quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Terço



Mutantes, Secos & Molhados e Novos Baianos são os nomes mais citados quando falamos de rock nacional dos anos setenta, lançando álbuns que são em sua maioria facilmente encontrados, claro que às vezes com preços exagerados, mas que valem cada centavo investido. Depois destes, temos ainda Bacamarte, Som Imaginário, Módulo 1000, Quintal de Clorofila, Som Nosso de Cada Dia, Recordando O Vale das Maçãs, entre outras bandas que, apesar de muitos de nós conhecermos, sabemos que lançaram poucos discos, os quais viraram objetos de brigas nos sebos espalhados pelo país, e até pelo mundo. Porém, existe uma banda que faz esse meio termo, vários álbuns lançados, alguma facilidade em compra (dois discos pelo menos você sempre encontra nas lojas) e raridades garimpadas a preço de ouro (outros dois álbuns). Estou falando de O Terço.

No Rio de Janeiro de 1968, a fusão do Joint Stock Co., formado por Vinícius Cantuária (bateria), Jorge Amiden (guitarra), Sérgio Magrão (baixo) e César de Mercês (guitarra), e os Hot Dogs, do qual o guitarrista Sérgio Hinds fazia parte, dava origem ao grupo Os Libertos, formado por Sérgio, Vinícius e Mercês, com o último tocando baixo. Em pouco tempo, Os Libertos passaram a se chamar Santíssima Trindade. Já no início de 1970, Mercês foi substitúido por Amiden, com Sérgio indo para o baixo e, assim, adotaram o nome de O Têrço, com acento circunflexo.

Grupo formado, passaram a ensaiar e se apresentar em diversos festivais Brasil afora, tais como o Festival de Juiz de Fora, onde ganharam o prêmio principal com a canção "Velhas Histórias", e o Festival Universitário do Rio de Janeiro, onde ficaram em segundo lugar com "Espaço Branco". 


O som folk rock dos garotos, com um vocal bem trabalhado e cheio de falsetes, não demorou a chamar a atenção das gravadoras, e logo, conseguiram um contrato com a Polygram, que colocou o trio para gravar em poucos dias, lançando ainda em 1970 o auto-intitulado álbum O Têrço. Nele, encontramos um disco fortemente influenciado por The Band e Buffalo Springfield, entre outros nomes do folk rock internacional, com destaque para faixas como "Plaxe Voador", "Velhas Histórias" e "Yes, I Do". 

A banda chegou a causar certa polêmica com a capa do disco, onde aparecem sentados com calças jeans e descalços dentro de uma igreja, com um terço entre o trio. Em outubro de 1970 ainda participaram do V Festival Internacional da Canção, classificando "Tributo ao Sorriso" em terceiro lugar. Nesse ano, participaram do estranhíssimo espetáculo Aberto para Obras, no Teatro de Arena, ao lado do Módulo 1000 e outros artistas.

Sérgio decidiu seguir carreira ao lado de Ivan Lins, abrindo espaço para a volta de Mercês. Porém, o tempo ao lado de Ivan foi curto, fazendo com que Sérgio retornasse para O Têrço, assumindo as guitarras e deixando o trio agora como um quarteto. De cara, lançaram o compacto duplo "O Visitante", contando com as músicas "Adormeceu", "Doze Avisos", "Meio Ouvinte" e "Teatro da Área Extraída da Suíte".


Passaram a usar cada vez mais do experimentalismo em seus ensaios, e além disso, a construir seus instrumentos. Nessa época, foi feita a famosa "Tritarra", uma guitarra de três braços que Amiden empunhava para executar as difíceis peças que a banda começava a criar, bem como o violocenlo elétrico que Sérgio tocava. Esse violoncelo pode ser ouvido, por exemplo, em "Doze Avisos". Os novos intrumentos foram apresentados ao público no VI Festival Internacional da Canção, em 1971, onde a música "O Visitante" alcançou o quarto lugar.

