1. The Width of Circle
2. Warzsawa
3. "Heroes"
4. Modern Love
5. Andy Warhol
6. Cignet Commitee
7. Stars Are Out Tonight
8. Absolute Beginners
9. Wild is the Wind
10. Young Americans
1. The Width of Circle
2. Warzsawa
3. "Heroes"
4. Modern Love
5. Andy Warhol
6. Cignet Commitee
7. Stars Are Out Tonight
8. Absolute Beginners
9. Wild is the Wind
10. Young Americans
Antes de falar sobre o disco em si, preciso prestar minhas palavras de fã para Ace. O Kiss mascarado surgiu tardiamente para mim, já que nascido nos anos 80, conheci o Kiss farofa de "Lick It Up", "I Love it Loud", "Forever" e "Crazy, Crazy Nights", entre outras que rodavam direto tanto nas rádios quanto nos clipes da MTV e da Globo. Mas um dia, durante um programa que passava de tarde na Record, por volta de 1995, vi um especial do Kiss, que começava com um "Strutter" em preto e branco, com imagens muito ruins, passava por "Love Gun", colorido, mas igualmente imagem ruim, e chegou em Ace Frehley tocando "Detroit Rock City" com uma capa nas costas durante uma apresentação na Austrália, em 1980. O solo da música, a performance de Ace, cara, eu tinha uns 13 anos, e vidrei naquilo. Assim como, com certeza, milhões e milhoes de garotos e garotas no mundo inteiro vidraram com aquele ser.
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Ace, com seu marcante traje espacial e sua inseparável bebida |
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Ace e sua guitarra prestes a pegar fogo. Carisma inquestionável |
Eu gosto dos discos da Frehley's Comet, não tanto quanto os do Kiss, óbvio, mas há bom material nos lançamentos dele, e Now Playing faz um belo apanhado disto. O lado A traz 4 canções da estreia da Frehley's Comet, auto-intitulada, lançado em 1987. "Rock Soldiers" abre os trabalhos com as batidas da bateria e o riff pesado de uma canção bem oitentista, na qual Ace fala "Ace is back and he told you so", em uma canção que narra sobre o trágico acidente que quase tirou a vida de Ace em 21 de maio de 1983, quando dirigia seu Delorean totalmente embriagado, e acabou sobrevivendo, livrando-se dos demônios que o cercavam. A faixa também abre Frehley's Comet, e é bem poderosa para mostrar o retorno de Ace, e em ambos os discos, seguimos com "Breakout", que narra a história de alguém que ficou preso injustamente por 7 anos, em outra canção bastante pesada, destacando os vocais de Tod Howarth e o solo bem veloz de Ace. Apenas para relembrar, a banda de Ace aqui consistia dele nas guitarras e vocais, Howarth (vocais, teclados, guitarras), Anton Fig (bateria) e John Regan (baixo, backing vocals), uma boa banda de apoio.
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Notícia com o acidente que inspirou "Rock Soldiers" |
Ace retorna aos vocais em "Into The Night", uma canção mais calma, principal single de Frehley's Comet (junto de "Rock Soldiers") que narra a história de um personagem curtindo as aventuras e desventuras de uma madrugada qualquer, com uma sonoridade bem oitentista, e mais um belo solo de Ace, carregado de bends e notas velozes. Curiosamente, essas três canções também abrem Frehley's Comet, e a última canção do disco nesta coletânea é "Calling To You", um belo hardão com os vocais de Tod, que me remetem bastante ao Van Halen era Sammy Hagar, e trata sobre divertir-se ao som do rock 'n' roll. O lado A de Now Playing encerra-se com "Insane", faixa que originalmente abre o álbum Second Sighting (1988), bastante autobiográfica, na qual Ace relata ter dinheiro, ter fama, e ser inconsquente por ser insano. Um rock quadradão, com pitadas country, mas com um refrão grudento.
No lado B, temos mais duas faixas de Second Sighting, "Dancin' With Danger" e "It's Over Now", lembrando que aqui, Fig foi substituído por Jamie Oldaker. A primeira surge com sintetizadores e o riff pesado de um Ace inspirado, uma faixa rápida, pesada, ótima para fãs do guitarrista, certamente uma das melhores de sua carreira, e com um belo solo, recheado de notas velozes. Já a segunda é uma balada levada pelos vocais de Tod, com direito a piano, sintetizadores e aquele andamento arrastado desse tipo de canção oitentista, e que como o nome diz, reflete sobre o fim de um relacionamento, mas com possibilidades de seguir em frente. Por fim, de Trouble Walkin' (1989) disco que contou com a participação do Skid Row fazendo backing vocals, Peter Criss e Anton Fig na bateria, além de Richie Scarlet (guitarras) e John Regan (agora nos sintetizadores e baixo), Now Playing resgata "Shot Full of Rock", "Hide Your Heart" e "Trouble Walkin'".
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Lindo vinil em azul cobalto |
Adoro a velocidade e o peso de "Shot Full of Rock", outra ótima faixa, com os vocais marcantes de Ace, além de seu riff quebrado e bem trabalhado, um ótimo refrão e Ace mandando ver no solo de mais uma faixa autobiográfica, com destaque para a frase "Your fascination with my creation, And stimulation, rock to drop" (indireta para Gene Simmons??). Grande faixa. A segunda é uma parceria de Paul Stanley e Desmond Child, que já havia sido gravada por Bonnie Tyler (1988) e pelo próprio Kiss (1989), e que aqui recebe um riff que me lembra "Strutter", mas que no fundo é só uma impressão mesmo, com a canção desenvolvendo-se de forma similar à versão do Kiss e da própria Tyler, inclusive com os "ah, ah, ah, hey, hey, hey" e "doo doo doos". "Trouble Walkin'" encerra a coletânea com uma letra narrando sobre o rapaz que é o pesadelo das mães, em um rockzão tipicamente Kiss, para alegrar a casa e deixar aquela sensação de que o tempo passou rápido durante a audição.
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Adeus Ace |
Senti falta de algo do EP Live + 1, lançado pelo Frehley's Comet em 1988, ou alguma novidade/raridade, mas ok. Para os fãs de Ace que já possuem os discos da Frehley's Comet, talvez realmente Now Playing seja mais um caça-níqueis, mas para aqueles que não tiveram a oportunidade de conseguir os discos nos anos 80 e 90, e estão afim de ver como é Ace fora das máscaras, esta coletânea é uma boa indicação. E que nosso eterno personagem espacial vague pelo espaço, espalhando seus solos e conquistando cada vez mais fãs e seguidores pelo cosmos universal. Sua morte deixará um vazio imenso na história da banda, e também na história da música, e penso que Ace nunca teve realmente o reconhecimento que deveria. Sentiremos sua falta, Space Ace!
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Contra-capa do vinil |
Track list
A1 - Rock Soldiers
A2 - Breakout
A3 - Into The Night
A4 - Calling To You
A5 - Insane
B1 - Dancin' With Danger
B2 - It's Over Now
B3 - Shot Full Of Rock
B4 - Hide Your Heart
B5 - Trouble Walkin'
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Com André Kaminski, Daniel Benedetti, Davi Pascale, Mairon Machado e Marcelo Freire
Minha lista para 1975 é bem diferente daquela que elaboraria se estivesse em outro contexto, uma vez que muitos dos meus discos favoritos desse ano já foram abordados em outras listas. Assim, busquei colocar alguns discos que gosto muito e que, com uma ou outra exceção, imaginei que não apareceriam em outras listas. O resultado é que em três casos (Elton John, Nazareth e Jethro Tull), acabei selecionando meus discos favoritos desses artistas. Para escolher o disco nacional a coisa já ficou mais complicada, afinal, não me ligo muito em música brasileira, mas acabei encontrando uma pérola.
Caravan - Cunning Stunts
Marcello: Em 1975, o Caravan estava deixando seus dias de prog rock para trás, mas isso não quer dizer que não gravasse bons discos. O disco foi produzido por David Hitchcock, que estava simultaneamente trabalhando com o Renaissance (Scheherazade and Other Stories). A bela “The Show of Our Lives” começa com o piano do seu autor Dave Sinclair e introduz um novo Caravan, que inclusive estreava seu novo baixista Mike Wedgwood, também vocalista principal nessa música. Sinclair ainda é responsável por “The Dabsong Conshirtoe”, épico de 18 minutos que toma quase todo o lado B e é a melhor música do álbum, mesclando jazz, funk, prog e uma reprise da primeira faixa. O líder do grupo, o guitarrista/vocalista Pye Hastings, assina duas músicas: a alegre e rocker “Stuck in a Hole” e a suave balada “No Backstage Pass”. Wedgwood compôs (e cantou) mais duas, a baladinha “Lover” e a funky “Welcome the Day”, em que ele mostra seu talento nas congas, e o violinista Geoff Richardson escreveu a vinheta “Fear and Loathing in Tollington Park Rag” (e ainda faz o solo de flauta em “Dabsong...”). No instrumental, Richardson fez um belo solo de viola ao final de “Lover” e Hastings, que nunca foi um guitarrista-solo, se arrisca em algumas músicas, como “The Show of Our Lives” e “No Backstage Pass”. “Cunning Stunts” não se compara às obras-primas do Caravan como In the Land of Grey and Pink e For Girls Who Grow Plump in the Night, mas sempre achei que as críticas a este disco eram um pouco injustas; mais da metade do tempo a banda não pode ser chamada de prog, mas as músicas são muito legais e merecem mais atenção.
André: Espero não estar falando nenhuma atrocidade, mas senti que os sujeitos do Caravan gostaram de dois discos: Pet Sounds do Beach Boys e Close to the Edge do Yes. A influência de ambas as bandas, junto ao já conhecido som próprio de Canterbury gerou este álbum. Bem menos progressivo que seus anteriores, acredito que a banda optou aqui dar uma amaciada no seu som para ampliar o seu público. Não creio que conseguiram porque quase não ouço falar deste album quando se trata deles, mas ainda assim é um som gostoso e cativante de se ouvir.
Daniel: Cunning Stunts é um bom álbum do Caravan, embora não esteja no nível dos anteriores. É claro que a perícia instrumental dos músicos continua presente, em especial o guitarrista Pye Hastings, com ótimos solos. Aqui a banda diminui suas influências da música folk, apostando em um som bem elétrico, direto e acessível. E, particularmente, achei as orquestrações na suíte “The Dabsong Conshirtoe" um tanto quanto desconexas.
Davi: Esse é um trabalho muito criticado entre os fãs do Caravan e ouvindo o álbum consegui entender o porquê. Aqui, eles deixam de lado aquela veia mais psicodélica, mais experimental e apostam em um som mais clean, diria até mais pop. Como sempre gostei de música pop, o disco não me incomoda. Aliás, gostei bastante. Claro... É um trabalho que foge das raízes do grupo, mas as faixas são muito bacanas e, obviamente, muito bem executadas. Do lado A, gosto bastante de "Stuck in a Hole", "Lover" e "Welcome To The Day". No lado B, o grande destaque fica para os 18 minutos de "The Dabsong Conshirtoe". A faixa é tão envolvente que nem sentimos o tempo passar. Sabe quando o autor diz 'se você se esquecer que está ouvindo tal banda, você irá encontrar um disco bem interessante'? Pois bem... Esse LP é um belo exemplo.
