sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sly & The Family Stone - Parte III


Hoje, encerro a história do grupo californiano Sly & The Family Stone. Já apresentei duas partes, desde o início em 1967 até o lançamento do álbum Life (1968), e do sucesso de Stand! (1969) ao fim precoce do grupo em 1975, por problemas internos.

Sly, assim como outros integrantes do grupo, partiu para uma carreira solo, e já em 1975, lançou High on You. Lançado pela Epic, ele marca um período no qual Sly toca praticamente todos os instrumentos do álbum, sendo o centro total das atenções. Em esse álbum, ele tem a companhia de dois membros da primeira geração da Família de Pedra, Cynthia Robinson no trompete e Jerry Martini no saxofone, além das Little Sisters e diversos convidados, que serão citados no decorrer do texto, mas que podemos destacar Dennis Marcellino no saxofone, Cousin Gale na guitarra, Bobby Lyles, Tricky Truman Governor nos teclados e Sid Page no violino, esses em quase todas as canções.

Ótima estreia solo de Sly Stone

O LP, mesmo não estando no nível de um Stand!, é ótimo de se ouvir, e começa com o baixão de Bobby Vega em "I Get High On You", e o sintetizador de Sly mostrando um ritmo mais cadenciado, acompanhado pelo órgão de Little Moses, dando um poder de fogo dos grandes clássicos da primeira geração, seguido pelo delicioso embalo de "Crossword Puzzle", no qual as linhas vocais se destacam. Essa faixa conta com Michael Samuels na bateria. O disco é um embalo tranquilo e saboroso até o fim, passando por preciosidades como "That's Lovin' You" (com Bill Lordan na bateria), "Who Do You Love?" e "Green Eyed Monster Girl" (também com Samuels na bateria), todas capazes de fazer pequenos sacolejos em seu corpo.

"Organize", escrita em parceria com Freddie Stone, mostra que dentro dos erros cometidos no final da carreira da Family Stone, ainda havia bom material elaborado, sendo que esta conta com Rusty Allen no baixo, e o único deslize fica por conta de "Le Lo Li", com Willie Wild Sparks na bateria e muito sem sal para a fantástica mistura de temperos que Sly era capaz de criar. 

Clássica contra-capa de High On You

Porém, é impossível não se emocionar com a balada "My World", uma das melhores composições da carreira de Sly, seguida pelo funk despretensioso de "So Good to Me", o qual poderia estar em qualquer um dos primeiros álbuns da Family Stone. O álbum encerra com a poderosa "Greed", fazendo de High on You um disco no mínimo sensacional e digno na Discografia de Sly Stone. O baterista nas demais faixas foi Jim Strassburg. O álbum também foi lançado em uma limitada versão quadrifônica.

O segundo single do álbum, "Le Lo Li" / "Who Do You Love", assim como o terceiro, "Crossword Puzzle" / "Greed", foram um grande fracasso. Mas o single "I Get High On You" / "That's Lovin' You" alcançou a terceira posição na parada Rhythm 'n' Blues americana, vendendo tanto que manteve a chama de Sly Stone acesa, dando oportunidade de um retorno do uso da Family Stone para o álbum seguinte. 

Acima: John Farey, Steve Schuster,Lady Bianca, Dwight Hogan, Sly Stone,
Virginia Ayers e Joe Baker.

Abaixo: Cynthia Robinson, John Colla, Vicki Blackwell e Anthony Warren.
Assim, com o desejo de provar que era capaz de fazer bons álbuns e seguir carreira, Sly Stone recebe apoio da gravadora Epic, e com o apoio de Cynthia Robinson e mais nove músicos (Joe Baker - guitarra e vocais; Dwight Hogan - baixo e vocais; John Colla - saxofone e vocais; Steve Schuster - saxofone, flauta; John Farey - teclados; Virginia Ayers - vocais; Anthony Warren bateria; Lady Bianca - vocais, clavinet; e Vicki Blackwell - violino), criando a Segunda Geração da Família de Pedra. 

A estreia da segunda geração da Família de Pedra

Alguns shows e rapidamente, esse time entra nos estúdios, registrando Heard Ya Missed Me, Well I'm Back, lançado em dezembro de 1976. A de se reclamar, assim como todos os álbuns da Segunda Geração, é a curta duração desse maravilhoso álbum. Alegre e muito bem gravado, amplia as linhas dançantes de High On You, apresentando novidades como a flauta em "Heard Ya Missed Me, Well I'm Back". 

