quinta-feira, 1 de março de 2012

Big Brother & The Holding Company




Um dos mais importantes grupos da era do flower-power, e também da história da música, o Big Brother & The Holding Company é tido pela maioria das pessoas como o grupo que revelou a maior cantora de todos os tempos, Janis Joplin. Mas isso é uma injustiça tremenda. Com Janis Joplin nos vocais, o Big Brother & The Holding Company lançou apenas dois discos. Porém, após a saída de Janis, em 1968, o Big Brother & The Holding Company continuou carreira, lançando mais dois álbuns, cada um com um vocalista diferente.

O grupo se afastou dos palcos nos anos 70, voltando a ativa em 1987 para uma pequena sequência de shows, e depois, nos anos 90, através de um resgaste dos grupos californianos, e também em cima da imagem de Janis Joplin, foram lançados diversas coletâneas e álbuns ao vivo, além de dois álbuns de estúdio com canções inéditas.

Tudo começa em 1965, quando o ex-colega de banda de Jerry Garcia, o guitarrista Peter Albin, conheceu o outro guitarrista, Sam Andrew. Albin possuía influências do blues e do country, enquanto Andrew vinha de uma formação jazzística, muito influenciada pelo período de dois anos que ele viveu morando em Paris. Porém, a afinidade musical da dupla surgiu de imediato, e logo, como muitos garotos da época, decidiram formar uma banda.
Uma das primeiras fotos do Big Brother & The Holding Company:
Chet Helms (produtor), Sam Andrew, Peter Albin, Chuck Jones e James Gurley

O primeiro a entrar no grupo foi mais um guitarrista, James Gurley. Gurley era o mais velho dos três, tendo como experiência uma passagem pelo grupo Progressive Bluegrass Boys, onde chamou a atenção de uma pessoa que também foi muito importante para o surgimento do Big Brother: Chet Helms. Helms era um famoso produtor da região de San Francisco, e quando descobriu que uma nova banda estava surgindo, foi ele quem sugeriu de apresentar Gurley aos dois garotos.

O encontro foi feito entre o quarteto e mais um jovem baterista, Chuck Jones, e ali, nascia o Big Brother & The Holding Company, com Albin e Andrew se alternando nas vozes e no baixo., tendo o nome inspirado no famoso jogo Banco Imobiliário. O grupo começou a fazer shows pela região da bay area, e em janeiro de 1966, Jones foi substituído pelo baterista David Getz. Getz também vinha de uma carreira ligada ao jazz, e sua habilidade com as baquetas chamou a atenção, principalmente pelo seu estilo irreverente e sempre alegre.

A entrada de Getz deu um novo gás, e logo, o Big Brother & The Holding Company passou a figurar como atração principal na famosa casa de shows Avalon Ballroom. O som do grupo era puramente psicodélico, inspirado bastante em longas improvisações instrumentais. Porém, sob o comando de Helms, o quarteto foi obrigado a escolher um vocalista, com a justificativa de que só assim iriam conseguir um bom contrato. Assim, surge o nome de Janis Joplin.
A adolescente Janis Joplin
Janis começou a sua carreira muito cedo. Nascida em Port Arthur (Texas), com apenas 10 anos, já era a cantora principal no coral da Igreja de Cristo, onde passou a ter contato com cantoras como Billie Holliday, Big Mama Thorton e aquela que Janis dizia ser sua maior influência: Bessie Smith. Além diss, Janis tinha uma incrível habilidade com a pintura, chegando a expor alguns quadros em um café de Port Arthur, pouco depois de completar 16 anos.


Enquanto cursava o ensino médio na escola Thomas Jefferson, passou a ter contato com o folk, e começou a fazer seus primeiros mini-shows. Logo após concluir o ensino médio, entrou para a Lamar State College Technology, em Beaumont (Texas), passando a transitar por Los Angeles e Venice, ambas na Califórnia. Janis acaba fugindo da escola, e vive um período de experimentações para Janis, sobrevivendo graças a um bico de telefonista em Los Angeles. É por lá que começa a ter contato com anfetaminas e drogas mais pesadas, além de, por abuso de álcool, ser internada em um hospital na cidade de Beaumont, para poder fazer uma desintoxicação. Janis viveu na Califórnia até 1961, quando completou 18 anos, e voltou para Port Arthur, onde passou a investir na música, realizando seu primeiro show justamente na virada do ano de 1961 para 1962, no Halfway House, em Beaumont. 



Janis no início de carreira, ao lado de Jorma Kaukonen

No ano seguinte, Janis passa a cantar regularmente no Purple Onion, na cidade de Houston, e no já citado Halfway House, apenas com seu violão, até decidir mudar-se para Austin, onde passa a integrar a University of Texas, ganhando a vida como garçonete em um boliche e sendo a cantora de um grupo de blues, batizado de The Waller Creek Boys, ao lado do amigo Powell St. John. É nesse ano que ela gravou suas primeiras canções: um jingle para um banco local, que ficou conhecido como "This Bank Is Your Bank", e o seu primeiro compacto, o blues "What Good Can Drinkin' Do".

Em 63, Janis abandona de vez a universidade, e muda-se para San Francisco, onde conhece o produtor Chet Helms, o qual é responsável por colocá-la no cenário musical da cidade no dia 25 de janeiro de 1963 (seis dias após completar 20 anos), com Janis fazendo sua primeira apresentação no Coffee and Confusion,  ao lado do guitarrista Jorma Kaukonen (que depois iria fazer parte de uma das principais formações de outro grupo extremamente relevante de San Francisco, o Jefferson Airplane). A partir de então, Janis peregrinou por botecos e estúdios, criando um círculo de amizades com pessoas como David Crosby, Nick Gravenites, Peter Albin entre outros. São os amigos que fazem de Janis uma das atrações centrai do Monterey Folk Festival daquele ano.

Powell St, John, Jorma Kaukonen e Janis Joplin


Mas San Francisco era pouco para a jovem Janis, e ela decide mudar-se para Nova Iorque, onde envolve-se com heroína. Na Terra da Maçã, Janis permanece por um ano, até  voltar para San Francisco, pesando pouco mais de 40 quilos e consumindo uísque com anfetaminas sem parar. Doente, a solução foi voltar para o Texas, onde fez um tratamento de desintoxicação que durou seis meses, quando surgiu o convite para Janis integrar a linha de frente do Big Brother & The Holding Company.

Janis saiu do Texas e voltou para San Francisco. No dia 04 de junho de 1966, ela fez seu primeiro ensaio com o grupo, e seis dias depois, já estava cantando no Avalon. A entrada de Janis acabou mudando o som do Big Brother. Se antes o grupo era levado pelas longas experimentações instrumentais, agora fazia um som mais convencional, bem característico de outros grupos que começavam a surgir, como o já citado Jefferson Airplane, Moby Grape e Quicksilver Messenger Service.


Sequência de fotos de Janis nua

Assim, começa a surgir uma pequena legião de fãs do grupo, e no final de 1966, a gravadora Mainstream, cujos lançamentos eram caracterizados principalmente por pertencerem ao jazz, fechou contrato para o primeiro disco. O Big Brother & The Holding Company tornou-se o primeiro grupo de rock a assinar com a Mainstream, e nos dias 12, 13 e 14 de dezembro, o quinteto vai para Chicago, onde gravam todo o material para ser lançado na estreia.

Porém, algumas divergências quanto a produção e mixagem final acabaram atrasando o lançamento do mesmo. Antes de ver o álbum na íntegra, o compacto com "Blind Man" / "All is Loneliness" chegou no mercado em junho de 1967, mesmo mês que o grupo foi uma das principais atrações do Monterey Pop Festival.


