Formado em Dublin, Irlanda, no ano de 1969, o Thin Lizzy teve uma longa trajetória percorrida até alcançar o status de grande banda de rock. Muito disso se deve ao talento incomum de um filho de uma irlandesa com um marinheiro sul-americano (existem muitos rumores de que ele fosse brasileiro), o baixista, vocalista e líder Phil Lynott.
Esse texto irá narrar sobre o início da carreira do Thin Lizzy, o qual passa despercebido perante a fase clássica do grupo, no final dos anos 70, com lançamentos como Jailbreak, Fighting e Johnny the Fox. Um período no qual o grupo sobreviveu como um trio, formado por Phil Lynott (vocais, baixo), Eric Bell (guitarra) e Brian Downey (bateria).
O grupo surgiu em dezembro de 1969, quando os amigos de infância Lynott e Downey reuniram-se aos ex-membros do grupo Them, Eric Wrixon (teclados) e Eric Bell. Lynott e Downey tocaram durante um certo período no grupo Orphanage, na companhia de Pat Quigley (baixo) e Joe Staunton (guitarra), mas o grupo acabou por problemas internos.
Quando o Thin Lizzy se forma, já surge como o quarteto Lynott, Bell, Downey e Wrixon. A origem do nome é um tanto quanto obscura, e existem três versões para a mesma situação. A mais famosa relata que Bell, fã do John Mayall's Bluesbreakers, comporou uma cópia da revista em quadrinhos Dandy, após ver Eric Clapton lendo a publicação The Beano na capa do disco Bluesbreakers with Eric Clapton (1966). Bell sugeriu o nome Tin Lizzie, o robô que estava na história da Dandy, e esse nome evoluiu para Thin Lizzy, devido ao sotaque de Dublin que fala Tin como Thin.
Primeiro compacto do Thin Lizzy |
O único que não quis seguir carreira foi Wrixon, que abandonou o grupo pouco antes do lançamento do single, retornando para o Them. O trio então começou a fazer suas primeiras apresentações, chegando a fazer dez shows por semana, atraindo empresários da Decca Records, que propuseram um contrato para os garotos, o qual foi assinado em dezembro de 1970.
Viajam então para Londres em janeiro de 1971, e entre os dias 04 e 09, gravam o álbum de estreia, o qual é lançado em abril do mesmo ano.
O raro álbum de estreia do Thin Lizzy |
A estreia do Thin Lizzy é difícil de se explicar. O trio Lynott, Bell e Downey faz uma mistura de sons e ideias em um álbum bastante experimental, a começar pela abertura, com “The Friend Ranger at Clonfart Castle”, na qual os resquícios da psicodelia do The Doors surgem através de um poema entoado por Lynott, transformando-se em uma viajante canção, onde o estilo inconfundível de cantar de Lynott surge pela primeira vez.
Já o violão de “Honesty is no Excuse”, acompanhado pelo mellotron (participação de Ivor Raymonde), nos manda de volta para os anos 60, em algum álbum do The Moody Blues pós Days of Future Passed (1967), enquanto a longa “Diddy Levine” é uma bela canção folk, sendo este mais um afluente no gigantesco rio de estilos que o Thin Lizzy era no início de sua carreira. Nela que aparece pela primeira vez o riff marcado entre baixo e guitarra que estaria presente em muita canções do grupo.
“Ray-Gun” é um funk embriagante, levado pelo wah-wah de Bell, com Lynott lembrando Jimi Hendrix em sua melodia vocal, assim como “Look What the Wind Blew In”, que encerra o lado A em um ritmo envolvente e com uma interessante participação de Downey.
“Eire” deixa uma bonita mensagem no início do lado B, com Lynott demonstrando seus dotes vocais, acompanhado pelo lento ritmo da guitarra, baixo e bateria, e “Return of the Farmer’s Son” (cujo início parece ter sido chupinhado pelo Deep Purple em “Highway Star”, lançada um ano depois), tem um riff grudento, com o baixo e a guitarra martelando na sua cabeça enquanto Lynott derrama emoção na letra da canção, além do primeiro solo de destaque feito por Bell.
A malemolência inicial da curta “Clifton Grange Hotel” torna sua descrição confusa e inexplicável, em uma espécie de balada rock anos 50 com psicodelia, com destaque para as guitarras sobrepostas de Bell. O Thin Lizzy volta para as baladas folk em “Saga of the Ageing Orphan”, uma triste canção com um bonito arranjo de violões, encerrando Thin Lizzy com “Remembering”, uma faixa bem trabalhada, na qual o wah-wah de Bell destaca-se entre os momentos delicados e agitados que se alternam constantemente com o passar dos seis minutos de duração, onde o solo de Bell, sobrepondo guitarras, e o cavalgante baixo de Lynott, entre seus gritos ensadecidos e guitarras sobrepostas, são os pontos altos do LP, que apesar de ser bem simples, está no mesmo nível de outros discos de grupos de maior expressão dessa época.
