Uma  das principais bandas do rock progressivo norte-americano foi a Happy  the Man. Mesmo com uma carreira tão curta (lançou apenas dois discos), o  grupo se consagrou no cenário americano juntamente com o Kansas,  deixando boquiabertos fãs em todo o mundo, principalmente por ter um som  muito inovador em seu tempo, demonstrando que a música do Happy the Man  estava muito além de um simples conjunto progressivo.
Contando  com as linhas melódicas de Yes e Genesis, as intrincadas composições de  Gentle Giant e Van der Graaf Generator e a simplicidade do Pink Floyd, o  Happy the Man conseguiu unir todas essas características em apenas um  estilo, que viria a ser conhecido posteriormente como new prog.
Formada  em 1972 por Stanley Whitaker (guitarras, voz), Cliff Fortney (voz,  flautas), David Bach (teclados), Rick Kennel (baixo), Mick Beck  (bateria) e Frank Wyatt (teclados, saxofones, flautas, piano e voz), o  grupo teve em suas origens a inspiração de diversos nomes, tais quais os  citados acima, principalmente o Genesis, onde costumavam tocar canções  como "The Knife" e a própria "Happy the Man". Apesar disso, o nome não  veio da canção do Genesis, mas sim de uma frase dita pelo irmão mais  velho de Whitaker, que havia lido algo similar no livro "Faust", de  Goethe. 
Em  1974, David decidiu sair, sendo substituído pelo mágico tecladista Kit  Watkins (moog, piano, harpsichord, clavinete  e marimbas). Cliff também  pediu as contas, sendo substituído por Dan Owen, mas esse não durou  muito, e o Happy the Man acabou se consolidando por ser uma banda  praticamente instrumental, com os vocais sendo pouco participativos e,  quando realizados, feitos por Whitaker.
O  grupo começou a entrar na rota de shows do cenário ianque, tendo  inclusive a oportunidade de tocar com Peter Gabriel quando este esteve  nos Estados Unidos durante o ano de 1976 (em uma relação similar a da  The Band com Bob Dylan ou do Crazy Horse com Neil Young), o que os levou  a assinar rapidamente um contrato com a gravadora Arista. 

Em  1977, sai o primeiro LP, auto-intitulado. Happy the Man, o disco,  mostrava ao mundo todas as maravilhas que os norte-americanos já ouviam  há algum tempo, principalmente as viagens de moog a la Brian Eno de  Watkins e a perfeita complexidade dos instrumentos de cada um dos  integrantes da banda. O disco abre com a viajante "Starborne", onde sons  de baixo imitam violoncelos com pequenas intervenções do clavinete. A  banda entra então em uma marcação pesada, com um crescendo no baixo,  voltando  à introdução com uma pequena viagem do clavinete. A marcação  retorna, apenas encerrando e mostrando ao mundo o que o Happy the Man se  propunha a fazer: viajar, e muito, com os instrumentos. 
"Stumpy  Meets the Firecracker in Stencil Forest" começa com uma pesada  introdução de piano e sax, indo para uma sequência de duelos entre  guitarra, saxofone, baixo e bateria, os quais sempre contém pequenas  intervenções do moog. Essa canção lembra, e muito, os bons tempos do  Gentle Giant, principalmente pela elaborada parte rítmica. A loucura  pega com um furioso solo de sax, encerrando a faixa com um belo solo de  moog e a intrincada marcação do ritmo. 
Surge  então a primeira canção com letra do álbum. "Upon the Rainbow  (Befrost)" novamente lembra Gentle Giant, com o piano dedilhando uma  sequência complicadíssima. Porém, uma bela flauta aparece para  acompanhar os vocais de Whitaker. Uma pequena sessão instrumental com um  solo de sax retorna ao início da canção, porém com o grup acompanhando  os vocais, não somente a flauta. A canção segue com um pequeno solo de  moog, encerrando com o refrão e curtos solos de sax e moog. Essa era a  principal característica do Happy the Man, a capacidade de se repetir na  música, retomar diversos temas, sem ser chato ou preguiçoso. 
Segue  a suíte "Mr. Mirror's Reflection On Dreams", com seus quase nove minutos  de duração. Temos uma sequência de "Befrost", com uma introdução  similar feita somente ao moog. Baixo e bateria aparecem marcando o  tempo, enquanto o moog acompanha uma guitarra abafada, fazendo o tema  principal da canção. De repente um piano surge, solando livre, retomando  diversas vezes o tema principal, fazendo a canção ir num crescendo bem  devagar. A partir de então temos uma sessão onde o moog ajuda o piano no  tema principal, terminando com diversos solos de moog e guitarra. O  ponto marcante é o solo rápido e vigoroso de guitarra de Whitaker, feito  com o uso do volume. Novamente a música viaja para muito longe, somente  ao som do clavinete, auxiliado também por uma fllauta que retoma o tema  principal, tal qual as grandes canções do rock progressivo. Essa com  certeza é uma das melhores canções já composta pela banda. O lado A  encerra com "Carousel", que é um seguimento das duas obras anteriores,  porém com um acompanhamento diferente, contando com um longo solo de  moog.
O  lado B traz ao ouvinte a canção "Knee Biten Nymphs in Limbo", onde  camadas e camadas de teclados abrem espaço para uma sessão instrumental  que alterna duelos de guitarra e baixo, sons de clavinete e solos de  moog, com um destaque especial para a bateria de Beck. "On Time As a  Helix of Precious Laugh" é a segunda canção com vocal do disco. É muito  difícil não ouvir essa faixa e lembrar-se dos tempos de ouro do Genesis.  Uma introdução lenta com barulhos de piano acompanham o vocal a la  Peter Gabriel, tornando-se pesada, com guitarras e pianos marcando suas  presenças. Tem-se então uma sessão melódica, onde a guitarra sola idem a  Steve Hackett  (é impossível não fazer essa comparação, ouçam e digam  depois). A letra é retomada com o acompanhamento de uma percussão,  camadas de teclados e o baixo, encerrando com uma complicada sessão  rítmica. 
"Hidden  Moods" traz a marimba e o teclado fazendo a base para o piano elétrico  solar de forma bem simples. Temos um belo solo de violão acompanhado por  baixo e teclados, dando origem a uma pequena viagem do clavinete, com a  canção alternando diversos solos. O álbum encerra-se com a primordial  "New York Dream's Suite". O piano de Wyatt executa assovios acompanhados  de clavinete e marimbas, em mais uma canção similar às do Genesis. Um  moog totalmente distorcido começa a solar, acompanhado pela ótima sessão  rítimica da introdução e por camadas de teclados. A doideira toma  conta, com o moog solando sobre outra intrincada peça instrumental feita  por baixo, piano e bateria. A música torna-se lenta, com a guitarra  executando alguns acordes, passando para os solos de moog e clavinete,  encerrando a faixa lentamente, como se a canção não possuísse um final,  deixando o ouvinte com o gosto de quero mais.
O  Happy the Man participou de diversas excursões por toda a América.  Porém, o punk rock e a disco music já estavam na moda, o que dificultou  bastante as vendas do grupo, desagradando principalmente a Beck, que  decidiu pular fora. Através de um velho amigo, conhecem o baterista Ron  Riddle, o qual já havia feito diversas gravações em estúdio, inclusive  tocando com o The Cars, e que assume de cara o posto.