Mairon: Lembro até hoje do choque que foi ouvir Cunning Stunts pela primeira vez. Esperando algo na linha dos clássicos If I Could Do It All Over Again, I'd Do It All Over You e In The Land of Grey and Pink, fui pego de surpresa por um álbum om canções leves e/ou totalmente discrepantes daquele Caravan progressivo de Canterbury que encanta . Mas não que Cunning Stuns seja ruim. O disco amadureceu muito bem, principalmente a baladaça "Lover", com um lindo arranjo orquestral, presente também em "No Backstage Pass", outra linda faixa, graças ao novo baixista do grupo, Mike Wedgwood. O Caravan soa como uma espécie de Wings sessentista, ou seja, um certo ar de Paul McCartney nas composições, principalmente durante "Stuck In A Hole" e "Welcome the Day", essa para mim a mais Wings do disco (até o vocal me remete fácil Paul), e com uma grata presença do moog. A faixa de abertura, "The Show Of Our Lives", é uma canção que deveria ser legal para abrir um álbum conceitual sobre artistas. Mas há o velho Caravan de (apenas) três anos antes quando a agulha pousa no lado B, e podemos então desfrutar de "The Dabsong Conshirtoe" e suas seis partes que ocupam belos 18 minutos do vinil. Belíssima música, destacando o sensacional solo de moog durante "Ben Karratt Rides Again" e o solo de viola em "Pro's and Con's". E o que é aquela sessão jazzística durante "Sneaking out the Bare Quare"? Lindaça. Baita som, repleto de variações, do jeito que um fã de Caravan curte. O disco em si não é Top 3 na discografia dos caras, mas vale E MUITO a conferida. Baita lembraça Marcello.
Marcelo: Há discos que soam como um brinde tardio à própria liberdade criativa — e Cunning Stunts é exatamente isso. Lançado em julho de 1975, ele mostra o Caravan num momento de maturidade melódica rara, quando o chamado Canterbury Sound começava a se fragmentar e perder o espaço para o rock mais direto e pesado. Mas o Caravan nunca foi banda de seguir modas: preferiu seguir tecendo suas paisagens sonoras de flautas, teclados e humor britânico refinado. O título do álbum — um trocadilho de pronúncia que beira o indecoroso — já denuncia o espírito provocador e bem-humorado da banda. Musicalmente, é uma aula de sutileza: progressivo sem ser exibicionista, jazzístico sem ser hermético, pop sem perder a complexidade harmônica e, no final das contas, um disco muito agradável de se ouvir. Ao escutá-lo para a lista do Marcello, depois de muitos anos sem sequer me lembrar dele, me fez perceber o quanto o Caravan dominava a arte de fazer canções que pareciam flutuar entre o bucólico e o cerebral, com melodias que se desdobram naturalmente, como conversas entre velhos amigos. Pye Hastings está em plena forma, tanto na voz quanto nas composições, e a longa suíte “The Dabsong Conshirtoe” resume o espírito do disco — inventivo, divertido e inesperadamente terno. É um álbum que convida o ouvinte a se deixar levar pelo encanto do detalhe, da leveza e da ironia. Meus destaques: “The Show of Our Lives”, uma das mais belas aberturas da carreira do grupo, “Stuck in a Hole”, um dos rocks mais gostosos de se ouvir da década de 70 e “The Dabsong Conshirtoe”, épica e espirituosa. A gema escondida: “Lover”, por seu romantismo tímido e flutuante, que mostra que o Caravan podia ser emocional mesmo quando soava cerebral. Da lista, só perde para o álbum do Hyldon.
Elton John - Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboys
Marcello: Em 1975 Elton John estava no auge do sucesso, e manteve a sequência impressionante dos anos anteriores lançando dois álbuns, este que selecionei e Rock of Westies. Nono disco de estúdio de Elton, Captain Fantastic... é um disco conceitual que narra as desventuras do pianista dos óculos bizarros e seu parceiro de composições Bernie Taupin do momento em que se conheceram até o sucesso em 1970. Os dois fizeram um disco mais ambicioso do que os anteriores, mas, ainda assim, repleto das belas melodias pop que tornaram Elton John um dos artistas comercialmente mais bem-sucedidos de todos os tempos. É difícil até destacar alguma música, mas “Tell me When the Whistle Blows” (com ótimo gostinho do Philly Sound da época), “Someone Saved My Life Tonight” (que fala de quando Elton quase se suicidou e foi salvo pelo amigo Long John Baldry), a faixa-título (que tem um swing irresistível), “Gotta Get a Meal Ticket” (com um riff matador do guitarrista Davey Johnstone), as lindas baladas “We All Fall in Love Sometimes” e “Curtains” são as minhas favoritas. Primeiro álbum da história a ganhar disco de ouro só com as encomendas das lojas (bons tempos em que qualidade musical e sucesso comercial se encontravam), Captain Fantastic... mostra o talento incomum de Reginald Kenneth Dwight e seu letrista fissurado no Velho Oeste num álbum definitivo: 50 anos depois, eles tiveram vários momentos de brilho, mas nunca fizeram algo que se comparasse com esse disco.
André: Embora eu tenha imenso respeito pelo Sir Elton John, suas músicas não me cativam. Não foi dessa vez.
Daniel: Que ótima lembrança. Este é um discaço de Elton John, no qual ele flerta mais com o Hard Rock (graças ao ótimo trabalho das guitarras de Davey Johnstone), mas sem perder as raízes da música norte-americana como o country, o blues e o soul, entre outras. Em um álbum conceitual, é importante ressaltar as letras de Bernie Taupin, que são emocionantes e dão coesão ao disco. E que música é "Tell Me When the Whistle Blows"!. Disco impressionante.
Davi: Sempre gostei muito do trabalho do Elton John. Principalmente, o período que vai de Elton John 1970 até esse Captain Fantastic and The Brown Dirt Cowboy. É um disco melhor do que o outro. Musicalmente, o álbum não traz muitas novidades, o que temos aqui é a sonoridade clássica do cantor mesclando seus rocks alegres com suas baladas tocantes, todas embaladas pelo piano de primeira grandeza de Elton e as letras impactantes de Bernie Taupin. Aliás, se temos um diferencial é justamente em relação às letras, já que esse disco é autobiográfico. Dentre as músicas aqui presentes, gosto muito de "Tower of Babel", "(Gotta Get a) Meal Ticket", "Captain Fantastic and The Brown Dirt Cowboy", além da belíssima "Someone Saved My Life Tonight". Excelente lembrança...
Mairon: Elton John é um artista que tive vários discos em minha coleção, mas com o passar do tempo acabei me desfazendo de quase todos, ficando apenas o (excelente) ao vivo 17-11-70. Este é um dos que esteve nas minhas prateleiras, e lembro que gostava de ouvi-lo vez ou outra, principalmente por faixas que agora, reouvindo novamente quase dez anos depois, ainda aprecio, como o delicado trabalho de crescendo da faixa-título, não tão grandioso quanto "Funeral For a Friend", mas com belas passagens acústicas e um bom trabalho de guitarras, e a espetacular sequência de "We All Fall in Love Sometimes" e "Curtains", que encerra magistralmente o disco. Elton se mostra um belo pianista em faixas como "Better Off Dead"", que me lembra bastante Queen, mas as faixas mais leves, vide "Someone Saved My Life Tonight" e "Tower Of Babel", acho bem abaixo das demais, apesar de carregarem seu B de beleza na audição. Um nome que se destaca ao longo de todo o disco é a guitarra de Davey Johston, em especial em "Bitter Fingers" (com mais um bom trabalho de piano de Elton) e "Gotta Get a Meal Ticket", rockaço tipicamente Elton John. Melhor faixa para a inspiração Motown de "Tell Me When the Whistle Blows" (que baita orquestração), para sair dançando pela casa, e deslize total para as inspirações latinas de "Writing". Acho que Sir Elton John se perdeu em uma carreira de mais baixos do que altos (os anos 80 dele são terríveis), mas o Marcello resgatou com certeza um de seus grandes discos, que vale a pena citar, é uma peça autobiográfica da carreira de Elton ao lado do parceiro Bernie Taupin.
Marcelo: Poucos artistas dos anos 70 estavam tão conscientes de sua própria trajetória quanto Elton John. Captain Fantastic and the Brown Dirt Cowboy, lançado em maio de 1975, é o primeiro álbum de rock autobiográfico em larga escala — e talvez o mais honesto da carreira do cantor. Ao lado de Bernie Taupin, Elton revisita aqui a juventude de ambos, quando ainda lutavam para serem levados a sério na Londres pré-glam. O resultado é um retrato emocional e maduro de uma dupla que já dominava o mundo, mas ainda se via como dois garotos tentando provar seu valor. A coesão do álbum impressiona: cada faixa parece conversar com a seguinte, num arco narrativo que mistura vulnerabilidade, ironia e autoconfiança. Musicalmente, Elton está em seu auge — com arranjos grandiosos e um domínio absoluto do piano. É impossível não ser fisgado já na primeira faixa, que dá nome ao álbum. E há algo profundamente humano em canções como “Someone Saved My Life Tonight”, talvez sua melhor balada, em que confessa o peso da fama e do próprio destino. Meio século depois, o disco soa quase como uma carta de amor à própria arte de sobreviver na música. Como achei essa lista do Marcello excelente de se ouvir em conjunto, fiz uma playlist com os 6 álbuns e confesso que foi muito legal ouvir Elton John misturado com os demais listados. Para mim, esse sempre foi um de seus melhores — se não o melhor — trabalho. Meus destaques: “Someone Saved My Life Tonight”, emocionalmente devastadora em seus quase sete minutos, e “Tower of Babel”, na qual a dupla sintetiza toda a melancolia e o brilho dos anos 70 e que poderia ser uma belíssima faixa composta pelo Supertramp. A gema escondida: “We All Fall in Love Sometimes”, uma canção que poderia ser tocada eternamente sem perder o sentido. Ponto para o Marcello, mais um disco bastante agradável de se ouvir.
Jethro Tull - Minstrel in the Gallery
Marcello: Minstrel in the Gallery é a obra-prima do Jethro Tull para mim, encapsulando o som folk que predominaria na segunda metade da década de 70, o hard rock que dera as caras na guitarra de Martin Barre em Aqualung, o prog de Thick as a Brick e A Passion Play e a mitologia nórdica do recente Rökflote. O álbum traz a fantástica faixa-título (com o riff memorável de Barre e a batida quebrada de Barriemore Barlow), que começa com uma introdução acústica e ganha peso na sequência, as belíssimas “Cold Wind to Valhalla” (primeira vez que a banda abordaria a mitologia dos vikings) e “Black Satin Dancer” (linda balada com ótimas guitarras), a épica “Baker Street Muse” com seus quase 17 minutos divididos em quatro partes (e bastante variação entre elas, mantendo-se interessante do começo ao fim), as belas baladas acústicas “Grace” (uma vinheta de encerramento) e “One White Duck/O10 = Nothing at All” (o bizarro título da segunda parte é perfeitamente explicado na letra), e a delicada “Requiem” (provavelmente a mais fraca do disco, mas seria destaque em muitos outros que a banda lançou); tudo considerado, o disco mostra que Ian Anderson, Barre, John Evan, Jeffrey Hammond-Hammond e Barlow estavam no auge da forma. Pena que Hammond-Hammond saiu ao final da turnê de lançamento do disco, mas este disco sensacional funciona como o testamento dessa formação, e é obrigatório para os fãs do Tull e essencial quem gosta do rock dos anos 70.
