
 Hoje,  primeiro dia abril, dia dos bobos em muitos lugares por aí afora. Dizem  que a origem disso está na França, onde, a partir do século XVI, o ano  novo era festejado na data de 25 de março e as festas duravam até o dia  primeiro de abril. Com a adoção do calendário gregoriano, o rei francês  Carlos IX resolveu seguir o critério que conhecemos hoje (com o ano novo  sendo comemorado em primeiro de janeiro). Porém, muitos franceses  negaram-se à tal mudança, comemorando a chegada de um novo ano em  primeiro de abril, o que gerou diversas gozações por parte dos demais  franceses, e assim, surgia o dia dos bobos. 
No Brasil, esse dia começou a ser difundido no nordeste, onde o jornal A Mentira  lançou, nesta data em 1848, a notícia do falecimento de Dom Pedro,  desmentida no dia seguinte. O jornal ainda armaria mas uma peripécia,  convocando todos os credores para um acerto de contas no dia 1º de abril  do ano seguinte, dando como referência um local inexistente. 
Ainda  existe a versão da guerra entre pagões e católicos. Os pagões, também  como os franceses, comemoravam o ano novo em primeiro de abril, gerando  gozações do povo católico, que adotou o novo calendário. Quem acompanha o  horóscopo percebe que o primeiro signo, Áries, justamente se refere ao  mês de abril. Enfim, histórias que não sabemos qual é a correta, mas que  serviram para construir toda uma temática sobre o dia de hoje, o "dia  dos bobos".
E  várias vezes me senti desta forma, como um bobo. Mas com certeza, a  mais marcante foi quando ouvi uma super banda, a qual continha três dos  meus quatro ídolos de um determinado instrumento em sua formação. O nome  do grupo: Asia.A idéia de super banda é antiga no mundo do rock. Se não  vejamos: quando Jimmy Page substituiu Jeff Beck nos Yardbirds, e depois  Beck retornou, tivemos o primeiro super grupo conhecido do público,  contando com dois ótimos guitarristas e que fazia muita sonzera ao nível  do talento dos dois. A união de Eric Clapton e Duane Allman no Derek  and The Dominos também pode ser interpretada como mais uma super banda,  bem como a Blind Faith, que contava com metade do Cream (Clapton e  Baker) e metade do Traffic (Steve Winwood e Rick Grech), essa sim, uma  baita super banda. 
E  no progressivo? Bom, no progressivo a maioria das bandas que existiam  eram super grupos por natureza, mas sempre existia uma idéia de mesclar  um fulano daqui com um fulano dali e montar outro baita grupo. Exemplo  maior foi na dissolução do King Crimson pela primeira vez, em 1969, que,  com a fusão de membros do Nice e do Atomic Rooster, acabou gerando o  ELP, mas poderia ter gerado o HELP (isso mesmo, Hendrix, Emerson, Lake  & Palmer) ou o ELM (Emerson, Lake &  Mitchel), já que a dupla  Emerson/Lake fez vários ensaios com a galera do Experience, mas o ego do  deus negro da guitarra impediu de vermos algo inimaginável nos palcos.
Por  fim, quando o King Crimson se separou pela segunda vez, em 1974, surgiu  a idéia de montar um projeto entre os ex-King Crimson John Wetton e  Bill Bruford com o recém saído do Yes Rick Wakeman. Assim tivemos o  British Bulldog, que durou apenas alguns ensaios, mas foi o embrião de  uma poderosíssima banda chamada U.K., a qual contava ainda com Allan  Holdsworth e que merece uma resenha só para ela.
Antes,  Wetton ainda deu uma passada pelo Uriah Heep, onde dividiu os vocais  com o mestre David Byron. A U. K. fez sucesso mesmo sem contar com  Bruford em seus últimos álbuns, mas acabou durando pouco. Wetton passeou  no Wishbone Ash e então, com uma carreira mais que consolidada, decidiu  seguir montar um novo projeto, investindo pesado em seus companheiros, e  aí entra o dia dos bobos na jogada. 
O  ano era 1980, mesma data do fim do Yes. Um ano antes, a ELP  aposentava-se prematuramente. Desta forma, o guitarrista Steve Howe e o  baterista Carl Palmer, dois monstros em seus instrumentos, estavam  disponíveis para trabalhar. Aproveitando-se disso, Wetton convidou Howe  para a nova banda, sendo que Howe sugeriu o ex-Yes e ex-Buggles Geoff  Downes para os teclados. Downes havia substituído muito bem Rick Wakeman  no Yes, mostrando que mesmo sendo um garoto na época conseguia  reproduzir os incríveis solos de Wakeman em clássicos como "And You and  I" e "Roundabout", e também inovando com o uso de novos sintetizadores. A  base do Asia começava a ser formado.
Palmer  apareceu através do convite de Wetton, que também contatou Trevor Rabin  para duelar com a guitarra de Howe (a idéia era uma super banda mesmo),  o que ficou registrado em raríssimos ensaios. Porém Rabin preferiu  seguir com Squire e White, substituindo Jimmy Page no projeto XYZ e  criando o Yes-West, o qual virou o novo Yes com o retorno de Jon  Anderson aos vocais.
Tínhamos  então nada mais nada menos que o baixista e vocalista do King Crimson  John Wetton, o baterista do ELP, Carl Palmer, mais o guitarrista e  tecladista do Yes, Steve Howe, e Geoff Downes, em uma mesma banda. O que  esperar desse grupo com esses montros do progressivo? Ora, somente uma  coisa: muitas suítes, longos improvisos, letras viajantes, complicadas e  intricadas peças sonoras, e todas as características que marcaram o  rock progressivo.
Mas,  infelizmente (para alguns), o que se viu foi uma banda voltada para um  cenário que estava começando a surgir, o chamado AOR - Adult Oriented  Rock, onde todas as características principais do progressivo caíam por  terra, trabalhando mais em uma linha pop e comercial, onde destacaram-se  bandas como Journey, Boston, Alan Parsons Project e Kansas (esse último  outro pecado). No Asia, o talento de Palmer e Howe acabaram afundados  como músicos de estúdio, os improvisos sumiram, as letras sobre montros,  misticismo e guerras foram trocadas por histórias de amor, romances  inesperados e brigas de casais, enquanto os teclados de Downes tomaram  conta de um rock preguiçoso e sem vontade.

