domingo, 30 de novembro de 2025

Eu Desprezo O Meu Passado - Parte I

N. R. Este texto é também uma breve homenagem ao nosso leitor Igor Maxwell, fã de Roberto Carlos

Ah, os álbuns de estreia. Quantas bandas e artistas orgulham-se de terem em seus primeiros discos verdadeiras escolas da arte, essenciais em qualquer prateleira dedicada à música. Led Zeppelin, Black Sabbath, Kiss, The Doors, Jimi Hendrix, Cream, King Crimson, The Stooges, Ramones, Van Halen, Dire Straits, Posssessed, Slayer, Metallica, Mötley Crüe, Guns N' Roses,  Pearl Jam, Rage Against the Machine, Os Mutantes, Secos & Molhados, Legião Urbana ... a lista é enorme de nomes que eternizaram seus primeiros álbuns, e passaram o resto da carreira tendo que tocar no mínimo uma canção destes discos nas suas apresentações. 

Porém, muitos artistas surgiram em sua carreira cantando não exatamente aquilo que gostariam, mas sim fazendo algo que o empresário, ou os pais, ou até mesmo a gravadora obrigou/sugeriu. Fora aqueles que, com o passar dos anos, acabam modificando formações, e abandonaram os estilos que construíram inicialmente, tomando novos rumos inimagináveis quando de seus primeiros discos.

Dentre esses dois mundos, há com certeza uma boa gama de artistas que simplesmente, ao se tornarem gigantes, desprezaram totalmente seus lançamentos iniciais. Quando eu digo desprezar totalmente, quero dizer que nunca mais apresentaram canções de seus primeiros discos, ou se quer as colocaram em alguma coletânea. Trago aqui alguns nomes conhecidos nacional e mundialmente, com a certeza de que deixei outros de fora, mas que o nobre leitor terá o espaço dos comentários para relembrar aquele artista que desprezou totalmente seu passado. Começo com três gigantes nacionais e três nomes do progressivo britânico, e em dois dias, apresento mais seis nomes consagrados mundialmente. 

Roberto Carlos 

Álbum desprezado: Louco Por Você [1961]

Este talvez é o caso mais emblemático de todos os discos que irão aparecer por aqui. Lançado dois anos depois da estreia em compacto do jovem Roberto (com apenas 20 anos), Louco Por Você é uma mistura de estilos musicais que variam de boleros e roquinhos (com destaque para "Só Você"), até MPB (aqui destaca-se "Ser Bem") e música romântica (com uma constrangedora versão para "Cry Me A River", batizada "Chore Por Mim"). A maioria das composições é de Carlos Imperial (responsável por lançar Roberto nas rádios no fim dos anos 50, início dos 60), com arranjos orquestrais feitos por Astor Silva para agradar os "jovens" daquela época. O disco foi um fracasso de vendas (estimativas dizem que vendeu no máximo 500 cópias), e o Rei Roberto, após adquirir esse status monárquico, nunca quis relançar o álbum em formato algum, inclusive quando foram resgatados todos os seus discos da década de 60 no formato de CD. Além disso, solicitou (ordenou?) a retirada do disco na edição digital do iTunes, no ano de 2012, ficando apenas versões piratas e as raras edições comercializadas nos anos 60. Há boatos que ele teria comprado as cópias restantes do disco e mandado destruí-las, o que é uma lenda tão grande quanto a referente ao seu maior rival em termos de raridade nacional, a cópia original de Paebirú. De qualquer forma, apesar de chatinho, a voz marcante de Roberto está lá para todos conferirem. 

Elis Regina 

Álbuns desprezados: Viva a Brotolândia (1961), Poema de Amor (1962), Ellis Regina (1963) e O Bem Do Amor (1963)

