sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Cinco Discos Para Conhecer: Rolando Castello Junior




Quando falamos em grandes bateristas da história do rock, nomes como John Bonham, Keith Moon, Carl Palmer, Bill Bruford e Neil Peart são sempre lembrados. No Brasil, sem dúvidas o mais importante nome desse instrumento é Rolando Castello Júnior. Com mais de 40 anos de carreira, Júnior fez parte de grandes grupos do rock brasileiro e também da América Latina, sendo inclusive fundador da Patrulha do Espaço, a qual acompanhou Arnaldo Baptista pós saída dos Mutantes.

Nesse Cinco Discos Para Conhecer, trago algumas das principais obras de uma discografia vasta, magnífica e fundamental para quem quer conhecer um dos bateristas mais criativos e geniais do rock nacional, que superou um problema de saúde (poliomelite) para criar uma forma de tocar única e inconfundível, identificado logo nas primeiras batidas. Algo pouco comum no mundo das baquetas.

Made in Brazil - Made in Brazil [1974]

O famoso "Disco da Banana" é um dos mais conceituados álbuns do rock nacional. Rock 'n' roll direto, sem frescura, comandado pelos riffs de Celso Vecchione e o vocal rasgado do louquete Cornelius Lucifer. Adicionando tempero a esse preparo tipicamente nacional, a pegada indistinguível de Júnior. Basta ouvir "Anjo da Guarda" para ali reconhecermos todas as principais características de suas batidas, seja nas viradas com os tons, na sequência de batidas nos pratos ou apenas na marcação precisa do bumbo e da caixa. Algo que também aparece claramente em "Menina, Pare de Gritar", "Você Já Foi Vacinado" e "Vamos Todos à Festa". Outras faixas que Júnior chama a atenção são a viajante "Doce", o suingue e malemolência de "Intupitou o Trânsito" e o bluesaço "Tudo Bem, Tudo Bom". E cara, o que eles fizeram na versão de "Aquarela do Brasil", outra que Júnior desfila todas as suas armas, é de tirar o chapéu e comê-lo sem nenhuma pitada de sal, acompanhado apenas de uma bela caneca de chopp. Sensacional! É a nata do rock nacional entregue ao ouvinte para deleite sem fim, e uma das obras essenciais que o Brasil produziu como arte.

Cornelius Lucifer (vocais), Oswaldo Vecchione (baixo e vocais), Celso "Kim" Vecchione (guitarra solo, violão de 6 e 12 cordas, vocais), Rolando Castello Jr. (bateria e percussão), Ricardo Fenilli (percussão, efeitos e vocal de fundo), Onisvaldo Scavazzinni (teclados, piano e órgão).

Participações
Tony Babalu - guitarra.
Bolão - saxofone e flauta.
Daniel Salinas - arranjos

Anjo da Guarda
A Mina
Doce
Aquarela do Brasil
Intupitou o Trânsito
Você Já Foi Vacinado
Tudo Bem, Tudo Bom
Vamos Todos à Festa
Menina Pare de Gritar
Uma Longa Caminhada

Aeroblus - Aeroblus [1977]

Este álbum abriu o mercado latino americano em definitivo para o rock pesado. É a união da pesada mão de Júnior com a pegada portenha de Medina e a técnica inqualificável de Pappo nas seis cordas. Um dos primeiros power trios da América Latina a conquistar um lugar ao sol, e cm pancadas foderosas, chamadas "Aire En Movimiento", "Buen Tiempo" e "Completamente Nervioso". Aeroblus deixou registrado também lindas baladas ("Nada Estoy Sabiendo" e "Vendríamos a Buscar"). Júnior dá um show a parte nas canções instrumentais "Árboles Difusores" e "Sofisticuatro", a primeira com uma introdução matadora, e a segunda, uma complexa peça na qual a bateria é a locomotiva desvairada que conduz o solo hipnótico da guitarra de Pappo. Abrindo os trabalhos, o clássico "Vamos a Buscar La Luz", com seu final estardaçalhante. Apenas 30 minutos de um hardão setentista que vai virar sua cabeça 180°.

Pappo (vocais e guitarra), Alejandro Medina (baixo e vocais), Rolando Castello Júnior (bateria)

Vamos a Buscar La Luz
Completamente Nervioso
Tema Solisimo
Árboles Difusores
Vendríamos a Buscar
Aire en Movimiento
Vine Cruzando el Mar
Nada Estoy Sabiendo
Sofisticuatro
Buen Tiempo

Arnaldo Baptista & Patrulha do Espaço - Faremos Uma Noitada Excelente ... [1988]