O primeiro álbum, Asia,  foi lançado em 1982, contando com uma bela capa de Roger Dean (mais um  ponto para esperar-se um grande trabalho progressivo), e acabou tendo um  sucesso enorme, principalmente nos Estados Unidos, onde foi considerado  o disco do ano pela revista Billboard. Com o apoio da MTV, o Asia lotou estádios e sua música foi sinônimo de participações em eventos esportivos. 
O  disco abre com o hit "Heat of the Moment", com a guitarra de Howe  introduzindo os vocais roucos de Wetton, enquanto Palmer marca o tempo  no chimbal. Então, os vocais de todos os vocalistas trazem o refrão,  cercado por teclados e uma marcação simples de bateria, diferente de  tudo o que já haviam feito anteriormente em suas carreiras. Temos uma  pequena sessão instrumental, mas sem muita complicação, retomando a  letra e o refrão meloso, encerrando com um solo de Howe sem muita  criatividade. 
E  assim fica o disco, sem criatividade e sem empolgação, com a faixa  "Only Time Will Tell", que mesmo contando com os teclados introdutórios,  cai em uma balada acompanhada de pianos elétricos e a famosa batida  anos oitenta (bumbo-caixa, bumbo-caixa, acho que vocês conseguem  entender o que escrevo). Outro refrão grudento surge, o que fez dessa  canção mais um hit. Vale destacar o trabalho de Steve Howe executando os  backing vocais nessa canção, cantando o nome da mesma bem como  colocando pequenas intervenções de guitarra que tornam a faiza um pouco  mais interessante. 
"Sole  Survivor" já tem uma introdução mais pesada, com guitarras e teclados  acompanhados pela cozinha de Wetton e com Palmer mostrando seus  trabalhos, até que enfim. Quando Wetton assume os vocais, voltamos  novamente ao popzão das faixas anteriores, com outro refrão para  levantar estádios. Mesmo assim, os momentos instrumentais são  interessantes, lembrando bastante o álbum Drama, lançado  pelo Yes em 1980. "One Step Closer" é mais uma que começa com uma boa  introdução, contando com o timbre tradicional da guitarra de Howe, mas  que peca pela falta de criatividade e pela simplicidade de Palmer. 
O  lado A encerra com uma música composta pelo quarteto, "Time Again", a  qual começa com baixo e guitarra, acompanhados pelos teclados e bateria.  Temos aqui a melhor faixa do álbum, bem rock'n'roll, com boa pitada de  anos oitenta principalmente no refrão, mas que é disparada melhor que as  demais. Essa canção é uma das poucas onde Palmer pode mostrar seu  talento e que Howe sola com vontade.

