quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os três primeiros álbuns do Queen

 
Com a passagem de Queen + Paul Rodgers pelo Brasil, constatei algo que já vinha há tempos matutando: os três primeiros álbuns da banda são praticamente excluídos das apresentações do grupo. Claro, após "A Night at the Opera" o Queen se tornou uma banda muito popular (graças às belas canções "Bohemian Rhapsody" e "Love of My Life"), mas perdeu a sua essência inicial, que estava presente principalmente nos dois primeiros discos, "Queen" e "Queen II".

 
"Queen" foi lançado em 1973 através da Trident Studios, e mostrava que a banda vinha com uma forte influência de Led Zeppelin e Uriah Heep. O destaque maior, claro, ficava com os vocais de Freddie Mercury e a guitarra de Brian May (tá, todo mundo sabe a formação do Queen e como a banda surgiu, mas para quem nunca ouviu falar no grupo, o Queen foi formado em 1971 quando o Smile, formado por Roger Taylor - bateria, John Deacon - baixo e Brian May - guitarra aceitou a idéia de um tal Frederick Bulsara - Freddie Mercury - de que ele seria melhor cantor do que o vocalista que a banda tinha, formando assim o Queen). 

De cara, o álbum trás uma das (se não a mais) conhecida música dessa fase do grupo, "Keep Yourself Alive". A introdução de Brian May é um daqueles riffs no estilo de "Smoke on the Water". A pegada forte e a marcação da guitarra de May durante toda a canção levam para o refrão, o qual todo fã do Queen canta como se fosse o refrão de "Radio Ga Ga". Porém, "Keep Yourself Alive" destoa, e muito, das demais músicas do álbum. 

A próxima canção, "Doing All Right", já mostra o que os garotos britânicos eram capazes de fazer. Uma bonita balada com uma bela introdução de violão nos trás uma das melhores composições do grupo. A música alterna seções lentas e mais harmoniosas com partes mais pesadas, como o solo de Brian May. São interessantes também as intervenções de piano feitas por May (posteriormente, Mercury assumiria esse posto). As viagens de intercalação nessa faixa mostram que o Queen vinha para beirar um progessivo, mas trabalhando bastante na parte pesada das músicas, como se fosse uma banda de metal. 

Na faixa seguinte temos a primeira canção composta por Mercury (as duas primeiras foram escritas por Brian May no tempo do Smile), "Great King Rat". Essa faixa é um dos melhores exemplos do que o Queen fazia em seus primeiros anos. Com uma pegada super hard rock, a banda desenvolve uma grande canção, com um harmonioso e difícil trabalho de guitarras muito bem acessorado por Deacon e Taylor. "My Fairy King" mostra as harmonizações vocais que tornariam o grupo mundialmente famoso depois em músicas como "Bohemian Rhapsody" e "Somebody to Love" de forma mais clara, encerrando, e muito bem, o lado A.

O lado B começa com os mais de seis minutos da paulada "Liar". A guitarra estridente de May dá início a uma longa introdução, seguida de uma sequência de violões acompanhados por Mercury nos vocais. A partir de então rola um rock and roll de primeira, com uma bela participação de Taylor na bateria. A balada "The Night Comes Down" diminui um pouco o ritmo, mas isso dura até "Modern Times Rock'n'Roll", que é a primeira canção em que Roger Taylor assume os vocais no grupo. A levada é bem no estilo hard rock dos anos 70, e com certeza é uma das melhores faixas cantadas por Taylor no Queen. 

"I want you ...." abre a faixa"Son And Daughter". Essa é uma das mais pesadas do Queen, com a marcação de baixo e guitarra muito similar ao material feito pelo Black Sabbath, por exemplo (talvez não seja uma comparação muito boa, mas ela sempre me vem a cabeça quando ouço essa canção).

A gospel "Jesus" vêm para encerrar o álbum, juntamente com a versão instrumental para "Seven Seas Of Rhye ... ". As reticiências no nome da canção se devem ao fato de Mercury não ter terminado a letra na época do lançamento do álbum, portanto, algo mais estava por vir.

Em 1974 saía "Queen II". Para mim esse é o melhor trabalho do Queen na fase "não-conhecida" da banda. Aqui o quarteto mostrou que evoluía tanto na parte das letras quanto também no quesito da construção musical. O álbum abre com a instrumental "Procession", uma canção somente com a guitarra de Brian May executando um solo lento, quase como uma marcha, no melhor estilo dos solos que conhecemos de May, com muitas camadas ao mesmo tempo. É incrível como as combinações de guitarras parecem que formam uma orquestra ao fundo. 

Uma bela faixa que dá sequência a introdução de teclados de "Father to Son", seguida pela marcação da banda e a entrada primoroza de Mercury. A canção se desenvolve ao estilo de "Great King Rat", com muitas variações rápidas e ficando novamente um quase metal, com um belo solo de guitarra de May. Como disse, as vocalizações dos quatro integrantes estão mais fortes nesse álbum, e "Father to Son" é uma boa faixa para se perceber o quanto o grupo estava evoluindo. Após a paulada inicial, "White Queen" amansa os ânimos da gurizada, com um belo trabalho de piano de Freddie Mercury, acompanhado do violão de May. 

O mais interessante é que a banda se dedicava, e muito, no estúdio. "White Queen", por exemplo, trás camadas e camadas de guitarra e piano que novamente fazem parecer que você está ouvindo uma orquestra ao fundo. Uma linda música para uma bela letra. "Some Day One Day" é uma daquelas canções em que Brian May vem, canta e não agrada, destoando um pouco das demais, afinal o grande vocalista da banda era Mercury (apesar de Roger Taylor ter uma bela voz), mas as canções cantadas por May não combinavam com as demais. Pule essa e vá para "The Loser in the End", cantada por Taylor, a qual segue a mesma linha de "Modern Times Rock´n´Roll", com uma pegada um pouco mais lenta, mas mesmo assim vibrante, encerrando muito bem o lado A .

