terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os Sete Pecados do Rock Nacional - Parte II: A GULA (Ultraje a Rigor - Crescendo [1989])


O impacto de Psicoacústica na música nacional foi grande, mas demorou para ser assimilado. Apesar de ter chocado, e muito, até mesmo outras bandas do BRock, os colegas do Ira! não sabiam qual seria o caminho a seguir. Duas eram as opções: fazer o que vinham fazendo, mantendo a forma tradicional do rock consagrado para a chamada geração coca-cola, ou então, ampliar o horizonte de experimentações que o Ira! tinha dado o pontapé inicial em 1988. A comodidade de seguir o caminho mais simples foi assemelhada por quase 100% dos grupos do país, que preferiram criar uma rivalidade entre o rock gaúcho, brasiliense, carioca e paulista, do que se unir e se dar conta de que apesar de todo o sucesso de artistas como Nenhum de Nós (RS), Capital Inicial (DF), Marina (RJ) e Ultraje a Rigor (SP), algo precisava mudar para os artistas conseguirem o respeito que mereciam, e que havia sido provado ao Brasil (e ao mundo) na famigerada conferência de imprensa do Hollywood Rock de 1988. 

Pois foram os paulistas do Ultraje a Rigor, liderados pelo seu idealizador Roger Moreira, quem vestiram a camisa da revolução proposta musicalmente em Psicoacústica, e não foi por coincidência. A ligação do Ultraje a Rigor com o Ira! é praticamente embrionária. 

Formado em 1983 por Roger, Leonardo “Leôspa” Galasso (bateria), Maurício Defendi (baixo) e o guitarrista Edgar Scandurra (futuro líder do Ira!), o grupo tinha um passado ainda na década de 70, quando Roger e Leôspa fundaram o grupo The Littles & The Shitles (já com Edgar), antes de ambos mudarem-se para San Francisco (Califórnia), onde viveram um período como entregadores de pizza. Logo nos primeiros meses de Ultraje a Rigor, o grupo consegue um contrato com a gravadora Warner, pela qual lançam o compacto “Inútil” / “Mim Quer Tocar”, que vendeu 30 mil cópias em 1984. O sucesso fez com que a Warner lançasse mais um compacto, com “Eu Me Amo” / “Rebelde Sem Causa”, que superou o primeiro, vendendo 45 mil cópias. 

Rara imagem da formação inicial do Ultraje a Rigor, com
Maurício, Roger, Leospa e Scandurra (retirada do site 
roxmo)

Porém, Edgar acabou saindo, para fundar o Ira!, sendo substituído por Carlos “Carlinhos” Bartolini. Era o início de uma das mais destacadas bandas do rock nacional, responsável pela gravação do álbum Nós Vamos Invadir Sua Praia. Calcado no sucesso de pérolas como a faixa-título, “Zoraide”, “Ciúme”, “Marylou” e “Inútil”, Nós Vamos Invadir Sua Praia recebeu disco de ouro um mês depois de lançamento, fazendo do Ultraje uma sensação nacional, ao lado da Blitz. 

Não demorou muito para o LP atingir a marca de 250 mil cópias, dando platina para o Ultraje a Rigor, que começou uma extensa turnê pelo país. As letras engraçadas de Roger, assim como o rock simples e pegajoso, chamavam a atenção dos adolescentes e até das crianças, mas principalmente, dos adultos, que compreendiam as ironias e deboches do Ultraje e adoravam cada canção do grupo. Até hoje, Nós Vamos Invadir Sua Praia aparece nas listas de melhores álbuns já lançados no país como um dos primeiros colocados, ao lado de Acabou Chorare (Novos Baianos, 1973) e Cabeça Dinossauro (Titãs, 1986).

Carlinhos, Leôspa, Roger e Maurício:
o quarteto que gravou um dos melhores discos lançados no país

No álbum seguinte, Sexo!!, lançado em 1987, o grupo já havia assinado com a gravadora WEA, e também passara a contar com o guitarrista Sérgio “Serginho” Serra no lugar de Carlinhos. Puxado pelo sucesso de “Pelado”, trilha da novela gobal Brega e Chique, Sexo!! vendeu tanto quanto Nós Vamos Invadir Sua Praia, e deixou mais hinos para os fãs do grupo paulista, como a faixa-título, “Eu Gosto de Mulher” e “Terceiro”. Resultado: mais um disco de platina e outra extensa turnê pelo Brasil, que começou com um show-surpresa em cima do telhado do Shopping Top Center, em plena Avenida Paulista, causando um congestionamento de vários quilômetros na cidade de São Paulo. 