O  lado B abre com outra boa introdução, agora de "Wildest Dreams", mas  dessa vez os tecladinhos oitentistas voltam à ativa. A canção ainda  conta com algumas marcações um pouco mais trabalhadas e uma boa  participação de Palmer, mas nada que empolgue. "Without You" também tem  uma bela introdução, mantendo o AOR, assim como a faixa seguinte,  "Cutting It Fine", a qual traz uma boa linha instrumental, mas peca  bastante na parte vocal. O álbum encerra com "Here Comes the Felling",  que mantém as linhas melosas das faixas anteriores, sem destaques  maiores. Asia  contou com a participação direta de Howe nas composições, o que se faz  claro na presença da guitarra com destaque na maioria das faixas, porém o  segundo álbum já foi diferente.

Alpha,  lançado em 1983, manteve a linha AOR, com um domínio maior de Wetton,  que compôs todas as músicas. O disco abre com o super hit "Don't Cry",  seguindo a linha de boas introduções instrumentais com refrões melosos e  batidas anos oitenta. O clip dessa canção rodou, e muito, nas telinhas  brazucas, onde cada integrante interpreta um determinado personagem, com  destaque para a hilária participação de Howe. Essa faixa atingiu o  número um da Billboard naquele ano. 
"The  Smile Has Left You Eyes" vem com os teclados de Downes e a voz de  Wetton, deixando bateria e guitarra em total segundo plano. "Never in a  Million Years" e "My Own Time (I'll Do What I Want)" são as mais melosas  do álbum, com refrões que nem o Roupa Nova sonhou em fazer. O lado A  encerra com "The Heat Goes On", que contém uma bonita introdução, mas  nada além disso.

O  lado B é mais lento, abrindo com "Eye to Eye", bem na linha do primeiro  trabalho e contando com boas passagens de teclado. As badalas "The Last  to Know" e "True Colors" lembram "Into the Lens" do álbum Drama,  com a última tendo um refrão dos mais grudentos possíveis. "Midnight  Sun" é uma das poucas que escapa, graças ao solo de Howe, na linha do  disco Tormato, gravado  pelo Yes em 1978. Por fim, "Open Your Eyes" encerra esse LP com os  teclados trazendo os vocais de Wetton. A banda acompanha novamente no  ritmo bumbo-caixa. Os teclados ficam viajando por algum tempo, enquanto o  nome da canção é repetido dezenas de vezes (criatividade zero!),  terminando com solos de Howe e Downes.
Alpha atingiu o sexto lugar na Billboard  e ganhou disco de platina. Mesmo com as altas vendas, Wetton saiu da  banda e foi substituído por nada mais nada menos que Greg Lake, o qual  participou do famoso show Asia in Asia,  sendo este filmado no Japão e o primeiro a ser transmitidio  via-satélite para os EUA. Quem tiver a oportunidade de ver esse show,  pela curiosidade ou por gostar da banda mesmo, vale a pena ir em uma  loja especializada ou fuçar na internet para admirar o trabalho de  Downes tocando vinte e seis teclados(!), que ocupavam toda a parte  traseira do palco.

Wetton retornou ao Asia em seguida, justamente quando a banda trabalhava seu terceiro álbum, Astra (1985),  impondo suas letras e suas melodias, o que levou Howe a pedir as  contas, já que segundo o próprio ele estava cansado de ficar tocando  historinhas de amor. Porém, Howe foi formar outra grupo que também  poderia servir de exemplo para o dia de hoje, o GTR, ao lado de outro  gênio das guitarras, Steve Hackett, e que, assim como o Asia, pouco  produziu ao nível da qualidade sonora que se esperava.