Já o violão de “Honesty is no Excuse”, acompanhado pelo mellotron (participação de Ivor Raymonde), nos manda de volta para os anos 60, em algum álbum do The Moody Blues pós Days of Future Passed (1967), enquanto a longa “Diddy Levine” é uma bela canção folk, sendo este mais um afluente no gigantesco rio de estilos que o Thin Lizzy era no início de sua carreira. Nela que aparece pela primeira vez o riff marcado entre baixo e guitarra que estaria presente em muita canções do grupo.
“Ray-Gun” é um funk embriagante, levado pelo wah-wah de Bell, com Lynott lembrando Jimi Hendrix em sua melodia vocal, assim como “Look What the Wind Blew In”, que encerra o lado A em um ritmo envolvente e com uma interessante participação de Downey.
Contra-capa do álbum de estreia do grupo |
“Eire” deixa uma bonita mensagem no início do lado B, com Lynott demonstrando seus dotes vocais, acompanhado pelo lento ritmo da guitarra, baixo e bateria, e “Return of the Farmer’s Son” (cujo início parece ter sido chupinhado pelo Deep Purple em “Highway Star”, lançada um ano depois), tem um riff grudento, com o baixo e a guitarra martelando na sua cabeça enquanto Lynott derrama emoção na letra da canção, além do primeiro solo de destaque feito por Bell.
A malemolência inicial da curta “Clifton Grange Hotel” torna sua descrição confusa e inexplicável, em uma espécie de balada rock anos 50 com psicodelia, com destaque para as guitarras sobrepostas de Bell. O Thin Lizzy volta para as baladas folk em “Saga of the Ageing Orphan”, uma triste canção com um bonito arranjo de violões, encerrando Thin Lizzy com “Remembering”, uma faixa bem trabalhada, na qual o wah-wah de Bell destaca-se entre os momentos delicados e agitados que se alternam constantemente com o passar dos seis minutos de duração, onde o solo de Bell, sobrepondo guitarras, e o cavalgante baixo de Lynott, entre seus gritos ensadecidos e guitarras sobrepostas, são os pontos altos do LP, que apesar de ser bem simples, está no mesmo nível de outros discos de grupos de maior expressão dessa época.
O primeiro relançamento em CD de Thin Lizzy, em 1990, apresentou mais quatro canções: “Dublin”, “Remembering Pt. 2”, “Old Moon Madness” e “Things Ain’t Workin’ Out Down at the Farm”, as quais fazem parte do EP New Day, que foi lançado pelo trio em agosto de 1970.
A versão remasterizada de 2010 trouxe nove bônus: as quatro canções de New Day, a inédita "Things Ain't Working Out Down at the Farm" e versões remasterizadas e regravadas para "Look What the Wind Blew In", "Honesty Is No Excuse", "Dublin" e "Things Ain't Working Out Down at the Farm".
Thin Lizzy mostra que os irlandeses ainda tinham uma longa trajetória para percorrer, estando apenas engatinhando lentamente para conquistar seu espaço entre os grandes nomes do rock. O disco vendeu relativamente bem para um álbum de uma banda desconhecida, mas não chegou a figurar entre os 100 mais na Billboard. Porém, a Decca apostou novamente, e bancou o lançamento do segundo álbum, que resgatou o nome das bandas que os membros do Thin Lizzy tocaram anteriormente: Shades of Blues e Orphanage.
Capa (acima) e contra-capa (abaixo) do EP New Day |
A versão remasterizada de 2010 trouxe nove bônus: as quatro canções de New Day, a inédita "Things Ain't Working Out Down at the Farm" e versões remasterizadas e regravadas para "Look What the Wind Blew In", "Honesty Is No Excuse", "Dublin" e "Things Ain't Working Out Down at the Farm".
Thin Lizzy mostra que os irlandeses ainda tinham uma longa trajetória para percorrer, estando apenas engatinhando lentamente para conquistar seu espaço entre os grandes nomes do rock. O disco vendeu relativamente bem para um álbum de uma banda desconhecida, mas não chegou a figurar entre os 100 mais na Billboard. Porém, a Decca apostou novamente, e bancou o lançamento do segundo álbum, que resgatou o nome das bandas que os membros do Thin Lizzy tocaram anteriormente: Shades of Blues e Orphanage.
