sábado, 26 de maio de 2012

Vanilla Fudge - Parte II



Passado o estouro de Renaissance, era a vez da Europa ser conquistada pelo Vanilla Fudge. Inglaterra, Alemanha, França, Suíça e Itália foram alguns dos países que receberam o grupo, sendo que na Itália, o Vanilla Fudge ganhou o prêmio Gondola de Ouro como melhor performance vocal (no caso, "You Keep Me Hangin' On", apresentada durante um festival em Veneza).

No dia 02 de fevereiro, voltam a participar do programa de Ed Sullivan, seguido de mais participações na TV, dessa vez nos programas Beat Club e Dick Cavett Show. No dia 03 de fevereiro, é lançado o single "Shotgun", tendo no lado B a faixa "Good Good Lovin'". O melhor estava por vir. Enquanto a banda participava das apresentações na TV, começa a ser mixado o novo álbum do grupo, que foi lançado no dia 05 de fevereiro.
O maravilhoso Near the Beginning

Totalmente produzido pelo grupo, Near the Beginning é uma paulada tão grande quanto Renaissance. Nele está um dos melhores arranjos musicais da história do grupo, além de ser o único oficial da fase entre 67 e 70 trazendo algum material ao vivo, com o lado B todo dedicado à uma gravação no Shrine Auditorium de Los Angeles, com uma única canção: os poderosos 24 minutos de "Break Song".

O álbum começa com a cover de "Shotgun" (original de Jr. Walker & The All Stars), na qual Martell despeja sua fúria no wah-wah, acompanhado pelas pancadas de Appice e o embalo de Bogert e Stein. A técnica de Martell é muito mais avançada que nos primeiros álbuns, e o Vanilla Fudge está mais hardeiro do que nunca. As vozes cantam o refrão que entoa o nome da canção, deixando Stein cantar a letra da mesma. O refrão é repetido, levando ao rápido solo de wah-wah e órgão, que não aparece com tanta ênfase, voltando então para o refrão. Após, uma sessão intrincada acompanha o solo de Bogert, concluído com a barulheira infernal da bateria. Mais vocalizações e Stein aparece com um breve tema que nos remete a "Boureé" (Johann Sebastian Bach), trazendo um fantástico arranjo vocal que carrega o solo de wah-wah e nos encaminha para o final, com um vigoroso solo de Appice, no estilo chupinhado indecentemente por John Bonham meses depois em "Moby Dick". 

A psicodelia volta à cena em "Some Velvet Morning", a qual começa com o dedilhado nervoso do órgão entre barulhos percussivos. Acordes de órgão, baixo e guitarra são marcados por batidas na caixa, para órgão e guitarra largarem o peso fazendo o tema principal, destacando o baixo carregado de distorção e claro, Appice destruindo na bateria. Stein então passa a cantar a canção, acompanhado apenas pelo dedilhado da guitarra e por intervenções sutis do órgão. A voz começa muito sussurrada, e pouco a pouco aumenta seu volume, junto com a entrada de batidas nos pratos e vocalizações. 

As vocalizações cantam a segunda parte da letra, com mais um fantástico arranjo vocal, voltando para o riff inicial, com o baixo estourando as caixas de som, e Stein segue a letra, acompanhado pelas vocalizações, e com o andamento sempre leve da mesma. Agora, as vozes e Stein dividem a letra de forma democrática, retornando então para o riff principal, mais uma repetição do refrão, tendo um espetáculo a parte das vocalizações, e encerrando com barulhos estranhíssimos, que fazem a bizarra introdução de “Where is Happiness”, na qual o órgão aparece com destaque, acompanhado pela imponente levada da bateria e do baixo. 

O órgão então comanda o riff da canção, enquanto baixo e bateria fazem a marcação intrincada que acompanha as vocalizações, responsáveis por cantar essa pérola Fudgeana. Stein canta melodicamente, assim como as vocalizações, e o destaque fica para a melodia de guitarra que é feita ao fundo da parte vocal. Após algumas estrofes, começa a agitada sessão instrumental, na qual Martell solta seus dedos em um solo veloz na escala oriental, apesar da sempre marcante ausência de técnica. Após a pauleira, o solo ganha tons melódicos, voltando para a sequência da letra, para em um crescendo fervoroso, onde a guitarra duela com bateria, baixo e órgão, e depois faz as rasgadas e emocionantes notas finais que concluem esse maravilhoso lado A do vinil. 