A linha musical destes discos da Pimentinha vai na mesma da de Louco Por Você. A diferença central aqui é a idade de Elis. Se Roberto tinha apenas 20 anos em seu disco de estreia, Elis tinha apenas 15 em Viva a Brotolândia, e continuou uma adolescente de 17 e 18 anos nos demais discos, nos quais ela foi rebatizada como Ellis Regina (com dois L's), em uma tentativa indecorosa de conquistar um mercado internacional. Totalmente incapaz de controlar sua carreira, Elis submeteu-se a gravar de tudo um pouco nesse período. Sambinhas, roquinhos, boleros, jazz, tcha-tcha-tcha, e outros estilos da moda, em discos praticamente tão confusos quanto as lembranças de Elis para estes álbuns. Mas, apesar de mesmo muito jovem, e cantando "canções de amor" que pouco correspondiam para uma adolescente, a menina Elis já mostra o vozeirão que a consagraria anos depois em faixas como "À Noite", "Dá Me Um Beijo", "Há Uma História Triste", "Mesmo de Mentira", "Murmúrio", "Outra Vez", "Podes Voltar" e "Retorno" (para pescar duas canções de cada álbum). Estas 4 raridades nunca tiveram relançamentos oficiais enquanto Elis estava viva. Há uma coletânea não oficial, lançada pela Disco Lar em 1969, que apresenta canções dos dois primeiros álbuns, e com a capa idêntica a de Poema de Amor. Em 1982, com o falecimento de Elis, a Som Livre lançou um compacto com "Baby Face" e "Me Deixas Louca", no que seria a primeira e a última gravação de Elis unidas em um único disquinho, bem como a Continental lançou Nasce Uma Estrela..., álbum duplo com Viva a Brotolândia no vinil 1 e Poema de Amor no vinil 2, e em 1989, a Phonodisc relançou Nasce Uma Estrela em versões individuais, batizadas respectivamente 1961 Nasce Uma Estrela - 1º LP De Elis Regina e 1962: A Estrela Brilha - Segundo LP De Elis Regina, totalmente caça-níqueis. Ellis Regina e O Bem Do Amor saíram em raras edições em CD no final dos anos 90 e em meados dos anos 2000, mas honestamente, os quatro são discos apenas para completistas.

Rita Lee 

Álbuns desprezados: Build Up [1970] e Hoje É O primeiro Dia Do Resto da Sua Vida [1972]

Diferente de Elis e Roberto Carlos, aqui o caso de desprezo não é pela qualidade, mas talvez por quem acompanha a artista principal na produção: Arnaldo Baptista. Nos seus dois discos de estreia, Rita Lee estava ainda nos Mutantes, e é na companhia do então marido Arnaldo, Sergio Dias, Liminha e Dinho Leme (os então colega de Mutantes) que ela grava álbuns muito bons, que facilmente estão entre os melhores que ela já lançou. Build Up fez um pequeno sucesso quando de seu lançamento, tendo sido responsável, segundo as más línguas, pelo início do fim de Rita com os Mutantes - o álbum havia vendido mais sozinho do que os 4 discos lançados pela banda até então, e a fama teria subido à cabeça de Rita. Faixas como "Sucesso Aqui Vou Eu" e "José" viraram preferidas dos fãs logo de cara, mas há bem mais neste bom disco. Já o segundo álbum tem a forte presença dos músicos do Mutantes, e é uma sensacional experiência sonora para quem admira o som do então quinteto, com destaque para faixas como "Superfície do Planeta", que já revela os caminhos progressivos que eles iriam assumir logo em seguida, "Tapupukitipa", outra faixa com grandes temperos progressivos, e a própria faixa-título. Coloco facilmente este num Top 5 da ruiva (se bobear, Top 3). Porém, após sair dos Mutantes, criar a Tutti-Frutti logo em seguida, e passar o resto de sua vida ao lado do marido Roberto de Carvalho, Rita nunca se deu ao trabalho de tocar uma única canção destes discos. Ambos foram relançados em vinil em 1986, e em CD em 1992, e canções de ambos os discos saíram por coletâneas não-autorizadas da Fontana (selo ligado à Philips), no caso O Melhor De Rita Lee (1976), e da Polyfar (selo ligado à Polygram), no caso Os Grandes Sucessos De Ritta Lee (1981), e estão presentes no Box Discografia (de 2015), que abrange toda a carreira solo de Rita, mas mesmo assim, a ruiva nunca mais deu atenção para essas joias musicais. 