Foi nessa turnê que o terceiro álbum começou a surgir, mesmo que indiretamente. Primeiro, o grupo estava com o pé na estrada havia quatro anos, sem nenhum descanso. Adicionado a esse fator, durante uma apresentação em Chapecó (Santa Catarina), surgiu a infeliz idéia de eleger a “Musa Virgem” daquela noite de 10 de setembro de 1987, vencida por uma menina menor de idade conhecida como J. S..

Os fatos sobre essa história são um pouco confusos e dissipados, mas o que se sabe é que após a apresentação, a menina teria ido até o camarim do Ultraje a Rigor, e no dia seguinte, a mãe da menina, conhecida como A. M. S. entrou na justiça acusando Roger pelo crime de corrupção de menores e também de estupro. O caso gerou uma divulgação expressiva na mídia. Afinal, o Ultraje era sinônimo de sucesso no final de 1987, e certamente, a idéia de estupro de uma menor era uma mancha negra para o grupo. 

Roger e Ron Wood

Durante a batalha judicial que se travou a partir de então, o Ultraje foi convidado para participar da segunda edição do Hollywood Rock, em 1988, mesma edição que o Ira! chutou o balde. Ali, Roger voltou a ter contato com Scandurra, e começou a saber do processo de composição de Psicoacústica. Apesar da chuva e do boicote que a mídia fez para não promover a participação dos vergonhosos membros do Ultraje a Rigor no envento, chegando inclusive a divulgar que no dia programado para a apresentação do grupo, o horário de abertura dos portões seria mais tarde do que o normal, eles saíram-se muito bem, principalmente no show do Rio de Janeiro. 

Mas o sucesso todo havia causado um desgaste, principalmente em Roger. Exausto, com uma pendência judicial que o levou duas vezes para os tribunais (até então) e sentindo que algo precisava ser dito e feito, Roger decidiu mudar o leme de seu grupo, adotando uma postura agressiva e seguindo o que o Ira! havia feito, ou seja, se auto-produzindo em estúdio. 

Roger, Serginho, Leôspa e Maurício
Dessa forma, começou a compor o novo disco, depois de merecidas férias. Com a ajuda de Scandurra, Roger, Serginho, Maurício e Leôspa trancaram-se no estúdio Nas Nuvens e criaram um disco totalmente diferente do que já havia feito até então. Como que querendo engolir o passado e todas as ladainhas que haviam falado da banda após o incidente em Chapecó, Roger acabou cometendo o pecado da GULA, indo com tanta fome ao prato que não percebeu que apesar do material concebido musicalmente ser excelente, o público brasileiro, principalmente a mídia e os fãs, não estavam preparados para receber seu mais novo LP. 

A fome por vingança e desvinculamento com o passado era tanto que Roger dessa vez não perdoou Leôspa, sempre irresponsável nas gravações em estúdio, e deu um ultimato, fazendo com que baterista permanecesse sóbrio durante toda a gravação (segundo Roger, esse foi o único disco do Ultraje que Leôspa gravou do inicio ao fim). 

O material acabou sendo editado e masterizado na Inglaterra, tudo para não ficar com nada do clima tropical brasileiro que existia nos sulcos dos dois primeiros LPs. Juntando ainda o fato de o Brasil estar vivendo uma nova fase, tendo recebido uma nova Constituição Federal, na qual a censura estava proibida, dando liberdade de expressão para os artistas, Roger construiu letras com muitos palavrões e temas até então polêmicos, como adultério, complexo de Édipo (porém de mãe para filho) e brigas familiares, além da crítica forte à sociedade e ao governo brasileiro. Fora o fato das letras soarem por vezes agressivas, as experimentações eletrônicas em nada lembravam o rock simples que havia consagrado o grupo anteriormente. 