Sequência de imagens no Monterey Pop Festival de 1967

Apresentando-se no dia 17 de junho, o grupo foi o segundo a entrar no palco, e colocou o local abaixo. Com uma performance estonteante, e com uma Janis Joplin alucinada, era a apresentação perfeita da banda para o mundo. Naquela tarde, o grupo apresentou as seguintes canções: "Down on Me", "Combination of the Two", "Harry", "Roadblock" e "Ball and Chain". A apresentação foi muito bem recebida, mas problemas contratuais fizeram com que os membros do grupo não concordassem com a gravação do áudio e do vídeo da mesma, sendo a mesma até hoje perdida na mente dos presentes. Porém, no dia seguinte, o grupo voltou ao palco para fazer uma curta apresentação, onde tocaram "Combination of the Two" e "Ball and Chain", e finalmente foram filmados. Ainda hoje, todos os que assistem ao vídeo de "Ball and Chain" arrepiam-se com os gritos encapetados de Janis, que parece estar sozinha no palco, mesmo estando em frente à milhares de pessoas. Era a consagração logo na sua estreia diante de um grande público.

O sucesso em Monterey ocorreu semanas antes da Mainstream Records lançar o primeiro álbum, apressando também o segundo compacto, com "Down on Me" / "Call on Me", que chegou na quadragésima terceira posição, permanecendo entre as cincoenta mais por oito semanas. O problema é que a Columbia Records já havia entrado na jogada.


A estreia vinílica do grupo


Em agosto, finalmente a estreia vinílica. Batizado apenas de Big Brother & The Holding Company, o disco já saiu entre os 100 mais vendidos no Estados Unidos, onde permaneceu por 30 semanas. 

Compacto de "Bye Bye Baby"
O álbum abre com os acordes de guitarra quase country de Andrew, trazendo os vocais de Janis cantando “Bye Bye Baby”, um leve country, que é uma canção co-autoria entre Powell St. John (único creditado) e Janis. A parte central é um pouco mais agitada, e o principal destaque vai para os acordes de Gurley e Andrew durante o bonito solo da canção. A parte agitada é repetida, voltando então para o início da canção, com Janis encerrando a letra de uma simples canção de abertura, a qual é concluída com um imponente final, onde bateria, baixo, guitarras e o vocal de Janis soam alto. 

Depois, é a vez de termos mais um pouco de country rock em “Easy Rider”, cantada por Gurley e lembrando muito o estilo de cantar de Bob Dylan, com intervenções vocais de Janis. Um breve trecho instrumental leva o solo de Albin no baixo, com palmas e a marcação da bateria e das guitarras, voltando para a sequência da letra, encerrando com os gritos de todos os integrantes da banda cantando o nome da canção.


A psicodelia surge em “Intruder”, uma agitada faixa, onde o ritmo marcial de bateria e baixo, com as intervenções lisérgicas das guitarras, acompanham os gritos esganiçados de Janis, na primeira canção totalmente composta por ela. O solo de Andrew intercala tentativas frustradas de tocar rápido e rasgados bends agudos, voltando para os gritos dilaceradores de Janis, mostrando ao mundo as vocalizações com “na-na-na” que se tornariam marca registrada. Destaque também para a interessante participação de Getz na bateria. 
O lado A de Big Brother & The Holding Company

“Light is Faster Than Sound” é a principal representante da psicodelia nesse álbum. O riff hipnótico da guitarra traz as vocalizações de todos cantando o nome da canção e a letra viajante da mesma, tendo apenas o acompanhamento do chimbal. A canção então ganha ritmo através das investidas agudas e tenebrosas da guitarra, para Albin cantar a segunda parte da letra, com Getz detonando na bateria. As vocalizações retornam ao início da canção, sempre com o hipnótico riff da canção, e então, Albin e Gurley são responsáveis pelo magistral solo da mesma, onde Gurley quase arrebenta as cordas, entre engasgos e bends muito fortes, e a canção encerra-se com Albin cantando sua parte sozinho, enquanto o grupo entoa o nome da canção.

“Call on Me” diminui o ritmo, sendo mais uma calma canção, similar a “Bye Bye Baby”, cantada por Andrew e Janis. A bonita letra da mesma é o principal destaque, além do arranjo singular, e claro, do refrão bem flower-power, falando do amor entre um homem e uma mulher. Eu gosto muito da frase “I need you darling like the fish need the sea”, seguido pelos gritos rasgados de Janis dizendo “don’t take you sweet sweet love from me baby”. Simples canção, mas podemos dizer, bem encaixada no contexto do álbum, e que encerra o Lado A. 


Compacto de "Women is Losers"
O lado B abre com “Women is Losers”, um deboche bluesístico de Janis Joplin às mulheres, utilizando-se claro, de acordes bluesísticos da guitarra e do baixo, sobre um ritmo marcial da bateria para Janis rasgar suas cordas vocais. A segunda parte da canção possui um dedilhado ao fundo, e o mais arrepiante são os gritos orgiásticos de Janis, além do solo totalmente sem técnica de Gurley, com várias engasgadas e empregando muitos bends, mas que apesar de toda simplicidade, não dá para negar seu valor.

A primeira canção composta pelo quinteto vêm na sequência, com “Blindman”, cantada pela voz grave de Albin sobre uma escala diminuta da guitarra e do baixo, onde Janis fica encarregada apenas de fazer as vocalizações durante o refrão. Outra canção simples, mas bem representativa do som da Califórnia, ainda mais com o solo de Andrew, que demonstra aqui ser o mais talentoso dos músicos do Big Brother & The Holding Company, além da boa performance vocal de Albin, que ao lado de Janis, encerra essa canção com gritos tristes dizendo “show me the way to go home” enquanto Andrew sola ao fundo.

Compacto de "Down on Me"

O agito volta em “Down On Me”, uma canção tradicional no gospel americano, aqui re-arranjada por Janis, e que também utiliza-se de escalas diminutas para construir uma dançante faixa, com destaque para as linhas de baixo de Albin, e claro, a importante participação de Janis. Getz capricha nas viradas, e de forma geral, essa canção tornou-se o primeiro clássico da carreira do grupo.

A engraçada “Caterpillar” vem na sequência. Outra composta e cantada por Albin, fala sobre um rapaz implorando pelo amor de uma garota, comparando-o a uma lagarta, uma borboleta e um dinossauro pterodactil, pedindo pelo amor da menina deseja sobre um ritmo agitado e muito bom. Novamente, Janis ficou relegada apenas a fazer as vocalizações ao fundo que referem-se ao amor da menina.

Por fim, a viajante “All is Loneliness”, de L. Hardin. Outra boa representante da psicodelia, que começa com a nota repetitiva da guitarra, com um efeito muito estranho, trazendo o tema do baixo e a marcação do baixo. As vozes masculinas vão brotando dos sulcos do vinil aos poucos, cantando o nome da canção, assim como a voz de Janis, e passam a se sobrepor. Então, a percussão, junto da marcação de marimbas e da nota repetitiva da guitarra, bem como o tema do baixo, acompanha a interpretação sensual e delirante de Janis, com sua voz fanha e rasgada, arrancando arrepios com seus longos gritos, parecendo uma gata no cio. Belíssima faixa, que peca apenas por sua curta duração, com pouco mais de dois minutos, mas que ao vivo, facilmente estendia-se até mais de 10 minutos de duração, com muitos improvisos vocais e instrumentais. 
O lado B de Big Brother & The Holding Company

O relançamento em vinil pela gravadora Columbia, no ano seguinte, adicionou ainda mais duas faixas, “Coo Coo”, uma bela canção composta por Albin, com Janis mostrando sues dotes vocais enquanto o baixista executa o papel da guitarra, fazendo o solo da canção, e que seria posteriormente transformada em uma das principais canções do segundo álbum, como veremos a seguir, e “The Last Time”, outra canção composta por Janis, e que aproveitando-se de sua influência jazzística, ela utiliza todos os dotes para cantar rasgadamente, com agudos fortes e entusiasmantes, quase chorando ao falar as palavras “don’t you understand me”. Na versão em CD que aparece na caixa Box of Pearls, lançada como coletânea de todos os álbuns que Janis gravou oficialmente em 1999, além de “Coo Coo” e “The Last Time” foram adicionadas versões alternativas para “Call on Me” e “Bye Bye Baby”, que acrescentam pouco perto do vasto material que ficou de fora desse belo, porém curto LP. 