Vanilla Fudge ao vivo
O lado B é todo dedicado para “Break Song”, que surge com as violentas batidas da bateria e o baixão de Bogert carregado de distorção. Órgão e guitarra comandam um riff desse petardo instrumental que coloca a casa abaixo. É peso, distorção e violência para tudo que é lado de onde vem som. 

Após a introdução, começa a sequência de solos, primeiro com a guitarra de Martell em um blues totalmente embriagante, levada pelo wah-wah no mesmo jeitão de nomes como Jeff Beck e Jimmy Page. As marcações de baixo, órgão e bateria são tão violentas quanto o início da canção, e o solo se modifica de um blues para uma insana hardeira psicodélica, com Martell finalmente mostrando sua técnica, escondida nas canções em estúdio. Um solo rasgado, sujo, arrebatador e delirante, com notas rasgadíssimas e muita potência. 

O riff inicial é repetido, sempre com a sujeira e peso marcantes da canção, e Stein apresenta Martell. Appice então puxa o ritmo para o fantástico solo de Bogert. Utilizando somente os dedos (e não palheta) como os bons baixistas devem fazer, Bogert demonstra o por que de ser um cara ouvido e idolatrado por nomes como Jeff Beck. Seu solo, apesar de não ser veloz, é alternado entre escalas intrincadas, arpejos, dedilhados e trêmolos arrepiantes. Claro que a base construída por Appice ajuda a dar mais gás para o solo, mas o talento de Bogert é inegável. Escalas abafadas, arpejos, variações entre notas agudas e notas graves fazem parte de um solo que quebra a cabeça em sua segunda parte, quando Bogert pisa no pedal de distorção e arranca uivos do instrumento, fazendo bends longos (não dá para entender como as cordas não arrebentam aqui), e claro, despejando sujeira através de batidas rápidas nas cordas, deslizando os dedos sobre as mesmas e criando efeitos assustadores. 


Stein apresenta Bogert, que agradece e puxa o ritmo para uma marcação, enquanto Stein delira no órgão. Começa então o solo do tecladista, também acompanhado por Appice, mas em um ritmo mais veloz que o solo de baixo. O órgão é detonado por Stein com acordes velozes, puxadas nas notas como Jon Lord consagrou posteriormente, e escalas variadas. Stein brinca com os efeitos do hammond, e então começa a entoar a letra improvisada de um blues triste, acompanhado por baixo, guitarra e o órgão. Mais um solo de órgão, dessa vez com a levada bluesística, e Bogert apresenta Stein, encerrando o blues com um riff pesadíssimo de baixo, guitarra e órgão, do qual surge o acompanhamento furioso de Appice, destruindo a bateria para voltar ao riff inicial. 

O volume dos demais instrumentos vai diminuindo, deixando apenas o baterista para executar seu solo. Aos que não conhecem o brilhantismo de Carmine Appice, e ainda dizem que seu irmão Vinnie Appice (Black Sabbath, Dio, ...) é melhor que ele, esse solo apaga qualquer imagem negativa. O cara é um animal. Pai de bateristas como John Bonham e Ian Paice, Appice detona os dois bumbos, soca os tons ao mesmo tempo que manda ver nos pratos. Suas viradas são insanas, incompreensíveis e dificílimas de serem reproduzidas. Quando o homem inventa de socar os pratos ao mesmo tempo que agride os bumbos, sai de perto. Depois, começa a sessão rítmica na caixa, com rufadas alternando entre o centro do instrumento e as bordas, tal qual manda o figurino dos bateristas formados no jazz. Appice cria uma espécie de swing, e enlouquecidamente, rufa entre tons, bumbo e caixa. Um monstro no instrumento, com diversos braços e pernas, e que é pouco conhecido aqui no Brasil. 

A sequência final é feita com os bumbos e pratos sendo desgastados pelas mãos e pés do baterista. O ritmo veloz dos pés auxiliam Appice a socar os pratos com uma fúria dantesca, e finalmente, ele puxa o ritmo do riff inicial, para, logo após ser apresentado por Stein, Martell e Bogert surgirem arregaçando a canção com notas agudíssimas, encerrando com o barulho exorbitante de órgão, guitarra, baixo distorcido e claro, a bateria de Appice derretendo a mente dos ouvintes. 