Porém, após a participação no VI FIC Amiden discutiu com os demais integrantes, abandonando o barco. Para evitar problemas futuros, os remanescentes registraram o nome da banda, agora como O Terço, sem acento, e voltaram a ser um trio, enquanto Amiden montou a banda Karma, ao lado de Luiz Mendes Jr (violões) e Alen Terra (baixo). O Terço passou a acompanhar o cantor Marcos Valle, participando no fantástico álbum Vento Sul, com destaque para a esquisita canção "Democústico", culminando este projeto com a apresentação da banda ao lado de Valle no Festival do Midem, na cidade de Cannes, França.

A ida à França e a colaboração com Valle deu contato ao pessoal do O Terço com o rock progressivo, influenciando bastante na musicalidade da banda. Isso pode ser conferido no compacto com "Ilusão de Ótica" e "Tempo é Vento", onde até mesmo as letras estão mais trabalhadas. Sérgio passa a tocar viola e a estudar cada vez mais. Nessa nova fase lançam o fantástico álbum O Terço, abrindo assim sua principal fase no cenário nacional.



As guitarras distorcidas de Sérgio abrem o álbum e a faixa "Deus", com bastante peso e marcações. Os vocais aparecem com a presença do órgão Hammond de Maran Schagen executando o tema da canção. As vocalizações se fazem presentes no refrão, mostrando que, apesar de estar incrementando peso e técnica, a banda mantinha sua essência. 

"Você Aí" tem uma introdução bem anos sessenta, com a colaboração de Chico Batera na percussão. A guitarra de Sérgio está em destaque nos dois canais, e a levada quase samba rock dá um clima brazuca parecido com as canções do álbum do O Têrço. Destaque para o solo de saxofone de Zé Bodega duelando com a guitarra de Sérgio. Essa faixa ainda conta com um naipe de metais executado por Paulo Chacal (tumba), Paulo Moura e Mauro Senise (sax alto) e também o órgão de Maran. 

O disco segue com a bela "Estrada Vazia", cheia de vocalizações, variações de volume e violões. "Lagoa das Lontras" retoma as guitarras distorcidas, narrando sobre um local onde "todos fossem um só". Sérgio está cada vez melhor nos riffs, e a cozinha manda bem nos acompanhamentos. O lado A encerra com "Rock dos Elvis", que é nada mais nada menos do que um rockzão bem no estilo Jovem Guarda.

O melhor deste álbum ficou reservado para o lado B, com a canção "Amanhecer Total". Dividida em cinco partes ("Cores / Despertar pro Sonho / Sons Flutuantes / Respiração Vegetal / Primeiras Luzes no Final da Estrada - Cores Finais") e com a participação de Luiz Simas (Módulo 1000) nos teclados, ela ocupa todo este lado em seus quase vinte minutos de muita loucura e viagem. 

O início com "Cores" traz somente a voz de Patrícia Valle cantando a letra "Branco branco, amarelo, Pôr-do-sol, Luz e sol, Luz do sol, Arco-íris brilhando no céu azul", acompanhada pelos violões de Sérgio e os efeitos de Chico Batera, no melhor estilo Jamie Muir, entrando então no "Despertar pro Sonho", com o violão sendo acompanhado por sons de mata e floresta. As escalas de Sérgio soam indígenas, até a entrada de Luiz Simas. Os vocais então trazem as lindas letra e melodia, acompanhadas pelos violões e por intervenções de mini-moog e percussão. 

Camadas de teclados nos levam aos "Sons Flutuantes", numa viajante sessão com Sérgio cantando sobre essas camadas, para daí entrar na melhor parte da canção, a marcada "Respiração Vegetal", onde guitarra, teclado, baixo e moog fazem diversas escalas, com Vinícius tocando cirurgicamente. Baixo e guitarra fazem escalas pesadas, com o órgão interferindo sobre a levada de bateria. A guitarra então sola super distorcida, para assim os vocais assumirem novamente o posto principal. Temos então o solo de órgão acompanhado pela sessão instrumental anterior, muito pesada, e que repete a estrofe mais uma vez, com a mesma sessão rítmica. Destaque para a intrincada peça criada por Mercês e Cantuária para acompanhar o solo de órgão. 