Um terceiro compacto chegou a ser lançado, com "Women is Losers" / "Light is Faster Than Sound", mas que não fez sucesso. Ao mesmo tempo que a Columbia Records, motivada pelo enorme sucesso de Monterey, decidiu investir no quinteto, bancando o contrato inicial de cinco anos que a Mainstream tinha, e relançando o álbum de estreia com duas canções novas.

David Getz, Peter Albin, Janis Joplin, James Gurley e Sam Andrew
O primeiro passo da Columbia foi organizar uma extensa turnê de promoção pelo Estados Unidos é agendada, com o grupo sendo um dos primeiros do lado oeste a se apresentar no lado leste do país, mais precisamente em Nova Iorque, no dia 17 de fevereiro de 1968. Esse show fez com que a imprensa especializada pagasse pau de vez para Janis. Se antes era mais uma a fazer parte da banda, agora ela era tratada como a estrela soberana, com jornais e rádios enaltecendo suas performances cada vez mais incendiárias, e destruindo a performance dos demais membros do Big Brother & The Holding Company, chamando-os de fracos e incapazes de acompanhar Janis.

Mesmo assim, isso não atingia (a princípio) os integrantes, e eles continuaram firmes com a turnê, voltando novamente para Nova Iorque, onde inauguraram a casa Fillmore East, no dia 08 de março de 1968. Nessa turnê, a Columbia percebeu logo no início que a banda mão era preparada para os estúdios, e assim como outro seminal grupo de sua geração, o Grateful Dead, o ponto alto eram os shows. Capturar o que o quinteto fazia em cima dos palcos era fundamental para o vinil, e não levá-los para um ambiente onde não estavam adaptados. Era no palco que o grupo improvisava, Janis soltava a voz e principalmente, as guitarras de Andrew e Gurley fundiam-se em uma massa sonora, apelidada por Gurley de freak rock, e que fazia o diferencial do Big Brother & The Holding Company das demais bandas. 

O projeto então foi lançado: gravar um disco ao vivo. Assim, o show no Grande Ballroom de Detroit foi registrado, assim como outros que no geral, tiveram os resultados finais das gravações não agradando nem a banda e nem o produtor John Simon.

O projeto foi cancelado, e então, começou o período de dez dias nos estúdios, que claramente não era o lugar de Janis e cia, onde as canções foram gravadas ao vivo, e depois mixadas com gritos de público e aplausos. Além disso, todos os cinco estavam incomodados com a produção de Simon, alegando divergências musicais. Outro problema surgiu no nome do mesmo. Inicialmente, a ideia era Sex, Dope and Cheap Thrills, mas a Columbia achou o título ofensivo demais.

O essencial Cheap Thrills
Então, em 12 de agosto de 1968, Cheap Thrills chegou às lojas, e chegou chegando. Um álbum sensacional e essencial. Ao lado de Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane) e Moby Grape (Moby Grape), faz a trilogia essencial dos discos californianos do final da década de 60.

Barulhos de guitarra afinando, assim como bateria, trazem a voz de Bill Graham apresentando o grupo, e os aplausos de uma plateia falsa abrem espaço para a percussão e o tema marcado de baixo e guitarra, deixando Gurley solar com sua guitarra ardente e regada de lisergia, chegado ao rápido ritmo da canção, onde as vocalizações de Janis e Albin acompanham a letra cantada por Andrew. O ritmo dançante muda, ganhando o peso dos tons de Getz, e com Janis dando gritos alucinantes, acompanhada pelo tema marcado de guitarras e baixo. Andrew retorna à letra, que homenageia as casas de shows de San Francisco, sempre acompanhado pelas vocalizações de Albin e Janis, levando novamente para o tema dos gritos de Janis, onde podemos perceber a juventude de sua voz exalando em cada poro de seu corpo. A introdução é repetida, para ouvirmos mais um solo de Gurley, onde com notas muito rápidas, tendo um efeito em seu instrumento que é representativo das doses de LSD que consumiam as mentes hippies do final da década de 60, ele dá uma pequena amostra da evolução técnica que havia ganho desde o primeiro álbum. Destaque também para as importantes linhas de baixo de Albin, e assim, “Combination of the Two” encerra-se com a última estrofe de Andrew, fazendo muitas vocalizações, levando as vocalizações gritadas de Janis, puxando o grupo para cantar com ela, e finalmente, com uma melodia vocal de Andrew, Janis e Albin. 

Os aplausos finais de “Combination of the Two” abrem “I Need a Man to Love”, e mais aplausos surgem após o riff de Andrew surgir nas caixas de som, começando seu breve solo introdutório. Janis passa a cantar sobre a levada bluesística da canção, com sua voz rouca e triste na primeira estrofe, e de forma mais aberta na segunda, na qual conta com a parceria vocal de Andrew e Albin. O que Janis faz com a voz, alargando as cordas vocais o máximo que faz, é quase que impossível de acreditar que estamos ouvindo um ser humano. O blues leve e sensual segue, com Andrew fazendo intervenções, e mantendo a mesma linha da primeira parte da canção, apenas adicionando mais vocalizações, influenciados pelo estilo gospel trazido por Janis. O solo de Andrew é bem diferente do estilo de tocar de Gurley, com notas mais claras, sem tantos efeitos e bem mais técnico, voltando então para a estrofe inicial que leva para o final de um grande clássico. 

Outro clássico vêm na sequência, com a cover “Summertime” (original dos irmãos Gershwin). O arranjo feito por Andrew para essa canção é fantástico, tornando-a uma depressiva canção desde seu clássico tema inicial feito pela guitarra de Andrew, acompanhado pela leveza do baixo e bateria. As guitarras sobrepostas, entoando temas distintos, apresentam a voz mais que chorosa de Janis. Se o que ela faz em “I Need a Man to Love” é sobre-humano, “Summertime” é ainda absurdamente superior. Janis solta a voz como se fosse um tigre atrás de um prato de comida, e faz de uma alegre (na versão dos irmãos Gershwin) canção, uma das mais corta-pulsos que o mundo já ouviu. Andrew também está tocando muito, justificando a sua escolha para seguir ao lado de Janis, pois nessa época, sem dúvida ele era o mais técnico do quarteto instrumental. Maravilhosa faixa, com uma maravilhosa interpretação, em uma versão definitiva para a mesma. 

E como não podia ser diferente, o lado A encerra-se com outro grande clássico, “Piece of My Heart”, mais um cover, agora para a canção de Bert Berns e Jerry Ragamov, começando com o belo solo de Andrew sobre a levada agitada de baixo, bateria e guitarra, trazendo as vocalizações de Janis e Albin e virando uma tímida balada sessentista, que aos poucos, levada pela interpretação vocal de Janis, cresce, e como um Tsunami, derruba tudo o que vem pela frente. O refrão, um dos mais fortes da carreira de Janis, grita “take another little piece of my heart baby” com uma dor dilacerante, acompanhado pelas vocalizações muito bem trabalhadas de Albin e Andrew, demonstrando mais uma vez a evolução técnica que o grupo ganhou de um álbum para outro. Mais uma vez, temos a oportunidade de conferir um pouco da técnica de Andrew, apesar de ele engasgar bastante em seu solo, e voltamos para o refrão, com Janis cantando forte a frase cita, encerrando a canção com a repetição da introdução. 