Near the Beginning surgiu no mesmo ano de lançamentos épicos como Tommy (The Who), Volunteers (Jefferson Airplane) e Led Zeppelin (Led Zeppelin), e não perde nada para esses álbuns. A mistura de peso e esquizofrenia do Vanilla Fudge foi captada no auge de sua essência. Em 1969, o Fudge era uma das poucas bandas que ainda conseguia sobreviver e chamar a atenção com a magia da psicodleia, muito por causa das estranhas e pesadas harmonias que o grupo encaixava com perfeição. O álbum alcançou a décima sexta posição nos Estados Unidos, e na versão de relançamento, ganhou mais três bônus: "Good Good Lovin'" (edit version), "Shotgun" (single version) e "People".


No dia 07 de fevereiro, começou mais uma turnê pelos Estados Unidos, tendo como bandas de abertura Jethro Tull e Led Zeppelin. A turnê estendeu-se por março, e em abril, no dia 29, foi lançado o single de "Some Velvet Morning", com o Vanilla embarcando para sua segunda turnê pela Europa.


Mas o período de três anos juntos, tendo apenas duas semanas de férias entre eles, fez com que o cansaço e a rotina do quarteto cria-se brigas fúteis, e as indiferenças comuns para um relacionamento longo. Durante a turnê pela Itália, o quarteto decidiu que voltariam para os Estados Unidos, e lá, iriam definir o futuro da banda.


Na volta a América, são a atração principal no Chicago Kinetic Playground (06 e 07 de junho), tocando também ao lado de Joe Cocker e Buddy Miles durante o Newport '69 Festival, em San Bernadino. Finalmente, entre 27 e 29 de junho, participam do Denver Pops Festival,  e em julho lançam mais um single, "Need Love", apresentando o que viria no quinto álbum, produzido por Adrian Barber.


A maratona de shows não parava, e novamente, ao lado do Led Zeppelin, apresentam-se em Seattle durante o Seattle Pop Festival (25 a 27 de julho). É nesse festival que ocorre o famoso evento do Mud-shark, famoso através da canção de Frank Zappa. O verão de 69 começou com a gravação de comerciais para a Coca-Cola, ao lado de Jeff Beck (já que Martell estava doente). Esse comercial, junto ao fato de Bogert e Appice sentirem-se escondidos sobre as sombras de Stein e Martell, exigindo cada vez mais espaço para seus solos, levou a cozinha do Fudge a pensar na hipótese de criarem um power trio junto com Beck. Era o começo do fim do Fudge.


O Vanilla Fudge foi a atração principal da terceira noite do Palm Beach Festival, na Flórida, tendo como aberturas Johnny Winter e Janis Joplin. O show da Janis Joplin deu brecha para o Fudge aproveitar e fazer uma longa jam session com os membros do grupo que acompanhava a vocalista na época, o Full Tilt Boogie Band, com Appice e Stein dividindo o palco, tocando bateria e guitarra (respectivamente) no show da Janis Joplin. Já Martell e Bogert acessoraram a banda de Johnny Winter no órgão e no baixo, e o Fudge saiu do festival como sendo o grande nome do mesmo.


As harmonias estranhas e sinistras do Vanilla Fudge chamavam a atenção, assim como as performances, cada vez mais incendiárias. Só que os conflitos internos não sustentavam mais os pilares que apoiavam o quarteto, o que acabou refletindo na gravação do quinto álbum.

O derradeiro disco dos anos 60
Lançado no dia 25 de setembro de 1969, Rock & Roll teve produção de Adrian Barber. O álbum abre com o órgão e a marcação de bateria de “Need Love”, seguidos por baixo e guitarra imitando a melodia do órgão. O riff quebrado de bateria e guitarra surge entre vocalizações agudas, e Stein então solta sua voz, com raiva, gritando que “precisa de amor”. A cozinha formada por baixo, órgão e guitarra fazem uma barulheira do cão, e no fantástico solo de piano e guitarra já percebemos que o Vanilla veio com muito gás para esse álbum. Stein continua a letra, levando para mais um solo de órgão e guitarra, explodindo em um maravilhoso trecho onde ambos duelam por espaço entre baixo e bateria. A canção diminui o ritmo, e enquanto Appice faz diversas viradas, guitarra e órgão brigam pela atenção do ouvinte, com solos rasgados e sobrepostos, encerrando essa pérola com um magistral sequência de bends e acordes do órgão entre as violentas batidas de Appice. 

A introdução de “Lord in the Country” ameniza a pancadaria de “Need Love”, nos brindando com uma bonita faixa gospel, na qual vocalizações cantam “I felt the Lord” enquanto Stein canta a letra da canção. O arranjo simples privilegia a guitarra dedilhada de Martell, apesar da presença tímida do órgão. 

