Essa é uma das incríveis histórias registradas no excelente DVD Amazing Journey: The Story of The Who, lançado em 2007, e que narra a carreira de uma das principais bandas do rock britânico desde sua formação até os dias nos quais o documentário foi registrado.
The Who na era mod: John Entwistle, Keith Moon e Pete Townshed |
Dirigido por Murray Lerner e Paul Crowder, Amazing Journey começa de forma surpreendente, com seus minutos iniciais sendo uma sensação para o fã, apresentando uma magnífica coleção de LPs, em um quarto com um toca-discos valvulado. O mesmo é ligado em um volume considerável pelo dono da coleção, que passeia seus dedos por diversos LPs, até encontrar um especial, chamado Amazing Journey: The Story of The Who. Ele retira um dos vinis e coloca para rodar, começando "Overture", o primeiro capítulo de uma série de inesquecíveis capítulos que de uma forma envolvente, contam detalhes importantes sobre a carreira de Pete Townshed (guitarra, vocais), Roger Daltrey (vocais), John Entwistle (baixo, metais), Keith Moon (bateria) e Kenney Jones (bateria) em duas horas de duração.
Tudo começa durante a segunda guerra mundial, com nascimento de Pete, e com depoimentos do próprio, John e Roger, passando pelo nascimento do grupo Detours (o grupo citado no início do texto) e a rápida transformação até chegar no The Who. O interessante é que os depoimentos, concentrados essencialmente em Roger e Pete (os dois membros vivos da formação original do The Who em 2007 e até hoje) são dados de forma extrovertida, sendo impossível as vezes não rir com Pete e Roger, e recheado com imagens raras e praticamente desconhecidas para a maioria dos fãs.
Detours: Roger Daltrey, Colin Dawson, Pete Townshed, Doug Sandon e John Entwistle |
A geração Mod surge com ênfase durante o decorrer do documentário, e destaca-se junto do início do The Who, a mudança para High Numbers (e pequenos trechos do documentário que carrega o mesmo nome) e novamente para The Who. É aqui também que a saída de Daltrey é narrada em detalhes, com um depoimento forte do vocalista falando de como as drogas afetou o grupo (principalmente Moon) no início da carreira da banda. Daltrey acabou voltando semanas depois, e chegamos ao lançamento do álbum My Generation (1965). Fica claro aqui a veneração que todos tem pelo estilo de tocar de Entwistle, enfatizada pelos depoimentos de Noel Gallagher e Sting
O fã então muda o LP para o Lado B, e documentário ganha outro rumo, trazendo mais trechos importante, com o sucesso do The Who em 1966 que são os momentos dos registros para A Quick One (a primeira Ópera Rock que se tem registro, lançada em 1966) até a grande guinada que o grupo dá, despedindo seu empresário e produzindo-se a si mesmos, além da estonteante apresentação durante o festival de Monterey Pop, em 1967, na primeira turnê americana que o quarteto fez, quando o palco foi totalmente destruído antes da incendiária apresentação de Jimi Hendrix, chamando a atenção de fãs e imprensa naquele país.
O envolvimento de Pete com Meher Baba também é apresentado em detalhes, assim como o incidente envolvendo o Rolls Royce jogado em uma piscina durante a comemoração do aniversário de 21 anos de Moon e a explosiva participação no programa de TV The Smothes Brothers Comedy Hour, na qual Moon colocou explosivos na bateria, que ao explodirem, quase feriram Pete e o apresentador. Passamos pelo lançamento de The Who Sell's Out (1967) e as turnês do grupo por Europa, América do Norte e Austrália, mudando seu visual e fugindo do início mod, e concluímos o que seria o "Lado B" com o Tommy (1969) nascendo na cabeça de Pete, sendo registrado no ano de 1968 e virando a maior Ópera-Rock da história da música.
O "Lado 3" do LP começa com a virada na cabeça de Pete, e a gravação de Who's Next (1971), as explorações do excelente Quadrophenia (1973), ópera rock sobre a rivalidade entre as gangues de Londres, a mudança de empresários, brigas internas, a evolução do grupo para apresentações em estádios, o abuso de drogas por Moon, que chegou a ser retirado do palco por Pete e Roger em um show, e desmaiou sobre a bateria no mesmo, levando o grupo a se afastar 16 meses dos palcos, período no qual Moon praticamente ingeria cocaína como se fosse água.
Além disso, temos a imortalização de Tommy como filme (1975), o lançamento de The Who By Numbers (também 1975), o encontro dos Sex Pistols Pete Cook e Steve Jones com Pete Townshed totalmente bêbado em um bar de Londres (além de uma versão rara para "Substitute" interpretada ao vivo pela turma de Johnny Rotten), e as gravações do documentário The Kids Are Alright (1978), além do álbum Who Are You (também de 1978) e apresenta lamentavelmente com três momentos difícieis na carreira do grupo: a morte de Moon por conta do abuso de álcool com remédios, sendo substituído por Kenney Jones (ex-baterista do Small Faces); o envolvimento de Pete com drogas pesadas; a morte de 11 fãs durante um show do grupo em Cincinnati. Todos esses pontos são relatados de forma não tão aprofundada como deveria, e sobre Cincinnati, o único da banda a prestar depoimento é o baterista Kenney Jones, o qual assume que é atormentado todos os dias pelas notícias dos mortos de Cincinnati.