O piano de Maran muda o clima em "Primeiras Luzes no Final da Estrada - Cores Finais", numa linda melodia onde a letra de "Cores" é repetida diversas vezes sobre camadas de piano, moog, teclados, baixo e bateria. Nada mais nada menos que divino!

Mesmo sendo um belo álbum, colocando o nome do O Terço no cenário nacional, Vinícius foi parar na banda de Caetano Veloso, sendo substituído por Luiz Moreno. Sérgio Magrão foi convidado para tocar baixo e Mercês assumiu a função única de letrista e compositor. Com a ajuda de Milton Mascimento, conhecem o multi-instrumentista Flávio Venturini, que havia acompanhado o pessoal do Clube da Esquina e tinha um talento incomum no Brasil, e que assume os teclados do grupo. Participam do álbum Nunca, de Sá & Guarabyra, e tornam essa formação a considerada clássica do O Terço, ao lançar, em 1975 o espetacular Criaturas da Noite.


O disco contém no mínimo quatro clássicos do rock nacional, começando com um deles, o hino "Hey Amigo", com o seu famoso refrão que foi cantado à plenos pulmões pelos jovens na década de setenta. O LP segue com a interiorana "Queimada", com seus violões e violas que também fizeram dessa canção um clássico. "Pano de Fundo" mostra o talento de Venturini sob uma levada e vocalizações que lembram as canções dos Mutantes de Sérgio Dias. Mercês colabora na parte percussiva dessa faixa. Destaque para a parte final, com uma baita levada de baixo e com Sérgio mandando ver na guitarra. 


Venturini muda de instrumento, assumindo primeiro o piano na viajante instrumental "Ponto Final", de Luiz Moreno, a qual conta com as vocalizações de Marisa Fossa. Nela, Venturini se aventura em solos de moog, órgão e piano. Sérgio também sola, mas é Venturini o destaque da canção, encerrando com uma bela presença do órgão. O fim do lado A ocorre com a hard "Volte na Próxima Semana", com um refrão grudento e muito órgão.
O lado B abre com outro clássico, "Criaturas da Noite". O que falar de uma canção que está entre as dez mais conhecidas do rock nacional? Com arranjos do maestro Rogéro Duprat, "Criaturas da Noite" virou uma das peças centrais da banda, sendo pedida nos shows até os dias de hoje. "Jogo das Pedras" retoma o clima de "Queimada", com os violões tendo maior destaque. 

Por fim, uma das melhores suítes do rock nacional, a linda instrumental "1974". Composta por Venturini, essa faixa retrata a importância da entrada do tecladista, dando enfim uma cara de grupo para O Terço. A faixa começa com a introdução ao piano e com o baixo executando os acordes para Sérgio trazer o tema principal. As marcações se fazem presentes, trazendo o tema principal com as famosas vocalizações de Sérgio ("Na-na-na-na-na-na-na-naaaaaaaaa") e novamente as marcações, para modificar um pouco o tema principal e também as vocalizações ("Da-ra-ri-ra-tu-ra-raaaaaaa Di-ra-ri-ra-ra-raaaaaaaaaa") em uma marcação hipnotizante, com a guitarra executando as mesmas notas das vocalizações. 