Stein então faz algumas vocalizações, acompanhado pelos demais colegas, enquanto Appice comanda uma espécie de boogie junto de Bogert e Stein, e Martell faz solos rasgados ao fundo, voltando ao refrão gospel cantado pelas vocalizações e por Stein, soltando a voz, para encerrar a canção com a repetição do início lento da mesma. 

“I Can’t Make it Alone” segue o ritmo ameno de sua antecessora, tendo o hamond de Stein parecedo estar em uma missa. O tecladista canta rasgando suas cordas vocais, com uma interessante participação de vocalizações durante o refrão e repetindo as últimas palavras de frases cantada s por Stein. O refrão é repetido, nos levando ao breve trecho percussivo, do qual a guitarra surge solando estridente, enquanto vocalizações cantam o nome da canção. 

Batidas nos pratos e viradas de bateria apresentam os acordes de órgão e guitarra da agitada “Street Walkin’ Woman”, cantada por Bogert e lembrando muito o estilo de cantar de Jack Bruce (Cream). Não tão pesada quanto “Need Love”, nem tão amena quanto as outras duas canções do lado A, essa canção passaria despercebida, se não fosse o ótimo refrão, no qual vocalizações e o órgão fazem a melodia que entoa seu nome, enquanto Martell sola sobre essa melodia, e fica inegável a evolução musical do guitarrista. 

A partir do solo, voltamos ao ritmo inicial, hardiano, mas diferente do que esperamos de um álbum do Vanilla Fudge, até pela baixa audição do órgão, sempre em alto volume nos álbuns anteriores. Vocalizações e a guitarra entoam uma nova melodia, que ganha velocidade para mais um solo de Martell, com Appice mandando ver no cowbell, e claro, as inigualáveis escalas de Bogert. Este segundo solo virá uma magistral sequência de duelos entre piano elétrico e guitarra, com um show a parte de Martell, empregando muitos bends e velocidade nas suas notas, encerrando o lado A com uma interessante alternância de caixas de um arpejo executado pela guitarra. 


Uma das últimas fotos do Fudge, em 1970
Metais abrem o lado B, com a triste “Church Bells of St. Martins”, trazendo o violão e a voz de Stein, além do cravo e de vocalizações que o Queen faria bastante nos seus álbuns iniciais. As vocalizações ganham corpo, trazendo a percussão que acompanha marcialmente o bonito dedilhado do violão e o grande arranjo vocal que intercala as frases cantadas por Stein. Mais vocalizações isoladas, batidas no tímpano e acordes do piano, deixam a bateria rufando, e então, chegamos ao trabalhado refrão, com metais e vocalizações fazendo alternâncias entre um tema simples da guitarra. Vozes se sobrepõem entre batidas dos sinos de uma igreja, fazendo o encerramento dessa canção um tanto quanto descartável. 

O mesmo não podemos dizer de “The Windmills of Your Mind”, mais umaatriste faixa cantada por Stein, começando com o órgão e a bateria acompanhando a voz embriagada de emoção do tecladista, nesta que talvez é sua melhor interpretação vocal no Vanilla Fudge. O órgão surge mais imponente aqui, e a partir da segunda estrofe, baixo e bateria fazem o complexo e depressivo acompanhamento, enquanto a guitarra executa um lindo tema, e Stein continua chorando ao microfone, arrancando lágrimas através de uma linda canção, com uma das letras mais belas que já li, destacando frases como “” “” “”. 

Na terceira estrofe, temos um ritmo mais definido, e é impressionante como Stein consegue soltar sua garganta, além da melodia envolvente do órgão, a guitarra destorcida e o baixo fazendo a cama para as batidas aleatórias de Appice, sugando o ouvinte para um mundo depressivo, triste, mas muito bonito, e assim, Stein recebe seu momento a capella, tendo a companhia de vocalizações, para encerrar esta que é a melhor canção de Rock & Roll. 

A tarefa de concluir esse album mediano fica por conta de mais uma balada “If You Gotta Make a Fool of Somebody”, a qual surge com o órgão, bateria e baixo, trazendo o riff da guitarra e muita percussão, e posteriormente, por muitos bends da guitarra. O andamento lento destaca a voz de Stein, cantando em um estilo gospel e diferente da faixa anterior, assim como o bonito arranjo vocal que entoa o nome da canção. Bogert canta a segunda estrofe, e a entrada da percussão dá ritmo para a mesma. Então, Bogert e Stein passa a travar um duelo de quem grita mais, e assim, o órgão dedilha suavemente as notas iniciais, trazendo guitarra, baixo e percussão para repetir o riff principal. 