O lado A de Cheap Thrills

O Lado B abre com “Turtle Blues”, a qual conta apenas com a participação de Albin no violão, John Simon no piano e Janis nos vocais. A impressão que essa canção passa é a de ter sido gravada em um boteco qualquer por causa dos samplers de copos quebrando, conversas e barulhos típicos de um bar. O piano de Simon abre a canção, trazendo a voz debochada de Janis em um blues anos 20, onde Albin apenas faz a marcação dos acordes E, A e B, enquanto Simon dedilha o piano, e Janis, obviamente, detona sua garganta. O solo de violão feito por Albin surpreende, pois afinal, o baixista do grupo toca muito bem as seis cordas, deixando Janis concluir a letra de um blues único dentro da lisergia californiana, já que não existe nenhum outro grupo daquele estado que tenha gravado algo tão raiz quanto “Turtle Blues”, em um ritmo entusiasmante, onde o suposto público começa a acompanhar com palmas os vocais de Janis, concluindo com gritos, tosses e alguns aplausos. 

Depois, o grupo reaproveitou “Coo-Coo” (que ficou de fora da versão original do álbum de estreia) e transformou-a em “Oh Sweet Mary”, uma das melhores canções do grupo, que também surpreende por trazer Albin na guitarra solo e Gurley no baixo. Uma batida no prato traz o melodioso solo de Albin logo no início, com Getz batendo nos tons, Andrew tocando a gutiarra como uma cítara e Gurley destruindo em escalas velozes no baixo. Andrew canta a letra da canção, acompanhado pelo ritmo viajante da canção, e então, um longo grito de Janis muda tudo 180º, virando uma lenta balada regada de vocalizações, para então, voltar à doideira inicial. Albin sola com um conhecimento do instrumento impensável para um baixista, e Gurley participa muito bem com suas velozes escalas no baixo. Lisergia pura, característico do período. Vocalizações permeiam os bends, escalas rápidas e vibratos de Albin, enquanto Getz delira nos tons e pratos, para Andrew voltar à letra,repetindo o longo grito de Janis, com as vocalizações, levando para mais um grande solo de Albin, agora variando acordes com fúria, acompanhando as batidas fortes de Getz, e encerrando com vocalizações em crescendo, acompanhadas por batidas marcadas de guitarra, bateria e baixo. 

O lado B de Cheap Thrills

Cheap Thrills encerra com a melhor canção já gravada pelo Big Brother & The Holding Company, e um dos principais momentos da carreira de Janis Joplin, a clássica “Ball and Chain”. Original de Big Mama Thorton, aqui ela recebeu um arranjo todo especial, com acordes menores que transformaram um alegre jazz em um blues escaldante, sofrido e assustadoramente arrepiante. Em uma longa versão ao vivo, "Ball and Chain" é a única canção realmente gravada em um show. Apesar de constar na capa como sendo uma gravação de um show no Fillmore, na verdade a versão de Cheap Thrills foi registrada no Winterland Ballrom, em 1968, sendo esta a mesma versão que aparece em Live at Winterland '68, lançado em 1998, porém com um overdub em relação ao solo inicial.

Um tema marcado de guitarra e bateria, e alguns segundos de expectativa, dão espaço para a a insana sequência de notas da guitarra de Gurley, começando um sensacional blues, de arrancar os cabelos tamanha a dramaticidade exalada pelos timbres tenebrosos da Gibson SG de Gurley. O curto solo inicial irá competir com a interpretação vocal de Janis, que surge logo após, cantando baixo, e com um quase inaudível andamento de bateria, baixo e guitarra. Lentamente, Janis vai dando corpo para a canção, aumentando a densa cama sonora junto com os acordes da guitarra, para entoar o famoso refrão “And I say, oh, whoa, whoa, now hon 'Tell me why Why does every single little tiny thing I hold on to go wrong?", onde as marcações de bateria, baixo e guitarra acompanham os “whoa-whoa” de Janis, que capricha no sentimento. 

A primeira estrofe é concluída, voltando então para a repetição da letra, e aqui começa o show particular de Janis. Se em “Summertime” temos uma interpretação vocal absurdamente superior a tudo o que você já ouviu na vida, em “Ball and Chain” a casa cai. Janis bota no chão todas (eu digo todas mesmo) as cantoras de rock, jazz, blues, ..., qualquer estilo, como que se sozinha em sua casa, agonizasse os últimos minutos de sua vida, defendendo-se através de um canto. O que a mulher faz não da para descrever em nenhuma palavra. 

Baixinho, ela sussurra a letra da canção, junto do leve acompanhamento do quarteto instrumental, chegando no refrão, e sai de baixo. Os “Tell me, tell me” sofridos, seguidos de gritos roucos, agudos, botando o útero para fora, são capazes de fazer uma pedra chorar. É ouvir e gozar de um dos momentos mais sublimes da música popular mundial. 

Mais gritos levam ao rasgadíssimo solo de Gurley. A inspiração do homem também é sobrenatural. Os longos bends, com a ajuda de uma distorção suja mas polida, completam essa obra de arte, voltando então para o refrão, com Janis fazendo aquilo que ela dizia ser “sexo com mil pessoas ao mesmo tempo”, cantando muito, soltando palavras soltas e muito alucinada. 

O ritmo diminui para Janis mais uma vez repetir a letra, agora com o volume muito baixo (outra demonstração da evolução técnica do grupo), partindo para o crescendo final, que explode no refrão mais uma vez. Ouvir “this can't be”, e os “no no no”, fora todos os gritos extraídos sabe lá Deus da onde, deixam o ouvinte arrepiado por dias, e finalmente, o longo grito final de Janis a deixa a capella, em um show só seu, diante de um público que aplaude e ovaciona encantado com a ainda jovem garota, e é possível ouvir a emoção de Janis, chorando ao microfone, quando fala as duas últimas palavras, que são o nome da canção, com o público inteiro aplaudindo muito o que acabou de presenciar. Depois disto tudo, ouvimos uma pequena vinheta, que era a responsável pelo encerramento das apresentações em Winterland. 

O relançamento em CD na caixa Box of Pearls veio com mais quatro canções bônus: “Roadblock”, “Flower in the Sun”, “Catch Me Daddy” e “Magic of Love”, as duas últimas gravadas ao vivo no The Grande Ballroom (02/03/1968).

Capa interna de Cheap Thrills

A capa original, assim como o nome, também foi modificada. Pensada primeiramente como uma foto dos membros do grupo totalmente nús em um quarto de hotel, as imagens não agradaram a nenhum dos membros. Então, surgiu a pessoa de R. Crumb, que criou uma das capas mais famosas do rock. A ilustração final, planejada como sendo a contra-capa, acabou virando a capa verdadeira, trazendo diversas caricaturas dos membros do grupo, refletindo momentos da banda fora dos palcos e também no palco, além de citar o nome de todas as canções de alguma forma.

O disco alcançou a oitava posição nas paradas da Billboard dois meses depois de seu lançamento, chegando ao número 1 por oito vezes, mas não consecutivas. O single de "Piece of My Heart" se tornou o mais vendido daquele ano de 1968, e não demorou muito para atingir a surpreendente marca de um milhão de cópias vendidas, conquistando disco de ouro.

Oito canções acabaram ficando de fora do LP, as quais são: "Catch Me Daddy", "Farewell Song", "Magic of Love", "Amazing Grace", "Hi-Heel Sneakers", "Harry" (todas lançadas posteriormente no álbum Farewell Song, de 1982), "It's a Deal" e "Easy Once You Know How", essas duas lançadas posteriormente na caixa Box of Pearls. Das gravações originais ao vivo, "Down on Me" e "Piece of My Heart" foram lançadas posteriormente em Janis In Concert (1972).

