forte refrão da mesma.

Mais krautrock surge na canção seguinte, com a bateria sendo responsável por abrir "Miami", trazendo a voz de Bono, e, com todo perdão aos admiradores de krautrock, lembrando o álbum Tago Mago, do grupo Can. Bono canta entre as batidas eletrônicas de Mullen, que fazem parte do único instrumento da canção durante dois minutos, até a entrada triunfal da guitarra, fazendo a melodia que acompanha as batidas de bateria. A partir de então, baixo e bateria, além de sintetizadores, levam a canção em um andamento quadrado, e que não consegue agradar este que vos escreve, encerrando com vocalizações sobre o ritmo sempre igual da mesma. Com certeza, essa é a pior canção de Pop, e facilmente pulável no aparelho de CD. Não à toa, foi eleita pela revista Q Magazine, em 2005, como uma das dez piores músicas de todos os tempos já gravada por um artista famoso.

O talk box de The Edge faz o tema de "The Playboy Mansion", a canção com mais críticas aos Estados Unidos em todo o álbum. Coca-Cola, Michael Jackson, O. J. Simpson, talk shows e vários outros símbolos da mídia americana são atacados sem piedade, sendo uma sensual canção que poderia facilmente estar em Achtung Baby, com Bono cantando de forma limpa e clara. A presença de eletrônicos nessa canção limtia-se apenas aos sintetizadores, e no geral, é uma faixa bem construída sobre a levada do violão, a marcação competente de baixo e bateria e as intervenções do talk box. Mais uma canção acessível para os fãs antigos, e não tão desprezível aos fãs dessa terceira fase do U2, com destaque para o belo arranjo de vozes do final da canção.

"If You Wear That Velvet Dress surge através dos sintetizadores de Marius De Vries e do dedilhado do violão enquanto um resmungo vai acompanhando a melodia do violão. Bono passa a falar sussurrado, aumentando gradativamente sua voz, enquanto sintetizadores, violão e batidas no chimbal fazem a viajante cama sonora ao fundo. A entrada do baixo leva ao refrão, que entoa o nome da canção, tendo a participação de vocais femininos, chegando então no solo singelo de The Edge, com notas muito suaves, tornando o clima viajante ainda mais palpável. A segunda parte da letra é feita sobre o mesmo ritmo, porém com a presença maior de sintetizadores.  

Capa do single de "Please"
Baixo, bateria e guitarra abrem "Please", uma espécie de pop sessentista misturado com eletrônicos, bem depressivo, onde Bono volta a cantar com efeitos em sua voz. A canção possui um bonito crescendo, que chega ao refrão, onde o nome da mesma é entoado com devoção por Bono, pedindo "POR FAVOR" ao fim das brigas eternas entre Irlanda e Irlanda do Norte. A sequência é repetida, com muitos sintetizadores se juntando ao andamento complicado da bateria de Mullen Jr., e as poucas participações de guitarra e baixo, chegando novamente ao refrão, seguido por um momento com vocalizações, onde a guitarra de The Edge comanda um riff utilizando-se do wah-wah, voltando então ao refrão e concluindo a canção. 

Pop encerra-se com a canção mais diferente e triste de todas as do CD, "Wake Up Dead Man" , a qual surge com o violão acompanhando o vocal de Bono de forma lenta, e com o cantor pedindo para Jesus voltar à Terra e salvá-lo dos males do mundo. A guitarra aparece no refrão, quando Bono entoa o nome da canção, entre vocalizações, após a primeira estrofe. Na segunda estrofe, violão e voz mantém a canção, porém com intervenções da guitarra, voltando então para o refrão, dessa vez acompanhado por bateria, baixo e guitarra. A terceira estrofe é cantada de forma mais rápida, voltando ao refrão, também mais agitado. Finalmente, na quarta estrofe, bateria, baixo e violão fazem o ritmo que leva a repetição do refrão pela última vez, dessa vez com The Edge rasgando a guitarra ao fundo, e dando indícios do futuro do U2, como ficou comprovado em 2000, através do álbum All That You Can't Leave Behind, em uma volta ao rock oitentista, mas com algum tempero eletrônico.