A guitarra ensurdecedora de Brian May abre as portas para"Ogre Battle" no lado B, uma das melhores canções do Queen, com uma levada bem metal. "The Fairy Feller's Master Stroke" e "Nevermore" abrem espaço para os dez minutos de "The March of the Black Queen", um som "progressivo" comparado com as demais canções do Queen, e que trás uma bela participação do piano de Freddie Mercury, bem como os vocais de Roger Taylor. Finalmente, temos a versão com letra para "Seven Seas Of Rhye", que se tornou a música mais conhecida do disco. 

Um detalhe interessante sobre "Queen II" é que a capa do álbum trás a famosa imagem da banda que viria a aparecer depois no clip de "Bohemian Rhapsody", e, além disso, muito foi falado de que o trabalho era conceitual por, por exemplo, ter uma faixa chamada "White Queen" e outra chamada "Black Queen", mas, segundo os próprios músicos, isso era apenas um acaso.



No mesmo ano foi lançado "Sheer Heart Attack", que abre com a paulada "Brighton Rock". A música possui uma pequena intervenção vocal feita por Mercury, mas é totalmente construída em cima de um solo de May, mostrando a sua capacidade de tocar (e bem) com o sistema de retorno da guitarra, construido assim diversas camadas sonoras, uma atrás da outra, durante o solo. Rápida e forte, "Brighton Rock" virou um símbolo de que a música do Queen era voltada para pessoas que realmente gostavam de vários estilos musicais, mas o metal era a principal linha da banda. 

Após, temos o piano introduzindo a clássica "Killer Queen". Gravada inicialmente como um desaforo para a elite inglesa, "Killer Queen" tornou-se um sucesso sem dimensões para a banda, e isso, na minha opinião, fez com que Brian May, Freddie Mercury, John Deacon e Roger Taylor se ligassem de que era possível fazer dinheiro com a história de tocar rock and roll. O estilo cabaré de "Killer Queen" acabou virando a marca da banda nos anos 70, reaparecendo bastante nos álbuns posteriores (como em "Seaside Rendezvous" e "Good Old Fashioned Loverboy"). Enfim, é um clássico, mas que acabou levando o grupo para outros trilhos. 

Voltando ao álbum, "Tenement Fuster" é a canção interpretada por Taylor no disco. Não tão boa quanto as duas cantadas por ele anteriormente, "Tenement Fuster" possui um acompanhamento mais melódico, vindo do piano de Mercury e do baixo de Deacon. Seguem "Flick of the Wrist" e "Lily of the Valley", chegando em outra clássica, "Now I'm Here", que fecha o lado A com pompa, agora com Mercury utilizando o processo de retorno de May nos vocais.

O lado B abre com a bela "In the Lap of Gods", que acabou sendo ressuscitada na turnê "Live Magic". "Stone Cold Crazy" é a mesma gravada pelo Metallica no álbum "Garage Inc.". O último suspiro de metal da banda, uma paulada rápida bem melhor que a versão cover. 

"Dear Friends" é uma pequena balada com Freedie nos vocais e piano. Essa faixa veio anos depois a encerrar o LP "George Michael & Queen", servindo como uma despedida de Freedie para os fãs da banda. "Misfire" é uma daquelas canções alegres, que você vê nos filmes teens norte-americanos, quase como uma música caribenha. Mesmo assim, o timbre da guitarra de May aqui é forte. 

"Bring Back that Leroy Brown" é outra no estilo cabaré, que aparece mais como preenchimento do álbum. "She Makes Me (Stormtrooper in Stilettos)" vem como uma marcha, com o violão, baixo e bateria marcando o ritmo em uma mesma sequência durante toda a canção. O álbum encerra com "In the Lap of the Gods Revisited". 

A canção "Sheer Heart Attack" foi lançada somente em 1977 em "News of the World", já que na época do término das gravações do álbum de mesmo nome ela ainda não estava totalmente pronta, o que é uma pena, pois ela segue o mesmo estilo de "Stone Cold Crazy" e se encaixaria muito bem nesse disco.

Após isso, a banda se embrenhou em estúdio para a gravação daquela que é sua obra-prima, o clássico "A Night at the Opera", mas isso é assunto para outra seção neste blog. Vale muito a pena investir uns cobres e ouvir essa fase inicial do grupo, principalmente se você curte guitarras pesadas e boas hamonizações vocais, pois o Queen sempre foi capaz de agradar a todos os gêneros, desde o jazz até o pop mais rasgado. 

Infelizmente, hoje a banda sai em busca de dinheiro, mesmo contando com um excelente vocalista que é o Paul Rodgers, mas que não tem a capacidade emotiva de Freddie Mercury e muito menos o talento para embalar multidões que o mesmo tinha. Claro, as novas canções podem até ser boas, mas somente Freedie conseguia arrancar lágrimas verdadeiras do povo em "Love of My Life". Quem viu a banda em 1981 ou no Rock in Rio de 1985 e assistiu dessa vez sabe muito bem do que estou falando. Li várias críticas a respeito dos shows no Brasil, e a do Régis Tadeu foi muito próxima ao que penso. O respeito com os fãs deve ser muito maior, não podendo a banda ficar atrás do nome "Queen + Paul Rodgers". 

God Save The Queen!

Um comentário:

  1. Gostei de seu post sobre o queen peguei uma foto para ao meu blog!!
    AbÇO

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