Nesse mês de maio, o Maravilhas do Mundo Prog dedica seus parágrafos para aquele que talvez seja o mais reconhecido grupo canadense em todos os tempos, o power trio Rush. Geddy Lee (baixo, vocais, teclados), Alex Lifeson (guitarra, teclados, vocais) e Neil Peart (bateria) já pintaram por aqui há algum tempo, com a Maravilhosa "La Villa Strangiatto", porém, não foi só dessa beldade que o grupo viveu sua fama no rock progressivo. São várias as Maravilhas registradas pelo trio, principalmente nos anos 70, e nas três matérias dedicadas ao grupo nesse mês de março, vou me concentrar nas três suítes que o grupo gravou em sua carreira, deixando espaço para que futuramente outras Maravilhas canadenses possam pintar por aqui.
Para começar, nem com o trio acima citado a banda começou. A formação inicial do Rush surge em maio de 1968, em Toronto, com Lifeson, John Rutsey (bateria) e Jeff Jones (baixo, vocais), que durou pouco mais de dois meses, com Jones sendo substituído por Geddy Lee, um velho colega escolar de Lifeson, em agosto de 1968.
Hadrian: Joe Perna, Alex Lifeson, John Rutsey e Lindy Young |
A partir de então, o Rush sofreu várias mutações, seja na formação, seja no nome. A primeira delas ocorreu em janeiro de 1969, quando Lindy Young foi adicionado como quarto membro do grupo, tocando teclados, guitarras e auxiliando nos vocais. Em maio daquele ano, Lee foi despedido do grupo, indo formar o Judd (originalmente batizado de Ogilvie) e sendo substituído por Joe Perna.
A partir de então, o Rush passou a ser chamado Hadrian, que não durou muito tempo, já que Young decidiu juntar-se a Lee no projeto que ele havia construído, o Judd. Em setembro de 1969, Judd e Hadrian deixaram de existir, e cada um seguiu seu rumo, encontrando-se novamente em fevereiro de 1971, quando novamente, o Rush voltava a cena, agora como um quarteto tendo Lee, Lifeson, Rutsey e o guitarrista Mitchell Bossi, que esquentou as cordas por pouco mais de dois meses, deixando o grupo como um trio.
Rush como quarteto: Alex Lifeson, Mitch Bossi, Geddy Lee e John Rutsey (1971) |
O trio passou a fazer pequenos shows pela região de Toronto, e depois de dois anos, conseguem juntar dinheiro para a gravação de sua primeira demo, com as faixas "Not Fade Away" e "You Can't Fight It". A qualidade da bolachinha não chamou a atenção de nenhuma gravadora, e a solução encontrada pelo trio foi criar seu próprio selo, o Moon Records, que acabou lançado as duas canções como primeiro compacto, nesta que hoje virou uma rara bolachinha.
Foram três anos ensaiando e compondo canções, até que o engenheiro de som Terry Brown conseguiu financiar um lançamento em grande escala do primeiro LP do grupo, que foi lançado no dia primeiro de março de 1974, ou seja, há pouco mais de quarenta anos, ainda pelo selo Moon Records. O som apresentado é fortemente inspirado no Led Zeppelin do inicio de carreira, com um hard preciso e destacando jóias como a balada-bluesy "Here Again", os rocks de "In the Mood" e "Need Some Love", e principalmente, a pedrada "Working Man", que se tornou um hit entre a classe operária canadense, alavancando o pedido da canção nas rádios do país.
Rush, único álbum com John Rutsey nas baquetas |
O sucesso também ocorreu nos Estados Unidos, quando a rádio WMMS de Cleveland, através do DJ Donna Halper, passou a tocar regularmente "Working Man", que agradou em cheio aos jovens americanos, os quais passaram a procurar por aquela nova banda que vinha do Norte.
Essa popularidade levou o trio a assinar com a Mercury, que relançou Rush no primeiro dia de julho de 1974, e também planejou uma mini-turnê de divulgação do álbum pelos Estados Unidos e Europa.