O mini-pôster do encarte (acima) e detalhes do encarte e do CD Pop


No Japão, uma canção bônus foi lançada, a qual é "Holy Joe" (Guilty Mix), que segue a linha eletrônica do álbum, com Bono cantando de forma mais despojada, e por vezes, lembrando o estilo de Robert Plant em carreira solo. Já na Malásia, "Wake Up Dead Man" foi censurada, tendo a frase "fucked (up)" banida da versão final do CD. Um destaque a mais vai para o belo encarte do CD original, em papel laminado, e que se abria em diversas partes, formando um mini-pôster com cada um dos rostos dos integrantes do U2, que são exatamente os rostos que forma a capa do álbum.

Embora no seu lançamento Pop tenha alcançado a primeira posição em 35 países (dentre eles Estados Unidos e Reino Unido), recebendo platina dois meses depois de chegar as lojas, os números de vendas decaíram bastante logo no mês seguinte, fazendo do álbum o menos vendido da carreira dos irlandeses. No geral, o disco recebeu ouro na Finlândia, Holanda e Polônia (mais de 30 mil cópias vendidas), Platina na Austrália, Áustria, França e Suíça (mais de 100 mil cópias vendidas), Platina no Reino Unido (mais de 300 mil cópias vendidas), Platina nos Estados Unidos (mais de 1 milhão de cópias vendidas) e Platina tripla no Canadá (mais de 300 mil cópias vendidas), sendo que em todos esses países, o disco foi o mais vendido. Mas mesmo assim, é o maior fracasso comercial da história do U2 (!), pois em termos de vendas, ganha apenas dos dois primeiros.

Capa da segunda versão do
single de "Discothèque"
Um fato interessante sobre Pop foi a respeito dos singles lançados, e que geraram versões diferentes para diversas canções do disco. No total, seis singles foram lançados internacionalmente. O primeiro deles foi "Discothèque", lançado em 03 de fevereiro de 1997, e que alcançou o número 1 nas paradas da maioria dos países europeus, incluindo o Reino Unido, onde foi o terceiro número 1 da história do U2. Além disso, o single foi o último do grupo a figurar entre os 10 mais nos Estados Unidos. Além de "Discothèque", a bolachinha traz a canção "Holy Joe" e diversas remixagens para a faixa principal.


Capa da segunda versão do
single de "Staring at the Sun"
O segundo single foi para "Staring at the Sun", lançado em 15 de abril de 1997, e que chegou entre as 40 mais nos Estados Unidos, atingindo a terceira posição no Reino Unido. O single saiu no formato K7, contendo "Staring at the Sun" e "North and South of the River", que já havia saído em um single do cantor Christy Moore, em 1995, e em dois lançamentos em CD, sendo o primeiro deles com as duas citadas mais uma canção dos Passengers chamada "Your Blue Room", e o segundo com três diferentes mixagens para a faixa principal, mais "North and South of the River".


O terceiro single foi de "Last Night on Earth", lançado em 14 de julho de 1997, mas que não se saiu bem comercialmente, atingindo a modesta décima posição no Reino Unido, e não ficando nem entre as cincoenta mais nos Estados Unidos. No formato K7, o single saiu com uma versão diferente para a canção, tendo no lado B a faixa "Pop Muzik". Já em CD, saíram dois formatos diferentes: O primeiro traz as duas canções citadas mais um cover para "Happiness is a Warm Gun" (original do The Beatles) e a segunda com uma mixagem alternativa para a faixa-título, "Pop Muzik", uma mixagem alternativa para a canção do The Beatles e uma mixagem alternativa para "Numb".


O quarto single foi "Please", lançado em 20 de outubro de 1997, que não alcançou nenhuma posição de destaque. No formato K7, o single contou com uma versão diferente para a faixa-título e mais uma nova mixagem para "Dirty Day" (do álbum Zooropa). No formato CD, constam as duas canções do formato K7, mais uma mixagem diferente para "Dirty Day" e "I'm Not Your Baby".


O quinto single foi o de "If God Will Send His Angels", que também não conseguiu boa colocação. Lançado em 8 de dezembro de 1997, o CD traz como lados B as faixas "Slow Dancing", "Two Shots of Happy, One Shot of Sad" e uma versão ao vivo em Sarajevo para "Sunday Bloody Sunday", tendo no lado A uma versão diferente para a faixa-título. Já no formato K&, constam a versão single de "If God Will Send His Angels" e uma nova versão para "Mofo".