Gosto muito do arranjo vocal desse álbum, principalmente das leves, mas harmoniosas, "Everything in You", "The Thing" e "Blessing In Disguise". Esses mesmos vocais, e o ritmo alucinante, são o ponto alto de "Sexy Situation", resgatando a época das canções positivas de Stand!. O baixão característico do grupo está presente em "What Was I Thinking In My Head" e "Let's Be Together". 

Sly Stone, a banda de um homem só

Bianca faz a voz principal na bela balada gospel "Nothing Less Than Happiness" e em "Mother is a Hippie", essa com um fantástico arranjo de metais e cordas. O álbum encerra com o vocoder ressurgindo das cinzas na ótima "Family Again", recheada de solos individuais, sendo um atestado de que a nova geração da Família de Pedra, além de ser maior, também era capaz de fazer grandes discos. 

O único single do LP, "Family Again" / "Nothing Less than Happiness", foi um fracasso comercial, o que impediu a Família de Pedra continuar suas atividades. Uma pena, já que o disco é sensacional.  Lynn Mabry e Dawn Silva saíram do grupo na sequência, formado o The Brides of Funkenstein em 1978. 

O levíssimo Back on the Right Track

Sly não desistia, e afastando-se das drogas, conseguiu um contrato com a Warner Bros. Um novo Sly Stone aparecia no cenário musical, assim como uma nova formação para a Família de Pedra. 

Coletânea de remixes
Enquanto isso,  a Epic lançou Ten Years Too Soon, uma coletânea de remixes do grupo em versão disco, trazendo versões para "Dance To The Music", "Sing A Simple Song", "I Get High On You", "Everyday People", "You Can Make It If You Try", "Stand!" e "This Is Love"

Pouco depois do lançamento dessa coletânea, chega às lojas Back on the Right Track, com a Família de Pedra agora tendo dezesseis membros, entre eles Sly, Cynthia e Pat Rizzo da Primeira Geração.

Estão lá ainda Freddie Stewart (flautas), Joe Baker (flautas), Lisa Banks (flautas), Rose Banks (flautas), Keni Burke (baixo), Alvin Taylor (bateria), Hamp Banks (guitarras), Joseph Baker (guitarras), Fred Smith (metais) Gary Herbig (metais), Steve Madaio (metais), Mark Davis (teclados) e Walter Downing (teclados).

Contra-capa de Back on the Right Track

O som é voltado para o lado leve das canções que a Segunda Geração elaborou em seu primeiro disco, sem arranjos fabulosos, mas privilegiando os vocais sensuais de Sly. Assim o é em "Remember Who You Are" e na gospel "Shine It On". Segure-se na cadeira durante o embalo de "Who's to say", energética em cada segundo, e o grudento refrão entoando o nome da canção após as vocalizações de Sly. 

O vocoder aparece timidamente em "It Takes All Kinds" e triunfante em "The Same Thing (Makes You Laugh, Makes You Cry)", fazendo o solo da canção, e o baixão inconfundível está presente nestas e, principalmente, em "If It's No Addin' Up ...". Aliás, o que é a linha de baixo da faixa-título? Indescritível! Como se não bastasse, Sly comanda a harmônica em "Sheer Energy", grandiosa canção com um grandioso arranjo vocal, encerrando um álbum ótimo, simples e direto, de uma Segunda Geração que é outra banda em comparação a Primeira Geração, e infelizmente, muito curto. 

Do álbum, saíram os singles "Remember Who You Are"/ "Sheer Energy", que ficou em trigésimo oitavo na parada rhythm 'n' blues da Billboard, e foi lançado em 1979, e "Who's to Say"/ "Same Thing", que não conquistou posição na Billboard, e saiu em 1980. 

Sly Stone, um novo homem em 1979

A Família de Pedra encerrou a segunda geração de forma deprimente, com Sly praticamente sendo expulso da Warner, e voltando as drogas. Graças ao amigo George Clinton e o Funkadelic, Sly sobreviveu durante algum tempo, excursionando com o Funkadelic entre 1980 e 1981, quando participou do álbum The Electric Spanking of War Babies, vigésimo quinto dos americanos. Esse álbum motivou a gravação de um novo álbum da Sly & The Family Stone, e George Clinton era o principal responsável pelo resgate do músico. Porém, Clinton brigou com os diretores da Warner, e acabou abandonando o projeto no meio do caminho.