O enorme sucesso de Cheap Thrills fez aumentar os holofotes sobre a figura de Janis Joplin, que no final do verão de 1968, após o grupo se apresentar no Palace of Fine Arts Festival, em San Francisco, anunciou aos demais colegas de grupo que iria sair no final do outono daquele ano, desejando seguir uma carreira solo mais voltada para a soul music.

Em novembro daquele ano, saiu o compacto "Coo Coo" / "The Last Time", o qual era sobra de estúdio de Big Brother & The Holding Company, e no primeiro dia de dezembro, Janis e Sam Andrew fizeram o último show com o grupo, tocando no Family Dog Benefit, em San Francisco. 20 dias depois, Janis aparecia com a sensacional Kosmic Blues Band, tendo nas guitarras Sam Andrew, e mais poderosíssimo suporte de um fabuloso naipe de metais e vários músicos convidados.

A saída de Janis e Andrew abalou as estruturas do Big Brother & The Holding Company, que chegou a encerrar as atividas, com Getz e Albin passando a integrar outro grande expoente do rock psicodélico californiano, o Country Joe and The Fish, gravando o álbum Here We Go Again (1969) e participando da turnê de divulgação do mesmo.

Porém, a vontade de ter identidade própria era maior do que as loucuras de Joe McDonald e cia, e então, Getz e Albin decidiram retomar com o Big Brother & The Holding Company, ao mesmo tempo que Janis se consagrava (mais uma vez) com o fundamental I Got Dem 'Ol Kosmic Blues, Again Mama (1969).

O primeiro nome a aparecer na nova formação foi o do guitarrista David Nelson, que não durou muito tempo no cargo, sendo substituído por um resgate de James Gurley da obscuridade. A busca por um novo vocalista durou algumas semanas, e então, no outono de 1969, surgia a nova formação do grupo, com Gurley, Albin, Getz, Andrew (que já havia sido demitido da Kosmic Blues Band, supostamente por roubar heroína de Janis Joplin), e ainda Nick Gravenites (voz), Dave Schallock (guitarras) e Kathi McDonald (vocais), além da participação especial do violinista Kate Russo.

Contando com quatro guitarras, a solução encontrada foi posicionar Gurley no baixo, passando Albin para a guitarra solo e tendo agora a surpreendente participação de Getz tocando piano e órgão.Com essa formação, trancam-se nos estúdios, onde, com um contrato renovado com a Columbia, gravam o primeiro álbum sem Janis nos vocais.

O primeiro disco sem Janis Joplin
Lançado em 1970, Be a Brother acabou passando despercebido do grande público, apesar de ser um ótimo álbum. Sem a presença de Janis, e com a voz rouca de Gravenites (que pr momentos lembra a fase inicial de Joe Cocker), o Big Brother & The Holding Company voltou às experimentações do início de sua carreira, e tocar de forma mais espontânea.

O riff de guitarra  abre "Keep On", trazendo a bateria e o dedilhado da guitarra, com guitarra e baixo fazendo o tema principal em um ritmo similar as canções do The Allman Brothers Band, para então a pauleira pegar, com Andrew e Kathi soltando a voz cantando o refrão da canção sobre um rápido acompanhamento. O ritmo inicial retorna, para Andrew cantar a primeira estrofe do refrão, seguido pelo refrão. A segunda estrofe surge, voltando para o refrão, onde o baixo de Gurley ganha destaque, levando aos solos sobrepostos de guitarra, em uma barulheira dos diabos, onde as nota rasgadas das guitarras de Albin, Andrew e Schallock fazem um fantástico duelo, enquanto Andrew e Kathi fazem diversas vocalizações, voltando para o refrão. Andrew então repete a primeira estrofe da letra, e a canção encerra-se com mais uma vez o refrão dando um tapa na cara do ouvinte, encerrando com o nome da canção sendo entoado sobre a marcação de guitarra e bateria.

Já "Joseph's Coat", composta em parceria de Nick Gravenites e o gênio John Cippolina, nos remete diretamente à Cheap Thrills, com a guitarra ácida de Andrew fazendo o tema inicial, trazendo os vocais roucos de Gravenites em uma marcação simples e pesada, onde a melodia vocal é acompanhada nota por nota pela guitarra, que faz um ácido solo, cheio de lisergia e saudosismo dos anos 60. Gravenites retorna para a letra e encerrar a canção.

O baixo de Gurley, acompanhado pela marcação de Getz, abre a bela instrumental "Home on the Strange", que tem um ritmo similar ao de "All is Loneliness". A partir de então, o acompanhamento rápido de Getz e Gurley faz as guitarras começam a solar, em uma espécie de "guitarras gêmeas lisérgicas", uma com uma oitava acima da outra, fazendo um bonito tema que leva ao rasgado solo de Andrew, voltando ao bonito tema inicial que encerra a canção.

Órgão e guitarra introduzem "Someday", lembrando bastante The Doors, com exceção da voz rouca de Gravenites. O ritmo, uma espécie de blues agitado, muda no centro da canção, transformando-se em uma agitada canção, com percussões e o órgão de Getz grudando seus acordes na cabeça do ouvinte. O solo de Schallock é breve, com algumas notas sujas, voltando para a agitada sessão percussiva, onde a voz ficou um pouco abaixo da parte instrumental, mas dá para se ouvir os gritos roucos de Gravenites, que sob a barulheira de guitarras e percussão, conclui a canção.

O lado A encerra-se com a delirante "Heartache People", a qual começa com o dedilhado da guitarra, acompanhado por baixo e bateria, fazendo algo parecido com o que a Legião Urbana faria anos depois em "A Montanha Mágica" (do álbum V). Gravenites começa a cantar, acompanhado pelo dedilhado e por um sombrio violino que vai permeando as palavras chorosas de Gravenites. A base simples, com apenas quatro mudanças de acordes, carrega essa densa e hipnotizante canção durante seus quase sete minutos de duração, com um espetáculo a parte para a interpretação vocal de Gravenites e para o empolgante crescendo que a canção possue a partir do momento que Gravenites grita "I don't wanna meet no more a heartache people in my life", levando ao sensacional solo de violino feito por Russo.

Gravenites retorna à letra, sempre acompanhado pela mudança dos quatro acordes, e com o violino cada vez mais ensandecido, encerrando a canção com os alucinados gritos de Gravenites, dizendo "I don't wanna meet no more a heartache people in my life". Não temos como tentar imaginar como seria essa canção com Janis Joplin nos vocais, até por que a mesma foi composta apenas por Gravenites, um dos grandes nomes da Califórnia que infelizmente, nunca teve seu reconhecimento como deveria. 

O lado A de Be a Brother
O lado B abre com o tema da guitarra de "Sunshine Baby", outra que conta com a participação do órgão, e ainda mais similar a The Doors por causa das linhas vocais de Getz, responsável por cantar a canção, que possui um refrão bem marcado pelo baixo, guitarras e bateria. Novamente, o pecado da canção é a fraca mixagem do vocal, que privilegiou o órgão e a guitarra, mas mesmo assim, é uma bela faixa tipicamente californiana, contando com um simples mas empolgante solo de Andrew e Schallock, além da magistral performance do órgão. A primeira estrofe é repetida, voltando para o refrão, e então, encerrando a canção com um momento viajante, onde o dedilhado da guitarra e nos esparsas da guitarra acompanha a voz delirante de Andrew, em uma dimensão fora do que fora a canção até então.

"Mr. Natural" retorna aos temas do primeiro álbum do grupo, com a guitarra abrindo a canção, para trazer os vocais de Andrew, sobre o acompanhamento marcado de baixo, guitarra e bateria. Uma canção simples, contando com pequenas variações no seu tema principal, com destaque para as vocalizações que acompanham o belo solo de Andrew, em um agitado ritmo de baixo, guitarra e bateria, relembrando bastante as partes instrumentais de "Combination of the Two". A canção encerra-se com a participação de Kathi fazendo vocalizações que lembram bastante Janis Joplin, e com um tema marcial da caixa e guitarra.