André: Adoro este disco e escrevi sobre ele aqui. De lá para cá, parece que só melhorou com o tempo. Tanto seu lado A mais hard rocker quanto seu lado B mais folk. É uma riqueza instrumental que me impressiona até hoje.
Daniel: Minstrel in the Gallery é o meu álbum favorito do Jethro Tull após Thick as a Brick. Talvez, ao mesmo tempo, seja o mais pesado desde Aqualung. O destaque é a dupla Martin Barre e John Evan (e isto me lembra de quanto Barre é um guitarrista subestimado). É claro que o apuro musical e técnico é visto por todo disco, mas há (muito) espaço para o Hard Rock, com riffs matadores e solos inspirados. Ao mesmo tempo a pegada Folk e os momentos para melodias tocantes também existem (na linda “Requiem”, por exemplo). Belíssima lembrança.
Davi: Esse disco faz parte da fase clássica do Jethro Tull. Sendo assim, não tem muito o que criticar. Martin Barre entrega um ótimo trabalho de guitarra, que pode ser sentido nas 3 primeiras faixas, as ótimas "Minstrel In The Gallery", "Cold Wind to Valhalla" e "Black Satin Dancer". Martin rouba a cena apresentando ótimos riffs e um peso fora do comum (em se tratando de Jethro Tull, ao menos). As outras faixas do álbum, apostam mais no lado mais folk e um uso maior dos violões (sim, eles já apareciam nas faixas iniciais). Dessa segunda metade, meu momento favorito fica com a encantadora "Baker St Muse". Durante a audição também vale prestar atenção no belo trabalho de flauta de Ian Anderson e nas orquestrações conduzidas por Dee Palmer.
Mairon: Minstrel in the Gallery estava na minha lista, e fico feliz de vê-lo aqui. Um disco muito relevante na carreira do Jethro Tull, já que leva o grupo do seu flerte com o progressivo para o relacionamento sério com o folk rock a partir de então (apesar de Too Old To Rock 'n' Roll, Too Young To Die ser um disco bem diversificado). As inspirações prog surgem logo de cara, na maravilhosa faixa-título, com um arranjo vocal fabuloso, uma performance assombrosa de Barriemore Barlow na bateria, e um trabalho incrível de guitarra por Martin Barre. Incrível como evoluiu como músico em apenas 6 anos. Seus riffs e solo na faixa-título estão certamente entre os melhores de sua carreira. O prog segue na sensacional "Black Satin Dancer", com um ótimo arranjo de cordas, e na longa "Baker St. Muse", ocupando quase todo o lado B com suas quatro partes que mesclam o folk e o prog singularmente, surgindo com piano, violão e cordas, explodindo nos solos trabalhados de flauta, guitarra e teclados, trazendo a linda participação das cordas, e encerrando as suítes do Tull definitivamente. Já o lado folk surge na espetacular "Cold Wind to Valhalla", com participação de cordas, uma introdução aos violões, e modificando-se para uma faixa pesadíssima (mais uma bela performance de Barlow aqui), nas tímidas "Requiem" e "Grace", e na interessante "One White Duck / 0¹° = Nothing At All", duas faixas em uma, somente com Anderson ao violão e voz, como um grande menestrel dos campos escoceses. Discaço, talvez top 5 dos melhores do Tull, e que deveria ser mais reconhecido pelos fãs.
Marcelo: Se houvesse uma palavra para definir Minstrel in the Gallery, ela seria “teatral”. Lançado em setembro de 1975, o álbum é o último respiro da fase mais progressiva do Jethro Tull antes de Ian Anderson mergulhar em caminhos mais folks e introspectivos. Gravado no majestoso Château d’Hérouville (o mesmo de Goodbye Yellow Brick Road, de Elton John), o disco é um banquete de contrastes: riffs vigorosos e passagens acústicas delicadas, ironia e confissão, técnica e emoção. Anderson assume aqui o papel de um trovador moderno, um “menestrel na galeria” observando o mundo com sarcasmo e ternura. O resultado é uma obra densa, de lirismo quase literário, em que cada faixa revela novas camadas a cada audição. O virtuosismo de Martin Barre nas guitarras e a bateria de Barriemore Barlow estão entre os grandes momentos da banda. O tempo só fez bem ao disco: hoje, soa como um testamento de uma era em que o rock ainda podia dialogar com Shakespeare sem perder a visceralidade. Meus destaques: a faixa-título, explosiva, e “Baker St. Muse”, suíte progressiva com suas múltiplas seções que mesclam humor e melancolia. A gema escondida: “Requiem” — acústica e comovente, quase uma prece perdida entre gigantes.
Little Feat - The Last Record Album
Marcello: “A banda que seus ídolos idolatram” - assim foi promovida a primeira turnê do Little Feat na Inglaterra, em 1975. Não era exagero: Page, Plant e Bonham eram fãs dos americanos, e os Stones gostavam tanto deles que esperaram com uma limusine na pista do aeroporto quando a banda chegou em Londres. O sexteto de Lowell George e Paul Barrère (guitarras e vocais), Bill Payne (teclados e vocais), Richie Hayward (bateria e backing vocal), Kenny Gradney (baixo e backing vocal) e Sam Clayton (percussão e backing vocal) não se desvia muito de seu som clássico neste quinto disco, que traz as ótimas “All That You Dream”, “Mercenary Territory”, “Day or Night”, “Down the Borderline” e “Romance Dance”. São apenas 8 músicas (com quase todos participando das composições - apenas Clayton não recebeu nenhum crédito), pouco mais de 34 minutos, mas nem sequer um segundo de música pode ser considerado dispensável. O Little Feat é na maior parte das vezes classificado como Southern Rock, mas não espere o blues da Allman Bros., os voos guitarrísticos do Lynyrd Skynyrd e do Outlaws ou o peso do Blackfoot e do Molly Hatchett: o som do grupo traz uma dose saudável de funk, outra de jazz de New Orleans, um pouco de rock, outro de country e uma pitada de blues. Um gumbo ou uma jambalaya, se preferir: de todo modo, uma mistura de diferentes sabores e temperos que dá certo e que nenhum outro chef conseguiu repetir. O Little Feat continua na ativa e inclusive lançou dois ótimos discos em 2024 e 2025, com Payne, Clayton e Gradney acompanhados por outros músicos (Lowell George morreu em 1979, Richie Hayward em 2010 e Paul Barrère, em 2019).
André: Conheço pouquíssimo dessa banda e nada deste disco. E gostei bastante. Típico rock sulista que eu gosto, ao melhor estilo The Almann Brothers Band. Adorei principalmente a quarta música "Day or Night". Ouviram com atenção este teclado e esta bateria? Original e muito marcante.
Daniel: Este quase entrou na minha lista (que já foi publicada) e fico feliz que o Marcello tenha se lembrado desta obra. Somente a presença de canções excelentes como “All That You Dream”, “Long Distance Love” e “Mercenary Territory” valem a audição do álbum. Trata-se de um Southern Rock de categoria, com influências de blues e country, tudo de maneira bastante orgânica.
Davi: Sempre que vejo algum texto falando sobre o Little Feat, vejo o autor se referindo à eles como uma banda de southern rock. Por isso, muitos podem esperar um som com forte influência de country e um forte trabalho de guitarra. Já aviso que nenhuma dessas características se destacam nesse trabalho deles. O som aqui é bem mais comercial buscando referências no funk, na soul music e até no jazz rock. O grupo conta com bons músicos e apresenta um trabalho vocal super bem resolvido, mas suas composições não me cativaram. Não que tenha achado ruim, é um trabalho agradável de escutar, mas não foi um disco que me empolgou. A única faixa que achei realmente fora da curva foi "All That You Dream". O restante, para mim, soa apenas ok.
Mairon: Confesso que não sou um grande conhecedor da obra do Little Feat. Em especial, ouvi somente três álbuns que lembre (Waiting for Columbus, Little Feat e Dixie Chicken - esse último excelente aliás), e conhecia uma que outra música de The Last Record Album. Sendo uma banda do Southern, a comparação com o Lynyrd Skynyrd é inegável, principalmente em "One Love Stand" e "Romance Dance". Porém, a principal diferença vai na potência dos backing vocals masculinos (diferente dos femininos da banda de Ronnie Van Zant), e na capacidade de sair do Southern e experimentar outros estilos, como o quase reggae de "Mercenary Territory". O som também é um pouco mais arrastado, sem soar com testosterona, e isso surge por exemplo na baladaça "Long Distance Love", ou na tocante "Somebody's Leavin'", onde o piano e a voz carregada chamam a atenção. O Little Feat também ousou trazer sintetizadores em "All That You Dream", e até swingar nas dançantes "Day Or Night" e "Down Below The Borderline", faixas raras dentro do Southern em geral, principalmente por seu balanço puramente negro. Um disco interessante, que talvez tenha me aberto o caminho para conhecer melhor a banda.
Marcelo: O título é uma ironia — e, ao mesmo tempo, uma premonição. The Last Record Album, lançado em novembro de 1975, não é o último disco do Little Feat, mas soa como o fim de uma era. Lowell George, genial e imprevisível, já mostrava sinais de desgaste e conflitos internos com o resto da banda. Ainda assim, o que se ouve aqui é uma aula de groove, técnica e feeling. O Little Feat sempre foi uma banda à parte dentro do rock americano: sofisticada demais para o sul, despretensiosa demais para Los Angeles. E este álbum é exatamente essa mistura, transitando com naturalidade entre funk, blues, soul e aquele rock que parece ter nascido ao lado de uma estrada poeirenta. Eu sou suspeito para falar, pois adoro esse som tipicamente americano sem nunca ter colocado os pés na terra do Tio Sam. No selo do LP original, tem uma estrada com um tipo de árvore de um lado e outro tipo do outro lado, ensolarada e nos convidando a percorrê-la enquanto curtimos esse sonzaço. A capa também é de um lugar que vive num certo tipo de imaginários dos Estados Unidos. Ouvi-lo hoje é descobrir o quanto eles anteciparam a sonoridade “americana” que depois seria explorada por artistas como Bonnie Raitt e Jackson Browne. The Last Record Album é o som de uma banda no auge da precisão musical e no limiar da ruptura emocional. Discaço e que não destoa da linha proposta pela lista do Marcello, outro golaço. Meus destaques: “All That You Dream”, irresistível, e “Long Distance Love”, uma das canções mais belas e tristes já escritas por Lowell George. A gema escondida: “Mercenary Territory”, com seus arranjos intrincados e clima quase cinematográfico de um filme que encerra uma era dentro dos anos 70. Mais uma prova de quão mágico foi o ano de 1975, fico feliz de ter proposto essa viagem por álbuns marcantes desse ano, para além de nossa lista dos melhores de 1975.