Os riffs mudam, com Venturini solando sobre um segundo tema instrumental, levando a música para um clima embalado, onde Sérgio sola com um efeito de reverb muito legal. A parte mais viajante então chega, com Venturini se virando em um polvo para executar os teclados, enquanto Sérgio emite vocalizações tristes, acompanhadas por notas de guitarra mais tristes ainda. O baixo de Magrão dá o toque suingado para a música, passando um clima de apreensão, onde o ouvinte não consegue imaginar o que vai vir. Sequências de baixo, bateria e guitarra intercalam sobre os teclados de Venturini, levando ao tema final da canção, com mais um solo de Sérgio e as últimas vocalizações, feitas somente com o acompanhamento do piano. Guitarra e sintetizador duelam por alguns segundos, para assim Sérgio solar e encerrar essa faixa que , com certeza, tem que ser ouvida e reouvida com todo o carinho e a atenção que se deve dar a uma obra-prima, e que foi eleita pelos fãs da banda (eu incluso) como a melhor música do O Terço em todos os tempos, nas mais diversas enquetes.


Criaturas da Noite foi lançado na Europa em 1976 numa versão rara, com as músicas cantadas em inglês e com o nome de Creatures of the Night. Foi o álbum mais bem sucedido da banda, com o compacto de "Hey Amigo" vendendo milhares de cópias e com direito até a apresentação de "1974" como peça musical coreografada, fato este ocorrido em 1977 através do artista argentino Oscar Araiz. Muitos consideram o melhor álbum de todos os tempos do rock nacional. Em sua versão original o LP trazia uma arte muito bonita, chamada A Compreensão, obra de Antônio e André Peticov, além de um encarte e poster gigante do grupo caught in the act. É claro que essa versão, quando encontrada, é disputada a tapa nos sebos, valendo alguns barris de cerveja. Existe também uma outra versão com o poster sendo a capa do álbum, e que muitos achavam que tratava-se de um álbum ao vivo da banda quando a mesma foi lançada.

O Terço tornava-se então um expoente do progressivo nacional, ao lado dos Mutantes de Sérgio Dias, participando como um dos headliners dos festivais Águas Claras (1975), Banana Progressiva (1975), Hollywood Rock e Temporada de Verão. Em 1976 a banda isolou-se em uma fazendo no interior de São Paulo, seguindo os passos de Novos Baianos, Mutantes, entre outros. Lá, construiram as canções para o próximo álbum.


Lançado no mesmo ano, Casa Encantada mantém o nível de Criaturas da Noite, porém sem nenhuma suíte. O nome do álbum se deve exatamente a casa localizada no km 48 da BR-116. O álbum vendeu tão bem quanto seu antecessor. Nele, O Terço volta um pouco aos elementos da MPB, mas continua com a linha progressiva.


O disco abre com os violões e a letra em espanhol de "Flor de La Noche", que muda para um rockzão bem anos setenta, com letras em português, bastante órgão e guitarras, contando também com a percussão de Zé Eduardo. Venturini está demais no uso dos teclados, e o vocal fica por conta de Luiz Moreno, assim como na faixa seguinte, "Luz de Vela", outro rockzão, com direito a naipe de metais construídos por Mr Duprat. 

"Guitarras", composta por Sérgio, mostra todo o talento do guitarrista, acompanhado pelos acordes viajantes de Venturini e pela levada cadenciada da canção, que é alternada para um "quase samba", com direito a cuíca de Zé Eduardo e vocalizações doidas sobre o solo de Sérgio.

"Foi Quando Eu Vi Aquela Lua Passar" retoma os violões de "Flor de La Noche", nos fazendo sentir em um lual na beira da praia, e mostrando para os que acham que sabem o que é tocar violão como fazer uma música acústica. O maestro Duprat aparece na canção seguinte, a linda "Sentinela do Abismo", com destaque para a introdução medieval de Venturini, com direito até ao uso de flautas, tocadas por Mercês. Venturini também faz os vocais nessa canção. "Flor de La Noche II" encerra o lado A com a letra em português de "Flor de La Noche", em um ritmo bluesy.