John Rutsey, Geddy Lee e Alex Lifeson |
Porém, Rutsey foi obrigado a sair da banda por problemas de saúde. O baterista sofria com a diabete e passar muito tempo na estrada estava debilitando-o rapidamente. Sua última performance com o grupo foi quando estavam terminando sua primeira passagem pela Europa, em um show no Centennial Hall de Londres, no dia 25 de julho de 1974.
A partir de então, a busca por um novo baterista começou, e quatro dias depois, Neil Peart era anunciado, após a audição de dezenas de músicos que se disponibilizaram para tocar na banda e duas semanas antes de começarem a primeira excursão pelos Estados Unidos. Peart foi escolhido principalmente por conta de sua habilidade em criar letras, e claro, por tocar de uma forma incomum perante os demais.
Fly By Night, começo da mudança do hard para o prog |
O Rush caiu na estrada pela América, abrindo para Uriah Heep e Manfred Mann. Em seguida, o grupo entrou nos estúdios para a gravação do segundo LP. No dia 15 de fevereiro de 1975, Fly By Night chegou às lojas, o primeiro disco do grupo a mostrar qualidades mais complexas na sonoridade, principalmente na épica "By-Tor & Snow Dog", com um espetáculo a parte dado por Lifeson e Lee em um duelo inesquecível.
Mas o álbum vai além disso, pois apresenta outra pancada do porte de "Working Man", chamada "Anthem", para mim a melhor canção do álbum, e guloseimas chamadas "Rivendell" e "In the Can", além de hards clássicos através da faixa-título, "Best I Can", "Beneath, Between, Behind" e "Making Memories". O álbum ficou próximo de entrar nos cem mais nas paradas americanas, mas com o passar dos anos, o álbum conquistou platina, com mais de um milhão de cópias vendidas.
Neil Peart, Alex Lifeson e Geddy Lee (1975) |
Seguiu uma série de shows, com destaque para uma turnê americana abrindo para o Kiss, e também apresentações em TV, e entre junho e julho de 1975, entram novamente em estúdios para gravarem seu álbum mais ambicioso até então, Caress of Steel. Lançado em 24 de setembro do mesmo ano, o álbum apresenta apenas cinco canções, e firma o primeiro pé do trio no rock progressivo.
O álbum abre com a pancadaria de "Bastille Day", uma das faixas mais raivosas da carreira do Rush, seguida pelo engraçado rock 'n' roll de"I Think I'm Going Bald", lembrando as canções de Rush. Pegue a letra da canção e entenda o por que de seu humor. Na verdade, a canção é uma homenagem ao Kiss, mais precisamente a canção "Goin' Blind", gravada pelos mascarados no seu álbum de estreia, Kiss (1974). Ambos os grupos excursionaram juntos no ano de 1975, e viraram grandes amigos.
"Lakeside Park" nos remete a faixas de Fly By Night, fazendo uma linha entre o hard e o progressivo, principalmente por conta dos efeitos na guitarra de Lifeson, e o lado A encerra-se com a Maravilhosa "Necromancer", uma viagem musical com a participação do produtor Terry Brown fazendo vozes, e que através de suas três partes ( "Into the Darkness", "Under the Shadow" e "Return of the Prince") revelam a evolução progressiva que o trio teve desde as explorações de "By-Tor & The Snow Dog".
Montagem com fotos da capa interna do LP |
Porém, é no lado B de Caress of Steel que o Rush consagra-se pela vez primeira como um importante nome no rock progressivo, registrando nos vinte minutos de tal lado a Maravilhosa suíte "The Fountain of Lamneth". Contando a história do homem desde seu nascimento até sua morte, a suíte é dividida em seis partes - "In the Valley", "Didacts and Narpets", "No One at the Bridge", "Panacea", "Bacchus Plateau" e "The Fountain" - que encaixam-se soberanamente, e apesar de muitos julgarem as partes simples demais, é nesta simplicidade que esconde-se todo o encantamento da suíte.
"In the Valley" surge com um lindo dedilhado de violão e a voz de Lee, algo que o Rush usaria bastante anos depois, em faixas como "The Trees", "A Farewell to Kings", "Close to the Heart", "Natural Science", entre outras. Lee conta a visão do personagem principal, que acabou de nascer, Duas estrofes e o violão puxa o riff de cinco acordes que mudará "In the Valley", sendo substituído pela guitarra, pancadas nos pratos e o baixo imitando os acordes da guitarra. O riff é repetido quatro vezes, e então, começa realmente "The Fountain of Lamneth".