Genesis 

Álbum desprezado: From Genesis to Revelation [1969]

O Genesis começou mudando de baterista como quem muda de roupa. Em menos de um ano passaram 3 nomes pelas baquetas da banda, sendo os principais John Silver e Chris Stewart. From Genesis to Revelation é a estreia do grupo, e surgiu através do produtor, escritor e empresário Jonathan King, que foi o responsável por batizar o nome da banda, sugerir arranjos (a cargo de Arthur Greenslade), ajudar nas composições, e que com tudo isso, ficou detentor dos direitos sobre o disco. Até hoje, ele é o nome para o qual From Genesis To Revelation pertence, mesmo com a insistência de Tony Banks (tecladista do Genesis) em comprá-lo. É um Genesis muito diferente daquele que se torna um gigante prog no ano seguinte, com letras místicas/religiosas, e que junto com a capa preta somente com o título do álbum, foi catalogado em lojas de música nas seções religiosas, sendo impossível de ser encontrado por alguém que quisesse ouvir o som leve da banda. Dentre as 13 faixas há várias músicas de bom nível, e destaco "In the Beginning", "In Limbo", "The Conqueror" e principalmente "The Serpent". O álbum foi relançado inúmeras vezes pelas mãos de King, mas o Genesis que se forma com Banks, Peter Gabriel, Mike Rutherford, Steve Hackett e Phil Collins a partir da década de 70, jamais tocou uma única canção deste bom disco  (apesar de reaproveitar alguns trechos instrumentais de uma que outra canção). E mesmo coletâneas oficiais como os boxes Genesis (1982),  Genesis - The Best Of! - Special Club Edition - 10 records (1985) e  Archive 1967-75 (1998) não trazem nada do álbum, no máximo algumas mixagens diferentes no caso de Archive ..., e só.

The Moody Blues 

Álbum desprezado: The Magnificent Moodies [1965]

Para quem conhece o Moody Blues como um dos pais do rock progressivo, com letras densas, álbuns conceituais, camadas de mellotron, a flauta brilhante de Ray Thomas e os vozeirões de John Lodge e Justin Hayward retumbando nas caixas de som, não consegue entender como essa banda transformou-se tanto em pouco tempo. A estreia dos Blues é um bom disco de British Blues, onde quem comanda a trupe é o vocal e a guitarra de um certo Danny Laine (futuro Wings), o qual destaca-se junto de ótimas vocalizações e o piano agitado em rocks/blues típicos do período, como mostram "Bye Bye Bird" (de Sonny Boy Williamson, com Danny comandando a harmônica), "I'll Go Crazy" e "I've got a Dream". Há baladinhas sessentistas para o piano de Mike Pinder brilhar, principalmente na faixa mais conhecida do álbum, "Go Now!", que inclusive batizou relançamentos do disco ao longo dos anos nos Estados Unidos e Canadá, ou nas lindinhas "I Don't Mind" e "Let Me Go". Ray surge com sua flauta aqui acolá, sendo mais atração por seu vozeirão na ótima interpretação vocal para "It Ain't Necessary", de Ira e George Gershwin. O Moody Blues era mais uma boa banda britânica lutando por seu espaço, na linha de Animals, Stones, Beatles, Yardbirds, entre outras, e é inacreditável que apenas a saída de Laine, e a entrada de Lodge e Hayward, levou o grupo a criar algo tão inédito quanto Days of Future Passed dois anos depois, seguindo na mesma linha e conquistando o mundo a partir de então. Nada do que foi gravado aqui foi apresentado ao vivo pós-entrada da dupla Hayward/Lodge. A Decca (detentora dos direitos do álbum) lançou uma coletânea batizada The Beginning Vol. 1, em 1973, pouco depois do primeiro término da banda, que resgata algumas faixas deste período, mas as principais coletâneas da banda, This Is The Moody Blues (1974) e 20 Super Hits By The Moody Blues (1980) não trazem uma única musiquinha de The Magnificent Moodies

Renaissance 

Álbuns desprezados: Renaissance [1969], Illusion [1970]

