quarta-feira, 9 de abril de 2014

Exposição David Bowie



Desde que foi anunciada a exposição sobre a carreira de David Bowie no Museu da Imagem e do Som em São Paulo, fiquei de coração partido por não ter como me deslocar de São Borja, a Terra dos Presidentes e Primeira Capital das Missões, até a capital paulista e coração do Brasil. Porém, com o advento do show de Uli Jon Roth na mesma cidade, consegui unir o útil ao agradável, e assim, matar dois coelhos em uma cajadada só.

A história sobre o show de Uli já contei aqui, onde citei que antes havia ido na exposição de Bowie, com alguns percalços, os quais foram bastante frustrantes.

Fã babão
O site que vende ingressos para a exposição oferece a venda antecipada de ingressos, ao valor de R$ 25,00 (vinte e cinco reais) mais taxa de entrega, mas todos os locais no qual eu lia manchetes sobre a exposição narravam um público relativamente comum, podendo chegar tranquilamente no local e assistir a exposição sem problemas. 

Dessa forma, decidimos eu e minha esposa que veríamos a exposição antes do show, até pela proximidade (mostrada no google maps) entre o MIS e o Manifesto Bar. Assim, mesmo com a opção de ter ido antes, saímos do hotel e pegamos o ônibus através das informações que o google maps nos dava, por volta das 15:00. Porém, quando subimos no ônibus e pedi para o motorista que queria descer na parada Marina Cintra, o motorista disse desconhecer o local, e que conversa-se com o cobrador. O cobrador também disse que não conhecia a parada, mas que se eu tivesse um ponto de referência, ele me avisava a parada mais perto.

Disse que queria ir no MIS, e ele falou: "Sem problemas, vou largar você pertinho". O problema é que ele nos avisou para descer umas quatro paradas antes do previsto, o que para São Paulo é muito. Tivemos que caminhar por mais de uma hora até conseguirmos chegar no MIS, algo que acabou estragando toda a nossa preparação para o show, deixando-nos cansado e com bolhas (principalmente nos pés de minha esposa). Pior que no meio do caminho tentei pegar um táxi, e o taxista simplesmente se negou a fazer a corrida por considerar o trajeto muito perto.

Entrada do MIS

E quando finalmente chegamos no MIS, uma imensa fila tomava conta da quadra onde o local está. Demoramos duas horas em uma arrastada cerimônia até que conseguimos finalmente chegar próximo da porta de entrada, e mais meia hora até comprar ingressos e poder assistir a exposição. Jamais imaginei a quantidade de pessoas fãs de Bowie, e pelo que constatei, muitos eram curiosos. O ingresso a R$ 10,00 (dez reais) é muito barato, mas muitos na fila reclamavam de o MIS estar cobrando ingressos, e eu particularmente me arrependi de não ter comprado os mesmos antes. 

Eram 19:00 quando conseguimos comprar os ingressos, e descobrimos que havia um estúdio com um karaokê que permitia cantar uma canção de Bowie e fazer um vídeo com a mesma. Nem precisamos pensar muito para decidir pagar o mico, e lá fomos, regados por algumas Heineken, fazer nossa terrível versão de "Modern Love", cujo vídeo ficará eternizado para sempre escondido dentro de nosso computador. 

A diversão e as risadas fizeram aliviar o stress pré-exposição, e quando entramos finalmente no local, ainda tivemos que aguardar alguns minutos em uma fila que estabelecia-se por quatro andares de escadas ...

Antes das salas de exposição, recebemos uma espécie de walk-man, e a constante repetição de que fotos eram proibidas. Infelizmente não consegui fazer muitos registros (a câmera escondida pelo menos flagrou algumas peças), mas as imagens da exposição ficaram gravadas na minha retina. 

Visão geral da exposição

Logo na entrada está exposta a roupa de vinil feita por Kansai Yamamoto especialmente para a turnê do álbum Alladin Sane (1973). É inacreditável que esta roupa tenha sido usada por um ser humano, principalmente pela exoticidade que ela apresenta. Essa foi a primeira de várias roupas que estão disponíveis em diferentes ambientes, narrando a história de Bowie na música de forma muito aleatória, já que praticamente ao lado está a jaqueta britânica utilizada por Bowie na capa de Earthling (1997). Dentro da exposição, você encontrará as roupas de clipes famosos, como o palhaço de "Ashes to Ashes", o terno de "China Girl", o terno azul de "Life on Mars?", a estranha roupa de Jareth (personagem principal de Labyrinth, 1986), as três modelos de "Boys Keep Swinging", entre outras peças, algumas sendo impossíveis de pensar que um homem tenha usado. 

Ao mesmo tempo, podemos começar a ouvir "Space Oddity", e então somos apresentados a uma pequena sala contando com alguns apetrechos relacionados a canção. A partir de então, você é guiado pelo seu espírito, e a história do maior artista vivo na atualidade é contada de forma tão versátil e diversificada como sua carreira. 