Nazareth - Hair of the Dog
Marcello: Se não for o melhor disco do Nazareth, chega perto. O sexto disco dos escoceses traz a faixa-título, clássico absoluto, com sua introdução de bateria com cowbell e o riff de guitarra matador de Manny Charlton, bem como as ótimas “Miss Misery”, “Beggars Day” (com sua belíssima coda instrumental como faixa independente - “Rose in the Heather”), “Changin’ Times” (outro riff fantástico de Manny) e a linda balada “Guilty”, levada na voz (com direito a um coro ao final), guitarra (grande momento Charlton, que faz o slide chorar) e piano. “Whiskey Drinkin’ Woman” tem ótimas guitarras e a longa e hipnótica “Please Don’t Judas Me” é uma boa música que acaba ficando um pouco abaixo das demais neste disco. A edição norte-americana trazia a famosa cover de “Love Hurts”, maior sucesso do Nazareth, no lugar de “Guilty”; hoje em dia as edições em CD trazem as duas músicas. Lembro bem de meu irmão ouvindo o disco quando eu era criança - e aquela capa com o Cérbero me deixava meio apavorado. O desempenho do saudoso Dan McCafferty neste disco é provavelmente o melhor de toda a sua carreira, Manny era um guitarrista discreto, mas capaz de riffs fantásticos, o batera Darrell Sweet ganhou destaque com bases mais pesadas que o seu normal, e Pete Agnew, único membro sobrevivente dessa formação, harmoniza muito bem com McCafferty no vocal e se mostra seguro como sempre no baixo. O Nazareth é meio que uma banda de segundo escalão no cenário hard dos anos 70, mas este disco é muito bom e, sobretudo, foi um dos que me despertou para o rock.
André: Oh seu Charlton, oh seu Agnew, que falta vocês fazem tocando juntos. Sua guitarra e baixo nasceram para tocar um com o outro. Escutem "Railroad Boy" e vejam o quanto ambos os instrumentos se complementam. Incrivelmente, eu ainda ouvi pouco desse disco comparado a vários outros deles. Mas o que não faltam aqui são licks deliciosos de guitarra e um baixo pulsante durante todo o disco.
Daniel: Discaço! Fico na dúvida entre este e o Razamanaz como meu álbum preferido do Nazareth. Canções como “Hair of the Dog”, “Miss Misery”, “Beggar’s Day” (uma ótima versão para a canção da Crazy Horse) e “Guilty” trazem o melhor do Hard Rock, vigoroso, pesado e sem perder a melodia. Ainda temos “Please Don’t Judas Me”, com seu toque folk/country. E como o Dan McCafferty cantava! Imperdível.
Davi: Depois de ter contado com as mãos do lendário Roger Glover (baixista do Deep Purple) atuando como produtor por 3 álbuns seguintes, a banda resolveu deixar o novo material nas mãos do guitarrista Manny Charlton. Engana-se quem acha que a qualidade caiu. Pelo contrário, o rapaz soube captar a sonoridade do grupo direitinho dando ênfase para o peso das guitarras e para os vocais impactantes de Dan McCafferty. Além da clássica faixa-título e da versão definitiva de "Love Hurts" (para quem não sabe, a música é um cover do Everly Brothers), o disco ainda trazia outros grandes momentos como a bluesy "Changing Times", além de "Whiskey Drinkin´ Woman" onde Dan demonstrava sua versatilidade enquanto cantor, trabalhando com a voz mais limpa. Hair of The Dog acredito que seja o ápice do Nazareth e serve como porta de entrada para o trabalho dos escoceses.
Mairon: Nunca fui muito fã do Nazareth, acho que mais por preconceito pela balada "Love Hurts" do que por ouvir a obra inteira dos caras, o que também nunca o fiz. Dito isso, Hair of the Dog (assim como Razamanaz) eu conheço modestamente bem, e apesar de mega-sucessos, não consigo gostar a ponto de ter em minha coleção. Claro, tem boas faixas, como o riff pesado de "Miss Misery", a longa e viajante "Please Don't Judas Me", e o brilhante slide de Manny Charlton (o dono do disco), ou a ótima "Changin' Times", com o vocal rasgado de Dan McCafferty e um belo riff para Jimmy Page aplaudir (influência nítida do Led aqui), e não à toa melhor do disco. Rockaços ácidos também surgem através de "Beggars Day", e até uma lindinha instrumental, "Rose In The Heather, com um belo trabalho de guitarra por Charlton, e ótima participação dos teclados. Charlton também é o centro das atenções em "Whisky Drinkin' Woman, uma faixa mais arrastada em comparação as demais. "A faixa-título aqui é um clássico, a citada "Love Hurts" (original dos Everly Brothers, e que saiu inicialmente só na versão estadunidense) se tornou o maior sucesso dos caras, mas falta algo. O disco é bom, bem trabalhado, merece todo o status que tem, e é isso. Sem mais.
Marcelo: Poucas bandas conseguiram traduzir tão bem o espírito do hard rock setentista quanto o Nazareth. Hair of the Dog, lançado em abril de 1975, é o álbum que consolidou o grupo escocês como força mundial. Amigo, esse álbum é o que tem “Love Hurts”. Do riff imortal da faixa-título — cuja letra foi censurada nos EUA por causa da expressão “son of a bitch” — até a lendária regravação de “Love Hurts”, escrita por Boudleaux Bryant e gravada pelos Everly Brothers (maravilhosa, é verdade, mas que tem a versão definitiva gravada aqui pelo Nazareth), tudo aqui é puro rock de estrada, suor e cerveja. O Nazareth tinha uma qualidade rara: soava sujo e refinado ao mesmo tempo. A voz rasgada de Dan McCafferty é puro instinto; as guitarras de Manny Charlton são o fino do rock pesado dos anos 70. Meio século depois, o disco ainda é combustível para qualquer amante do rock sem firulas. É curioso notar como, em meio à grandiosidade do progressivo e à delicadeza da folk music de 1975, o Nazareth entrega um álbum que é o oposto disso tudo — direto, pesado e cheio de vida. É o som de uma banda que continua merecendo mais audições do que tem. Meus destaques: “Hair of the Dog”, hino absoluto (quem me acompanha por aqui sabe que defendo que toda grande banda de rock tem seu hineo, e eis aqui o do Nazarteh), e “Love Hurts”, a balada eterna do rock and roll, sem mais. A gema escondida: “Changin’ Times” — talvez a faixa mais poderosa e injustamente esquecida do repertório do Nazareth, um petardo.
Hyldon - Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda ...
Marcello: Não sou conhecedor de música brasileira, admito, e quando surgiu a ideia dessas listas, fiquei com um desafio na mão e fui ouvir discos de bandas e cantores que pelo menos tivesse algum conhecimento lançados no ano. No final das contas, fiquei entre este e o Solta o Pavão do Jorge Ben. Optei pelo Hyldon por conta de duas músicas que me lembrava bem: a faixa-título (uma daquelas músicas que todo mundo conhece e pouca gente sabe de quem é) e “Meu Patuá”, um samba-rock com influência de soul music que merecia ser recuperado do esquecimento. O álbum foi gravado com o luxuoso apoio do pessoal do Azymuth e, além das duas músicas acima mencionadas, ainda tem coisas muito interessantes como “Guitarras, Violinos e Instrumentos de Samba” (em que Hyldon troca o violão por uma guitarra elétrica e se sai muito bem na empreitada – minha terceira música favorita na lista), “Vamos Passear de Bicicleta”, “Na Sombra de uma Árvore”, “Acontecimento”, “Quando a Noite Vem” e “As Dores do Mundo”. Hyldon tem uma voz agradável e se sai bem na guitarra e no violão, as melodias são inteligentes e bem-feitas, e as letras, ainda que simples, são efetivas e te convidam a cantar junto. Além disso, o cara tinha personalidade: algumas músicas tinham sido gravadas em 1973, mas ficaram no meio do caminho porque a gravadora queria que o álbum de estreia fosse metade material original, metade covers (até uma versão de “Angie”, dos Rolling Stones, estava planejada). Infelizmente, o cantor nunca reprisou o sucesso desse seu primeiro disco, mas continua na ativa e inclusive lançou disco novo este ano (JID023, produzindo pelo norte-americano Adrian Younge).
André: "Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda" pode ser a canção mais famosa dele, mas digo fácil que há várias outras (tanto neste disco quanto em outros trabalhos). "Quando a Noite Vem" e "Eleonora" são exemplos. Hyldon é outro artista brasileiro que venho escutando muito recentemente (coisa de 1 ano apenas), mas digo fácil que ele deveria estar no mesmo patamar dos outros dois cancioneiros nordestinos (Raul Seixas e Zé Ramalho) em termos de popularidade. Muito injustiçado (e pelo que pesquisei, mal tratado e boicotado pelas gravadoras).
Daniel: Em minha inesgotável ignorância sobre música brasileira, nunca havia nem ouvido falar deste artista e escutei apenas uma vez para escrever estas malfadadas linhas. Dito isto, reconheci a faixa-título, mas a versão que conhecia era em uma voz feminina (Kid Abelha?). O mesmo aconteceu com “As Dores do Mundo”, mas também já a havia ouvido em uma outra versão (gostei bem mais desta original, diga-se). Também curti “Guitarras, Violinos e Instrumentos de Samba”. Enfim, é um disco legal de se ouvir.
Davi: Clássico da cena soul/funk brasileira. Hyldon já era um nome conhecido das gravadoras, já tinha gravado com alguns artistas, mas nunca havia lançado um álbum dele até então. Em entrevista ao Charles Gavin, o músico comentou que sempre que mostrava uma composição sua para algum artista, ouvia do mesmo que tinha um jeito seu de cantar e que deveria lançar um LP. Hyldon não era um cara de uma grande extensão vocal, como era Tim Maia, por exemplo, mas tinha balanço e sabia trabalhar bem dentro de seus limites. Pode ser que seus dias de músico de estúdio tenham ajudado. Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda tem um ótimo instrumental, onde vale destacar as linhas de baixo de Alex Malheiros. Dentre as composições, além dos 2 clássicos incontestáveis – “As Dores do Mundo” e “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” – temos outros momentos de excelência como “Na Sombra de Uma Árvore”, além de “Quando a Noite Vai e Vem”, cuja a orquestração no início da música, por alguma razão, me remeteu aos dias de ouro do Taiguara. Disco essencial para os amantes de música brasileira.
