segunda-feira, 8 de junho de 2009

Entrevista Exclusiva: Marcio Rocha



Olá Márcio, primeiramente gostaria de te agradecer por colaborar com o Baú do Mairon. Conte-nos um pouco sobre sua formação e suas influências

Estudei violão clássico,e música de uma maneira formal no instituto villa-lobos de música no Rio de Janeiro. Minhas influências são muitas, e de variadas searas musicais, como a MPB (minas,tropicália,etc), rock em geral, jazz e musica erudita,e sei lá mais o que

Em que ano surgiu a Luz da Ásia? Por que esse nome?

O Luz surgiu no início dos anos 90, e pelo que sei o nome era uma referência a grande influência que o grupo tinha da música oriental, principalmente a indiana e a árabe, ou seja, um grupo brasileiro com um gosto de oriente, isso já ficava evidente na própria formação da banda, cheia de instrumentos orientais, e tal. Considero o grupo um marco no Rio de Janeiro, apesar de não ter sido muito conhecido nos grandes meios, marcou muito o underground.

Como você entrou neste incrível projeto?

Entrei para o grupo no final de 95. Fui convidado para cobrir um “buraco” num show, e acabei ficando, o que foi muito bom para mim, já que foi uma grande escola, e fiz amigos para a vida inteira lá.

Além do Amistad (1999), você chegou a gravar outros discos com a Luz da Ásia?

Olha, têm algumas curiosidades aí. Após o amistad nós gravamos um disco que nunca foi lançado, a gravadora lançouno lugar um disco de lounge com um dj criando em cima de loopings de músicas da banda, eu, particularmente, nem considero esse disco como do Luz, é mais um disco do dj que fez as recriações, e algumas até ficaram legais, mas não éramos nós realmente. Outra coisa é que o meu disco Juno foi gravado no mesmo estúdio e simultaneamente ao amistad, e tenho uma sessão de gravações com o tablista indiano que participou do disco do Luz nesta mesma época, espero um dia lançar isso, antes que a fita vá para o beleléu, hehehehe

Quando começaram as sessões de gravação do álbum Juno (2000)?

Elas começaram em outubro/ novembro de 97, tipo trabalho de formiguinha, eu, minhas guitarras e o metrônomo, mais nada.

Por que demorou para ser lançado?

Várias razões. Primeiro, grana, ou melhor, a falta dela. Segundo, a impossibilidade de se formar uma banda para ensaiar o repertório, era muita gente pra colocar num estúdio. Então eu escrevi todos os arranjos, certo de que poderia contar com a ajuda dos meus amigos, e foi o que aconteceu. Quem sabia ler música, eu entregava a partitura, quem não sabia, eu passava no instrumento etc., deixei todos os músicos à vontade para interpretar do seu jeito e também de opinar em qualquer coisa que não estivesse confortável para tocar etc, mas dei sorte, tudo funcionou bacana, e o pessoal gostou. Por
tudo isso, o processo de gravação foi lento, pois tive que fazer as sessões de acordo com a agenda de cada um. Por exemplo, excetuando o moog do André Mello (da Tempus Fugit) em uma das faixas, o disco não tem tecladista, não dava mais para esperar, então escrevi os acompanhamentos e solos, transformei em midi, e com a imensa ajuda do Alex Frias, engenheiro de som, coloquei o sample para tocar o que havia escrito, então o solo de hammond no final de “Horizonte”, por exemplo,  foi o computador quem tocou, e me obedeceu direitinho, hehehehe

A idéia de usar diversos instrumentos "diferentes" como craviola, Swaramandal, cítara, ... surgiu desde o início ou foi influência de sua passagem pelo Luz da Ásia?

Ah, é claro que eu não ia deixar de convidar o pessoal do Luz da Ásia, com aqueles instrumentos maravilhosos, para dar uma forcinha, não sou bobo, né?!, é lógico que a influência do grupo tava lá, no meio de tudo. a craviola mesmo comprei do Michel, citarista do grupo, então não tem como desvincular uma coisa da outra.

Conte para nós como conheceu os músicos que tocam instrumentos orientais nesse álbum (Silvia Brasil e Alex Fonseca)

A Silvia é um do seres humanos mais bacanas que eu já conheci, uma pessoa espiritualizada, muito ligada com a índia, e que tem uma paz interior incrível, além de ser uma musicista muita criativa e tocar vários instrumentos. Eu a conheci no Luz, ela fez parte da última formação do grupo. Teu conterrâneo Alex Fonseca, conheci através do meu amigo Denner Campolina, que participou também do disco. Eu já conhecia o trabalho dele, com o Cheiro de Vida, Pepeu Gomes e tantos outros, e o convidei para tocar tabla no disco, é um grande músico e uma pessoal muito correta, que eu passei a admirar mais ainda depois dessa participação, não é a toa que o Gilberto Gil está com ele lá na banda dele.