"Mofo" também foi o último single de Pop, lançado na mesma data de "If God Will Send His Angels", sem alcançar se quer as 100 mais. No formato CD, o single saiu com duas versões alternativas para a faixa-tíitulo e mais uma nva mixagem para "If God Will Send His Angels", enquanto que no formato de 12 polegadas, o single conta cinco diferentes mixagens para a canção.


O EP da turnê PopMart


Em 8 de setembro de 1997, foi lançado Please: Popheart Live EP, apresentando quatro canções gravadas durante a turnê de promoção do álbum, batizada de PopMart Tour. Essas canções são: "Please", "Where the Streets Have No Name", "With or Without You" e "Staring at the Sun", sendo o EP e os singles, hoje, grandes raridades. Outro resquício da PopMart Tour foi o CD Hasta La Vista Baby!, lançado em 2000 exclusivamente para o fã-clube do grupo, trazendo quatorze das 25 canções apresentadas em um show na cidade do México.

Imagem do gigantesco palco da PopMart
 A turnê PopMart foi um espetáculo a parte. Durando de 25 de abril de 1997 até 21 de março de 1998, ela compreendeu 93 shows em cinco diferentes continentes, sendo que nela, foi a primeira vez que o U2 veio ao Brasil, com duas apresentações em São Paulo, no Estádio Morumbi, realizadas em 30 e 31 de janeiro de 1998, respectivamente, e uma apresentação no Rio de Janeiro, no autódromo Nelson Piquet, no dia 28 de janeiro do mesmo ano.


Além do Brasil, os países que foram agraciados com esta turnê foram: Estados Unidos, Canadá, Holanda, Bélgica, Alemanha, Suécia, Noruega, Dinamarca,  Noruega, Finlândia, Polônia, República Checha, Áustria, Inglaterra, Irlanda do Norte, Irlanda, Escócia, França, Espanha, Portugal, Itália, Bósnia e Herzegovina (o primeiro show de uma banda de rock naquele país depois da guerra que quase destruiu com o mesmo), Grécia, Israel (onde Bono foi vaiado por pedir a libertação de Mordechai Vanunu, um homem que revelou segredos nucleares dos israelenses e estava preso em seu país), México (onde foi filmado o DVD Pop Mart: Live from Mexico City, lançado em 1998), Argentina, Chile, Austrália, Japão e África do Sul, totalizando no total quatro milhões de fãs que foram às arenas por ode o grupo tocou.


Um pouco mais do belo palco da PopMart ...


Além da música, o que mais atraía na PopMart era o gigantesco palco, o qual possuia 55,2 metros de largura por 21,6 metros de comprimento. Nele, constava um enorme arco dourado, semelhante ao que forma a letra "M" da empresa McDonald's, com quase 30 metros de altura, um telão de 51 metros de altura por 16 metros de comprimento (equivalente a um prédio de cinco andares), pesando pouco mais de 30 toneladas, e ainda um enorme limão espelhado com 12 metros de diâmetro, de onde o grupo saía durante a segunda parte do show, sendo complementado por uma azeitona gigante enfiada em um palito também de proporções gigantescas No telão, imagens mostravam o poder do consumismo e do apelo popular para as compras, criticando fortemente a propaganda e outros artefatos promocionais para consumo. Essa era justamente a ideia do CD, que precisava ser ampliada na tour

Outros números da PopMart impressionam: O palco consumia 1 milhão de Watts, o que era suficiente para alimentar uma cidade de 10 mil pessoas durante uma semana. Para transportar todo o material, eram necessários 75 caminhões que carregavam 69 contêineres com mais de 1200 toneladas de equipamento no total. Junto a isso, o U2 contratava 400 funcionários locais para auxiliar com os 265 integrantes oficiais da equipe de palco. Por fim, 40 cmputadores (um absurdo na época) eram responsáveis por controlar as projeções de imagens no telão, assim como o vôo do limão e outros efeitos especiais.



Outro destaque era a vestimenta de cada integrante (com Clayton principalmente sendo a atração, tendo o rosto encoberto por uma máscara cirúrgica, touca/capacete, macacão-abóbora e com um baixo verde limão muito chamativo) e a performance teatral de Bono, sendo que o grupo subia no palco  por uma plataforma de 30 metros, como ocorre nas grandes lutas de boxe, atravessando a plateia.

