Por Bernardo Brum
Convidados: Bruno Marise, Luiz Carlos Freitas e Mairon Machado
Tom Waits é um dos artistas mais únicos da música recente. Em 40 anos, foi do jazz minimalista e sofisticado do debut Closing Time (1973) para pouco a pouco construir um estilo iconoclasta, um caldeirão de variado ritmo, sons e vozes que construíram uma das personas mais curiosas e únicas da cultura popular. E esse estilo particular do assim chamado "último beatnik" teve seu auge e consagração em sua magnum opus analisada hoje, Rain Dogs (1985).
1. Singapore
Bernardo: Melhor abertura possível. Já dá o tom sombrio e "freak" do disco.
Mairon: Meu Deus, que que é isso?
Luiz Carlos: Essa voz de arroto dele é uma delícia.
Mairon: É alguma brincadeira? Isso é música? Gravar isso em 1985 = suicídio.
Luiz Carlos: Um ar sombrio, soturno, causado mais pela voz de arroto do Tom Waits. O ritmo da música tem um tanto de circense, puxando para o sombrio, evocando aquela paranoia em palhaços, por exemplo. Bizarra e assustadora.
Bruno: A primeira faixa é debochada, como o Luiz disse, dá um tom circense. É alegre e sombria ao mesmo tempo. Bacana, mas nada que me atraia.
Bernardo: É esquisito mesmo; a percussão dessa música é algo bem lúdico, porém é uma brincadeira essa subvertida pela voz, os arranjos esquisitos e a letra marginal.
Luiz Carlos: O final com a chuva é lindo e desconcertante.
Bruno: Gosto bastante do trabalho do Tom Waits, suas composições, letras e postura de boêmio são uma das coisas mais rock 'n' roll de toda a música, mesmo ele não se encaixando no gênero. Rain Dogs, seu trabalho mais experimental, nunca me agradou muito, mas confesso que talvez não tenha dado a atenção que o disco merece. Vamos ver se hoje eu mudo de ideia.
Bruno: Gosto bastante do trabalho do Tom Waits, suas composições, letras e postura de boêmio são uma das coisas mais rock 'n' roll de toda a música, mesmo ele não se encaixando no gênero. Rain Dogs, seu trabalho mais experimental, nunca me agradou muito, mas confesso que talvez não tenha dado a atenção que o disco merece. Vamos ver se hoje eu mudo de ideia.
2. Clap Hands
Luiz Carlos: Rain Dogs é o disco mais experimental do Tom Waits. E digo isso sobre um cara que tem voz de arroto e é mais imprevisível que o discurso de um bêbado. Aqui, temos uma sonoridade estranha, quase como batuques em copos numa mesa de boteco. Mais uma vez, o tom sombrio prevalece.
Mairon: Eu curto umas experimentações, mas o Tom Waits está pegando pesado.
Bernardo: Pisada no freio mas uma bela de uma incrementada no tom "viciado" do disco. Essa percussão das primeiras músicas do disco já dá quase um atestado da fuga do lugar comum.
Bruno: Mantém o clima da faixa anterior. Boa, mas nada demais.
Luiz Carlos: Essa guitarra ao final é arrepiante.
3. Cemetery Polka
Mairon: Que que é isso. Vocês estão de piada né? Depois vem falar mal de rock progressivo. Vou já mandar o hospício pra casa de vocês.
Bernardo: O que as duas outras faixas sugeriram essa aqui concretizou. O acordeão dessa música é doentio. Ar circense em todas as faixas até agora.
Luiz Carlos: "Cemetery Polka" é uma daquelas brincadeiras que o Tom provavelmente achou que sairia legal quando estava bêbado.
Mairon: Luiz, quem está bêbado é você.
Bruno: O clima da primeira faixa volta. Dispensável ...
Luiz Carlos: Mairon, vai tomar no cú.
Bernardo: A letra é um primor também; verdadeiro mosaico de gente desajustada, mas com um humor negro e tanto por parte do Tom.
Bruno: Achei bem desnecessário.