Mairon: Hyldon pode ser um desconhecido em termos de nome para a maior parte dos meus colegas, mas com certeza ele será reconhecido através da canção título, que fez sucesso com Tim Maia e Kid Abelha, certamente seu maior sucesso. O cara é genial, com um jeito muito particular de cantar (alguns diriam "língua presa") que destaca certas palavras, e capaz de criar faixas belíssimas e com misturas inéditas, como o samba e a música clássica em "Guitarras, Violinos e Instrumentos de Samba", contando com um ótimo grupo nos vocais de apoio. Estranha no ninho, "Quando A Noite Vem" é uma faixa complexa, com uma ótima orquestração, arranjos vocais, e o andamento agitado da Azymuth, que é o coração do disco. Hyldon estreia mandando ver em faixas suaves e gostosas de se ouvir em um domingo, para relaxar, vide "Acontecimento", "Meu Patuá" e "Sábado E Domingo". Mas é quando ele empunha o violão que as músicas se tornam mágicas, vide "Balanço Do Violão", "Na Sombra de Uma Árvore", "Vida Engraçada", criando aquela vibe positivista que marcam as canções do artista, exaltando o amor e a vontade de ficar com a pessoa amada. Como não cantarolar os "la-la-la-la-la" de "Eleonora", ou "Vamos passear" após ouvir a sensacional "Vamos Passear De Bicicleta?", destacando em ambas a importante participação de José Roberto Bertrami nos teclados, que também brilha, junto da orquestra, na suave e linda "As Dores Do Mundo", canção que ficou nacionalmente marcada na voz de Rogério Flausino, do Jota Quest em 1996, mas que sua origem está lá, vinte anos antes, em 1975. Esta, assim como "Na Rua, Na Chuva e Na Fazenda", ganharam outras versões, mas foi Hyldon quem teve a capacidade de ser mais hippie de Tim Maia, trazendo o amor de um relacionamento não só com dores, mas também com esperanças. E claro, viva a Azymuth por ter feito mais um disco sensacional.
Marcelo: O melhor álbum da lista, disparado — amigo, esse disco tem a faixa que dá nome ao álbum, não precisa de mais nada para ser um dos melhores não só de 1975 como de nossa MPB ou seja lá o que essa sigla signifique. Aliás, a minha maior bronca com a lista oficial aqui da casa do ano de 1975 é a ausência desse clássico de nosso cancioneiro, só músicas lindas nesse álbum. Creio até que quando Hyldon lançou Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda… em 1975, talvez não imaginasse que estaria criando um dos pilares da soul music brasileira. O disco é mais do que um clássico: é uma declaração de amor à simplicidade e à emoção. Tudo nele é sincero, orgânico e leve — o tipo de música que não envelhece porque nunca foi feita para impressionar, mas para tocar o coração, simples assim. Fazer o complicado e o complexo é fácil, vá criar algo simples e de qualidade... Beatles que o digam. Gravado com a ajuda de músicos como Cassiano e Tim Maia, o álbum soa até hoje como um retrato da ternura urbana dos anos 70. Hyldon mistura violões, metais, grooves e poesia cotidiana com uma naturalidade que poucos alcançaram. E se “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda” se tornou um dos maiores hinos de nossa música popular, o resto do disco prova que ele nunca precisou de outro sucesso para se justificar. Ouvi-lo hoje é reencontrar um Brasil que acreditava no amor e na beleza das pequenas coisas, mesmo em meio aos piores anos da Ditadura — e perceber que esse espírito ainda vive em cada acorde. Meus destaques: “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”, “Na Sombra de uma Árvore”, “Vamos Passear de Bicicleta” e “As Dores do Mundo”, verdadeiras meditações sobre a vida. A gema escondida: “Meu Patuá”, faixa que tem um pouco de Raul Seixas, de Wilson Simonal, de Jorge Ben, de Di Melo, de Tim Maia e de Cassiano, em uma levada que, de todos esses, somente Hyldon deu conta de fazer.
Com André Kaminski, Daniel Benedetti, Davi Pascale, Mairon Machado, Marcelo Freire e Marcello Zapelini
É incrível que, depois de tantas listas que já fizemos, inclusive para o ano de 1975, Melhores de Todos os Tempos, Aqueles Que Faltaram e as listas individuais apresentadas pela Consultoria nesse aniversário de 50 anos desses discos, ainda consegui pinçar discos tão fantásticos que não haviam sido abordados. Todos esses discos, embora de estilos diferentes, têm um ponto em comum: representam momentos de afirmação artística e de consolidação de identidade dessas bandas e artistas em meados dos anos 70. O Gentle Giant, Hatfield and the North e Renaissance exploram o lado sofisticado do rock progressivo, cada um em vertentes distintas. Já os Scorpions, Kiss e Tommy Bolin trazem a face mais direta do rock setentista, seja no hard rock incendiário, no espetáculo ao vivo ou na fusão experimental de estilos. Todos esses álbuns traduzem, cada um à sua maneira, o auge da criatividade dos anos 70.
Gentle Giant - Free Hand
Fernando: Sempre quando você ouvir alguma banda fazer referência à alguma coisa do Gentle Giant, provavelmente você vai encontrar a ideia original nesse disco. Um dos ápices da complexidade criativa do Gentle Giant, virtuosismo na veia, instrumental com melodias acessíveis e vocais com as famosas polifonias tão características da banda. Muita influência de música medieval e ritmos quebrados. Particularmente não é meu preferido do Gentle Giant (o posto vai para o Octopus, de 1972), mas poderia ser.
André: Banda conhecida por aquela musicalidade meio louca e excêntrica, eu sempre tive apreço por eles que se utilizan fartamente destas quebras de ritmos e progressão incomum. Quando bem dosada, fica bem legal como em Octopus [1972]. Mas acho que neste disco eles decerto pensaram que a galera gostava muito e decidiu dar "ainda mais" quebras e viagens. E aí erraram um pouco a mão. Curiosamente, as últimas 3 canções são bem diferentes, usando de mais melodia e ritmos mais calmos. Muita gente não curtiu essa parte mais serena, eu pelo contrário, até gostei mais do que as conhecidas viagens deles. Certeza que a inspiração para as 3 últimas faixas foi o Pink Floyd. O resultado ficou a altura deles. No geral, bom disco, com minha preferência ao Lado B mais do que o A.
Daniel: Embora meu álbum preferido do grupo seja Octopus, Free Hand também está em alta conta comigo. Percebo certa acessibilidade na sonoridade do grupo neste trabalho, com menos momentos mais complexos e intrincados, como em obras anteriores. Entretanto, as influências folk e as medievais permanecem firmes e o som do grupo sempre soa sofisticado. “On Reflection” é sensacional! Excelente indicação.
Davi: Algo muito bacana dessa série é que ela nos força a reescutar álbuns que não ouvíamos há um bom tempo e, com isso, acabamos redescobrindo algumas pérolas, como é o caso desse disco. O Gentle Giant apresentava aqui um som que era, ao mesmo tempo, complexo e melódico. Boa parte desse lado melódico era culpa do ótimo trabalho vocal que realizavam. Uma performance que gosto muito é a abertura de “On Reflection”, onde eles exploram o tão falado vocal polifônico, uma das marcas do grupo. “Just The Same”, responsável por abrir o disco, traz uma sonoridade um pouco mais acessível e pode ser uma interessante porta de entrada para quem nunca ouviu nada da banda. O único ponto baixo acredito que seja a instrumental “Talybont”, onde os músicos usam e abusam de uma influência mais medieval, digamos. Nada contra – inclusive acho que eles utilizaram essa mesma referência com mais inteligência em “Mobile” – mas essa é uma faixa não me empolga. O restante do disco é excelente!
Mairon: Porra Fernando, esta tua lista "roubou" vários discos da minha. O Gentle Giant é um dos grandes nomes esquecidos do progressivo britânico. Apesar de ter seu reconhecimento, sempre vejo a galera os colocando abaixo de Pink Floyd, Yes, Genesis, ELP e King Crimson. Pois acho que os Cinco Grandes do Prog Britânico deveriam ter o gigante gentil entre eles (assim como o VDGG), e muito por que os caras criaram discos espetaculares como esse. Em 1975 o quinteto estava no auge de sua forma, tinham encontrado finalmente o caminho a seguir, após os excelentes Octopus, In A Glass House e The Power And The Glory, e fazem de Free Hand uma espécie de coletânea musical de tudo o que haviam feito até então. "Just the Same", faixa que abre o disco, é uma pequena amostra do que é o som do grupo, com diversas variações, o tecladista Kerry Minnear fazendo misérias, e uma intrincação musical que qualquer estudante de arte fica enlouquecido tentando decifrar o que está acontecendo. O mesmo segue em "On Reflection", uma complexa peça musical com um trabalho vocal exímio e perfeito, transformado instrumentalmente em algo tão complexo quanto as linhas vocais da primeira parte da canção (e que os caras reproduziam fielmente ao vivo) e "His Last Voyage", onde Minnear nos brinda com o Vibraphone, e as nuances musicais de violão, baixo e piano, acompanhando os vocais, são lindíssimas. Curto muito o peso e os teclados da faixa-título, também presentes na ótima "Mobile", com nuances renascentistas através do violino de Ray Shulman. Destaque especial para a instrumental “Talybont”, lindíssima e de nuances brilhantes através da repetição da melodia central em diversos instrumentos. Fantástica! Ouvir essas músicas ao vivo (bem como ver) é um teste de fôlego para quem quer entender o que era o progressivo de verdade, com músicos incríveis fazendo um trabalho incrível. Comento mais sobre este disco aqui.
Marcelo: A marca registrada do Gentle Giant está em nunca facilitar para o ouvinte — e Free Hand talvez seja um ótimo exemplo desse espírito. É um disco que exige entrega, como quem resolve decifrar um quebra-cabeça musical, em que cada peça é ao mesmo tempo barroca e progressiva, clássica e roqueira, mas, ao mesmo tempo em que se trata de um disco ambicioso, com muitas coisas acontecendo em termos sonoros em cada uma das faixas, a sua audição é agradável e flui sem que tenhamos que nos esforçar muito para isso. Ao ouvi-lo depois de tantos anos sem revisitá-lo (obrigado por isso, Fernando), me veio à mente a seguinte reflexão: e se esse disco fosse lançado hoje? Sinto muita falta dessa época na qual 1975 parece ter sido o topo da montanha, já que os anos 70 foram um renascimento para a música. A indústria não se interessava tanto por bandas padronizadas e era mais aberta à experimentação. Que época para se estar vivo, pelo menos para músicos e para apaixonados por música! Lançado em julho de 1975, é o último álbum da banda a alcançar sucesso expressivo nos EUA, e soa como se o grupo estivesse em perfeita harmonia criativa — e é impossível deixar de lado a participação de um dos músicos mais subestimados do rock, o recém-falecido baixista Ray Schulman, que às vezes soa mais como o também já falecido e grande Chris Squire do que o próprio Chris Squire. Aqui, a complexidade nunca engole a emoção: “On Reflection”, por exemplo, é quase um coral renascentista reinventado no meio do rock progressivo. Meu destaque: a faixa-título, que sintetiza a virtuosidade e a ousadia da banda em pouco mais de seis minutos.