O  Asia continuou sua carreira com altos e baixos, tendo posteriormente a  liderança do baixista John Payne. Palmer e Howe participaram de uma  forma ou de outra do álbum Aqua, de 1992. 

Em  1999, Howe disse que existia uma forte possibilidade de o Asia reunir  sua formação original. Porém, ele mesmo pulou fora, após uma coletiva de  imprensa anunciando a volta do grupo. Wetton convidou então o  guitarrista de sua banda, Dave Kilmister, para substituir Howe, mas aí  Downes também seguiu outros rumos. Assim, o duo Wetton/Palmer mais  Kilmister e o tecladista John Young (que também era da banda de Wetton)  acabaram fazendo uma pequena turnê, com o nome de Qango, e  que culminou com o lançamento do raro (já que foi vendido somente pelo sites de Palmer e Wetton) álbum Live in the Hood,  onde interpretam obras como "Fanfare for the Common Man", "Hoedown",  "Bitches Crystal" e "All Along the Watchower", além de canções do Asia.  Em alguns shows, Keith Emerson participou, ressucitando a idéia da volta  do ELP, e que não foi vista até hoje.

Downes e Wetton formaram a dupla Wetton Downes, lançando os CDs John Wetton / Geoff Downes (2001), Icon (2005), Icon II - Rubicon (2006), Icon Live (2006), Icon Acoustic (2006) e Icon 3 (2009) nos últimos anos.  

A  formação original do Asia retornou para comemorar os vinte e cinco anos  da banda em 2006, passsando por diversos países (inclusive o Brasil),  tocando faixas dos dois primeiros discos, bem como "Fanfare for the  Common Man" (ELP), "Video Killed the Radio Star" (Buggles), "Roundabout"  (Yes) e "In the Court of Crimson King" (King Crimson), culminando em  2008 no lançamento do álbum Phoenix,  que particularmente para mim é o melhor da banda, com uma boa  colaboração das guitarras de Steve Howe. Destaque principalmente para as  faixas "Sleeping Giant / No Way Back / Reprise", "Alibis" e ""Parallel  Worlds / Vortex / Déyà". Para quem gosta dos dois primeiros álbuns, vale  a pena conferir "Shadow of a Doubt" e "Wish I'd Known All Along". Mas  como a seção é destinada para a fase vinílica, deixo a você leitor a  curiosidade de ir atrás desse belo trabalho.
Bem, para aqueles que curtem o som dos anos oitenta com certeza o Asia não é uma banda tão ruim. Eu mesmo cheguei a essa conclusão depois de ter ouvido coisa muito pior e de muito mal gosto. O que quero apenas ressaltar é que com o timaço que o Asia tinha, todo fã de Yes, King Crimson e ELP esperava uma sonoridade bem diferente, sendo tri enganado ao ouvir coisas como "Don't Cry" e "Heat of the Moment". Algo como o famoso ataque (de risos) Romário-Sávio-Edmundo ou o Quarteto Mágico do Parreira na Copa do Mundo de 2006. Porém, o Asia se transformou em um marco para a geração AOR, sendo cultuado hoje por inúmeros fãs que lotaram as diversas cidades por onde a turnê de vinte e cinco anos passou, mesmo que muitos tenham ido para assitir aos solos de Palmer e Howe ou apenas pelo saudosismo de um tempo que infelizmente não podemos voltar.
Bem, para aqueles que curtem o som dos anos oitenta com certeza o Asia não é uma banda tão ruim. Eu mesmo cheguei a essa conclusão depois de ter ouvido coisa muito pior e de muito mal gosto. O que quero apenas ressaltar é que com o timaço que o Asia tinha, todo fã de Yes, King Crimson e ELP esperava uma sonoridade bem diferente, sendo tri enganado ao ouvir coisas como "Don't Cry" e "Heat of the Moment". Algo como o famoso ataque (de risos) Romário-Sávio-Edmundo ou o Quarteto Mágico do Parreira na Copa do Mundo de 2006. Porém, o Asia se transformou em um marco para a geração AOR, sendo cultuado hoje por inúmeros fãs que lotaram as diversas cidades por onde a turnê de vinte e cinco anos passou, mesmo que muitos tenham ido para assitir aos solos de Palmer e Howe ou apenas pelo saudosismo de um tempo que infelizmente não podemos voltar.
 
 
 
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