Mairon: Olha Bruno, sinceramente, pelo que ouvi até aqui, o disco todo é desnecessário.
4. Jockey Full of Bourbon
Bruno: Essa é um clássico. Gosto muito das incursões de guitarra.
Mairon: Se isso é um clássico, imagina o resto?
Luiz Carlos: "Jockey Full of Bourbon" é uma balada bem marginal ao melhor estilo dos bares underground de Nova Iorque que o Tom tanto frequentava. Os arranjos ao estilo cubano dando o tom de ilegalidade que a música passa.
Bernardo: Uma das melhores músicas de toda a carreira de Tom. Canção que abre "Daunbailó" de Jim Jarmusch, a sombria melodia de guitarra faz um casamento esquisito com a percussão e a voz sussurrada e de tom malicioso criam uma das sínteses da carreira do músico.
5. Tango till They're Sore
Mairon: Finalmente algo audível no álbum. Quem toca piano é o próprio Tom? Se não fosse essa voz de bêbado morrendo, seria uma música boa.
Bernardo: Sim, piano de cortesia do próprio Tom. E essa voz é perfeitamente para narrar uma das letras mais "pinguçadas" que eu conheço. Isso mais a adição do baixo e da sessão de sopros, formando um verdadeiro "jazz de quinta categoria".
Bruno: Como é bom ouvir o Tom Waits no piano. Essa faixa remete aos primeiros trabalhos do cara. Balada de boteco, com aquele cheiro de cigarro, cerveja e uísque.
Luiz Carlos: Se você estiver ouvindo, certamente estará com o Tom numa mesa de bar alegrando os bêbados que o rodeiam e cantando as putas que passam por ali, inclusive as que não são putas. Um bêbado, como bem vê a letra, não sabe de limites.
Bruno: LC chapado >>>>> LC sóbrio.
6. Big Black Mariah
Luiz Carlos: O tom Southern faz dessa uma canção que se destaca das demais.
Mairon: Realmente Luiz, essa é a melhorzinha até agora, mas é muito experimental para o meu gosto.
Bruno: Grande música! A que mais me agradou até agora.
Bernardo: Guitarra de autoria de Keith Richards, caras!
Mairon: Já ia dizer que conhecia essas linhas de guitarra.
Bruno: Blues marginal com uma guitarra muito bem vinda do grande Keith Richards.
Bernardo: O groove dessa música é irresistível. Batida mais redonda e refrão mais marcado, mas sem descaracterizar o disco. Tom sabe casar todo tipo de estilo debaixo do mesmo teto.
Mairon: Porra, esse foi o disco mais vendido da carreira do Tom Waits. Demonstração de como as pessoas se perderam nos anos 80.
7. Diamonds and Gods
Luiz Carlos: A primeira que carrega num tom melódico triste, sofrido, em contraste com o ar circense de alguns acordes, quase como uma provocação ao cantor. Sofrida e sombria.
Bernardo: A partir daqui a o Lado A vai pisando no freio. "Diamonds & Gold", crônica bem humorada da vida urbana, para voltar nessa coisa mezzo sombria mezzo sarcástica que reina no disco.
Mairon: Cara, vão ouvir Gong, é parecido com isso, mas pelo menos é música
Bruno: Essa percussão é glockenspiel?
Bernardo: São marimbas, Marise.
Bruno: O clima de ressaca é quase onipresente. Gostei da junção de marimbas com as frases de guitarra.
Bernardo: O banjo dessa música dá um puta clima também.
8. Hang Down Your Head
Mairon: Música finalmente. Essa foi feita especialmente para o Diogo Bizotto se deliciar com a imitação de Bruce Springsteen.
Bernardo: Mairon, o Boss Bruce gravou um cover de Tom Waits: "Jersey Girl", do disco Heartattack and Vine (1979). As duas versões são sensacionais.
Luiz Carlos: Baladinha bem ao estilo FM, não fosse a crueza da voz e instrumentos.