Quando os Yardbirds acabam em 1968, o vocalista e gaitista Keith Relf já estava pensando em outros caminhos musicais. Sua ideia era focar-se na música renascentista, fugindo do blues e do british rock que o haviam consagrado anos antes. Assim, com a irmã Jane Relf, o parceiro de Birds Jim McCarty e mais baixista Louis Cennamo (baixo) e John Hawken (piano, teclados), forma a Renaissance em 1969. De cara lançam um álbum excelente, um dos pilares do que podemos chamar de prog sinfônico, com lindas faixas comandadas pela voz suave de Jane, o complexo piano de Hawken e melodias/harmonias muito bonitas, vide "Kings & Queens", "Islands" e "Bullet". Divergências musicais e brigas internas levaram à mudanças na formação para o segundo álbum, Illusion - o qual é lançado originalmente só na Holanda e França - , o qual também é uma obra sensacional, mas foi gravado durante mais problemas, já que Keith no meio das gravações, decide pular da barca, deixando o nome Renaissance nas mãos de Hawken e Jane. O álbum acaba sendo uma miscelânea de canções gravadas com Relf e após sua saída, mas com lindas faixas como "Face of Yesterday" e "Golden Thread", estas ainda com Relf. Para terminar o disco, Hawken chamou amigos de uma ex-banda com quem tinha tocando pré-Renaissance (o The Nashville Teens), e dentre eles, Michael Dunford, além da escritora Betty Thatcher. Dentre os registros da nova formação, destaque para "Mr. Pine", primeira composição de Dunford para o grupo, e que teve seu trecho instrumental central reaproveitado anos depois em "Running Hard", um dos mega-sucessos do grupo. Illusion teve uma parca turnê de divulgação, Hawken e Jane desistem do projeto, e Dunford fica a ver navios. Com a parceria de Thatcher, eis então que reformam a Renaissance, agora com Annie Haslam  (vocais), John Tout (piano) e Jon Camp (baixo), mais Terence Sullivan (bateria) e Mick Parsons (guitarra), e o resto é história. Veio Prologue (1972) e a Renaissance de Haslam lançando discos de sucesso atrás de sucesso ao longo dos anos 70, desprezando totalmente o período dos Relf (tanto que após a morte de Keith, os demais ex-Renaissance criam a Illusion, justamente para resgatar canções da primeira geração do Renaissance em homenagem ao loiro). Levou anos para que Annie desse o ar da graça e inserisse a faixa "Island" no repertório do Renaissance, e nas diversas coletâneas da banda, são pegas somente canções a partir de Prologue, sem fazer uma citaçãozinha para estes dois lindos e fundamentais álbuns.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Glenn Hughes (Bar Opinião, Porto Alegre, 11 de Novembro de 2025)

"The Chosen Years, A Turnê De Despedida", assim foi anunciada a mais recente tour de The Voice of Rock Glenn Hughes por nosso país, a qual começou ontem com uma excelente apresentação em Porto Alegre, e segue para mais quatro datas no Brasil (Belo Horizonte amanhã, dia 13, Rio, dia 14, Sampa, dia 16 e Curitiba, dia 18).

O exorbitante valor do Meet & Greet (169 dólares) me impediu o acesso a mais umas conversas com Hughes, as quais já tive em 2015 e 2018, mas graças a excelente organização da Abstratti, consegui presenciar esse momento que marca - quem sabe - a última vinda de Hughes ao Brasil. Na - até então - última passagem do britânico em terras brasilis, há dois anos, Glenn estava com problemas de saúde, sendo que o show de Porto Alegre foi considerado bem abaixo em termos de performance, e logo na sequência, o show de Curitiba teve que ser cancelado, por conta de uma gripe. Mas desta vez, a coisa foi diferente.

Glenn e eu, again

Cheguei ao tradicional Bar Opinião por volta das 15:30, e logo em seguida, tive a honra de recepcionar Glenn, que chegava para passar o som. Sempre um lorde, Glenn me atendeu com muito carinho e atenção (assim como fôra nas outras vezes em que pude conversar com ele), assinou meus discos, tirou fotos, e falou a frase que sempre diz aos fãs: "I love you guy, thank you". Uma humildade impressionante, mas me chamou bastante atenção a fragilidade de Hughes. Ele desceu mancando da van, e estava perceptível que havia um desconforto na perna, ao mesmo tempo seus braços finos e o tamanho diminuto, longe do Glenn que vi há 7 anos pela última vez, e muito distante daquele ser encantador de mulheres e homens, com sua vasta cabeleira e peito aberto, dos anos 70. Sete anos depois de ter visto Hughes pela última vez, a idade bateu no velhinho. Mas, logo em seguida, deu para acompanhar a passagem de som, e perceber que a voz ainda está intacta, e que o show ia ser arrebatador.

Com Rodrigo Marenna

Ainda deu tempo de trocar uma ideia com Rod Marenna, que também foi super atencioso e conversou comigo um bom tempo. Ele foi o responsável pela abertura da noite junto de sua banda Marenna, e não escondia a alegria de estar ali, fazendo o papel de mestre de cerimônias para um dos maiores nomes da história da música. Recentemente o grupo lançou o álbum ao vivo Ten Years After, comemorando os 10 anos da banda.