Com  a nova formação lançam o grandioso e quebra-cabeças Crafty Hands, um  dos mais belos e intrincados álbuns progressivos pós-fase áurea (entenda  por pós-fase áurea os anos entre 1968/1975, onde Floyd, ELP, Yes,  Crimson, VDGG, Gentle Giant, PFM, Genesis e outros lançaram seus  principais discos). 
A  pequena canção "Service With a Smile" mostrava como a banda estava  preocupada em manter suas características originais, sem se apegar a  nova onda musical que assolava todo o planeta. Ali, temos um  acompanhamento forte da cozinha formada por baixo e bateria para as  viagens de harpsichord, moog e guitarra. "Morning Sun" é uma canção  lenta, com os teclados executando o tema principal junto ao moog e ao  violão. O baixo e a bateria continuam lentamente, sendo sempre  acompanhados pelo crescendo do moog no tema principal. "Ibby It Is"  remete às intrincadas peças do primeiro disco, alternando partes  rápidas, com solos de moog, e outras mais lentas, com solos de teclado.  Um pequeno solo de guitarra e temos uma virada na canção, criando um  clima pesado, com a guitarra solando estridente e viajante. O tema  intricado é retomado, encerrando a canção com dois curtos solos de moog e  guitarra.
Finalmente,  "Streaming Pipes" encerra o lado A mantendo a complexidade de "Ibby It  Is", porém mais rápida e com muitos solos de moog e guitarra.
O  lado B abre com "Wind Up Doll Day Wind", onde temos uma introdução de  guitarra dedilhada acompanhada por flautas e teclados, trazendo os  vocais de Whitaker. Essa é a única canção com vocais no disco, que segue  em uma cadência mais rápida, com o teclado acompanhado a linha vocal,  sendo os vocais no melhor estilo Genesis, porém da fase quarteto (com  Phil Collins nos vocais). Uma sequência de solos de sax, guitarra e  teclados encerra a canção junto ao refrão da música. 
"Open  Book" traz os teclados dedilhados a la Gentle Giant, levando  a uma  batida cadenciada de baixo e bateria, que acompanham um moog viajante,  junto aos acordes de guitarra. Beba umas vodkas e viaje nessa canção.  Uma sessão instrumental com flauta, violão e percussão traz um solo de  guitarra fenomenal, encerrando com o moog substituindo a flauta no tema  executado anteriormente. Simplesmente viajante. 
"I  Forgot to Push It" começa com um forte duelo de sax e guitarra,  acompanhados pelo belo duo de bateria e baixo. A canção cresce com  diversos duelos, sendo que os instrumentos passam a ser apresentados na  música devagar, sempre acompanhando o tema principal, entre eles palmas,  batidas de percussão, teclados e flautas. O disco encerra com a  fenomenal "The Moon I Sing (Mossori)", onde o teclado executa o tema  principal crescendo juntamente com cada instrumento, sendo adicionado o  moog, violões, guitarras, baixo, marimba e bateria, encerrando apenas  com o teclado viajando, dizendo que mais estaria por vir. 
Infelizmente  a banda acabou se dissolvendo, principalmente pela falta de apoio da  Arista, que os despediu devido às baixas vendas dos álbuns. Kit Watkins  acabou ingressando em outro grande grupo dos anos setenta, o Camel,  enquanto Ron Riddle foi parar no Blue Oyster Cult, sendo substituído por  Coco Roussel.

Em  1983 foi lançado o álbum 3rd - Better Late ..., que traz diversas  gravações feitas para o lançamento do terceiro disco, que acabou não  saindo pela Arista, bem como algumas feitas já com Roussel na bateria.  Infelizmente ainda não tive a oportunidade de ouvir esse álbum,  portanto, não farei mais comentários.
O  Happy the Man acabou voltando à ativa em 2000, com a mesma formação do  primeiro disco, à exceção do tecladista Dave Rosenthal no lugar de  Watkins. Assim, lançam "Death's Crown", que contém muito material  inedito do início da carreira, principalmente com Dan Owen nos vocais.  Em 2004 lançam "The Muse Awakens", contando somente com músicas inéditas  e com Joe Bergamini substituindo Mick Beck.


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