Por que da gravação de "O Vento" em português e em inglês?

Cara, "Vento" é a única música que não é minha no disco, ela é de uma compositora chamada Eliana Teixeira, e que foi erroneamente digitada no encarte como parceria nossa. A "Wind" sim, que é a versão em inglês, é uma letra adaptada por mim e Daniel Dutra, o que caracteriza uma parceria na letra. A grande questão é que eu gravei essa música à revelia da autora (espero que ela me perdoe por isso), porque a Eliana, que foi minha colega na Villa-lobos, sumiu do mapa, tentei encontrá-la diversas vezes e não consegui, tive que “forçar” essa parceria no inglês para poder colocar a música no cd, é estranho, mas foi isso que aconteceu. Nós chegamos a defender essa música num festival da escola no final de 96, ela foi injustamente desclassificada, então nessa época ainda estava sob o efeito da música na minha cabeça. Minha idéia era ter a Eliana cantando no disco, mas não deu. hoje jamais faria uma loucura dessas. Um beijo e felicidades para ela, onde quer que esteja.

A faixa "Desolation Of Fools" para mim é a melhor do cd Juno. Quantos dias ela demorou para ser gravada e como foi o processo de construção da mesma?

Essa música estava toda na minha cabeça havia tempo, aí quando entrei no estúdio com a craviola, as guitarras e o metrônomo, foi só gravar cada parte, a base foi feita em uma sessão, e quem dita a música é a craviola e o violão, depois vieram  bateria, baixo, violino etc. Na realidade isso ocorreu em todas as músicas, as minhas partes só com metrônomo, e depois os outros instrumentos. Deu trabalho rapaz, e como..., o Alex Frias, engenheiro de som do disco, é que me salvou.

De onde veio a idéia de lançar um disco tão progressivo e setentista durante uma década onde pouco material de qualidade foi visto nas lojas?

Nem todos acharam o disco tão progressivo. Alguns disseram que era uma miscelânea, sei lá, acho que os sintetizadores fazem falta para alguns, ou algo assim. O fato é que, eu tinha acabado de terminar meu curso de violão clássico, e tava cheio daquelas idéias de orquestração, e tudo mais. As músicas foram compostas, por incrível que pareça, num período em que eu não estava ouvindo muito rock, não. Mas, no subconsciente, todas aquelas informações, que são minhas influencias, né?!, estavam presentes. Me lembro quando tava gravando “Concertino”, e toquei um trecho do violão solo, o Frias me falou que aquilo tinha um lance tipo Egberto Gismonti, e eu não ouvia os discos do Gismonti já
fazia tempo, então esse coisa toda não foi pensada, foi natural. Os anos 90 foram, com poucas exceções, os piores anos da música mundial, aqui no Brasil foi terrível, acho que melhorou muito, e a tendência, penso, é de melhora mesmo, a internet é a chave.


Juno chegou a ser apresentado ao público em uma turnê? Quantos shows de divulgação foi feito para o álbum?

Pouquíssimos. teve um como quinteto, depois alguns como quarteto e só. O que ficou dessa época é o trabalho que estou fazendo hoje com o Cláudio Cepeda, baixista do disco, que se tornou meu parceiro musical. Nós começamos a desenvolver o projeto da banda, que acabou sendo feito em duo mesmo. O CD já está gravado, e espero, em breve, estará nas ruas.

Márcio, mudando o papo, mas seguindo na música, desde quando você trabalha com venda de discos/cds?

Desde o início dos anos 90. Eu comecei colecionando disco, molequinho, nos anos 80 e foi algo natural. Confesso que não era bem esse o plano, mas o barco da vida segue e você vai junto.

E na sua coleção, quantos discos você tem?

Rapaz, não tenho mais coleção, na realidade nem tempo pra isso tenho, as dívidas falam mais alto, hehehehe

Você já chegou a colocar uma raridade à venda e depois levou para sua coleção ou vice-versa?

Não que eu lembre. Desde que comecei a negociar disco como forma de sobrevivência, eu mantive as coisas separadas, depois a coleção foi pro espaço. Eu já tive uns lps excelentes que pouca gente conhece, mesmo os mais “taradões”, hehehehe.

Existe algum vinil que você tem vontade de adquirir e que nunca viu pessoalmente?

É como eu disse, vinil é um luxo que não posso ter, mas tive um que tinha uma arte gráfica tão bacana, que talvez pudesse ter de volta por isso. É o The Pentateuch of the Cosmogony do David Greenslade, a música é meio fraquinha, mas a arte gráfica vale o disco.


Por que você acredita que ainda existem pessoas que procuram vinis? Ainda, em sua loja, seus compradores são mais de colecionadores de vinil ou de gurizada querendo conhecer som.