Marcello: No final dos anos 80 consegui pela primeira vez comprar LPs do Gentle Giant (usados, é claro), e este foi adquirido junto com Interview. Discaço!! A banda vinha lançando álbuns conceituais, como Three Friends (sobre três amigos que tomam rumos diferentes na vida), The Power and the Glory (o disco político) e In a Glass House, em que a prisão se tornava uma metáfora. Mas este parece não ter nenhum fio condutor; não fez falta. A incrível musicalidade de Derek e Ray Shulman, Kerry Minear, Gary Green e John Weathers conduz sete faixas extremamente interessantes, começando com “Just the Same” e seu ritmo intrincado, até terminar em “Mobile”. Os arranjos vocais absurdamente complexos da banda atingem seu apogeu com “On Reflection”, a habilidade incomum dos músicos impera na instrumental “Tallybont” e “His Last Voyage” traz o vocal comovente de Kerry Minear numa triste história sobre um pescador que morre no mar. Ainda há a paulada da faixa-título e “Time to Kill” (a única que não chama a atenção). Um dos discos maravilhosos que essa banda subestimada gravou na década de 70, Free Hand é um testemunho de um tempo que nunca mais vai voltar. Obrigado por relembrá-lo, Fernando!
Hatfield and the North - The Rotter's Club
Fernando: Clássico do movimento de Canterbury, trazendo humor, ironia e experimentação sofisticada. Eu tinha ouvido alguma coisa da banda e depois que li o livro The Rotter’s Club do autor Jonathan Coe, em que seu protagonista é um entusiasta dessa banda, acabei criando uma relação legal com esse disco. As composições são intrincadas, mas leves, com uma atmosfera quase jazzística que torna o disco peculiar e de difícil digestão numa primeira vez.
André: Gosto bastante dessas bandas de Canterbury e esta é uma de minhas favoritas. Apenas dois discos e muito bons nesta mistura de jazz e rock progressivo com letras recheadas daquele típico humor inglês. The Rotter's Club é indispensável para quem ama progressivo setentista e quiser curtir aquele som positivamente datado.
Daniel: De toda a lista, é o único que não tenho e nunca havia ouvido. Sendo um álbum da cena de Canterbury, não deu outra, agradou-me bastante. Progressivo com influências folk e psicodélica, as quais eu curto muito, além de toques de jazz e com longas passagens instrumentais… enfim, tudo de que eu gosto bastante
Davi: Essa é uma banda que nunca tinha ouvido falar. Tudo bem... Conheço um pouco do que o Richard Sinclair aprontou ao lado do Camel e do Caravan, mas esse projeto eu, de fato, não conhecia. A jogada dos caras era fazer um som progressivo com uma forte aproximação do jazz. A maior parte do álbum é instrumental e os arranjos ajudam a enfatizar a qualidade técnica dos músicos (indiscutivelmente, todos os músicos presentes aqui são de alto calibre), mas esse é o tipo de som que não me agrada. Independente da qualidade do material, achei o álbum um pouco cansativo. Não me fisgou.
Mairon: Desta lista do Fernando, este álbum é o que menos tive contato, até por ser um disco "mais fora do eixo" dos demais. A cena de Canterbury tem vários achados, e na obra de Richard Sinclair, a Hatfield and the North é um dos grandes momentos. Sinclair é um músico tarimbado, e que criou obras seminais em sua carreira como baixista. Seja no Caravan, seja no Camel, seja com o timaço que ele monta aqui, não tem erro. É inegável que o auge do disco e a suíte "Mumps" e suas 4 partes que ocupam todo o lado B, mostrando toda a versatilidade dos caras, e é aqui que o Hatfield and the North me ganha. A versatilidade, que vem também em faixas como "The No Yes Interlude", com um show a parte do tecladista Dave Stewart, outra fera fantástica, ou as explorações dos sintetizadores de "Didn't Matter Anyway", faixa veloz e bem distinta das demais do disco. Temos também "Share It", que me lembram um pouco o King Crimson fase Islands, mas com certas pitadas mais ousadas de experimentação instrumental. Adoro essa mistura de jazz, progressivo e folk que a cena de Canterbury entrega, e que fica sobressaliente em "Fitter Stoke Has a Bath", e as surpresas que surgem ao longo da audição. Afinal, "Underdub" é quase um sambão feito pela galera do Azymuth, mas com todo o gingado de Canterbury. Para fechar, aprecie a brilhante guitarra de Phil Miller em "Lounging There Trying", uma linda peça onde o (mais um) injustiçado Miller mostra como solar limpo, sem distorções, e ainda ser virtuose e monumental. Belíssima indicação!
Marcelo: Se o Gentle Giant complica, o Hatfield ironiza; se o Gentle Giant te convida para uma sessão com Haydn e Telemann, Hatfield chama Wayne Shorter e Billy Cobham. O chamado Canterbury Sound encontra nesse álbum um de seus tesouros: jazz, rock, humor e poesia em doses quase improváveis. The Rotter’s Club é o segundo e último disco da banda, e é daqueles trabalhos que parecem não se preocupar em agradar ninguém além dos próprios músicos — o que, paradoxalmente, o torna ainda mais fascinante. Dentre esses músicos, o fabuloso e também já falecido guitarrista Phil Miller, que era bom tanto para quem curte rock como para quem curte jazz. O ouvinte é convidado a se perder em improvisos, mudanças de tempo e melodias que surgem e desaparecem como nuvens; se você curte jazz, free jazz e fusion, estará em casa. Não é um disco que eu escolha para sentar e ouvi-lo inteiro com muita frequência (na verdade, raramente o ouço), mas não deixa de ser uma escolha boa. Meu destaque: “Mumps”, a suíte de quase 20 minutos que encerra o disco, uma viagem altamente influenciada pelo Yes e pelo Renaissance que sintetiza a liberdade criativa do Canterbury Sound.
Marcello: Ah, o prog de Canterbury... Dificilmente o povo de lá decepciona, e o Hatfield and the North não é exceção. O grupo era formado por Richard Sinclair (baixo, vocal), Dave Stewart (teclados), Phil Miller (guitarra) e Pip Pyle (bateria), e seu som era aquela mescla de jazz, erudito, psicodelia e rock típico da região. “Share It” abre (muito bem) o disco, com o sintetizador de Stewart em destaque. A instrumental “Lounging There Trying” começa jogando os refletores na guitarra do ótimo Miller, e na sequência, temos duas pequenas vinhetas com títulos bizarros. “The Yes No Interlude” traz metais de Jimmy Hastings, Lindsay Cooper e Tim Hodgskin (o primeiro um arroz-de-festa em Canterbury, os outros dois integrantes do Henry Cow), numa música que parece um pouco com King Crimson do início (inclusive pelo solo de Miller, que lembra os do Fripp), apesar dos teclados proeminentes. “Fitter Stoke Has a Bath” traz o belo vocal de Sinclair de volta, e o lado A se encerrava com “Didn’t it Matter Anyway”, em que o baixista tocou uma segunda guitarra. Outra instrumental, “Underdub”, prepara o caminho para a suíte “Mumps”, escrita por Stewart e com quatro partes que duram mais de 20 minutos numa longa viagem quase inteiramente instrumental (apenas “Lumps” tem Sinclair cantando e alguns wordless vocals femininos), com ótimo desempenho dos músicos. The Rotter’s Club é aventureiro e testa os limites. Foi muito bom ouvi-lo novamente depois de alguns anos.
Renaissance - Scheherazade And Other Stories
Fernando: Uma obra-prima do rock sinfônico, marcada pela grandiosidade orquestral e pela voz cristalina de Annie Haslam. O que canta essa mulher é uma sacanagem! O épico “Song of Scheherazade” é um dos momentos mais ambiciosos do gênero e muito representativa do progressivo sinfônico. Se você ouvir esse disco e não gostar, volte para a primeira faixa e ouça de novo, pois ouviu errado.
André: Apesar do Fernando ser conhecido por lamber os bagos da estátua de cera do Steve Harris todo dia antes de dormir, acho que ele o chifra com Michael Dunford porque está sempre enfiando discos do Renaissance para ouvirmos. Escutei pouco do Renaissance ainda, mas do que ouvi, gostei mais de Ashes Are Burning [1973] do que este. Achei este disco exageradamente produzido e artificial, preferindo as abordagens mais antigas da banda que soaram para mim mais com cara de grupo mesmo do que este apelo excessivo pela orquestra. Dá a impressão que o disco é da orquestra com Annie Haslan como convidada. Para mim, falta mais guitarra e baixo, e mesmo Annie parece só uma coadjuvante. Não entendi muito bem esta proposta, não é um som ruim, mas eu não esperava ouvir um álbum de uma banda tão conceituada se parecer mais com uma trilha sonora do que rock.
Daniel: Mais uma ótima escolha. Álbum que traz um Rock Progressivo repleto de melodias e longas passagens instrumentais introspectivas. “Song of Scheherazade” é uma suíte belíssima, com as orquestrações realmente contribuindo para engrandecer a canção. E que cantora é a Annie Haslam. Discaço!
Davi: Esse é considerado um clássico do Renaissance e é comum nos depararmos com vários fãs citando-o como seu favorito. De fato, o álbum é muito bonito, onde colocaria como grandes diferenciais a participação da London Symphony Orchestra, que criou uma atmosfera quase cinematográfica, e os trabalhos vocais de Annie Haslam. Muitos fãs de rock progressivo citam como ponto alto, o lado B com sua suíte de 24 minutos de duração. A faixa é realmente envolvente, mas ainda prefiro as 3 músicas presentes no lado A. Especialmente, "Ocean Gypsy" e "Trip to Fair". De todo modo, boa lembrança...
Mairon: Um dos discos mais lindos da história, e mais um que estava na minha lista. Entre 1972 e 1977, tudo o que o Renaissance tocava virava ouro, e essa pepita de 2000 quilates para mim é a obra-prima da banda. Focada em temas mais suaves, o pianista Jon Tout se revela um dos melhores músicos de sua geração (e bastante injustiçado), fazendo misérias com o piano na introdução de "Trip to the Fair" ou abrilhantando seu belíssimo solo ao piano em "Ocean Gypsy" com camadas emocionantes de sintetizadores. Mas é na Maravilhosa suíte "Song of Scheherazade" que a casa cai. Um épico de quase 25 minutos que nos trata aos conto das mil e uma noite, e que o trabalho de Tout é colocado à prova, junto com uma performance fantástica de Annie Haslam, que sempre teve uma das melhores vozes femininas do prog, e aqui estava vivendo seu auge, uma orquestraçao fabulosa, e uma música que, por que não, pode ser considerada uma das mais belas da história do progressivo. Ainda temos a descomunal "The Vultures Fly High", talvez a canção mais rock da carreira do Renaissance, que destoa da leveza de todo o disco, mas é igualmente incrível, com destaque para o baixão Rickenbacker de de Jon Camp, outro músico bastante injustiçado. Comento mais sobre o disco aqui, forte candidato a melhor disco desta lista, e perde por pouquinho para In trance, mas em certos dias, bah, ganha com sobras.