Bruno: Rapaz, que música maravilhosa. Prefiro mil vezes quando o Tom Waits usa essa interpretação mais tradicional, com a voz rouca, mas sem forçar o quase gutural, ou "voz de arroto", como o LC disse.
Bernardo: Primeira "balada", por assim dizer, do disco. Tom Waits quem toca a guitarra em uma música de refrão comovente, preenchendo a música de frases musicais melódicas de muito bom gosto.
9. Time
Bruno: É o Keith na guitarra de novo?
Mairon: Parece, mas acho que não era Bruno.
Bernardo: Parece, mas não. Mas ele toca em três faixas desse disco.
Mairon: Até que enfim temos um disco para ouvir. Teve que passar sete faixas para o disco começar. Outra balada, essa acústica, e mais bela que a sua antecessora.
Luiz Carlos: A primeira obra-prima (de pelo menos umas quatro) só desse disco. Triste, comovente e poderosa, seu refrão é capaz de despedaçar qualquer um.
Bernardo: "Time" fecha o lado A de forma espetacular. Música que vai ganhando cada vez mais força com a introdução sutil dos sopros até você estar completamente maravilhado, enquanto Tom repete o título com cada vez mais força.
Bruno: Baladaça linda. Os arranjos acústicos com o acordeão atravessando deixam um clima melancólico impressionante. Mais uma vez o Tom Waits entrega uma interpretação mais "sóbria" e pelo menos pra mim muito melhor que o que ele viria a fazer nos discos posteriores.
Bernardo: A vida existe para se escutar coisas desse tipo.
Bruno: Estou quase chorando aqui.
Mairon: Bruno Emorise.
Luiz Carlos: A faixa título é uma verdadeira ode à zueira. A faixa onde o tom circense é mais descarado, rasgado, louco. É o ápice do porre de um bêbado, quando tudo passa a fazer sentido, mesmo não tendo algum. É a felicidade do bêbado (porque eu vejo o disco como uma representação dos estágios do porre).
Bernardo: Esse acordeão é uma das coisas mais hipnotizantes que eu já ouvi. É mais redonda que as músicas iniciais, mas ainda é malucona em suas instrumentações. Guitarra, acordeão, percussão, trombone... Um rock virado de cabeça pra baixo por assim dizer. Destaque para a versão da turnê Big Time, onde o Tom Waits introduzia a música aos uivos.
Bruno: Opa! Que introdução fantástica! Acho que nunca tinha ouvido essa faixa haha.
Mairon: Introdução bonita, mas voltou as avacalhações.
Bruno: Pois é. Achei que ia seguir outro caminho haha. Mas estou achando melhor que as outras duas desse tipo.
Mairon: Sim, mas é que depois das duas últimas do lado A, eu achei que o disco ia se ajeitar
Bruno: Faixa que começou bem, mas acabou ficando na mesmice. Não curti não.
11. Midtown
Mairon: A melhor faixa até agora. Alucinação!
Bernardo: Trompete, saxofones e trombones numa verdadeira orgia etílica instrumental.
Bruno: Está parecendo o tema de James Bond .
Mairon: Bernardo e Luiz, vocês acham isso bom?
Bernardo: Acho.
Luiz Carlos: Eu viajo pra caralho nisso. Você tem de se sentir vivendo na merda pra entender o velho tom.
12. 9th & Heninepin
Mairon: Voltou a loucura.
Bruno: Sensacional. Tom Waits praticamente declama a letra, com as marimbas só fazendo o pano de fundo.
Bernardo: "9th & Hennepin" é uma "Spoken Word", poesia acompanhada de instrumentação. Não tem muita estrutura, mas dá um puta clima.
Luiz Carlos: Sinistra, porém não me apetece.
Mairon: O disco pelo que estou entendendo é conceitual, ou estou errado. É uma crítica a sociedade?
Bernardo: Rain Dogs é uma gíria aplicada a bêbados que não conseguem achar o caminho de volta pra casa, tal qual como cachorros que perdem o rastro de urina após a chuva. Todo o disco pretende ter uma "sonoridade urbana": blues elétrico, jazz sujo, clima southern, do southern ao latino, e vários sons de objetos que se encontram em metrópoles.