... e a sátira do U2 e a PopMart do ponto de vista da série The Simpsons (acima);
Bono e Homer Simpson (abaixo)

A turnê acabou recebendo uma homenagem no episódio de número 200 do seriado The Simpsons, episódio este intitulado "Thrash of the Titans" (no Brasil, Empate de Titãs), que foi ao ar em abril de 1998, sndo que inclusive os quatro membros do U2 participam dublando seus personagens, que acabam fazendo uma apresentação na cidade de Springfield, onde vive a família Simpson.


Como ocorreu atraso para o lançamento de Pop, houve também atraso nos ensaios da turnê. Assim, os primeiros shows (que foram realizados nos Estados Unidos) tiveram alguns problemas. A estreia em Las Vegas pode ser considerada um fiasco. A voz de Bono falhou com quinze minutos de apresentação,  alguns momentos de fraca reação da plateia (talvez embasbacada pelo choque visual do palco) e com o próprio Bono pedindo desculpas para o público pela pessima apresentação daquela noite, perguntando: "Vocês ainda nos amam depois dessa porcaria?". Pior foi na apresentação em Katowice (Polônia), o grupo ficou trancado dentro do limão.

Mesmo assim, o enorme telão de LED, com uma imagem cristalina e passando milhares de efeitos e imagens diferentes, e claro, as inovações tecnológicas de palco para o ano de 1997, enchiam os olhos da plateia, mas não da crítica, que reagiu mornamente a turnê.

Poster de divulgação da PopMart,
retratando as roupas usadas por cada integrante do U2
Encerrada a PopMart, que deu mais prejuízo do que lucro por causa do alto custo de manutenção dos equipamentos de som e luz, apesar de The Edge afirmar que que não, o quarteto acabou expressando sua insatisfação com o resultado final.  Para se ter ideia dos gastos que o quarteto teve com a turnê, somente a apresentação em Sarajevo deu um prejuízo de 860 mil dólares, devido à uma manifestação local no dia do show. Somente o arco dourado e o globo espelhado que ficava dentro do limão custaram 1.6 milhão de dólar, com o telão de LED, na época o maior do mundo, custando 6 milhões de doletas. Por dia, o U2 gastou 214 mil dólares com a equipe. De forma geral, o U2 gastou mais de 180 milhões de dólares na turnê, e recebeu um pouco mais do que isso (o valor estimado de faturamento, apesar de nunca confirmado oficialmente, foi de 195 milhões de dólares).

Isso acabou refletindo nos diversos rearranjos para canções de Pop, que acabaram entrando na coletânea The Best of 1990-2000 (lançada em novembro de 2002). Esses novos arranjos foram feitos para "Discothèque", "If God Will Send His Angels", "Staring at the Sun", "Last Night on Earth", "Gone" e "Please".



O grupo também abandonou os eletrônicos, voltando para o rock simples através do álbum All That You Can't Leave Behind (2000), e aos poucos, as canções de Pop foram sendo abandonadas, até sumirem de vez dos set lists do U2, que hoje vive novamente no auge de sua carreira com o sucesso de No Line on the Horizon (2009) e a incrível turnê 360° Tour.

O consumismo retratado no enorme telão da PopMart
Voltando para o aniversariante do dia, como disse The Edge à revista Propaganda: "É difícil definir o que é Pop, por que tem muitos estilos dentro dele". Já Bono deu a melhor de todas as definições do CD: "Ele começa como uma tremenda festam e termina em um triste funeral". É essa variação das canções de Pop que o fizeram tão menosprezado depois de seu lançamento, mas hoje, passados quinze anos, fãs do U2 e do rock em geral estão re-ouvindo esse grande álbum com outros ouvidos, e certamente, daqui a quinze anos, Pop estará facilmente na lista dos melhores discos dos irlandeses, o que para mim, é um fato há alguns anos, perdendo apenas para Zooropa e o inatingível War


Acredito que assim como foi com Low (lançado por David Bowie em 1977), o nono CD do U2 está virando aos poucos o disco cult do grupo, e vários são os seguidores que, através de blogs ou sites de relações pessoais, vêm demonstrando seu carinho por suas canções. Eu sou mais um, através dessa humilde postagem, que venho tentar expressar um pouco dos imensos valores de uma obra única dos irlandenses, e parabenizar os quinze anos de uma fantástica miscigenação de sons chamada Pop.

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