O hipnótico selo de Crescendo
Quando foi lançado em meados de 1989, Crescendo rapidamente chegou entre os mais vendidos, mas logo depois, foi esquecido nas prateleiras, culpa principalmente de uma mentalidade brasileira ainda não preparada para um disco tão bom, que abre com uma voz pedindo para olhar fixamente para o centro do disco e relaxar, referindo-se ao hipnotizante selo do LP, o qual trás uma imagem que, quando vista por alguns segundos girando em sua frente, chega a causar certo desconforto, e que é muito utilizada para ilustrar fenômenos de hipnotismo, fazendo a introdução da maluca faixa-título, com letra cantada de trás para frente, sobrepondo vozes, gritos alucinantes, sons do Tarzan e ambulância e barulhos de guitarra e baixo em uma canção extremamente psicodélica e ao mesmo tempo pesada, mostrando que o álbum é anti-convencional desde seu início. 

Na sequência, o maior (e um dos mais polêmicos) sucessos do LP, “Filha da Puta”. Construída para tentar ver se realmente a censura havia sido banida, nela Roger aproveita para citar um dos palavrões mais usados no país, que acabou sendo banida de diversas rádios, com medo de que a censura voltasse. Musicalmente, é um rock bem típico do Ultraje A Rigor, com riffs grudentos, vocalizações fortes que entoam o nome da canção e um solo sensacional de Serginho, e que acabou pegando entre os mais jovens, ajudando Crescendo a vender um pouco mais do que deveria (mas não o suficiente). 

A polêmica continua em “Volta Comigo”, a qual trata diretamente sobre adultério. Na época, ouvir “Filho da Puta” e depois algo como “Volta Comigo” era quase inadmissível. Os acordes de guitarra trazem o baixão de Maurício, em outro som característico do Ultraje, contendo no refrão talvez a parte mais emblemática (“será que você não quer dar uma voltinha comigo pra gente se lembrar daquele nosso amor antigo se você quiser que eu use camisinha não ligo, tirando o seu marido você não corre perigo”), bem como o emprego da palavra “Caralh ***” no meio da letra. A imprensa passou a ver o Ultraje como um bando de idiotas sem criatividade, e isso afetou a imagem do grupo também entre os fãs. Musicalmente, o som é bem bom, e a letra hoje soa inocente, mas em 1989, com o Brasil tendo saído há pouco de um regime ditatorial, o ultraje (com o perdão do trocadilho) era absurdamente grande e agressivo, sendo a canção mais uma a ser banida pelas rádios e pela TV. 

“Laços de Família”, a qual começa com uma canção de ninar e transforma-se em um pesado punk rock, agride ainda mais, agora chutando as bundas das famílias brasileiras, com Serginho (responsável por cantar a questão) cuspindo a letra para o ouvinte, dizendo que “quase toda família é uma orquestra desafinada”. A conservadora família brasileira, criticada fortemente e tendo sofrido com os palavrões das duas canções anteriores, era mais uma a voltar-se contra o grupo. 

Então, a GULA do Ultraje a Rigor engole seu passado de vez em “Secretários Eletrônicos”, repleta de eletrônicos que poderiam ser encontrados em discos de Kraftwerk ou Brian Eno, onde repetidamente, uma voz de uma secretária eletrônica diz: “isso é uma gravação, deixe seu recado”, enquanto as guitarras de Roger (segundo encarte, responsável por todos os instrumentos da canção) fazem viajantes e delirantes notas ao fundo. Um experimento progressivo alucinante, mas que não pegou. 

Os eletrônicos aparecem também na ótima “Maquininha”, fazendo uma melodia que depois é repetida pela guitarra, em um rock instrumental excelente, com destaque para o baixo de Maurício, acompanhando com perfeição as brincadeiras instrumentais de Roger e Serginho, além do virtuoso solo do último. 

“Ricota”, escrita por Scandurra, é um rockabilly anos 50, com um riff fácil, novamente destacando o baixo de Maurício, e com letra cantada por Maurício, sem sentido nenhum, onde apenas ele emprega ricota em tudo o que vê e possa comer. A GULA do Ultraje a Rigor era saciada através dessa canção. É justamente ela que mostra o descomprometimento do Ultraje perante seu passado. Sem mais letras engraçadas com algum significado, ou piadinhas infames com relação à políticos ou pessoas famosas. O segredo agora era tocar o que viesse a telha, sem prestar detalhes ou satisfação, e apenas curtir o que estivessem afim de tocar. Esse rock inspirado em Chuck Berry é um dos grandes momentos de Crescendo, e hoje é tido como um dos principais hinos para os fãs do Ultraje. Mas em 1989, era mais um desabafo “infantil e beirando a idiotia”, como escreveu um certo colunista na resenha do LP para a revista Bizz. 