Mairon: Hum, entendi.
Bruno: Eu sabia da gíria, que quando chove, a água lava a urina dos cachorros, e os vira-latas ficam perdidos, sem rumo.
Bernardo: Exato, é uma gíria pra bêbados que se unem por não saber voltarem pra casa. Ao contrário dos bêbados solitários e egoístas, "palookas".
13. Gun Street Girl
Bruno: Isso é banjo?
Mairon: Pô, quando rola instrumental, até que é legal, mas nada de "Que coisa boa!".
Luiz Carlos: A introdução lembra "Personal Jesus", do Depeche Mode. "Gun Street Girl" é sacana, libidinosa, arruaceira, provocante. E ela diz isso tudo com o ritmo sensual e marginal.
Bruno: Lembra "Personal Jesus" do Depeche Mode, versão do Johnny Cash, né? Hahahahaha.
Mairon: Concordo Bruno.
Luiz Carlos: Muito Johnny Cash. Concordo.
Bruno: Sonzeira. Um blues acústico tocado no banjo, bastante minimalista.
Bernardo: Tom Waits toca o banjo em "Gun Street Girl", com seu ritmo marcado, marginal e "malandro". A letra é mais uma alusão ao que Tom Waits pretendia, fazer uma "bíblia urbana".
Mairon: Ainda faltam seis músicas ... Aja paciência.
Bruno: Só achei um pouco longa demais.
Mairon: E ele estava bebaço quando gravou essa porcaria né?
Luiz Carlos: Ele sempre está bebaço, e porcaria é seu fundo.
Mairon: Em tempo, Rain Dogs >>>>>>>>>>>>>>> Tabua de Esmeralda.
Bernardo: Huahauhauahuahauuhaahu.
14. Union Square
Luiz Carlos: O som dos bares de periferia nas madrugadas setentistas. Quase um rockabilly alcoólatra.
Bruno: Rapaz, que mudança de clima!
Mairon: Taí, rock 'n' roll na veia. E agora é o Keith nas guitarras, certo?
Bruno: Se não for, o cara conseguiu emular bem hahaha.
Bernardo: Exato! Nessa e na próxima. Tom e Keith são uma das duplas mais "perigosas" quando se unem pra fazer música. O resultado é sempre explosivo.
Mairon: Exageros a parte pelo Bernardo, é uma boa música sim, e o solo é magistral do mestre Keith.
Bernardo: A cozinha dessa música tem um peso sensacional. O estilo "rústico" do Keith cai como uma luva nessa que é o "arrasa quarteirão" do disco ao lado de "Big Black Mariah".
Bruno: Rock 'n' roll rasgado que lembra bastante os Stones da fase Exile on Main St. Uma quebra de clima impressionante. Saindo de um blues minimalista para um rockabilly explosivo.
15. Blind Love
Mairon: Confesso que estava quase ouvindo o Mick Jagger entrando na canção.
Luiz Carlos: O clima country dá o ar de uma das baladas mais dolorosas já feitas. O ritmo dos arranjos e da voz de Tom transportam qualquer um que esteja penando (ou já tenha sofrido) para o bar mais fuleiro e esfumaçado que os poucos trocados no bolso de um bêbado podem pagar. Um amor cego, feito de litros de whisky e damas de pouca sorte em quartos sujos de hotéis baratos. O refrão, próximo ao final, é uma conclamação de piedade, implorado por quem sente falta. Uma balada filha da puta de te deixar no chão.
Bruno: Interpretação impressionante de Tom. Dá impressão que a garganta dele vai se despedaçar. A guitarra do Keith casa perfeitamente. Maravilhoso!
Bernardo: É vero. Keith Richards impõe seu estilo em "Blind Love". Tem bem aquela estrutura redonda-e-perfeita dos momentos mais melódicos dos Stones, típica da fase que Keith andava com Gram Parsons. Mas a música também é totalmente de Tom, com seu estilo rasgado e emotivo de cantar, com belos backing vocals de mr. Richards acompanhando.