Marcelo: Se há um disco em que o rock progressivo flerta sem medo com a música erudita, é esse – basta a abertura com “Trip To The Fair” para comprovar isso. Há obras de arte que parecem não ter sido feitos apenas para uma década ou para um gênero específico: são realizações que se erguem como monumentos atemporais. Scheherazade and Other Stories é exatamente isso — um daqueles álbuns que deixam a sensação de que não pertencem só ao rock progressivo, mas a uma tradição maior, na qual música popular e erudita se abraçam com naturalidade. O Renaissance já vinha amadurecendo sua estética desde o começo dos anos 70, mas aqui eles alcançam um equilíbrio quase perfeito entre a sofisticação instrumental e a emoção direta. O álbum é grandioso, quase operístico, e ao mesmo tempo de uma delicadeza rara. Annie Haslam canta como quem abre janelas para um castelo imaginário: cristalina, firme, etérea. O lado A do vinil já traz três canções dessa beleza atemporal. “Trip to the Fair”, com seus nove minutos, é uma jornada cheia de contrastes: delicadeza e tensão, mistério e encantamento. “The Vultures Fly High” é quase um interlúdio pop-progressivo, leve e contagiante. Mas é em “Ocean Gypsy” que o grupo atinge uma das expressões mais emocionantes de sua carreira: uma balada melancólica que parece atravessar mares e séculos, ainda hoje capaz de arrepiar na primeira audição e que carrega em si a melancolia mais doce que o Renaissance já gravou. A suíte “Song of Scheherazade”, que ocupa todo o lado B, é uma das experiências mais cinematográficas que o rock já produziu — você quase consegue enxergar tapetes, desertos e palácios orientais enquanto a orquestra se mistura à banda! Meu destaque: “Ocean Gypsy”, pela delicadeza sublime; mas seria injusto não dizer que a verdadeira joia está em “Song of Scheherazade”, uma das maiores peças já gravadas no progressivo, e que já foi resenhada por aqui pelo colega Mairon Machado. Melhor álbum da lista indiscutivelmente — existem poucos álbuns eternos e esse é um deles.
Marcello: O Renaissance tem cinco discos perfeitos em sua carreira, e este Scheherazade ... é o penúltimo deles. Com a voz angelical de Annie Haslam, o violão econômico de Michael Dunford, os teclados virtuosos na medida certa de John Tout, o baixo impressionante de Jon Camp (um daqueles mestres subestimados no instrumento) e a bateria de Terry Sullivan, o álbum não traz tantos toques de música clássica quanto os anteriores, mas não deixa de impressionar. “Ocean Gypsy” é uma das músicas mais lindas do Renaissance, “The Vultures Fly High” tem uma letra surpreendentemente amarga para o padrão da banda (criticando os críticos) e a suíte “Scheherazade” é belíssima além de qualquer descrição, em especial a orquestração e os vocais de Camp e Haslam. A única música que não curto muito é “A Trip to the Fair”, inspirada pelo primeiro encontro entre Annie e Roy Wood, o fundador do The Move e da Electric Light Orchestra – curiosamente, o que me impede de gostar mais da música é justamente o vocal de Annie, que não funcionou para mim nessa música. Meus discos favoritos do Renaissance são Ashes are Burning e Turn of the Cards, mas não me espanto quando alguém defende Scheherazade ... como a obra-prima da banda.
Scorpions - In Trance
Fernando: Álbum de transição que consolidou a sonoridade clássica da banda, misturando baladas melódicas e peso hard rock. Os dois primeiros discos, a meu ver, são apenas aperitivos e em In Trance é onde o Scorpions mostrou a que veio. É o disco que começa a projetar os Scorpions para a cena internacional.
André: Eles melhorariam ainda mais com o tempo, mas este Scorpions deixando de lado o psicodélico para afundar de vez no hard rock é ótimo. Por mais que eu também goste dos vários outros ótimos guitarristas que passaram pela banda, os alemães com o Uli Jon Roth eram diferenciados em seus solos e melodias. Você reconhece o dedilhado dele. Scorpions setentista e oitentista não tem erro. Só coisa boa.
Daniel: Fazia muitos (e bota muitos nisso) anos que eu não ouvia este disco e já nem me lembrava da maioria das canções, devo confessar. A experiência foi bastante revigorante, especialmente por me recordar de músicas como “Life’s Like a River”, “Living and Dying”, “Sun in My Hand” e a faixa-título. O Scorpions da fase Uli Jon Roth é mais sombrio e mais pesado, com ótimos riffs e solos. Obrigado por me fazer recordar deste disco, Fernando!
Davi: Aqui, o Scorpions começava a encontrar sua cara. In Trance marca a chegada do famoso logo e também já começa a dar seus primeiros passos para a sonoridade clássica do grupo. É verdade que as faixas ainda não tinham aquele apelo mais comercial que chegaria com força nos álbuns que os músicos lançaram nos anos 80, mas já chegavam com força no hard rock. Diria que é um trabalho de transição. Nesse LP, o grande destaque são as guitarras de Uli Jon Roth. Embora conte com uma faixa instrumental ("Night Lights"), onde ele chama mais atenção é em "Evening Wind". Solo, simplesmente, esplendoroso. O guitarrista também se arrisca nos vocais em "Sun In My Hand", além da ótima "Dark Lady", onde divide a frente com Klaus Meine. Seus vocais não incomodam, mas em se tratando de Scorpions é realmente a voz de Klaus que se destaca. Vamos combinar que o baixinho sempre teve um timbre bem característico. O lado A considero mais forte do que o lado B e é nele que estão meus momentos favoritos do disco: a faixa título, "Top of The Bill", além da já citada "Dark Lady".
Mairon: Um discaço do início ao fim. Uli Roth estava soberano aqui. Seus riffs e solos são lindos, com fortes inspirações em Hendrix, mas com um sotaque todo alemão em faixas hardeiras como "Longing For Fire", "Robot Lady" e "Top of the Bill", mas principalmente nas melódicas "Evening Wild" , nas quais o alemão faz sua guitarra literalmente gemer sem sentir dor. O solo dele em "In Trance" é de chorar, que baita música. Minhas preferidas são o blues animado de "Sun In My Hand", com o baixão estourando as caixas de som, e a emocionante instrumental "Night Lights". Para fechar, o cara manda ver nos vocais de "Dark Lady". Um destaque extra vai para a participação dos teclados, que mesmo apenas fazendo camadas sonoras, abrilhantam o trabalho fenomenal de Uli em faixas como "Life's Like a River" e "Living and Dying". Sobre o Scorpions, sem Uli é outra banda, e In Trance é uma das grandes provas disso (assim como todos os demais álbuns dessa fase). Baita indicação, que estaria certa nas minhas. Comento mais sobre esse obra-prima aqui.
Marcelo: Antes de se tornarem campeões de baladas radiofônicas nos anos 80, os Scorpions já eram uma banda poderosa, com riffs cortantes e climas sombrios. Aliás, por falar em baladas, o álbum tem três das mais memoráveis: “In Trance”, “Living and Dyin” e “Life’s Like a River”. In Trance é o disco em que eles encontram sua identidade definitiva: mais pesado (“Dark Lady”), mais sombrio (“Evening Wind”) e mais direto (“Robot Man”) do que os anteriores. A capa — polêmica e censurada em alguns países — já anunciava a intenção de chocar, mas é na música que o grupo se impõe, e aqui Uli Jon Roth mostra por que foi um dos guitarristas mais inventivos da década. O álbum só tem pedrada, uma atrás da outra, é um discaço. Meu destaque: a faixa-título, ode deliciosa ao alcoolismo, que é praticamente um hino gótico disfarçado de hard rock e que é umas das minhas músicas favoritas da banda, com um dos solos mais lindos da década de 70.
Marcello: Este álbum tem três palavrinhas mágicas que definem sua qualidade: Uli Jon Roth. O que o alemão fã de Hendrix toca é algo que não se encontra em muitos lugares por aí. Klaus Meine, Rudolph Schenker, Francis Buchholz e Rudy Lenners se esforçam, mas é a guitarra-solo que reina soberana de “Dark Lady” a “Nights Lights”. A faixa-título é uma das melhores músicas da banda, na minha opinião (a versão ao vivo em Tokyo Tapes é ainda melhor), com desempenho vocal excelente de Klaus e a classe do grande Uli Jon. As baladas “Life’s Like a River” e “Living and Dying” não se destacam muito, apesar do ótimo trabalho de guitarras, mas “Top of the Bill” e “Robot Man” (outras duas músicas que aparecem muito bem em Tokyo Tapes) recolocam o disco nos eixos. “Evening Wind” e “Sun in my Hand”, composições de Roth, e “Longing for Fire” (de Roth e Schenker, uma das melhores músicas do disco para mim) dão sequência ao bom lado B, que se encerra com a instrumental “Night Lights” (também de Uli Jon Roth), outro show do guitarrista. Scorpions é uma boa banda que não chega a figurar na minha lista de favoritas, mas os discos que vão de In Trance a Tokyo Tapes são essenciais para quem gosta de uma guitarra (muito) bem tocada.
Tommy Bolin - Teaser
Fernando: Estreia solo que mostra a versatilidade de Bolin como guitarrista e compositor, explorando hard rock, funk, jazz e baladas. Um trabalho ousado que revela o talento interrompido cedo demais. Jon Lord participa com seus teclados inconfundíveis em um período em que Tommy estava ainda em turnê com o Deep Purple. Por conta disso não conseguiu promover de forma adequada esse disco e acabou sendo um fracasso de vendas. Conheci esse disco depois de procurar pela versão original de uma regravação da faixa título feita pelo Mötley Crue.
André: Com muita vergonha, confesso que não conhecia este disco. Inacreditável que eu passei 39 anos da minha vida sem ter ouvido este diamante. É o típico álbum com instrumentais que eu admiro. Aquela guitarra sinistra, ousada, mesclando abordagens diferentes dentro do funk, hard rock e fusion fazendo chover em riffs incríveis. Bolin não brilha muito cantando, mas nem precisava. Discaço fodaço!
Daniel: Excelente álbum de um guitarrista que infelizmente morreu cedo demais. Adoro os trabalhos solos de Bolin, nos quais ele explora todas as suas influências: hard rock, blues rock, jazz, reggae, entre outras, muitas vezes em uma mesma canção. É claro, todo o feeling de Tommy Bolin é o grande destaque e faixas como “Teaser”, "Homeward Strut" e “Lotus” estão entre minhas preferidas. Belíssima lembrança.
Davi: Sempre gostei muito do Tommy Bolin. Descobri o músico muitos anos atrás por conta do trabalho que realizou no ótimo Come Taste The Band e não demorou para que quisesse conhecer mais de seu trabalho. Esse primeiro álbum solo, aposta em um material bem variado buscando referências no hard rock, no funk, no reggae... "The Grind" abre bem o trabalho, trazendo um pouco da veia funky, e mostrando que Bolin era um compositor de bom gosto, um cantor correto, além do brilhante guitarrista que já sabíamos. Para quem quer ouvi-lo brilhar no instrumento, uma boa dica é a instrumental "Marching Prowder". Contudo, meus momentos favoritos ficam com a divertida faixa-título (que recebeu uma competente regravação do Motley Crue na década de 90), com a bela balada "Dreamer" - que conta com a participação do Glenn Hughes. E, sim, conforme o previsto, the voice of rock rouba a cena. Embora ainda ache que sua participação poderia ter sido maior - além de "Wild Dogs". Outro momento curioso é "Savannah Woman", com sua vibe meio Santana e com uma letra trazendo citações ao Brasil. Bom disco.