O lado A encerra-se com talvez aquele que seja o verdadeiro maior desaforo do LP. Como citado acima, um ano antes, o Brasil havia consolidado a constituinte, tratando dos direitos e deveres do cidadão brasileiro. Pois o Ultraje, em 30 segundos, lança “A Constituinte”, um petardo veloz que nada mais é do que a canção “Atirei o pau no gato” em um ritmo punk rock, ofendendo aos políticos com uma inteligente jogada de marketing, que em nada agradou aos políticos da época. 

Contra-capa de Crescendo
O lado B abre com “Crescendo II – A Missão (Santa Inocência)”, tendo Maurício na guitarra, e que é um reggae-manifesto onde Roger coloca para fora toda sua indignação com o incidente Chapecó. Através dessa canção, ficamos sabendo que fora dos tribunais, a mãe da menina disse que retirava a queixa se Roger desse um automóvel para ela. A tentativa de suborno gerou muita dor de cabeça para Roger, que negou veemente a situação, dizendo que não havia feito nada com a menina e tão pouco iria pagar o automóvel. Como ele diz na letra: “foi estuprado sem vaselina pela mãe de uma menina em Santa Catarina”, e o problema só foi resolvido depois da terceira ida aos tribunais, que absolveram Roger. 

Voltando à canção, Roger descarrega toda sua raiva sobre os adolescentes panacas que escoram-se na facilidade da vida, vendendo-se como uma meretriz. Dessa forma, ele pede para a criança que supostamente está ouvindo essa canção, quando crescer, não perder sua essência e inocência de criança, para não apodrecer como os demais adolescentes e adultos de sua época. Quem não entendeu a letra, torceu o nariz, principalmente par ao reggae sonolento na qual ela foi criada, mas hoje podemos ver com bons olhos e ouvidos essa faixa-manifesto criada por Roger, e que pela sua longa duração (mais de cinco minutos) foi malhada em praça pública. 

Vozes eletrônicas, imitando os personagens Tico e Teco (da Walt Disney), apresentam “Ice Bucket”, outra canção instrumental, carregada pelo baixo psicodélico de Maurício, e com uma das melhores performances de Leôspa. Os acordes de guitarra de Roger, em um ritmo setentista e por vezes parecendo uma jam session, levam ao belo solo de Serginho, esbanjando virtuosismo, e fazendo o Ultraje soar mais hardiano do que nunca. A melhor faixa de Crescendo em disparado, forte candidata a uma das melhores do grupo, mas que passou despercebida para os fãs. 

O saxofone de Roger introduz mais um ritmo rockabilly para a canção “Coragem”, com mais um refrão grudento que entoa o nome da canção enquanto vocalizações cantam estrofes diversas ao fundo. Destaque novamente para o solo de Serginho e para as escalas do baixo de Maurício, além da tentativa bem sucedida do solo de saxofone de Roger. 

As experimentações retornam em “Os Cães Ladram (Mas Não Mordem) e a Caravana Passa”, onde diversos cachorros são os responsáveis por “cantar” a letra de mais um rockabilly. A sobreposição de latidos, em um ritmo que parece ter saído de algum álbum do Agent Orange, torna a canção ao mesmo tempo engraçada e muito, mas muito interessante. Dizer que ela é genial talvez seja exagero, mas não dá para negar todo o talento dessa canção, com Serginho demolindo a guitarra em um solo efervescente, e claro, diferente do que os fãs poderiam esperar de algo do Ultraje a Rigor. Segundo o encarte, participam dos “vocais” os cães Rex, Duque, Fido, Katucha e a cadelinha A. S. (mais uma crítica e citação ao incidente Chapecó). 

Se não bastasse o choque de “Filha da Puta” e “Volta Comigo”, agora o Ultraje se supera em “Querida Mamãe”, cantada por Maurício, e que trata de uma relação de Édipo e Jocasta, onde a mãe de um certo cidadão quer ter o filho como marido. Musicalmente, é mais um rock pesado, com muita distorção nas guitarras, mas que a letra levemente obscena foi considerada de mau-gosto, ajudando a afundar ainda mais a imagem do grupo. 