Bruno: De quebra um solo de violino. Mr. Richards e Tom Waits cantando sobre amores frustrados é pra rasgar
Luiz Carlos: CARAS, podemos parar um pouco?
Bruno: VAI CAGAR?
Luiz Carlos: Fiquei triste :(
Bruno: #LCdadepressão
16. Walking Spanish
Mairon: Rock direto e simples. Bom de se ouvir, o disco melhorou consideravelmente.
Bruno: Faixa que tem um contraste entre um instrumental mais leve, quase jazzístico, (com exceção da marcação forte na bateria) e a interpretação rasgada de Waits.
Luiz Carlos: Uma necessária quebra de clima, uma vez que, dependendo do estado de espírito do indivíduo, ouvir "Downtown Train" e "Anywhere I Lay My Head" logo após "Blind Love", sem um leve alívio sonoro, seria um grande convite ao suicídio.
Mairon: Jazz sensacional. A melhor faixa do disco de longe. Linha envolvente, a voz de Tom Waits agradando com sua rouquidão. Estamos nos anos 50/60 em um bar esfumaceado e cercado de bêbados por todos os lados.
Bernardo: Talvez a música mais "sujona" do disco. Levada por baixo e saxofone alto, com a malandragem de Tom cuspindo veneno em sua interpretação que mostra todo o "perigo" que o jazz pode representar.
17. Downtown Train
Bernardo: Essa aí foi coverizada pelo Rod Stewart!
Bruno: Keith de novo?
Bernardo: Não, foi só naquelas três faixas mesmo.
Bruno: Rapaz, isso parece muito Bruce Springsteen. Impressionante como esse disco é versátil. Saímos de um jazz direto pra uma faixa mais new wave,.
Mairon: E dê-lhe homenagem para o Diogo Bizotto. Bruce Springsteen demais. Diogo, você já ouviu isso?
Bruno: É a única faixa anos 80 de Rain Dogs, época que o disco foi lançado.
Luiz Carlos: O manifesto aos solitários. A letra é das mais perfeitas de toda a carreira do Tom, sendo simples e direta, tal como as vidas vazias que o cantor retratam nas ruas do trem do centro da cidade. Uma análise de quem olha ao redor todas as noites esperando encontrar alguém que o ajude, mas encontrando apenas mais almas atordoadas. A guitarra ao final quase chora.
Bernardo: A guitarra é do próprio Tom mesmo. E dá pra entender porque ele não gosta muito quando artistas como Eagles, Rod Stewart e outros mais "limpos" gravam suas canções. O que era sujo, triste e desesperado em sua concepção, acaba uitas vezes ficando, em suas próprias palavras, "anti-séptico". Ainda mais numa letra que fala sobre vagar debaixo da janela de uma mulher por quem se está apaixonado, olhar o trem passando cheia de gente alheia a seus problemas. Performance rasgada como só Tom Waits sabe oferecer.
Luiz Carlos: Desconcertante como a dança do Tom no clipe.
Bernardo: O início do clipe é sensacional. Os velhinhos abrindo a janela, vendo o Tom e resmungando: "ele está uivando de novo!"
18. Bridge Of Rain Dog
Mairon: Jazz simples, anos 40.
Bernardo: Saxofone, harmônica e bateria num jazz "derrotado" e fim de festa. Bela transição para ela, a última canção...
Bruno: CARALHO!
19. Anywhere I Lay My Head
Mairon: Que sofrimento, tanto no vocal quanto na melodia. Dolorida demais essa última faixa. Desafinado pacas.
Bruno: Uma das coisas mais lindas e honestas que eu já ouvi. Triste e doído demais. Me lembrou Neil Young em Tonight's The Night. O cara se entrega tanto na interpretação que desafina várias vezes. E eu acho isso sensacional!