Mairon: Mais um que estava na minha lista e o Fernando "roubou". Essa fabulosa estreia do jovem Bolin mostra que mesmo com apenas 22 anos, a experiência do guri era enorme. Tendo passado pelas guitarras de Zephyr, James Gang e Moxy, além de ser peça fundamental em Spectrum (de Billy Cobham), Bolin aqui colocou para o fã todo o seu aprendizado ao longo de 6 anos de carreira. Assim, das misturas de jazz fusion e rock de Spectrum surgem as pauladas "Homeward Strut" e “Marching Powder”, fácil candidata a melhor canção de Teaser. Das baladas bluesy da James Gang vêm as lindas "Dreamer", com um show vocal de Glenn Hughes ao final, e a incrível capacidade de derreter velas na mais que comovente “Lotus”. Das raízes hards de Zephyr e Moxy, pérolas do porte de "Teaser", na qual Bolin manda ver no slide e com um riff que me remete fácil a "At War With Satan" do Venom. E ainda cria novidades, como a dançante e santaniana "Savannah Woman", sensualíssima, ou o pseudo reggae de "People, People". Destaque também para os ótimos músicos convidados, em especial David Foster (piano e sintetizadores) e os bateras Michael Walden e Stanley Sheldon, que fazem uma exímia cozinha para Bolin nos abrilhantar com solos, riffs e efeitos que ele adorava trazer para seu som. Bolin era tão foda que foi capaz de colocar uma faixa deste disco, no caso "Wild Dogs" (linda, por sinal"), no set list da tour de Come Taste the Band. Bota ticudão! Comento mais sobre esse disco aqui, e lamento que Bolin tenha ido tão cedo e passado seu legado como o cara que substituiu Ritchie Blackmore no Deep Purple. Há muito mais na carreira dele, e esse disco é mais uma prova de que a ponta do iceberg esconde muita coisa por debaixo. Um gênio eterno!
Marcelo: Tommy Bolin parecia estar sempre a um passo da consagração definitiva — e Teaser, seu primeiro álbum solo, mostra o porquê. Bolin grava aqui um trabalho plural: jazz-rock, funk, hard rock e baladas, tudo convivendo sem esforço. É como se ele tivesse pressa em mostrar tudo o que podia fazer, pois mesmo sendo novo sentia que seu tempo estava acabando, como dá a entender cantando sobre o que já passou na faixa de abertura do disco “The Grind”: “Andei o dia todo tentando arranjar um trampo, / Devo ter batido em umas cem portas. / Engoliria meu orgulho por um pouco de grana, / E ficaria feliz varrendo os pisos. /// Passei a noite passada dormindo em um banco de praça, / Até que um policial veio e me mandou embora. / Disse a ele que não estava incomodando ninguém, / Sim, ele me mandou vazar. // Em todo lugar, recebo a mesma resposta, / Agora não ou talvez depois. / Bem, meu tempo está acabando, meu povo, sim, meu povo. / Se você tá na pior e sem um amigo”. O disco foi lançado em 17 de novembro de 1975. Infelizmente, o guitarrista morreria no ano seguinte, em 4 de dezembro de 1976, com apenas 25 anos, deixando esse disco como testemunho de um talento que o tempo não conseguiu apagar. Em seu último show, ele abriu para Jeff Beck em 3 de dezembro de 1976 em Miami. Jon Marlowe, jornalista do The Miami News, que o entrevistou após o show para escrever a resenha que sairia no jornal e na revista Rolling Stone, após a entrevista com o guitarrista, disse a ele “Cuide-se”, ao que Bolin respondeu: “Tenho cuidado de mim mesmo a vida toda. Não se preocupe comigo. Vou ficar por aqui por muito tempo”. Horas depois, ele morreria de overdose de heroína e outras substâncias, incluindo álcool, cocaína e barbitúricos. Meu destaque: “Savannah Woman”, com um leve sotaque latino, em que sua guitarra soa como uma conversa íntima e que deixaria Santana orgulhoso se um dia ambos a gravassem juntos.
Marcello: O primeiro álbum-solo de Tommy Bolin não é seu melhor desempenho em disco (acho que nada bate o disco com Billy Cobham), mas mostra toda a sua versatilidade. A funky “The Grind” abre bem os trabalhos dando o tom do disco, mas quem pegou o disco por causa trabalho magistral de guitarra de Bolin precisa ir direto para a segunda música, “Homeward Strut”, que o Deep Purple apresentou em alguns shows da turnê do Come Taste the Band; nessa música, Bolin tira sons fora do comum das várias guitarras que gravou, e a música termina cedo demais. Gosto muito das baladas “Dreamer” (com participação de Glenn Hughes) e “Wild Dogs” (também apresentada nos shows do Purple – o solo no disco ao vivo no Japão é uma das melhores coisas que Tommy fez, na minha opinião), de “Marching Powder” e da faixa-título (que o Mötley Crue eventualmente regravaria), com todos os seus efeitos de guitarra, mas não é exagero dizer que o álbum é quase inteiramente bom (OK, “People People” eu não consigo engolir, o resto é ótimo). Bolin compunha bem, tinha uma voz agradável e era um guitarrista brilhante. É uma pena que o disco não fez sucesso, e sua morte precoce foi uma tragédia; quem sabe o que ele teria feito se tivesse sobrevivido? Teaser é daqueles discos que quando terminam a gente tem vontade de ouvir novamente!
Kiss - Alive!
Fernando: Preferi escolher um disco ao vivo ao invés de um nacional para essa lista. Registro essencial do hard rock setentista, responsável por transformar o Kiss em fenômeno mundial. Com energia crua e atmosfera de espetáculo, redefiniu o conceito de álbum ao vivo e tornou várias das músicas aqui presente em suas versões definitivas. Já que apesar de serem muito bons os três primeiros discos não tinham chamado atenção do público até então.
André: Em relação a este disco, você precisa esquecer de seu histórico e permanecer na ignorância quanto aos numerosos retoques de estúdio que recebeu. Ignorando tudo, você vai considerar um Kiss pesado, enérgico, cheio de veneno e com gana de vencer em apresentações insanas. Se o que importa é o que sai das caixas, fizeram um excelente trabalho. Já se você preferir a verdade, vai achar o disco um embuste todo editado. Já estou quase na meia idade, então eu nem ligo mais para isso e ouço de boa esta excelente seleção de faixas tocadas "semi ao vivo".
Daniel: Eu não sou o maior fã de álbuns ao vivo, mas este aqui é um grande clássico. O álbum responsável por lançar o Kiss ao estrelato, transformando-o não apenas em uma grande banda, mas também em ícones da cultura pop. Para mim, o maior mérito de Alive! é conseguir transportar a energia de um show do Kiss para dentro dos lares dos ouvintes. Imperdível.
Davi: Sempre tive o Kiss como minha banda favorita. Logo, esse é um álbum de cabeceira para mim. Já perdi as contas de quantas vezes ouvi esse disco. Sim, é verdade, existem muitas polêmicas em relação às gravações. Vamos ver se conseguimos sanar as dúvidas quando sair o box de 50 anos que está para ser lançado. Agora... Independente de qualquer coisa, é um álbum que tenho em alta. Acho o resultado final muito bom. O disco te faz sentir como se estivesse em um show do Kiss, a banda soa com uma energia incrível, sem contar que Ace Frehley estava em um ótimo momento e nos entrega um dos melhores trabalhos de guitarra de toda sua carreira. Para deixar tudo ainda mais interessante, considero as versões de "Deuce", "She", "Cold Gin", "Rock n Roll All Nite" e "Let Me Go Rock n Roll" definitivas. Para mim, um clássico!!
Mairon: Não vou entrar nos detalhes das gravações deste disco. Independente de se é ao vivo ou não, é um dos álbuns que mais ouvi em minha vida, principalmente nas vésperas da vinda do Kiss em 99. E cara, tudo isso por conta das guitarras de Ace Frehley. Assim como Uli no disco do Scorpions, quem manda aqui é Ace, e são os seus solos em "Cold Gin", "Deuce", "Strutter", e essencialmente "She" e "100.000 Thousand Years", que me fizeram fã de Kiss. É aquele solo energético, tipo o que o Page faz, sem seguir uma linha de escalas treinadas, mas apenas sentindo o feeling da música. Quer um bom exemplo, pega "Black Diamond" e coloca o som no talo. O solo de Ace (sempre feito de joelhos) é de arrepiar. Clássicos gigantes da carreira da banda se tornaram isso por conta deste disco, e não adianta Gene e Paul cagarem regra de que o Ace é um mala etc etc, podem dizer o que quiserem, mas a alma dos mascarados era o Space Ace. De que vale um Ace da Shopee (me perdoa Tommy Thayer) no lugar? Kiss acabou quando o Ace saiu. Depois é outra banda. Comentei mais sobre o disco aqui, e encerro dizendo que é essencial em qualquer coleção de rock que se preste!
Marcelo: Aqui o Fernando jogou para a torcida e se aproveitou de uma brecha, pois acredito que, se nas regras para a lista oficial de melhores de 1975 pudesse ser escolhido um disco ao vivo, esse entraria. Se há um álbum que prova que o rock não é só música, mas espetáculo, é este. Alive! não apenas consolidou o Kiss como gigantes do rock, mas também redefiniu o sentido de álbum ao vivo: mais do que registrar um show, ele cria um mito. Claro, há controvérsias sobre overdubs e retoques de estúdio, mas nada disso importa quando você sente a energia transbordando das faixas. É um disco que captura o espírito do rock como celebração coletiva, com direito a guitarras flamejantes, refrões que pedem coro e aquela sensação de que a vida é um palco. Meu destaque: quem me acompanha aqui na Consultoria sabe que defendo a tese de que toda grande banda de rock possui um hino e o do Kiss é “Rock and Roll All Nite”, talvez a declaração definitiva de intenções de uma banda inteira.
Marcello: Já comentei esse disco nos álbuns ao vivo de 1975, e para mim basta lembrar que não sou fã do Kiss e coloco Alive! na lista dos melhores live de todos os tempos. A banda ainda não tinha atingido seu auge, mas o álbum traz o que o grupo tinha feito de melhor até então em performances excepcionais, com uma energia avassaladora e um clima contagiante de festa. O que Paul, Gene, Ace e Peter fizeram nesse disco poucas bandas conseguiram, portanto, se você não conhece, vá atrás; se conhece, ouça novamente; e se não gosta, dê mais uma chance. Alive é um desfile de rock despreocupado e divertido, feito para curtir com uma cerveja na mão; durante boa parte do tempo, quem precisa de outra coisa?