O ótimo Shades of a Blue Orphanage
|
Lançado em 10 de março de 1972, e registrado durante as duas últimas semanas de janeiro de 1972, ele conta com a participação do músico Clodagh Simmons nos teclados e no mellotron. O trio Lynott, Bell e Downey ampliou o leque de experimentações de seu álbum de estreia no segundo disco, mesclando mais ritmos, como o funk, o blues, o folk irlandês e o hard rock.
Shades of a Blue Orphanage abre com a percussão de Downey na longa introdução de “The Rise and Dear Demise of the Funky Nomadic Tribes”, que já vale o álbum. O riff de baixo e guitarra, pesadíssimo, acaba apresentando um delicioso funk, e a entrada da voz de Lynott supreende pela malemolência e suingue de uma ótima canção, que se dá o direito de conter um avassalador solo de bateria em seus minutos finais.
A estranha introdução de “Buffalo Gal” reflete-se no riff inicial, mas a canção em si é uma singela balada, onde o principal destaque vai para as passagens de Bell . “I Don’t Want to Forget How to Jive” é uma curta faixa, que parece ter saído de uma jam session inspirada em algum rockabilly de Elvis Presley, enquanto “Sarah ” é uma pequena incursão na música clássica, onde o piano de Simmons e o violão de Bell, acompanhando a magistral interpretação vocal de Lynott, mostram como ele era habilidoso, seja nos vocais, tocando baixo ou como compositor.
O lado A encerra-se com “Brought Down”, levada pelo violão de Bell, em outra importante composição de Lynott, alternando entre momentos amenos, inspirados pelo folclore irlandês, e outros mais agitados, com destaque para o solo de Bell, onde o riff da guitarra duela com o baixo, enquanto Bell sobrepõe guitarras em oitavas, dando indícios do que o Thin Lizzy faria anos depois.
O lado B abre com a pesadona “Baby Face”, fincando um pé do Thin Lizzy no hard setentista e com o baixo de Lynott batendo de frente na cara do ouvinte, enquanto “Chatting Today” retorna aos violões e ritmos dançantes do folclore irlandês.
“Call the Police” é outro grande hard, destacando mais um marcado riff entre baixo e guitarra, mas com muito suingue acompanhando a parte vocal. O LP encerra com a bonita faixa-título, sete minutos de um blues emocionante, tendo a participação destacada do mellotron, alternando as notas simples de um dedilhado de guitarra que acompanha a interpretação chorosa de Lynott, revelando-se cada vez mais um grande cantor.
A versão remasterizada de 2010 veio com nove bônus, assim como seu antecessor, dentre elas "Whiskey in the Jar". Complementam os bônus "Black Boys on the Corner", versões remixadas e regravadas para "Buffalo Gal", "Sarah" e "Brought Down", além de uma participação do grupo no programa BBC Radio 1 John Peel Session, com "Suicide", "Black Boys on the Corner", "Saga of the Ageing Orphan" e "Whiskey in the Jar".
Em Shades of a Blue Orphanage, o Thin Lizzy começou a dar os primeiros passos para se tornar gigante entre os grandes do rock. O disco também não figurou entre os mais vendidos, mas os shows de divulgação do mesmo fizeram com que os números de seguidores do trio não parasse de crescer, principalmente após mais uma aposta da Decca, o lançamento do single "Whiskey in the Jar".
Compacto de "Whiskey in the Jar" |
A história da gravação de "Whiskey in the Jar" pelo Thin Lizzy é curiosa. Essa tradicional canção cantada pelos moradores das montanhas no sul da Irlanda, a canção ganhou exposição quando o The Dubliners gravou-a no álbum More of the Hard Stuff (1967), que alcançou a oitava posição nas paradas inglesas.
O grupo abria os shows do Slade pela Inglaterra quando a Decca, tentando encontrar uma forma de alavancar a carreira do trio, sugeriu a regravação desse clássico, que foi lançada em single ainda em 1972, tendo no lado B "Black Boys on the Corner". O single fez bastante sucesso, chegando na sexta posição na parada inglesa, aonde permaneceu por dezessete semanas. e a partir de então, o Thin Lizzy começava a conquistar a Europa, fazendo sua primeira excursão pelo continente.
Disco tributo ao Deep Purple, gravado pelo Thin Lizzy sob o pseudônimo Funky Junction
|
Ainda em 1972, o trio, ao lado do tecladista Dave Lennox e do vocalista Benny White, formou o grupo Funky Junction, o qual registrou um único LP, em homenagem ao Deep Purple, batizado de Funky Junction Play a Tribute to Deep Purple, lançado em 1973, com destaque para as fieis versões de clássicos como “Fireball“, “Hush”, “Speed King“, entre outras. Mais uma joia a ser buscada pelos fãs do grupo, e que foi lançada em janeiro de 1973.