A clássica "Casa Encantada" abre o lado B. Assim como "Creaturas da Noite", essa canção ficou marcada entre os fãs do O Terço principalmente pelo arranjo construído por Venturini e Luiz Carlos Sá. Mercês participa na canção executando um animado solo de flauta. "Cabala" dá seguimento ao álbum. Construída por Venturini junto com Zé Geraldo, que também trabalhou nas orquestrações e tocou violão nessa faixa, temos um destaque especial para o ritmo progressivo, cheio de viradas no ritmo da canção. 

A instrumental "Solaris", de Luiz Moreno, mantém o clima progressivo, com Venturini viajando no órgão e piano elétrico. A cozinha Magrão/Moreno também tem destaque na faixa pelo acompanhamento na parte mais rápida da canção, onde Venturini manda ver no órgão. "O Vôo da Fênix" foi outra canção famosa deste disco, principalmente pela parte percurssiva de Zé Eduardo. Uma homenagem aos amigos Sá e Guarabyra encerra o álbum, com o velho folk rock dos tempos de O Têrço, em "Pássaro".


Após o lançamento de Casa Encantada, O Terço participou do filme Ritmo Alucinante e também do programa global Sábado Som. A banda fez uma média de 400 concertos entre os anos de 1975-1976, lotando teatros e eventos. Além dos festivais citados acima, vale a pena lembrar da homenagem que fizeram para os Beatles, junto com os Mutantes, em 1976. 

Novas músicas começavam a surgir, como "Raposa Velha" e "Suíte". Porém, Venturini decidiu sair e tentar a sorte ao lado de Beto Guedes. Mercês retorna definitivamente e junto com ele apresenta o novo tecladista, Sérgio Kaffa, que trabalha muito na gravação do compacto "Amigos"/"Barco de Pedra" e também do álbum Mudança de Tempo, lançado em 1978.


Contendo músicas instrumentais e belos arranjos, esse disco completa uma trilogia essencial em qualquer armário de colecionador. O LP abre com a embalada "Não Sei Não", carregada no piano e teclados. O vocal é acompanhado por um triângulo de baião, com destaque para os duelos de piano e guitarra, bem como o característico trabalho de Sérgio. 

"Gente do Interior" resgata O Têrço em um clima bem "fazenda", com piano, baixo e violões fazendo a base para a guitarra solar com o uso de steel. O refrão contém a participação da orquestra regida por Duprat, e a melodia da canção é muito bonita, principalmente pelas vocalizações. 

Os pianos voltam a se apresentar na instrumental "Terças e Quintas", que lembra bastante as canções progressivas de bandas como Gentle Giant e PFM, com bastante marcações e viradas. Os teclados também marcam presença, mas é a guitarra de Sérgio que manda ver em um dos melhores solos do artista. 


A gospel "Minha Fé" é embalada pelo órgão Hammond e pela levada suingada, contando com a participação de Rosa Maria nas vocalizações. O lado A encerra com a progressiva faixa-título, composta por Mercês, e que abre a música com o baixo de Magrão acompanhado por acordes de guitarra e pela marcação da bateria. As vocalizações da banda trazem a letra, acompanhados pelo ritmo inicial. A canção muda para um ritmo lento, com a guitarra fazendo variações no volume e com as vocalizações desejando as "mudanças" nos locais. Os dois temas são retomados, abrindo espaço para os solos de violão, órgão e guitarra.

O lado B começa com a jazzística instrumental "Descolada", que lembra o Som Imaginário de Matança do Porco, com um belo arranjo de piano e com a participação de Mercês solando com a flauta, além, claro, do excelente trabalho de Sérgio. A guitarra também introduz a faixa seguinte, "Pela Rua", outra com um embalo rock'n'roll bem anos setenta, com destaque para as tradicionais vocalizações e para a participação de Mercês tocando flauta. A música ganha um clima diferente após os seus quatro minutos, com o piano e teclados, acompanhados pela cozinha, marcando o tempo para Sérgio mostrar todo o seu talento em um riff contagiante. 