Depois de abandonar os Mutantes em 1973, Arnaldo Baptista criou o grupo Space Patrol, junto do igualmente genial baterista Zé Brasil (Apokalypsis). A formação durou pouco, e Arnaldo seguiu sozinho, para gravar Lóki!. No ano seguinte, formou a Patrulha do Espaço, tendo como principal alicerce a poderosa bateria de Júnior, apresentado a Arnaldo por Zé Brasil. O grupo fez alguns shows, entre 1976 e 1979, e um deles foi registrado no dia 13 de maio de 1978, no famoso Teatro São Pedro de São Paulo, aqui nesse álbum, resgatado pelo selo Baratos Afins em 1988. É uma participação diabólica de Júnior. Ao vivo o homem demole. Basta ouvir a insanidade gerada no longo solo de "Cowboy", com uma série embasbacante de rufadas, além da condução potente e arrasadora. Júnior também conduz com primazia a viajante "Emergindo da Ciência", espanca os tons e pratos no pesado blues "Um Pouco Assustador", e dá um show de viradas e condução em "Hoje de Manhã Eu Acordei". Ainda por cima, Arnaldo vivia momentos de pura inspiração, o que torna as canções ainda mais atraentes. A qualidade e gravação não é das melhores, mas o conteúdo do álbum é excelente, além de ser um dos raros registros ao vivo de Rolando nos anos 70.

Arnaldo Baptista (piano, vocais), Eduardo Chermont (guitarra, vocais), Osvaldo Gennari (baixo, vocais), Rolando Castello Júnior (bateria)

John Flavin (guitarra, vocais - Faixas 2 e 4)

Emergindo da Ciência
Um Pouco Assustador
Arnaldo Solizta
I Feel in Love One Day
Cowboy
Hoje de Manhã Eu Acordei

Patrulha do Espaço - Patrulha [1982]

Encerrada a temporada ao lado de Arnaldo Baptista, Júnior adquiriu a independência e levou a Patrulha para a estrada. O álbum de estreia, conhecido como "Disco Preto", é o primeiro álbum independente do rock brasileiro, e era distribuído aos fãs pelos Correios. Mas é seu terceiro disco que faz da Patrulha a maior banda do heavy rock nacional do início dos anos 80. Aqui temos um Rolando soltando a mão, pesadíssimo como nunca antes. A pancada "Meus 26 Anos", a introdução de "Bomba" e o ritmo desconcertante de "Mar Metálico" são exemplos da potência que é o braço do homem. Júnior novamente também manda bem no blues ("Jeito Agressivo"). Além disso, temos "Columbia", o maior hino da Patrulha, e um dos principais da cena pesada de nosso país, tanto que a Roadie Crew a elegeu como um dos 200 maiores hinos do heavy rock mundial (uma das raras canções cantadas em português, presentes nessa lista), com o acompanhamento marcante da bateria de Júnior, e os sintetizadores que devem ter delirado com os roqueiros setentistas no início dos anos 80. Dudu e Sergio também eram excelentes músicos. O sucesso foi tamanho que o próprio Eddie Van Halen se rendeu ao trio, e exigiu que eles fossem a banda de abertura dos shows do Van Halen em São Paulo. Meia hora de audição fundamental em qualquer casa que tenha o rock pesado como audição central.

Dudu Chermont (guitarras, cordas e voz), Sergio Santana (baixo, vocais), Rolando Castello Júnior (bateria, percussão e vocais)

Columbia
Bomba
Jeito Agressivo
Festa Do Rock
Mar Metalico
Cão Vadio
Transcendental
Meus 26 Anos

Quantum - Quantum [1983]

Ao lado de Bacamarte, Quintal de Clorofila e Recordando o Vale das Maçãs, entre outros, o Quantum é mais uma das gigantes bandas brasileiras formada no início dos anos 80 e que não teve o reconhecimento que merecia. Durou apenas dois anos. Seu único álbum, lançado em 1983, era o contra-ponto do que o BRock fazia naquela época, e um verdadeiro achado para quem aprecia um rock progressivo raiz. Totalmente instrumental, Quantum é uma aula de técnica, maestria e competência dos músicos "Gringo" Rosset, "Dinho" Jr. e Fernando Costa (ver formação abaixo). Teclados viajantes, inspirações que vão de Yes e Mahavishnu Orchestra a Brand X e Weather Report, temos aqui um perfeito exemplar de como unir exímios músicos sem soar pomposo. Júnior participa de apenas uma canção, a longa suíte "Inter Vivos", que apresenta aos fãs do batera sua inacreditável capacidade de tocar com precisão também no rock progressivo, com muita intrincação, quebradas e as suas tradicionais viradas, duelando com o veloz teclado de Fernando e a enfurecida guitarra de "Gringo". Uma obscuridade para investigadores de "Arquivo-X" estudarem, e apaixonados pelo rock progressivo entenderem que o estilo ainda respirava no Brasil nos anos 80.

Marcos "Gringo" Rosset (guitarra, violão, baixo na Faixa 4), Reynaldo "Dinho" Rana Jr. (guitarra e violão de 12 cordas), Paulo Eduardo Naddeo (bateria e percussão), Fernando Costa (teclados, guitarra na Faixa 2) e Segis Rodrigues (baixo)

Participação Especial
Rolando Castello Júnior (bateria, Faixa 4)

Tema Etéreo
Chuva
Acapulco
Inter Vivos
Sonata
Quantum


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