Compacto de "Randolph's Tango" |
Depois da turnê pela Europa, retornam aos estúdios para gravar o terceiro LP. Antes, em maio de 1973, lançam mais um single, "Randolph's Tango" / "Broken Dreams", que não chegou a fazer muito sucesso.
O último disco como trio |
Em 21 de setembro de 1973, Vagabonds of the Western World chegou às lojas, e para mim, é o melhor da trilogia inicial do grupo. Aqui o hard rock pega pesado, e o lado folk praticamente é abandonado, sendo daqueles discos que você aprende a ouvir com o passar dos anos, e vai amadurecendo de forma cada vez mais suculenta à cada audição.
A dançante “Mama Nature Said” abre os trabalhos, com o slide de Bell dando um espetáculo à parte, ao lado do órgão do convidado Jan Schelhaas, que também está presente na embaladíssima “The Hero and the Madman”, trazendo a participação de Kid Jensen fazendo vocalizações no refrão e com um grande solo de Bell.
Uma das melhores canções do Thin Lizzy vem na sequência, “Slow Blues”, na qual a guitarra, acompanhando a melodia vocal entre as batidas fortes de bateria, em um ritmo quase marcial, transforma-se em uma suingada canção com o andar da carruagem, deixando para “The Rocker” a tarefa de encerrar o lado A, assumindo também a posição de primeiro clássico dos irlandeses, com um riffs conhecidissmo entre os fãs e curiosos sobre a carreira do trio. Bell solta os dedos como poucos, levado pelas batidas de Downey e pelo acompanhamento avassalador do baixo de Lynott. Uma verdadeira pedrada.
A faixa-título abre o lado B com mais um riff grudento de baixo e guitarra, que parece ter saído de algum álbum do Black Sabbath, tamanho o peso, enaltecido no fantástico solo de Bell.
Já “Little Girl in Bloom” é o momento calmo do LP, assemelhando-se à “Shades of a Blue Orphanage” ou “Saga of the Ageing Orphan” em determinados momentos, apesar da inovação com os vocais sobrepostos de Lynott cantando o refrão. Nela, você deve estar preparado para o emocionante sustain de guitarra e para o baixo forte de Lynott batendo em seu ouvido durante mais um incrível solo de Bell, um guitarrista injustiçado, que timidamente apresenta as guitarras sobrepostas tocando em oitavas no final da canção.
O baixo entra demolindo em “Gonna Creep Up on You”, mais uma funkeada faixa criada por Lynott e cia., na qual Bell gasta o wah-wah com um riff pegajoso e dançante. Por fim, “A Song for While I’m Away”, com um interessante arranjo de cordas feito por Fiachra Trench, mantém a tradição de encerrar os álbuns do Thin Lizzy sempre com uma canção marcante, dessa vez simples mas emotiva, quase como uma valsa, levada pelo baixo e violão e por uma interpretação única de Lynott.
O relançamento de 1991 trouxe quatro bônus, entre elas as duas canções do single de “Whiskey in the Jar”, já citadas anteriormente, além de "Randolph's Tango" e "Broken Dreams".
Em 2010, o álbum recebeu uma versão dupla DELUXE, trazendo o álbum na íntegra e nada mais do que dez bônus somente no CD 1. No segundo CD, uma exclusiva apresentação do grupo na BBC na época de lançamento do LP.
Porém, Bell decidiu sair do grupo, não aceitando a imposição de Lynott sobre os demais membros, e foi substituído por Gary Moore, que ficou pouco tempo, apenas para encerrar a parte britânica da turnê de divulgação de Vagabonds in the Western World, que já estava agendada antes de Bell pedir o boné. Depois, vieram Andy Gee e John Cann, até que finalmente o Thin Lizzy firmou-se com a dupla de guitarristas Brian Robertson e Scott Gorham.
Uma nova era surgiu para a banda, assinando com a Phonogram e lançando o essencial Nightlife (1974), seguido pela trilogia Fighting, Jailbreak e Johnny the Fox, até voltarem a ser um trio em Bad Reputation (1977), quando Robertson praticamente sumiu das sessões de gravação. Mas ele voltou com tudo, e o grupo lançou o aclamadíssimo Live & Dangerous (1978), um dos melhores álbuns ao vivo da história, sendo este o último disco da formação clássica do grupo.
Moore voltou e registrou Black Rose: A Rock Legend (1979) e Snowy White dividiu as guitarras com Gorham em Chinatown (1980) e Renegade (1981). Ainda veio Thunder and Lightning (1983), sem White e com o novato John Sykes, e o término do Lizzy no final do mesmo ano.