O bluezão "Blues do Adeus" mantém o alto nível do disco, começando somente com a guitarra e os vocais de Sérgio, com pequenas intervenções de piano. Após a introdução, o blues pega de primeira, com órgão, baixo e bateria mandando ver, no ritmo cadenciado de um bom blues e com a pitada vocal que O Terço sempre gostava de acrescentar em suas canções. Sérgio está fenomenal no seu solo. 


O disco encerra com a viajante "Hoje é Domingo", contando com um embalo nordestino, cheio de órgãos e guitarras. A cadência da música nos faz pensar que estamos atravessando montanhas dentro de um trem. O trabalho de Kaffa é excepcional, mostrando que ele poderia substituir, e bem, o ídolo Venturini. As intervenções de Mercês falando "hojé é domingo, pede cachimbo" soam como interferências sobre a letra da canção, mostrando como O Terço pretendia evoluir nos arranjos. O final é simplesmente sensacional, com Sérgio mandando ver na guitarra e levando O Terço para um destino promissor.

É neste álbum que surge o logotipo que caracterizaria a banda nos anos oitenta e noventa, e que foi criado por Guernot. A capa do álbum também teve duas versões, assim como Criaturas da Noite; uma com o logotipo sobre um fundo azul, e outra com o grupo olhando por uma janela, sendo que a primeira é muito rara. 


Na divulgação de Mudança de Tempo O Terço fez os seus primeiros shows internacionais, no chamado Concerto Latinoamericano de Rock. Foram três no Brasil (São Paulo, Campinas e Belo Horizonte) e dois na Argentina (em Buenos Aires, no Luna Park e em Rosário), sempre acompanhados pela banda Crucis, que iria ganhar uma homenagem no futuro álbum do O Terço, chamado Time Travellers (1993), com a faixa "Crucis".

Problemas com a gravadora e também a sensível mudança na sonoridade acabaram abalando as estruturas da banda, bem como o grave acidente de Sérgio, que o impossibilitou de continuar a tocar por um bom tempo, sendo substituído para completar a turnê de divulgação do álbum por Ivo de Carvalho. 


Ao fim da turnê, ainda em 1978, O Terço anunciava seu término. Luiz Moreno montou a banda Original Orquestra e participou do álbum de Elis Regina Ao Vivo, de 1979. Sérgio Magrão fundou, ao lado de Flávio Venturini, Cláudio Venturini, Vermelho e Hely Rodrigues, o famoso conjunto 14 Bis, enquanto Sérgio lançou seu primeiro álbum solo.

O Terço retornou em 1982, com Sérgio, Ruriá Duprat (teclados), Zé Português (baixo) e Franklin Paolillo (bateria), lançando Som Mais Puro, com destaque para a faixa "Suíte", dos tempos de Venturini. O grupo seguiu com diversas mudanças de formação, chegando a fazer os shows de abertura do Asia e do Marillion quando os mesmos passaram por aqui, além de lançar vários álbuns durante os anos oitenta e noventa, os quais não conseguiram retomar o sucesso de Criaturas da Noite e Casa Encantada.

Em 2001, O Terço se reuniu com a sua formação clássica - Sérgio, Venturini, Mercês, Magrão e Moreno - para participar de um show do segundo. Foi o pontapé inicial para uma reunião, que começou a tomar forma rapidamente. Porém, devido a uma parada cardíaca, Moreno veio a falecer em 2003, adiando o retorno por mais algum tempo. Em 2005 O Terço voltava a ativa com Hinds, Venturini, Magrão e Sérgio Mello subsituindo Moreno, feito registrado no CD/DVD Ao Vivo, onde o grupo tocou, entre outras, "1974", "Tributo ao Sorriso" e "Criaturas da Noite", e também teve a participação especial do talentoso Marcus Vianna.

Venturini retornou para sua carreira solo, mas O Terço continua fazendo shows, com a promessa do lançamento de um CD com músicas inéditas para este ano e que, esperamos, tenha um refrão grudento como "hey, amigo, cante essa canção comigo!!!!".

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