Mais notas rasgadas e a balada continua, tendo Appice e suas viradas, além das vocalizações cantando o nome da canção aparecendo em primeiro plano. Stein continua a cantar, e chegamos na reta final, com o solo de Martell invadindo a privacidade do órgão e da cozinha baixo e bateria, aumentando o ritmo e concluindo com as viradas de Appice ao fundo das vocalizações cantando fortemente o nome da canção, intercaladas pelas notas rasgadas de Martell. 


O último single do Vanilla Fudge foi lançado no dia 03 de fevereiro de 1970, trazendo "Lord in the Country". No dia 14 de março, o Vanilla Fudge fez sua última apresentação no Phil Basile's Action House, e em seguida foi anunciado seu fim. Bogert e Appice partiram para fundar o Cactus, junto com Jim McCarty (guitarra) e Rusty Day (vocais, harmônica), e depois, criarem com Jeff Beck o trio Beck Bogert Appice, que durou apenas dois anos. Stein tentou manter o Fudge na ativa, trazendo o baixista Sal D'Nofrio e o baterista Jimmy Galluzi, mas essa formação durou pouco tempo, e ele seguiu carreira como músico de estúdio, participando de discos solo de diversos artistas, com destaque para Tommy Bolin e Alice Cooper, e Martell seguiu como músico de estúdio, sem ter gravado álbuns de grande relevância.


A volta em 1984. Puramente AOR
Em 1982, a gravadora ATCO lançou a coletânea Best of Vanilla Fudge, que acabou vendendo muito bem. Isso trouxe o nome do grupo à tona novamente, e assim, em 1984 ocorre a primeira reunião do quarteto desde o final em 1970, tendo na formação Appice, Bogert, Stein e o guitarrista Ron Mancuso. A expectativa em torno do que iria sair de Mistery foi maior do que o resultado final, que desagradou em muito aos fãs originais, e também a imprensa. O resultado pode ser decepcionante, mas visto com outros olhos, é fácil entender por que poucos gostam deste disco. 


Na verdade, nele não há nenhum indício da barulheira e peso da década de 60, mas uma revitalização e adaptação ao som oitentista, tendo como referência o "na moda" AOR. O resultado é um disco carregado de sintetizadores, sem nenhuma participação do famoso órgão hammond, levadas e solos de guitarra de tirar o fôlego, belos arranjos vocais ou viradas de baixo e bateria para colocar a casa abaixo. 


Mas é um AOR da melhor qualidade. "Jealousy" (com participação especial de Jeff Beck, escondido sob o pseudônimo J. Toad), "Walk on By" e "The Stranger" são as melhores faixas, mas pode ser dado destaque para os perfeitos arranjos AORianos de "Golden Age Dreams", "Under Suspicion" (esta carregada de eletrônicos), "Don't Stop Me Now" e "Hot Blood". Difícil mesmo é entender como a pior canção do disco acabou dando nome ao mesmo, e aturar "It Gets Stronger" ou "My World is Empty" é pedir para chorar e muito. 


O grupo separou-se novamente, reunindo-se em 1987 e 1988 para comemorar os 40 anos da Atlantic Records, tendo Appice, Stein, Bogert e Paul Hanson (guitarra) nos shows de 1987 e o mesmo trio adicionado de Lanny Cordola no show da Atlantic Records, até cada um seguir seu caminho de vez. Em 1991, sai The Best of Vanilla Fudge - Live, que apresenta canções gravadas durante a turnê de reunião que ocorreu em 1990, contando com Appice, Derek St. Holmes (guitarra, vocais), Tom Croucier (baixo, vocais) e Martin Gerschwitz (teclados, vocais), e em 1993, mais uma coletânea, Psychedelic Sundae, lançada pela Rhino Records.


O retorno em 2001
Depois de mais uma tentativa frustrada de retorno do grupo em 1990, chegou os anos 2000, e com ele, outra reunião, dessa vez com Martell, Appice e Bogert, além do tecladista Bill Pascali. Uma pequena temporada de shows e o quarteto decide lançar um novo álbum, resgatando velhos clássicos Fudgeanos para os jovens, além de criar arranjos para canções que na época eram as principais nas rádios do planeta, através de The Return, lançado em 2001.