Bernardo: Se esse disco fosse um filme, "Anywhere I Lay My Head" seria o seu clímax. A canção é o momento de catarse do disco, onde Tom Waits, como diz na letra, "bota o Rio Tâmisa em chamas". Órgão e saxofone criam toda a cama pra Tom Waits berrar desafinado, desesperado, no limite de sua garganta, até perder a força. Uma das músicas mais lindas da história, onde se transparece a alma do artista como poucas vezes visto. E encerrada pela "bateria de parada" de Michael Blair, denunciando o "circo deixando a cidade", casando com o início louco e avacalhado do início. Perfeita em sua imperfeição.
Luiz Carlos: A música definitiva. Se na letra temos o verdadeiro testamento de uma vida que desistiu de encontrar alguma razão, da voz sofrida e chorosa tiramos a dor e a vergonha de quem amarga a sarjeta por já não conseguir mais se manter de pé. A tristeza de quem perdeu as esperanças e já nem liga mais, assumindo que se contenta com qualquer lugar, qualquer ombro, qualquer pedaço que o acolha. Ele não quer mais procurar por nada fantástico, apenas sentir o fantástico de cada pequena coisa que o aparece (cada mulher louca ou carente ou desenganada que o aceita). A redenção de quem já não via mais perdão. E essa redenção é ali, na sarjeta, onde via o sol nascer ao som da última batida circense do disco: em seu lar. Complementando: uma das músicas da minha vida.
Mairon: Encerramento fantástico!
Considerações finais
Mairon: O Lado B é muito superior ao lado A. Se retiramos as sete primeira faixas, temos um bom disco. Me surpreendeu negativamente, já que sempre ouvi falar bem de Tom Waits. Para ser o álbum mais vendido da carreira dele, achei muito decepcionante. Mas o lado B tem suas qualidades. Acho que o ponto forte é a destacada participação de Keith Richards, que abrilhantou o LP em suas melhores canções.
Bruno: Fico triste por ter subestimado esse disco antes. Talvez não tive a paciência que ele pede. Subiu demais no meu conceito. Um álbum maravilhoso, honesto, desafiador e muito versátil. Temos jazz, rock, blues, country, baladas, e até temas circenses. A adição da guitarra de Keith Richards em três faixas é muitíssimo bem-vinda, encaixando perfeitamente com a estética suja e urbana do disco. Essa audição com certeza vai me fazer a ouvir outros discos do Tom Waits que eu não dei tanta atenção.
Mairon: Sinceramente, vão ouvir Gong. É tão honesto quanto esse disco, mas muito melhor.
Bruno: Gong é chato pra caralho.
Mairon: Chato pra caralho é o lado A desse disco.
Luiz Carlos: Gong seu cú!
Bernardo: Bem, como escolher palavras para descrever o que eu não sei muito bem como definir? Rain Dogs é meu disco preferido. Uma criação conceitual e atmosférica que se desdobra pelo mais variados estilos da música contemporânea, tudo a serviço do artista. Rock, blues, jazz, música circense, guitarra, harmônica, órgãos, sopros, metais e percussões são uma verdadeira orgia caligulesca sonora que me fez explodir a cabeça em várias direções possíveis. Rain Dogs, fora a "visão de mundo" do disco, também sou muito identificando com a "visão de música" do disco. Arte para mim tem que ser sincera desse jeito. Se não sangra, não está vivo.
Mairon: Pelo menos posso dizer que ouvi e não gostei, aoeihaoeiae
Bernardo: Huahauahuahaua
Luiz Carlos: Mairão, ouve o Closing Time, você vai gostar.
Bernardo: Ele joga nas onze. Talvez tu goste de algumas coisas que ele fez antes (ou depois).
Mairon: Com paciência chego la.
Bernardo: Dia desses a gente fez outro War Room dele hauhauahua
Mairon: Próximo War Room eu vou vir preparado. Vai ser METÁU!! Abraço e valeu Bernardo e demais.
Bernardo: Beleza, Mairon, brigadão!
Bruno: Valeu, galerinha. Beijos.
Luiz Carlos: Beijos
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