Depois, é a vez da dançante "Funkie Jim" surgir nos alto falantes, com as guitarras de Schallock e Andrew, acompanhadas por baixo e bateria, levarem os vocais debochados de Gravenites, cantando a letra da canção. O maior destaque vai para a presença do saxofone, fazendo intervenções sensacionais durante as frases de Gravenites, e ainda, dividindo o solo com a guitarra ácida de Schallock.

"Il'' Change for Your Flat Tire, Merle" é um country rock totalmente diferente do que o Big Brother & The Holding Company já havia gravado, onde violino, piano e banjo comandam a voz de Gravenites, imitando Johnny Cash, e com a voz de Kathi se fazendo presente acompanhando Albin no refrão que entoa o nome da canção, tendo destaque para os solos de guitarra e violino, e esse bom LP encerra-se com a faixa-título, a qual começa com a guitarra ed Andrew, e é um rock sessentista californiano, quase na linha Beach Boys, onde novamente, a sobreposição de guitarras durante o solo, e as rasgadas intervenções vocais de Gravenites, são o momento de maior destaque.
O lado B de Be a Brother
O álbum acabou não vendendo nem perto do que era esperado, mas mesmo assim, o grupo decidiu continuar na ativa. Poucos dias após o lançamento de Be a Brother, a esposa de Gurley, Nancy Gurley, faleceu, vítima de uma overdose de heroína. James acabou sendo acusado pela morte da esposa, e foi levado a julgamento, onde acabou sendo considerado inocente dois anos depois, em uma longa batalha judicial.

No dia 04 de outubro, a morte de Janis Joplin voltou a abalar as estruturas do grupo. Mesmo não tendo mais ligação com a cantora, era inegável o carinho que todos sentiam por ela. O lançamento de Pearl logo após a morte de Janis, e a enorme quantidade de álbuns vendidos do mesmo, foi a motivação para que o Big Brother & The Holding Company encontrasse forças para seguir em frente. Assim, a mesma formação de Be a Brother, adicionada do tecladista Mike Finnegan, voltou para os estúdios, registrando então o segundo disco pós-saída de Janis.

O bom How Hard It Is
How Hard It Is chegou às lojas em meados de 1971, e manteve a boa musicalidade de Be a Brother, porém com uma participação mais destacada de Sam Andrew nos vocais, e mais experimentações, além de Schallock ser definitivamente efetivado ao posto de guitarrista principal. Três das canções do LP são instrumentais.

O álbum abre com o riff da guitarra da faixa-título, carregado de wah-wah, trazendo baixo e bateria, além de marcações do órgão, para os vocais de Andrew e Kathy cantarem um funkzão sensacional, destacando a ótima voz de Kathy. A canção muda após as duas primeiras estrofes, em um ritmo mais pegado, onde Kathy por vezes lembra Janis Joplin. Schallock realiza seu solo, com notas características do estilo de tocar de Gurley, e com destaque para a participação do órgão, voltando então para a letra da canção, encerrando com uma viajante sequência de vocalizações de Kathy enquanto Andrew entoam o nome da canção.

Percussão e baixo introduzem "You've Been Talking", cantada novamente por Kathy e Andrew, e com a presença marcante do órgão de Finnegan, responsável pelo solo central da mesma. Uma embalada faixa, que lembra bastante o material composto pelo It's a Beautiful Day no início de sua carreira. A letra é repetida, levando ao solo de Schallock, sessentista pacas, voltando para a sequência da letra, que encerra a canção com mais um momento solo do órgão.

Depois é a vez de "House on Fire" aparecer com o riff do baixo, trazendo bateria e guitarra para executarem o ritmo de um manhoso blues. Baixo e guitarra repetem o riff, para a guitarra acompanhar a melodia vocal de Kathy e Andrew. Finnegan agora está ao piano, e faz o ritmo manhoso que acompanha o belo solo de Schallock, dessa vez fugindo das notas de Gurley, estabelecendo um estilo próprio de tocar, e a canção continua, com Kathy e Andrew dividindo os vocais soberanamente, para então Schallock fazer o solo de encerramento da mesma, em um crescendo muito interessante.

"Black Widow Spider" surge lentamente na marcação do chimbal de Getz, trazendo o bonito dedilhado da guitarra e do baixo. As guitarras então se sobrepõem, trazendo as vocalizações de uma linda canção cantada primeiramente apenas pelas vozes masculinas de Andrew e Getz, destacando novamente o piano de Finnegan, e com uma segunda estrofe deixando Kathy a vontade para soltar seu vozeirão, que claro, não é uma Janis Joplin, mas é muito bom. A sequência é repetida, com as vozes masculinas cantando a terceira estrofe e Kathy a quarta, e com Finnegan pulando para o órgão, dando mais charme hippie a essa linda canção. Finalmente, as vozes de Andrew e Kathy se encontram, cantando o refrão, deixando Kathy fazendo vocalizações que acompanham o melodioso e belo solo de guitarra que encerra a canção.

O lado A é concluído com a sugestiva canção "Last Band on Side One", a qual é uma bonita canção instrumental, que começa com piano e mandolim acompanhando o solo de marimba feito por Getz. Depois, mandolim e pratos fazem a cama para acompanhar o solo de piano, retornando então para o início da canção, que é exatamente o ponto onde ela encerra-se.

A primeira formação do Big Brother & The Holding Company pós-Janis Joplin:
James Gurley, Sam Andrew, David Schallock, Nick Gravenites, David Getz e Peter Albin
"Nu Boogaloo Jam" retorna ao suingue de "How Hard It Is", porém com uma introdução mais pegada da guitarra, e uma caprichada sequência de acordes, formando um riff grudento e dançante, levado pela bateria e pelo baixo, e com as vocalizações fortes de Kathy e Andrew. O ritmo insano da canção é muito bom, como uma locomotiva invadindo seu quarto, e com direito ainda à participação de um naipe de metais fazendo intervenções no magistral solo de Schallock, e também na repetição da letra. A comparação com a fase Kosmic Blues de Janis Joplin é inevitável, principalmente pelo arranjo dos metais, que voltam a acompanhar o solo final de Schallock.

A segunda canção instrumental do LP é "Mauie", que apresenta a guitarra havaiana na introdução, em um ritmo lento acompanhado pelo chimbal. Então, o clima muda, com um dedilhado sombrio, onde um pequeno tema é executado, para bateria e baixo darem o ritmo da canção. As marcações da bateria, acompanhando o riff de guitarra e baixo, aumentam o ritmo da mesma, sobrepondo dedilhado de guitarras que vão construindo uma maravilhosa peça musical. O baixo passa a fazer o ritmo com mais velocidade, enquanto Getz comanda a parte percussiva e as guitarras solam uma sobre a outra, voltando então para o segundo tema das guitarras, que conclui essa pequena obra-prima perdida na discografia do grupo.

"Shine On" surge com a percussão e os vocais de Andrew e Getz, resgatando o suingue da faixa-título, porém com mais malemolência e sensualidade. As investidas rasgadas da guitarra enquanto Andrew entoa o nome da canção chegam a arrepiar, e as viradas de bateria de Getz, colocando pratos e batidas desconexas, fazem um pirado acompanhamento para a marcação simples de baixo e órgão. A canção pega ritmo no solo de guitarra, voltando então para o complicado acompanhamento de Getz e a sequência da letra. Então, chegamos em mais um momento viagem, onde vocalizações dizendo "Shine" acompanham as notas rasgadas e tristes da guitarra, enquanto o piano delira ao fundo. A letra continua, levando ao terceiro solo de guitarra, encerrando então com a repetição do nome da canção por diversas vezes e pela leve participação do piano.