O cinema tem uma sala especial, junto com o teatro, destacando algumas interpretações de Bowie, enaltecendo os clássicos O Homem Que Caiu na Terra (1976), o já citado Labyrinth e Absolute Begginers (1985), além de imagens sobre O Homem-Elefante, interpretado por Bowie no teatro em 1980. Também temos trechos do raro filme Love You Till Tuesday, lançado em 1969 para divulgar a citada "Space Oddity". 

Roupa de Bowie para o programa Saturday Night Live

Documentos, anotações, instrumentos, fotos, sapatos, roupas aparecem estampando as mais de quinze mini-salas (que eu pude contar) distribuídas pelos três andares de exposição, algumas chamando mais a atenção do que outras. Por exemplo, é impossível não ficar parado diante da roupa usada por Bowie para interpretar "The Man Who Sold the World" em 1979, no programa Saturday Night Live, ao lado de Klaus Nomi, e ouvir essa maravilhosa versão traz a primeira grande emoção. Aliás, o fato de você entrar em cada ambiente e a canção mudar funciona muito bem, com poucas falhas, a maioria causadas apenas em um pequeno espaço de tempo até a canção em destaque começar a rodar.

Livreto de lembrança da exposição

É surpreendente o quão completo Bowie é. Lendo os textos dispostos pelas paredes, analisando detalhes das letras e do que está sendo exposto, percebemos como ele é preocupado com sua arte. Cada detalhe é cuidadosamente detalhado por ele em agendas e até mesmo blocos de anotações, desde a concepção das roupas até a montagem do palco com disposição de peças, microfones, músicos e luz. 

Sendo assim, ver a capa original de Diamond Dogs (1974), revelando o pênis do cão-Bowie, os desenhos que originaram a capa de Outside (1995) e The Next Day (2013), as maquetes da turnê de Glass Spider (1987), capas de compactos e compactos raros, são atrativos que valorizam ainda mais a exposição.

Citação à turnê de The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars

Um local que agradará muito aos fãs é uma sala espelhada com a roupa usada por Bowie para interpretar "Starman" no programa Top of the Pops, em 1972, enquanto a canção rola ao fundo, ou então duas roupas utilizadas por Bowie na turnê de The Rise & Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, no caso a capa com inscrições japonesas e o justíssimo macacão de "Width of a Circle", com a famosa encenação de Bowie encontrando uma parede que o impossibilita a liberdade sendo eternizada através do manequim que sustenta a roupa.

As salas que mais me impressionaram foram as dedicadas aos períodos que mais gosto na carreira de Bowie, ou seja, a fase soul e a trilogia Berlin. Na primeira, o conjunto de luzes reproduz a estética da turnê de Station to Station, ou seja, tudo em branco e preto, trazendo todas as roupas e apetrechos usados por Bowie no palco, principalmente os ternos preto com camisas branca usados em todos os shows. 

Sintetizador utilizado para gravar “Warszawa”

Já a peça Berlin extrai lágrimas. Diários, chaves do apartamento que Bowie dividiu com Iggy Pop em Berlin, originais das letras de ""Heroes"" e "Joe the Lion", e principalmente, o enorme sintetizador AKS usado para registrar as densas notas de "Warszawa" (Low, 1977) arrepiam, sendo que o sintetizador me hipnotizou. Aquela enorme máquina foi um presente de Brian Eno para Bowie, e sua complexidade física e eletrônica foi objeto de estudo meu por alguns minutos, despertado apenas pela lembrança de que eu tinha o show do Uli para ver. Mas garanto, passaria mais um bom tempo olhando aquela joia tão de pertinho.

Ainda temos uma sala gigantesca com mais roupas, destacando mais uma peça de Yamamoto, tão bela quanto a que abre a exposição, e então você sai da exposição diretamente em uma livraria vendendo de tudo um pouco, com vários produtos relacionados à arte de Bowie. Acabei comprando o livro que traz informações sobre a exposição e o DVD de Labyrinth, por um preço bem honesto.

Violão de “Space Oddity” e saxofone de Pin Ups

Para nossa surpresa, ainda há mais uma sala, com objetos pessoais de Bowie na sua adolescência, destacando o violão de "Space Oddity" e o saxofone da capa de Pin Ups (1974), além de contar o início da carreira do camaleão ao lado do The Konrads, e que faz constatar que da infância de Bowie, nada aparece em toda a exposição, ou seja, é a carreira de um artista sendo esmiuçada detalhadamente, mesmo que de forma desorganizada, mas talvez para simbolizar as incríveis mudanças pela qual o jovem londrino passou ao longo dos mais de cinquenta anos de sucesso. Em comparação a recente exposição de Elvis que passou pelo país, está de igual tamanho.

Confira, já que a exposição está aberta até o dia 20 de abril. Valerá a pena todos os percalços.

Livreto (em dose dupla) acima, livro com informações da exposição (centro) e ingressos (abaixo)

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