Crescendo encerra-se com outra canção tida como idiota, “O Chiclete”. Mais uma composta por Scandurra e que virou o desacato final do Ultraje a Rigor à família, à sociedade e ao povo brasileiro em geral. A ingênua letra sobre um chiclete mastigado que explode mais que outro, fazendo o barulho de “bum”, “acompanhado pela palavra “bundão”, causou polêmica pela repetição dessa última. Era uma vergonha, um absurdo e maldito o que estava sendo feito e registrado naquele LP. Apesar de ser um rock divertido e gostoso, e que claro, tinha uma letra fácil que até as crianças pegavam (“Bum-bum-bundão”), não havia ser que pudesse dizer que o disco prestava. 

Encarte de Crescendo
Resultado, apesar de ter conquistado disco de ouro, vendendo 234 mil cópias, Crescendo tornou-se um fiasco, malhado e menosprezado pela imprensa e pelos fãs. A culpa caiu diretamente em Roger e suas inovações eletrônicas, assim como nas letras ditas inócuas e sem conteúdo, em nada comparáveis as brincadeiras alegres de “Inútil”, “Ciúme”, “Marylou” e outro clássicos dos dois primeiros discos. 

Os compactos de “Filha da Puta”, “Volta Comigo”, “O Chiclete” e “Crescendo II: A Missão (Santa Inocência)” não chegaram a fazer sucesso, assim como LP, cuja versão em CD conta ainda com “Filho daquilo”, a mesma “Filha da Puta” porém com uma buzina na hora do palavrão, e “Beer”, um rockzão instrumental criado por Scandurra, bem na linha do Ira!, onde todos os membros do grupo entoam “beer”, e que conta com um belo solo do guitarrista, mas que infelizmente ficou de fora do LP. 

Maurício, Serginho, Leôspa e Roger
Numa tentativa de alavancar as vendas de Crescendo, o Ultraje a Rigor fez mais um show surpresa, dessa vez em cima de um Trio Elétrico na praia do Leblon, no Rio de Janeiro. Mas o pecado da GULA já havia condenado o destino do grupo. Com a perda do interesse pela mídia, que culpava e banalizava Crescendo como nunca havia feito com nenhum outro grupo antes, poucos foram os fãs que seguiram os passos da banda a partir de então. Mesmo 20 anos depois de seu lançamento, Crescendo ainda é uma incógnita dentro do rock nacional. Os que o admiram (como eu) consideram um dos melhores trabalhos do país, mas os que o detestam, fazem de tudo para colocar o disco abaixo do cocô da mosca do cocô do cavalo do bandido. 

No ano seguinte, o álbum de covers Por que Ultraje a Rigor? Foi o último suspiro do grupo, que com a saída de Maurício, acabou deixando de existir. Várias foram as tentativas de retorno, sempre lideradas por Roger, inclusive com algum sucesso quando do lançamento de 18 anos sem Tirar, destacando a canção “Nada a Declarar”, que curiosamente contava com mais um palavrão (no caso, a palavra “cú”) e que foi o último grande sucesso do Ultraje a Rigor depois de “Filha da Puta”. Com o passar do tempo, os efeitos de Crescendo fizeram com que os críticos encontrassem uma frase para dissimular o trabalho feito pelo músico: “o Ultraje a Rigor nunca cresceu”. 


Mas, em particular, eu considero Crescendo como o melhor disco da banda, porém não tão longe do segundo (Nós Vamos Invadir Sua Praia) como no caso do Ira!. Por ter ouvido exatamente na época de seu lançamento, e sem entender de música, eu gostava das brincadeiras eletrônicas e das viagens instrumentais, e hoje, sempre que ouço canções como "Maquininha" ou "Secretárias Eletrônicas" sinto aquele arrepio de emoção.

Roger Moreira: lider do Ultraje a Rigor
O grupo permanece na ativa, fazendo shows pelo país (principalmente de Brasília para baixo) e vivendo mais graças aos velhos do que aos novos fãs. Recentemente, durante o festival SWU, envolveu-se em confusão com os membros da equipe de Peter Gabriel. Talvez mais um legado deixado pela síndrome do pecado guloso que o grupo resolveu cometer para apagar seu passado, e que por consequência, acabou destruindo seu futuro. 

Próximo pecado: A PREGUIÇA

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