Em quase uma hora de uma excelente apresentação, o grupo formado por Rodrigo Marenna (voz), Edu Lersch (guitarra), Bife (baixo), Arthur Schavinski (bateria) e Luks Diesel (teclados) mandou ver em 8 canções, destacando as já clássicas "Never Surrender" (de No Regrets - 2016), "You Need To Believe" (de My Unconditional Faith - 2016) e "Had Enough" (do EP Pieces Of Tomorrow, de 2021), mostrando que não é a toa que o rapaz vem sendo elogiado no Brasil inteiro, sendo com certeza um dos principais nomes brasileiros do cenário hard/heavy metal nacional.


O palco do Opinião esperando Hughes

Um rápido detalhe adicional, muito importante para este que vos fala, é que passado um tempo pós-encontro com Hughes, encontrei meu amigo William Faria em um bar logo em frente ao local do show, e eis que quem estava lá curtindo umas Heineken? Nada mais nada menos que a banda de apoio de Hughes, Soren Andersen (guitarras) e Ash Sheehan (bateria). Os dois ali, de boas, curtindo uma ceva, e foram super atenciosos comigo, tirando foto, trocando uma ideia, e com Ash me prometendo a baqueta ao final do show - que ele realmente cumpriu. Valeu camaradas!

Ash Sheehan (acima) e Soren Andersen (abaixo)


Voltando então ao show, uma rápida pausa para arrumar o palco e então, quando Hughes subiu ao palco, a sensação de nostalgia tomou conta. Mesmo sabendo que ele lançou Chosen, primeiro disco solo em 9 anos, agora em 2025, não há como negar que o cara fez sua fama nos anos 70, junto de Trapeze, Deep Purple e carreira solo.

Glenn e o sorriso estampado na cara

Ao mesmo tempo, a turnê trouxe novidades não só dos gigantes citados e da carreira solo, mas também do projeto ao lado de Pat Thrall (Hughes/Thrall), da Black Country Communion e também do projeto Iommi/Hughes (ao lado de Tony Iommi). E sendo um show no formato trio que consagrou o Trapeze, certamente, me fez ainda mais faceiro por ver algo como as origens de Glenn para o sucesso.

O show começou com Hughes revisitando sua carreira solo, mandando ver com "Soul Mover" (do álbum de mesmo título, lançado em 2004), uma das melhores canções de sua carreira, e que já mostrava que a plateia que ocupava uma boa parte do Opinião estava ali realmente para curtir tudo o que viesse, cantando junto o refrão, seguida de "Muscle And Blood", do trabalho com Pat Thrall, de 1982, e a ótima "Voice in My Head", do recém lançado Chosen. Uma boa entrada, para realmente aquecer os fãs, na qual Hughes mostrava que mesmo mancando, está com a voz afiadíssima, mandando ver nos falsetes e vocalizes, bem como tocando baixo como se fosse um menino. O sorriso na face era algo notável, e tanto Soren como Ash simplesmente estavam em excelente noite.

Um pouco mais de Glenn no
palco do Opinião

Com o público aquecido, surge a primeira surpresa para mim, "One Last Soul", registrada no álbum de estreia da Black Country Communion (de 2010). Juro que nunca esperei ouvir essa faixa ao vivo, e foi muito legal ver a plateia cantando junto. Veio "Can't Stop the Flood" (Building the Machine - 2001) e "First Step of Love", que me remeteram direto ao excelente ao vivo Soulfully: Live in the City of Angels (2002), um dos melhores ao vivo de todos os tempos, e que "First Step of Love" foi registrada primorosamente. Ver e ouvir ao vivaço uma das minhas músicas favoritas da carreira solo de Glenn, diante dos meus olhos, foi o primeiro momento de arrepio da noite. Mas ainda veio mais.