A versão original de "Buried Alive in the Blues" finalmente é ouvida pelos fãs de Janis Joplin. Clássico instrumental de Pearl, aqui ela ganhou a voz de Nick Gravenites, além da participação dos metais. É difícil tentar dizer como soaria a mesma com a voz de Janis, mas de qualquer forma, a parte instrumental é bem diferente do que está em Pearl, não tão agitada e trabalhada, um pouco mais lenta e contando com um solo de guitarra que não existe na versão gravada (ou inacabada) por Janis. Os vocais roucos de Nick em nada combinam com os de Janis, mas a canção é muito boa, principalmente pela sua levada, sendo que o gordinho também dá um show a parte na parte final da mesma.

Por fim, "Promise Her Anything, But Give Her Arpeggio" é a terceira e última canção instrumental, e que é uma bonita balada, começando com o dedilhado das guitarras fazendo o tema introdutório acompanhado apenas pela marcação da bateria. Então, o ritmo aumenta, com as guitarras executando as mesmas notas do tema introdutório, com muita melodia, enquanto o baixo apenas faz a marcação junto do chimbal e da caixa. O ritmo da bateria aumenta, e agora, baixo e guitarras fazem o tema introdutório juntos, com as escalas sendo muito bem executadas, principalmente pela velocidade, que aumenta ainda mais, como uma marcha russa (a famosa "Czardas"), e o tema é repetido mais uma vez por baixo, guitarra e bateria, concluindo esse bom álbum com apenas baixo e bateria fazendo o ritmo agitado.


James Gurley, Nick Gravenites, Sam Andrew e Kathi McDonald

Assim como Be a Brother, How Hard It Is foi um fracasso comercial. Uma curta temporada de shows, e os intermináveis probemas com drogas, gerando atrito entre os membros do grupo, bem como a falta de um empresário e o término do contrato com a Columbia, fizeram com que o Big Brother & The Holding Company encerra-se as atividades em 1972, mesmo ano que saiu o álbum Janis In Concert, o qual contém, entre outras, sete canções com o Big Brother & The Holding Company: "Down On Me", "Bye, Bye Baby", "All Is Loneliness", "Piece Of My Heart", "Road Block", "Flower In The Sun" e "Summertime".


Cada membro foi para um lado, seguindo carreiras distintas. Sam Andrew mudou-se para Nova Iorque, onde passou a estudar harmonia e contraponto na New School for Social Research, ao mesmo tempo que estudava composição na Mannes School of Music. Andrew produziu trilhas para diversos filmes sem sucesso no Estados Unidos e Canadá, e escreveu duas peças para quarteto de cordas e uma sinfonia. Em Nova Iorque, o guitarrista permaneceu por oito anos, voltando para San Francisco no início da década de 80, onde começou a ter aulas de clarinete e saxofone.

Getz permaneceu na Califórnia, vivendo no Condado de Marin e tocando bateria com diversos grupos, como The Nuboogaloo Express (formado por membros do Sons of Champlain), Pendergrass (ao lado da colega Kathi McDonald e do novato Ronnie Montrose) e Banana and the Bunch (com membros do The Youngbloods). Em 1975, Dave mudou-se para Los Angeles, onde casou com a atriz Joan Payne, passando a integrar um conjunto de música contemporânea, chamado Passengers, que fez algum sucesso na região durante quatro anos. Getz construiu um estúdio em Santa Monica, Califórnia, e passou a trabalhar incessantemente com música, arte e pintura em geral, sendo seu trabalho como artista reconhecido mundialmente, tendo exposições em galerias americanas e europeias.
O super grupo Dinosaurs: Peter Albin, Spencer Dryden,
Merl Saunders, John Cippolina e Barry Melton

Já Albin voltou a trabalhar com Joe McDonald, gravando Paris Sessions (1972). Nos dez anos seguintes, Albin ficou ausente da música, com uma única exceção, em 1978, que foi a triunfal apresentação de reunião do Big Brother & The Holding Company no festival The Tribal Stomp, realizado no Greek Theatre de Berkeley, em comemoração aos dez anos de Cheap Thrills. Albin voltaria aos palcos em 1982, fazendo parte do super grupo da Bay Area, chamado de Dinosaurs, que contava com nomes como John Cipollina (gutiarra, vocais, ex-Quicksilver MEssenger Service), Barry Melton (guitarra, vocais, ex-Country Joe & The Fish), Merl Saunders (teclados, voz, ex-Grateful Dead) e Spencer Dryden (bateria, ex-Jefferson Airplane), grupo esse que lançou um único álbum, Dinosaurs (1988).


Uma das várias capas de Cheaper Thrills (acima);
Rótulo do vinil Cheaper Thrills (abaixo)

No início da década de 80, dois lançamentos colocaram o nome do grupo na mídia novamente. O primeiro deles foi Farewell Song, de 1982, onde a gravadora Columbia aproveitou o material que ficou de fora de Cheap Thrills e lançou sob o nome de Janis Joplin, com as canções regravadas por músicos de estúdio, o que desagradou fortemente a Albin, Getz, Gurley e Andrew. Depois, em 1984, Cheaper Thrills, lançado pelo fã-clube do grupo, apresentou uma sessão de ensaios do grupo em um estúdio logo no início da chegada de Janis ao grupo, no dia 28 de julho de 1966, e que traz algumas canções que se tornariam clássicos posteriormente, como "Down on Me", "Ball and Chain" e "Women is Losers".

Depois da apresentação de 1978, Andrew seguiu seus estudos na Califórnia, enquanto Gurley formou, em 1981, o grupo de New Wave Red Robin and the Worms, onde ele era o baixista, tendo ainda a participação de Robin Reed (voicas), Mitch McKendry (guitarras), Mitch Master (guitarras), Jerome Jim Holt (saxofone) e o filho Hongo Gurley (bateria), além de outros projetos independentes, chegando a gravar algumas canções com o baterista Muruga Booker.

Getz perambulou pela bay area até 1987, quando decidiu novamente retomar as atividades com o Big Brother and The Holding Company. Após mudar-se novamente para o condado de Marin, Getz chamou Andrew, Albin, Gurley e diversos vocalistas convidados para voltar a fazer shows sob o nome clássico que os uniu e lançou para o mundo. Essa formação permaneceu excursionando (sempre alterando a vocalista) durante nove anos, inclusive tendo tocado na cerimônia que levou Janis Joplin para a Rock and Roll Hall of Fame, em 1995, até que Gurley, não a vontade com a ideia de ter outra vocalista que não Janis nos vocais, decidiu sair do grupo em 1996.

CD trazendo umas das últimas apresentações de Janis com o grupo

Ele foi substituído por Tom Finch, e o grupo continuou sua série de shows, sempre alternando o vocalista principal. Pelo microfone do Big Brother & The Holding Company, passaram os vocalistas Michel Bastian, Lisa Mills, Lisa Battle, Lynn Asher, Halley DeVestern, Maria Stanford, Andra Mitrovich, Kacee Clanton, Sophia Ramos, Mary Bridget Davies, Chloe Lowery, Jane Myrenget e Cathy Richardson. Além disso, o guitarrista Ben Nieves também passou a integrar o grupo.

Entre os shows do Big Brother & The Holding Company, Andrew desenvolveu seu projeto solo, com a The Sam Andrew Band, que excursionou pela América do Norte, além do quarteto de teatro Theatre of Light, que apresentou a peça O Poeta Vagabundo, tendo Andrew na guitarra e voz, Tony Seldin nos teclados, Tom Constanten nas vozes e Elise Piliwale na harpa.

CD de raridades da fase pós-Janis Joplin
Em 1997, foi lançado o CD Can't Go Home Again, o qualapresenta sessões de ensaio e apresentações ao vivo do Big Brother & The Holding Company logo após a saída de Janis, e é um resgate sonoro muito interessante daquele período conturbado. Tendo na formação Gurley, Albin, Andrew, Getz, a novinha e excelente vocalista Kathi McDonald, com apenas 21 anos, e Mike Finnegan ao piano, o sexteto manda ver em um álbum muito bom,  junto de diversos convidados que participam ora tocando percussão, ora apenas sendo o público presente no ensaio do grupo. 

