segunda-feira, 28 de maio de 2012

Lady Gaga - A Very Gaga Holiday [2011]


                                   
O jazz é há algum tempo um dos meus estilos musicais favoritos. John Coltrane é o deus negro que venero dentro do gênero, mas existem vários artistas que cultuo e dos quais coleciono obras, como Duke Ellington, Keith Jarret, Thelonius Monk, Buddy Rich, Count Basie, Michel Pettruciani, Wayne Shorter, os irmãos Marsalis... Enfim, uma variável e inumerável lista.

Mas o que tem isso a ver com Lady Gaga? Simples. No final do ano passado, a atual rainha do pop lançou um EP digital de Natal, disponível para download no formato MP3 e para i-tunes em geral por um preço de aproximadamente 4 dólares, intitulado A Very Gaga Holiday, e, por incrível que pareça, o disco é um belíssimo registro de jazz.

Lady Gaga aos 19 anos, morena e longe das esquisitices que marcam sua carreira

Gravado ao vivo, com Gaga acompanhada de um trio formado por  trompete, piano e bateria, A Very Gaga Holiday é um EP surpreendente, retirado de uma apresentação especial feita pela artista americana, intitulado A Very Gaga Thanksgiving, que foi ao ar no dia 24 de novembro de 2011, através da rede de televisão ABC. A ideia e direção do especial foi toda da cabeça de GaGa, o que dá mais pontos para a artista, já que o visual luxuoso e nostálgico do vídeo é muito bonito. Entre entrevistas e histórias do passado, vários convidados apareceram no tal especial, dentre eles Katie Couric, Art Smith e Tony Bennett, com quem inclusive a cantora fez um dueto. Além deste dueto, Gaga interpretou quatro canções em versão acústica do seu segundo álbum (Born This Way, lançado em 2011) e mais duas canções natalinas escolhidas por ela mesma.


O EP A Very Gaga Holiday compila quatro dessa sete canções cantadas por Gaga na noite de 24 de novembro, e em pouco mais de 14 minutos, toda a pompa, extravagância e demais acessórios que marcaram (e marcam) a carreira da cantora norte-americana caem por terra, deixando passar uma imagem bem diferente e, para os não radicais, muito boa dentro do jazz. “White Christmas”, de Irving Berlin, abre os trabalhos, primeiro com o trompete, tendo o leve acompanhamento dos brushes batendo na caixa, a marcação do chimbal e os acordes variados de piano. Gaga começa a cantar remetendo-nos aos anos 30, com uma voz rouca e totalmente diferente do que poderíamos imaginar da rainha do pop. A garganta carregada de rouquidão por vezes lembra Liza Minelli, e o clima suave da canção vai surpreendendo e envolvendo o ouvinte. 


Cartaz promocional do especial de fim de ano que gerou o EP
A Very Gaga Holiday
Gaga fala algumas palavras, comentando a respeito da a música, enquanto o trompete sola ao fundo. A cantora repete a letra, sempre com o andamento perfeito de um maravilhoso jazz, encerrando com uma bonita sessão vocal a cappella, seguida por breves notas do trompete.

Após mais alguns comentários, a vocalista pede para que a banda puxe “Orange Colored Sky”, de Milton Delugg e William Stein. A bateria chama o ritmo no prato, seguida por piano e trompete, para que Gaga mande ver em um fabuloso jazz novaiorquino, saído de alguma toca da Broadway, com mais uma interpretação surpreendente. Ouvir “Orange Coloured Sky” com a cantora e dizer que é ela quem está cantando é uma charada impossível de se decifrar. O que ela consegue mostrar de técnica e feeling em nada combina com a pessoa irreverente, de roupas e cabelos chamativos, e que consagrou-se nos últimos anos como o principal nome da música pop, tida por muitos como sucessora de Madonna. Destaque também para o trompete, essencial para dar mais charme à melhor faixa do EP.

O piano introduz a linda “Yoü and I”, uma das poucas canções de sua carreira que aprecio. No EP, “Yoü And I” ganhou uma versão toda especial, na qual Gaga abusa da emoção, e claro, o piano faz sua parte para ampliar o apelo emotivo de uma bela balada. No refrão, a vocalista solta a voz, acompanhada por um furioso solo de trompete, e com o pianista mandando ver nos acordes. Gaga segue a letra acompanhada apenas pelo piano e brincando com o grupo, voltando então para o refrão, no qual novamente solta a voz com uma técnica inimaginável, encerrando a música com um breve solo de trompete e piano.


Gaga durante o especial de fim de ano

Por fim, Gaga apresenta “The Edge of Glory”, outra balada, não tão bela quanto “Yoü And I”, na qual faz as honras da casa no piano, mandando ver em outra interpretação que em nada lembra a música que foi registrado em Born This Way, a qual você provavelmente so irá reconhecer no refrão, no qual os gritos de Gaga em “the edge” nos fazem pensar mais uma vez como uma cantora dessas pôde voltar-se tão facilmente para a música pop. 

Ainda em "The Edge of Glory", a cantora conta uma história de infância, relembrando momentos ao lado de sua avó para depois voltar a cantar. Não sei por que, e não sei de onde, mas é fato que Gaga está cantando muito nessa faixa, esbanjando sentimento e, principalmente, fugindo do convencional. Nada anormal, maravilhoso ou genial, mas diferente e muito bom. Agradeço ao meu filho, Iago Castilhos Machado, um dos maiores fãs que conheço da artista, por, em uma tarde de sábado, assistindo os costumeiros videoclipes e canções da artista, ter me surpreendido ao ouvir o EP na internet, revelando-me essa grande joia que Gaga gerou, escondida entre os sucessos marcantes do final da década passada e do início desta.

Lady Gaga: polêmica e surpreendente

Com certeza A Very Gaga Holiday não será um desses sucessos, mas é inegável que, para pessoas que gostam de jazz, é uma boa pedida para se ouvir quando se quer conhecer algo novo dentro do estilo.


Track list:


01. White Christmas
02. Orange Coloured Sky
03. Yoü and I
04. The Edge of Glory

2 comentários:

  1. Ah, o artigo da discórdia... "A Very Gaga Holiday" é, acima de tudo, um belo registro de MÚSICA, não importando rótulos, convenções ou ideias pré-concebidas. Gosto de muita coisa em sua carreira, e esse EP soma-se a essas coisas, seja um standard de jazz, uma balada emocional ou canções pop dançantes. A performance de Gaga ao vivo é algumas vezes questionável, vide diversos registros por aí, mas felizmente não é o caso desse EP, no qual a cantora está mandando muito bem.

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  2. Vlw Diogo. O que mais me chama a atenção é que ouvindo, parece que ela está bem a vontade com os clássicos, mas vendo o vídeo, ela está super a vontade. É muito legal ver ela jogando as letras para o alto e mandando ver, como que se disesse: "Eu sei isso, não precisa me ensinar". Uma pena que muita gente ainda tem preconceito, mas, até a Madonna ainda é desrespeitada por aí. Abração

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