Concentrando-se nas revisões para suas próprias canções, oito das onze faixas são pertencentes a essa classificação. Algumas delas ficaram quase iguais as versões originais (“You Keepin’ Hangin On”, “People Get Ready”, “Take Me for a Little While”, “Need Love” e “She’s Not There”) sendo a bateria o vilão do arranjo. Já “Shotgun” e “Good Good Lovin’” ficaram muito piores do que as versões originais, não merecendo o atentado aqui cometido. Por fim, a versão de “Season of the Witch” acaba sendo uma maravilhosa busca por alguma diferença entre a versão original e a nova versão, revelada no final dessa assustadora e fantástica canção, que aqui, admito sem medo de errar, acaba ficando bem melhor que o que ouvimos em Renaissance


Das covers novas, duas surpreendem, as quais são "Ain't That Peculiar" (original de Marvin Gaye) e "Tearin' Up My Heart" (original do N' Sync). Sim, uma canção dos almofadinhas americanos conseguiu ficar bem legal com o Vanilla Fudge, e a homenagem surpresa não para por aí, já que os também almofadinhas Backstreet Boys foram homenageados com uma versão para "I Want it That Way", essa sim, apesar de pesada, não fazendo jus ao grandioso nome do Vanilla Fudge. Um bom álbum, apesar de algumas derrapadas, e que recebeu três relançamentos distintos. 


Return (2002) trouxe uma versão suingada de “Do Ya Think I’m Sexy”, de Rod Stewart, cantada por Appice e com a participação especial do próprio Stewart fazendo vocalizações, em adição as demais. Já Return (2003) possui as mesmas canções da versão de 2002, acrescidas de uma versão psicodélica para "Tearing Up My Heart". O último lançamento foi Then and Now (2004), que retirou do track list "Ain't That Peculiar", substituindo-a por uma interessante revisão de "Eleanor Rigby". 


Nesse meio tempo, foram lançados os ao vivo The Return – Live in Germany Part 1 (2003), The Real Deal – Vanilla Fudge Live (2003) e Rocks the Universe – Live in Germany Part 2 (2003), outros interessantes acréscimos na discografia do Fudge.

A bela homenagem ao Led Zeppelin
Stein voltou ao grupo em 2006, e com o quarteto original, pintou a ideia de homenagear um dos grupo que teve pequena mas importante influência do Vanilla Fudge, o Led Zeppelin, já que John Bonham fazia suas viradas totalmente saídas das viradas de Appice. O Vanilla Fudge até que tentou seguir o arranjo original, mas apenas em seis das doze canções selecionadas ouvimos igualdade, sendo os outros 50% bem diferente e excepcional. "Immigrant Song" está nas que manteve um formato similar ao original, destacando o baixo cavalgante de Bogert, apesar dos sintetizadores, assim como "Trampled Under Foot", "Dazed and Confused", "Fool in the Rain", "Rock and Roll" e "All My Love", onde a principal diferença fica no timbre vocal de Stein e Bogert em comparação à Plant. 


"Ramble On", "Black Mountain Side", "Babe I'm Gonna Leave You", "Dancin' Days", "Moby Dick" e "Your Time is Gonna Come" receberam uma revitalizada que em pouco lembram as versões originais. "Black Mountain Side" e "Your Time is Gonna Come" são as que mais chama a atenção, tendo um bonito arranjo com órgão e violão, e o arranjo com piano elétrico e guitarra para "Babe I'm Gonna Leave You" ficou muito bom, dando mais peso e dramaticidade para essa pérola do álbum de estreia do Zeppelin. 


E o que dizer de "Moby Dick"? Appice transformou o solo de Bonham, falecido em setembro de 1980, colocando velocidade e principalmente, demonstrando a técnica e pegada que influenciou o homenageado. O álbum contou com a participação especial de Vince Wasilewski nos vocais de duas faixas: "Ramble On" e "Immigrant Song", e é o último disco oficial do grupo até o presente momento.

O quarteto em 2008

Em 2007 foi lançado o ao vivo Good Good Rockin' - Live at Rockpalast. Em 2008, mais dois álbuns ao vivo chegaram às lojas: Orchestral Fudge e When Two Worlds Collide. Na década atual, o grande lançamento foi a caixa Bof of Fudge (2010), trazendo quatro CDs que abrangem a primeira fase do Vanilla Fudge, sendo dois CDs somente com versões ao vivo nunca lançadas anteriormente.

O grupo permanece na ativa, fazendo shows revivals ao lado do Yardbirds, e tendo na formação Appice, Stein, Martell e o baixista Pete Bremy. Uma ótima forma de trazer para os jovens a fonte da inspiração de algumas das principais bandas da década de 70.

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