O álbum começa com a suingueira de "Don't You Call Me Cryin'", mantendo o agito com "I Know", onde os vocais de Kathi destacam-se bastante, além da participação do piano de innegan, o qual é responsável por comandar o sensacional blues "As The Years Go Passing By", com um show vocal de Kathi, mostrando por que ela foi a esolhida para substituir Janis. Ouvir essa pérola é chorar e imaginar como seria isso na interpretação de Janis, tamanha a dramaticidade dessa excelente canção. 

"Three Times Last Week", é um leve rock, que lembra muito canções do Rolling Stones, enquanto "Heartache" é um bluesão animado, onde as guitarras são o maior destaque, enquanto "Tired of It All" é arrastada demais, pecando pela pobre mixagem do vocal de Kathi, assim como a fantástica faixa-título, que lembra bastante a fase Kosmic Blues de Janis Joplin, com Kathi rasgando bastante suas cordas vocais, e com uma maravilhosa guinada que leva para os magistrais solos de guitarra e piano no final da canção. 

"Machine Song" é um longo funk instrumental inspirado em James Brown, para qualquer admirador da Motown não botar defeito, com grandes solos de guitarra,  seguida por outra maravilhosa jam session, agora a bluesística "Havana Ghila", onde as guitarras desempenham a função de chamar a atenção do ouvinte junto a uma performance insana de Getz e com o majestoso solo de baixo feito por Albin. 

"Try It" traz novamente os vocais de Kathi, porém com uma mixagem novamente muito precária, de mais uma canção bem suave, seguida pela simpleza instrumental de "Drivin' Stupid", sem muitas firulas técnicas. O álbum encerra-se com duas bonitas versões para um dos clássicos do faroeste, "Ghost Riders in the Sky" e "Ghost Riders in the Sky (Reprise)", com Andrew e Albin solando o tema dessa canção sobre o ritmo leve criado por Getz, além de diversos improvisos que mostram que, mesmo  em um curto período desde sua formação (três anos haviam se passado quando essas canções foram registradas), os músicos  haviam evoluído bastante em termos de técnica. 

No geral, apesar da péssima mixagem, Can't Go Home Again consegue deixar uma pulga atrás da orelha sobre o incomparável talento de Janis. Afinal, Kathi canta tão bem nesse álbum que por vezes, parece que o que estamos ouvindo é a própria Janis. Se não fosse a mixagem, com certeza poderíamos avaliar melhor a performance de Kathi. Mas pena que a palha fosse pouca para conseguir acender uma chama tão forte quanto foi nos dois primeiros álbuns.

No ano seguinte, veio o ao vivo Live at Winterland '68, que apresenta o show do Big Brother & The Holding Company na íntegra (sendo deste show a versão de "Ball and Chain" que aparece em Cheap Thrills, como citado acima).

O primeiro disco de estúdio em mais de 30 anos

No mesmo ano, saiu o primeiro álbum de estúdio do Big Brother & The Holding Company em mais de 30 anos. Do What You Love apresenta Lisa Battle nos vocais, bem como a participação de Anna Schaad na viola, e nas ranhuras do CD, novas versões para clássicos como "Women Is Losers" e "I Need a Man To Love".

Gravado em 1997, ele possui além de Battle os remanescentes Albin, Andrew e Getz, adicionados de Tom Finch (guitarra), e é indicado apenas para os fãs não xiitas de Janis Joplin e que gostam da banda de qualquer forma,  estando longe de ser um disco recomendado para se começar a ouvir o som californiano do grupo. Com exceção da bela performance de Sam Andrew, o disco soa pretensioso e peca em diversos momentos, principalmente na voz de Battle, que não consegue chegar aos pés de Kathi McDonald, e tão pouco de Janis Joplin. O disco começa bem, com a agitada "Take Off", onde o violino e o peso das guitarras chamam muito a atenção, além dos vocais de Andrew e Battle e da psicodélica sessão instrumental, com vocalizações arrepiantes.

Porém, o álbum cai vertiginosamente a partir de então. "Save Your Love" é uma balada que de bom apresenta apenas o solo de Andrew, assim como na tentativa de renovar a clássica "I Need a Man to Love", a qual não funciona, apesar de manter um arranjo muito similar ao original, mas pecando principalmente na voz de Battle, que força uma Janis Joplin inexistente em sua alma, agravada ainda mais por sua voz ser bem mais grave do que a de Janis, e que chega a doer os ouvidos na hora dos gritos mais alucinados. Andrew dá show com o wah-wah em "Bo's Bio", a melhor do CD, com um bom trabalho vocal de Andrew e Battle, mas logo em seguida, outra revisão, agora para "Women is Losers", joga água fria de novo no fã do grupo. 

Duas formações distintas do grupo na década de 90.
À esquerda: Lisa Battle, Dave Getz, Tom Finch, Sam Andrew e Peter Albin;
À direita: Dave Getz, Sam Andrew, Lisa Battle, Peter Albin e Les Dudek

O arranjo disco que a canção ganhou ficou "bacana", para não dizer datado, e claro, de novo fica claro que Battle não é Kathi e nem Janis. A voz dela soa bem para cantar rocks pesados, mas quando a canção é mais leve, não tem jeito, torcemos o nariz facilmente. "Freedom" dá um pouco mais de crédito para Do What You Love, com outro bom arranjo vocal, enquanto a curta vinheta instrumental "The Ok Chorale" é a mais bonita, com um arranjo belíssimo para viola e violão. A faixa-título surge amargando tudo novamente, em uma tentativa de fazer funk onde só os vocais  salvam, e "Back Door Jamb" encerra o disco com outra curta vinheta instrumental, a qual é uma jam session que só enche um pouco mais do CD. 

No ano seguinte, saiu uma versão estendida, com as canções "Feed the Flame", "It's Cool", "Looking Back" e "X-Factor", que mantém o clima oscilante, sem grandes novidades. No fim, o álbum oscila muito, e talvez por isso, tenha passado tão despercebido da mídia e dos fãs, sendo que muitos desconhecem a existência do mesmo, o qual é o último lançamento de estúdio do Big Brother & The Holding Company até o momento.

O ao vivo Hold Me
 
Em 2000, foi registrado o excelente DVD Nine Hundred Nights, o qual conta a história do Big Brother & The Holding Company desde o início até a saída de Janis Joplin. O álbum ao vivo Hold Me, tendo Sophia Ramos nos vocais e Chad Quist nas guitarras, foi gravado na Alemanha em 2005, e lançado em 2006. Em 2008 saiu The Lost Tapes, trazendo raridades do início da carreira do grupo, entre 1966 e 1967.

No dia 20 de dezembro de 2009, o guitarrista James Gurley faleceu, vítima de um ataque do coração, dois dias antes de completar 70 anos. Nos dias de hoje, Andrew vive no norte da Califórnia ao lado de sua família, assim como Getz, que vive no condado de Marin e trabalha como professor e artista plástico e trabalhando como produtor, registrando canções que estão disponíveis para download em seu site oficial. Albin permanece vinculado ao Big Brother & The Holding Company, além de trabalhar como coordenador de publicidade no City Hall Records. 

Peter Albin, Sam Andrew e David Getz, os únicos membros vivos
da formação clássica de um dos principais grupos do rock
O grupo segue excursionando pelos Estados Unidos e até pelo mundo, inclusive com uma passagem pelo Brasil em maio de 2010, durante a virada cultural de São Paulo, porém sem tanta regularidade como alguns anos atrás, mas mantendo acesa a chama de um dos mais importantes e influentes grupos da era flower-power do rock.

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