A guitarra fica sozinha, puxando um novo riff, e acompanhada pelas mesmas batidas de baixo e bateria, a guitarra solta a distorção, e Lee solta sua voz em mais duas estrofes, sempre na primeira pessoa, retratando os primeiros momentos do bebê, e que só consegue reconhecer aqueles que o conforta e alimenta (pai e mãe), para "In the Valley" mudar novamente, com um dedilhado simples de guitarra e baixo, em um ritmo mais lento, e Lee passando as dúvidas do recém-nascido.
O riff pesado retorna para mais duas estrofes vocais, com o personagem deparando-se com um mundo totalmente novo, necessitando beber da fonte de Lamneth para adquirir seus conhecimentos, e voltando para o ritmo lento, destacando as escalas de baixo. Lee canta as últimas partes de "In the Valley", que encerra-se com o riff pesado sendo repetido e uma série de batidas idênticas, levando-nos para "Didacts and Narpets", um anagrama para "Addicts ans Parents".
Esse curto trecho é um virtuoso solo de Peart, intercedido por vocalizações de Lee e Lifeson, que simbolizam a adolescência do personagem central, com os pais dando ordens e ele as desobedecendo, e na qual Peart faz um espetáculo nos tambores.
"In the Valley" surge com um lindo dedilhado de violão e a voz de Lee, algo que o Rush usaria bastante anos depois, em faixas como "The Trees", "A Farewell to Kings", "Close to the Heart", "Natural Science", entre outras. Lee conta a visão do personagem principal, que acabou de nascer, Duas estrofes e o violão puxa o riff de cinco acordes que mudará "In the Valley", sendo substituído pela guitarra, pancadas nos pratos e o baixo imitando os acordes da guitarra. O riff é repetido quatro vezes, e então, começa realmente "The Fountain of Lamneth".
A guitarra fica sozinha, puxando um novo riff, e acompanhada pelas mesmas batidas de baixo e bateria, a guitarra solta a distorção, e Lee solta sua voz em mais duas estrofes, sempre na primeira pessoa, retratando os primeiros momentos do bebê, e que só consegue reconhecer aqueles que o conforta e alimenta (pai e mãe), para "In the Valley" mudar novamente, com um dedilhado simples de guitarra e baixo, em um ritmo mais lento, e Lee passando as dúvidas do recém-nascido.
O riff pesado retorna para mais duas estrofes vocais, com o personagem deparando-se com um mundo totalmente novo, necessitando beber da fonte de Lamneth para adquirir seus conhecimentos, e voltando para o ritmo lento, destacando as escalas de baixo. Lee canta as últimas partes de "In the Valley", que encerra-se com o riff pesado sendo repetido e uma série de batidas idênticas, levando-nos para "Didacts and Narpets", um anagrama para "Addicts ans Parents".
Esse curto trecho é um virtuoso solo de Peart, intercedido por vocalizações de Lee e Lifeson, que simbolizam a adolescência do personagem central, com os pais dando ordens e ele as desobedecendo, e na qual Peart faz um espetáculo nos tambores.
Capa dupla interna, com as letras de Caress of Steel |
Um longo grito encerra a segunda parte, e instantes de silêncio abrem "No One at the Bridge", com guitarra e baixo dedilhando e o agudíssimo vocal de Lee. O ritmo é suave durante essa parte da suíte, tendo apenas duas longas estrofes vocais, mostrando a entrada na vida adulta, e os problemas verdadeiros que o personagem central passa a ter, principalmente a perda dos pais. O refrão de "No One at the Bridge" é feito somente com Lee soltando a voz, e o personagem buscando ajuda para enfrentar essa transformação de criança para adulto, tendo marcações idênticas de baixo, guitarra e bateria, e levando para o sensacional solo de Lifeson, no qual ele usa e abusa dos vibratos, bends longos e muita melodia, mostrando que mesmo sendo um excelente virtuose na guitarra, Lifeson é capaz de arrancar arrepios com solos extremamente simples.