Os clientes da Tropicália Discos são basicamente colecionadores. Tem uma galera nova tentando começar a colecionar lps, mas hoje é mais difícil,  aqui no Rio, por exemplo, no final dos 80 tinha um monte de sebos de discos, eu era um rato-de-sebo nessa época, agora acabou tudo, não tem mais nada, só umas 3 ou 4 lojas, e só. Os discos também estão cada vez mais escassos, é difícil começar agora. 

Qual a melhor prensagem de vinil no seu ponto de vista e por que?

A japonesa, sem dúvida. Os japoneses são criteriosos ao extremo em tudo o que eles fazem. E no vinil não é diferente. 

Como vendedor de discos/CDs e também como músico, qual a sua relação com os demais músicos do Brasil, seja ele um conhecido ou não?

A melhor possível. Na loja recebo músicos conhecidos e não conhecidos, tanto do Brasil, como lá de fora, e não há distinção, procuro me relacionar bem com todo mundo.

Voltando ao som, como foi a participação no álbum "A Memória das Naus" (2008) da Roque Malasartes e também nos shows de divulgação do mesmo?

Nunca toquei com o Roque Malasartes ao vivo, quem sabe um dia, né?!. O caso é que o Raul Branco, baixista e líder-mentor do grupo, é um grande amigo meu. E, há algum tempo atrás, ele me chamou para dar uma força no arranjo de algumas músicas, até porque o grupo tava reduzido a ele e mais uns dois membros, que aliás, já não estão mais lá. Então a banda tava meio “fora de combate”, mas o Raul, que é um guerreiro, nunca desistiu desse projeto fantástico, que é o Malasartes. Então foram alguns encontros na casa dele, depois no estúdio gravando com participações de ex-membros do grupo e tal. Dessas gravações, só ficou a música “Memória das Naus”, as outras, acho que toquei em mais duas, foram regravadas pela nova formação do grupo, que foi formada depois daquelas gravações. Então acho que aqueles encontros de alguma forma, ajudaram o Raul a manter a chama acessa e seguir com o Malasartes. Além de ter sido um prazer imenso a companhia do meu compadre, foi uma honra muito grande para mim.


Como anda o projeto Juno atualmente? Quais os integrantes da banda?

Então, como disse antes, o que posso garantir é a minha presença e a do Cláudio cepeda, os outros membros tão sendo pensados no momento dessa entrevista. A princípio será um quinteto, e´o que posso falar de momento.


Ouvi a faixa disponível na internet e senti uma diferença grande na musicalidade com relação ao seu álbum solo, mesmo contando com as cordas. Na verdade, trata-se de um novo projeto ou as demais canções irão seguir a linha de seu álbum solo?

As músicas novas têm todos os elementos do meu álbum solo, só que sob uma perspectiva mais da MPB. Como essa música nova, as outras têm uma influência muito forte do clube da esquina, do Milton Nascimento e sua turma. O elemento erudito, clássico, foi abortado, ou melhor, guardado, explico, nós gravamos como trio(baixo-bateria-violão), toda a base de um concerto para violão, grupo e orquestra que compus, e que dura 30 minutos!!!, só que, para nossas pretensões, tava muito distante, então acho que devo lançar num segundo cd solo, algo assim.

Como você vê o processo de downloads e o uso da internet para venda de vinis, CDs e outros itens ligados à cultura?

Acho que a internet se tornou peça fundamental para a vida das pessoas, em todas as áreas, e com a cultura não é diferente. A internet é muito democrática, acho que é a maior revolução das últimas décadas, e veio para ficar. É claro que aspectos de mal uso, coisas como pedofilia, por exemplo, são amplificados através dela, porém, vale lembrar que , nesses casos, o problema está nas pessoas, não na rede. O que se tem de criar são mecanismos para reprimir essas coisas. Acho a internet um negócio fantástico.

Como atualiza-se sobre som hoje em dia?

Olha, tem muita coisa rolando. A internet ajuda muito nisso.

Muitos falam que o vinil era melhor para o músico por que era mais difícil de ser pirateado. Você concorda com isso?

Acho que as gravadoras sempre deram muita “rasteira” nos músicos, mesmo na época do vinil. Então quando a CBS, por exemplo, dizia que o Roberto Carlos vendeu 1 milhão de discos, pode ter certeza que eram 2 milhões, e assim vai. Com o cd foi e é a mesma coisa, essa área não tem controle. O download favorece muito mais o músico do que a gravadora, já que os músicos sempre ganharam dinheiro com shows, não com venda discos. Na realidade, bandas como o Radiohead, muito provalmente, estão ganhado mais dinheiro agora com venda de músicas pela internet e discos, do que quando eram contratados por uma grande gravadora.

Márcio, muito obrigado pela participação. Saúde, paz e sucesso pra você e pra todos próximos de ti

Eu é que agradeço essa oportunidade de está aqui no Baú do Mairon.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...