Manchete na Rolling Stone destacando a tragédia de Cincinnati |
O encerramento do The Who em 1983, após o lançamento dos álbuns Face Dances e It's Hard, e a grande humilhação e desaprovação por parte de fãs e imprensa, encerra o "Lado C".
Por fim, quatro capítulos estão no "Lado D", começando pelo hiato do grupo durante a década de 80 e 90, realizando apenas duas apresentações, uma no Live Aid de 1985 e outra na comemoração dos 20 anos de Tommy, até o retorno com uma turnê apresentando Quadrophenia na íntegra (1996), com o objetivo de resgatar a vida social de John Entwistle, que estava empanturrado de dívidas naquela época, com Zak Starkey (filho de Ringo Starr) na bateria. O dinheiro da turnê não foi suficiente, e o grupo reuniu-se mais uma vez em 1999, atravessando o ano com uma série de shows entre 2000 e 2001.
Keith Moon sendo carregado para fora do palco por Daltrey, enquanto Townshed chama algum baterista da plateia |
Porém, no auge do retorno triunfal do grupo, a morte de John Entwistle chocou à todos, neste que talvez seja o ponto mais emocionante do DVD, com Entwsitle indo às lágrimas e dizendo que queria ter morrido ao ver que Entwistle não estava mais no palco ao lado deles. Uma das maiores perdas do rock, sem dúvidas. Outro momento importante apresentado no DVD é a prisão de Pete por alegação de pornografia infantil, da qual ele foi absolvido, mas marcou profundamente sua vida.
O encerramento ocorre com a união da dupla Roger / Pete como grandes amigos, mostrando que o tempo é a melhor solução para curar todas as feridas, e ambos apresentando-se em Long Beach, planejando o próximo álbum, que veio a ser Endless Wire (lançado em 2008). Outros nomes importantes a prestar depoimento durante o documentário são Eddie Vedder, Steve Jones e The Edge, além de produtores e empresários que viram o The Who crescer, acabar e nascer novamente.
Uma das diversas farras de Moon |
No contexto geral, a quantidade de imagens raras distribuídas ao longo dos 26 capítulos de Amazing Journey: The Story for The Who, é o grande atrativo, além da história do grupo ser contada de forma simples e sem rodeios, passando superficialmente por alguns pontos, concentrando-se em outros, o que para um grupo com mais de quarenta anos não é algo de fazer, mas o DVD Amazing Journey possui seus extras, que valorizam ainda mais seus centavos investidos na mídia.
Trata-se de um DVD bônus simplesmente encantador. Não bastasse o excelente documentário exibido no DVD 1, o DVD 2 acrescenta com mais um documentário, Amazing Journey: Six Quick Ones, o qual em seis partes - Roger; John; Keith; Pete; Who Are You? e The Return of The Who - apresenta características e aspectos importantes da história do grupo, sendo a última parte um filme exclusivo sobre as gravações que Roger Daltrey e Pete Townshed fizeram em estúdio no ano de 2003 (acompanhado dentre outros pelo baixista Greg Lake). As seis partes ficaram de fora da versão final de Amazing Journey: The Story of The Who.
Um flagra no famoso Rolls Royce jogado na piscina por Keith Moon |
Complementa os extras cinco Scrapbooks, que são trechos de entrevistas que não entraram na versão final. O primeiro, "Um Jantar com Keith Moon", é uma engraçada história com Bill Curshiley falando sobre um jantar com Keith Moon, na qual ele entornou 18 copos de margueritas, fez misérias com John Enwtistle e acabou sadicamente recebendo sua vingança. O segundo, "Um Assunto Legal", traz Shel Talmy, ex-empresário do grupo que foi demitido em 1966, falando sobre sua saída, bem como Glyn Johns, produtor que substituiu Shel logo depois do ocorrido e Chris Stamp, co-empresário do The Who no mesmo período. O terceiro é "Won't Get Fooled Again", apresentando Pete Townshed contando sua versão para a origem da canção que dá nome ao capítulo.
O quarto é a versão completa da entrevista de Bill Curbishley sobre os incidentes de Cincinnati, e o quinto é uma entrevista com Noel Gallagher falando sobre sua participação no show do The Who no Royal Albert Hall, em 2000. Temos ainda a rara apresentação do The High Numbers no Railway Hotel, em Londres, no ano de 1964, no auge da era mod, interpretando "Ooh Poo Pah Doo" e "I Gotta Dance to Keep from Crying". Pena que essa apresentação dure pouco menos de dez minutos.
Importante dizer que há legendas em português em ambos os DVDs, algo que facilita ainda mais na audiência de um dos melhores documentários sobre bandas de rock lançado nos últimos anos.
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