Lynott faleceu com apenas 36 anos, no dia 4 de janeiro de 1986, deixando na sua carreira uma marca inquestionável de qualidade, seja no instrumento, nas interpretações vocais ou em suas composições, e cuja fase trio ainda está por ser descoberta por milhares de fãs do hard rock.
A dançante “Mama Nature Said” abre os trabalhos, com o slide de Bell dando um espetáculo à parte, ao lado do órgão do convidado Jan Schelhaas, que também está presente na embaladíssima “The Hero and the Madman”, trazendo a participação de Kid Jensen fazendo vocalizações no refrão e com um grande solo de Bell.
Uma das melhores canções do Thin Lizzy vem na sequência, “Slow Blues”, na qual a guitarra, acompanhando a melodia vocal entre as batidas fortes de bateria, em um ritmo quase marcial, transforma-se em uma suingada canção com o andar da carruagem, deixando para “The Rocker” a tarefa de encerrar o lado A, assumindo também a posição de primeiro clássico dos irlandeses, com um riffs conhecidissmo entre os fãs e curiosos sobre a carreira do trio. Bell solta os dedos como poucos, levado pelas batidas de Downey e pelo acompanhamento avassalador do baixo de Lynott. Uma verdadeira pedrada.
Contra-capa do último disco como trio |
A faixa-título abre o lado B com mais um riff grudento de baixo e guitarra, que parece ter saído de algum álbum do Black Sabbath, tamanho o peso, enaltecido no fantástico solo de Bell.
Já “Little Girl in Bloom” é o momento calmo do LP, assemelhando-se à “Shades of a Blue Orphanage” ou “Saga of the Ageing Orphan” em determinados momentos, apesar da inovação com os vocais sobrepostos de Lynott cantando o refrão. Nela, você deve estar preparado para o emocionante sustain de guitarra e para o baixo forte de Lynott batendo em seu ouvido durante mais um incrível solo de Bell, um guitarrista injustiçado, que timidamente apresenta as guitarras sobrepostas tocando em oitavas no final da canção.
O baixo entra demolindo em “Gonna Creep Up on You”, mais uma funkeada faixa criada por Lynott e cia., na qual Bell gasta o wah-wah com um riff pegajoso e dançante. Por fim, “A Song for While I’m Away”, com um interessante arranjo de cordas feito por Fiachra Trench, mantém a tradição de encerrar os álbuns do Thin Lizzy sempre com uma canção marcante, dessa vez simples mas emotiva, quase como uma valsa, levada pelo baixo e violão e por uma interpretação única de Lynott.
Thin Lizzy em 1971 |
Em 2010, o álbum recebeu uma versão dupla DELUXE, trazendo o álbum na íntegra e nada mais do que dez bônus somente no CD 1. No segundo CD, uma exclusiva apresentação do grupo na BBC na época de lançamento do LP.
Porém, Bell decidiu sair do grupo, não aceitando a imposição de Lynott sobre os demais membros, e foi substituído por Gary Moore, que ficou pouco tempo, apenas para encerrar a parte britânica da turnê de divulgação de Vagabonds in the Western World, que já estava agendada antes de Bell pedir o boné. Depois, vieram Andy Gee e John Cann, até que finalmente o Thin Lizzy firmou-se com a dupla de guitarristas Brian Robertson e Scott Gorham.
Uma nova era surgiu para a banda, assinando com a Phonogram e lançando o essencial Nightlife (1974), seguido pela trilogia Fighting, Jailbreak e Johnny the Fox, até voltarem a ser um trio em Bad Reputation (1977), quando Robertson praticamente sumiu das sessões de gravação. Mas ele voltou com tudo, e o grupo lançou o aclamadíssimo Live & Dangerous (1978), um dos melhores álbuns ao vivo da história, sendo este o último disco da formação clássica do grupo.
Thin Lizzy no início da carreira |
Moore voltou e registrou Black Rose: A Rock Legend (1979) e Snowy White dividiu as guitarras com Gorham em Chinatown (1980) e Renegade (1981). Ainda veio Thunder and Lightning (1983), sem White e com o novato John Sykes, e o término do Lizzy no final do mesmo ano.
Lynott faleceu com apenas 36 anos, no dia 4 de janeiro de 1986, deixando na sua carreira uma marca inquestionável de qualidade, seja no instrumento, nas interpretações vocais ou em suas composições, e cuja fase trio ainda está por ser descoberta por milhares de fãs do hard rock.
Nenhum comentário:
Postar um comentário