O fim trágico acabou ocorrendo com Ain't But the One Way, um álbum gravado totalmente de forma inconsequente, e que foi concluído pelo produtor Stewart Levine após Stone partir para um refúgio de recuperação das drogas. O resultado foi um disco eletrônico e sem muita empolgação. A guitarra de Sly está sofrega, e as vocalizações soam maçantes até para o mais fanático admirador do grupo.

Melancólica despedia da Família de Pedra

As canções acabam soando praticamente iguais, em um ritmo leve e de poucos destaques, e aqui entram "One Way", "L. O. V. I. N. U.", "High, Y'All" e "Ha Ha, Hee Hee". Nem a cover para "You Really Got Me" consegue agradar. A vinheta "Sylvester" poderia ser uma bela canção, mas foi relegada a apenas quarenta e quatro segundos de duração. Os momentos de exceção positiva são "Hobo Ken", graças a levada do hammond, o reaparecimento da harmônica e o wah-wah vocalizante, e "We Can Do It", na qual os metais dão show.

O ritmo dançante de "Who in the Funk Do You Think You Are" é interessante, mas a guitarra e a bateria eletrônica não combinaram. Despedida triste de uma grande banda. Ain't But the One Way e Back on the Right Track foram posteriormente lançados juntos na coletânea Who in the Funk Do You Think You Are: The Warner Bros. Records, de 2001.

Sly chegou a participar do programa Late Night With David Letterman, ainda em 1982, mas depois, mergulhado nas drogas, sumiu do mapa, fazendo um longo tratamento durante o ano de 1984, graças a ajuda do amigo Bobby Womack. Do álbum foram lançados os singles "L.O.V.I.N.U." (em 12") e "Ha Ha, Hee Hee / High Y'all ‎ (7").

Na década de 80, Sly colaborou em alguns singles, que foram "Chasing The Rock", de Gene Page (1983), "Crazay", de Jesse Johnson (1986) e "Eek-Ah-Bo-Static Automatic" / "Love And Affection", ao lado de Martha Davis (1986). Em 1987, Sly foi preso por porte de cocaína e por tráfico da mesma, voltando a ativa somente em 1992, quando apareceu na coletânea Red Hot + Dance contribuindo com  "Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin) (Todds CD Mix)". Esse álbum foi lançado para arrecadar fundos na ajuda do tratamento da AIDS.


Sly Stone, em 2006

Depois, foi uma longa ausência. Mesmo em 1993, quando o grupo foi homenageado na Rock 'n' Roll Hall of Fame, Sly não esteve presente, até que em 2006, Sly Stone foi homenageado com um Grammy por serviços prestados a música. Foi a primeira e última reunião da Família de Pedra, que interpretou diversas canções naquela noite. 


Último álbum de Sly Stone até o momento

Em 2011, Sly lançou seu segundo álbum solo, I'm Back! Family & Friends pelo pequeno selo Cleopatra. Com a participação de diversos convidados especiais "I'm Back! Family & Friends se torna um álbum frustrante em vários quesitos, mas entre os principais, a recriação nada inspirada para clássicos da primeira geração da Família de Pedra e, pior ainda, remixes totalmente desnecessários para esses mesmos clássicos, como atestam as terríveis versões para "Family Affair (dubstep remixe)", "Thank You (Fallentime Be Mice Elf Agin) (Electro Club Mix)", "Dance to the Music (Club Mix)" e "Dance to the Music (Extended Mix)", sendo as três primeiras, bônus na versão em CD. 

Porém, temos alguns momentos saciáveis nas inéditas "Plain Jane", "Get Away" e "His Eyes is on the Sparrow". Johnny Winter da as caras na simples "Thank You (Fallentime Be Mice Elf Agin)", assim como temos uma sem sal "Hot Fun in the Summertime", com Bootsy Collins e Ann Wilson, sem dizer muito a que veio, em "Everyday People". Carmine Appice em "Stand!", Ray Manzarek em "Dance to the Music", e Jeff Beck em "I Want to Take Your Higher", são as poucas participações que tornam as versões atuais no mesmo nível da versão original. Pouco para alguém como Sly Stone, e facilmente esquecível.

Sly Stone, um gênio americano

Sly continua apresentado-se regularmente em bares e pequenos locais nos Estados Unidos, vivendo em uma van e sem local fixo. Um triste fim de carreira para um dos maiores nomes da música.

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