Hughes contou de como três garotos do norte da Inglaterra, adolescentes (ele, Mel Galley e Dave Holland), trabalharam duro para manter o Trapeze na ativa, sem dinheiro algum, e então, quando estavam tocando em Los Angeles, ele viu uma linda garota, a mais linda garota que ele já tinha visto na vida, dançando sensualmente ao som da Trapeze. Ao chegar de volta em casa, contou sobre a garota para a avó, que apenas lhe disse: "por que você não compõe uma música para ela?", mandando ver em uma versão de quase dez minutos de "Way Back to the Bone", do Trapeze (You Are The Music ...We're Just The Band - 1973), recheada de improvisos vocais. Sensacional! Mantendo a sequência Trapeze, o "primeiro amor de Glenn", o músico contou que Mel ingressou no Whitesnake, e Dave entrou no Judas, ou seja, os caras que trabalharam duro, viviam nas casas de seus pais, ganharam na vida, e então veio "Medusa" (do álbum homônimo de 1972), também com quase 10 minutos. Linda faixa, linda apresentação, emocionante audição! O que Glenn fez com os vocais foi digno de aplausos até por seus colegas de banda. Aqui eu já estava arrebatado totalmente.

Para fechar as surpresas, veio a música "composta com meu irmão, o cara que como pode ser tão calmo e ser o mais fodido criador de riffs de todos os tempos no metal? Tony Iommi", e assim mandar ver nas fantásticas e pesadíssimas "Grace/Dopamine" (de Fused, 2005), outras que nunca imaginei ouvir ao vivo, e que me fez ficar viajando de como seria bom ver uma turnê de despedida do Iommi com Glenn e Tony Martin dividindo o palco. Foi o momento para ver também que Hughes está tocando baixo muito, mas muito bem, ensinando muito guri por aí que acha que faz música.

Glenn no palco do Opinião

Veio a faixa-título do mais recente álbum e, para surpresa de todos (já que não estava no set list espalhado pela internet até então), Hughes disse que "a próxima música nós não estávamos tocando, mas eu não posso não tocar ela para vocês", e assim detonar com 15 minutos de "Mistreated". Simplesmente de chorar, e não preciso dizer mais nada! A apresentação encerra-se com "Stay Free" (de V, lançado pela Black Country Communion em 2024), outra baita surpresa, e que desta feita me fez viajar em "por que não ver a BCC aqui no Brasil ano que vem?", e sobre muitos aplausous, Hughes volta para Bis.

Aqui, sozinho ao violão, ele faz uma emocionante interpretação de "Coast to Coast" (registrada pelo Trapeze no You Are The Music ...We're Just The Band), fantástica, para então Ash e Soren voltar ao palco e trazerem mais uma surpresa, "Black Country", outra do álbum de estreia da BCC, e que aí sim, me fez querer mesmo ver os caras ao vivo. Para fechar a noite, "Burn" foi entoada a plenos pulmões por todos os presentes no local, e assim, chegarmos ao momento mais tocante do show, quando Hughes anunciou seus colegas de banda, e então, visivelmente emocionado, falou que "nunca esquecerei vocês, carregarei isso em meu corpo até os últimos dias de minha vida", com a voz totalmente cheia de emoção, segurando para não chorar, despedindo-se assim de seus fãs claramente prestes a cair em lágrimas.

Vinis autografados

Tomara que Glenn continue ao menos lançando discos regulares. Pelo que se viu no palco do Opinião, voz ele tem para manter sua carreira, e, caso tenha forças, que volte novamente para Porto Alegre o mais breve possível. Sua ausência com certeza será muito sentida nos palcos não só da capital gaúcha, mas do mundo inteiro, e que honra para mim poder, mais uma vez, ter visto, ouvido, e ainda receber das mãos de Hughes sua palheta (e sim, Ash me deu a baqueta ao final do show).

Galera da Marenna no Speed

PS 1: Quero aqui agradecer imensamente ao Homero e a produtora Abstratti por ter me colocado no show! Não à toa vocês são a melhor agência de shows do Rio Grande do Sul, e com certeza, uma das melhores do país.

PS 2: E não é que no pós-show, eu e meu irmão Micael vamos comer um Xis no tradicional Speed e quem aparece por lá? A banda Marenna, justamente para matar a saudade do melhor lanche de Porto Alegre. Os caras foram super simpáticos, deram muitas risadas no pouco tempo que conversamos e, para variar, mais uma (s) foto (s) garantida (s)! Valeu Marenna, sucesso para vocês!

Set list do show
Baqueta e palheta do show

Set list

1. Soul Mover

2. Muscle and Blood

3. Voice in My Head

4. One Last Soul

5. Can't Stop the Flood

6. First Step of Love

7. Way Back to the Bone

8. Medusa

9. Grace / Dopamine

10. Chosen

11. You Are the Music

12. Mistreated

13. Stay Free

Encore:

14. Coast to Coast

15. Black Country

16. Burn

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