O solo encerra "No One at the Bridge", e barulhos de gaivotas abrem a majestosa "Panacea", outro momento magnífico de "The Fountain of Lamneth", dedicado primeiramente para Lee cantar sobre a descoberta do amor, acompanhado apenas por Lifeson ao violão. Com a entrada da guitarra, chegamos ao refrão de "Panacea", tímido e suave, levado pelo dedilhado da guitarra, o embalo do violão e um imperceptível andamento de baixo e bateria. Destaque para a inclusão genial de dois harmônicos feitos pela guitarra após Lee entoar o nome do movimento, cujo título trata da cura de todas as doenças.
Violão e a guitarra, com o pedal de volume, acompanham a segunda estrofe vocal da quarta parte de nossa Maravilha, com o personagem encontrando a "Panacea" através do amor, o qual traz o significado para a vida, e o abrigo para a alma, repetindo o refrão com uma letra modificada, entregando-se a paixão, e preparando-nos para a reta final da suíte.
A quinta parte, "Bacchus Plateau", acaba sendo uma mudança inesperada para a suíte. Depois de dois lindos arranjos, aqui temos um hard simples, sem invencionices, como o grupo já estava fazendo até então, ressaltando que os canadenses apesar de estarem inovando seu estilo, mantinham suas raízes cravadas até mesmo para uma suíte progressiva. A letra apresenta as aflições da terceira idade, aproveitando a vida ao que dá, e mesmo sabendo que ainda tem muito para contribuir com a sociedade, o fim está mais próximo do que nunca. A simplicidade de "Bacchus Plateau" revela o lado mais virtuose de Lifeson, que encerra o trecho um veloz solo, e então, chegamos a última parte da suíte.
"The Fountain" retoma o riff pesado de "In the Valley", carregado de efeitos, e com Lee gritando mais do que nunca, desesperado com a presença da morte, e também repete o ritmo cadenciado da primeira parte, e nela, Lifeson novamente é o destaque com mais um belo solo. A letra sugere um ciclo através da fonte de Lamneth, mas principalmente, que a vida é um ciclo, pois nosso começo e nosso fim são os mesmos, vindos da mesma fonte, e que "A vida é apenas uma vela, e um sonho deve dar chama à ela".
O personagem aceita sua morte, e compreende que na verdade ele apenas cumpriu uma etapa, e que apesar de ter recebido o sinal (a morte), ele voltará, assim como sol retorna todos os dias por trás da montanha. Uma longa sequência de batidas idênticas traz o violão de Lifeson conforme o início da suíte, e Lee cantando identicamente, porém agora já pós-morte, sabendo que sua alma é eterna, encerrando "The Fountain of Lamneth" com um breve acorde de guitarra acompanhado por uma batida no prato.
O solo encerra "No One at the Bridge", e barulhos de gaivotas abrem a majestosa "Panacea", outro momento magnífico de "The Fountain of Lamneth", dedicado primeiramente para Lee cantar sobre a descoberta do amor, acompanhado apenas por Lifeson ao violão. Com a entrada da guitarra, chegamos ao refrão de "Panacea", tímido e suave, levado pelo dedilhado da guitarra, o embalo do violão e um imperceptível andamento de baixo e bateria. Destaque para a inclusão genial de dois harmônicos feitos pela guitarra após Lee entoar o nome do movimento, cujo título trata da cura de todas as doenças.
Violão e a guitarra, com o pedal de volume, acompanham a segunda estrofe vocal da quarta parte de nossa Maravilha, com o personagem encontrando a "Panacea" através do amor, o qual traz o significado para a vida, e o abrigo para a alma, repetindo o refrão com uma letra modificada, entregando-se a paixão, e preparando-nos para a reta final da suíte.
A quinta parte, "Bacchus Plateau", acaba sendo uma mudança inesperada para a suíte. Depois de dois lindos arranjos, aqui temos um hard simples, sem invencionices, como o grupo já estava fazendo até então, ressaltando que os canadenses apesar de estarem inovando seu estilo, mantinham suas raízes cravadas até mesmo para uma suíte progressiva. A letra apresenta as aflições da terceira idade, aproveitando a vida ao que dá, e mesmo sabendo que ainda tem muito para contribuir com a sociedade, o fim está mais próximo do que nunca. A simplicidade de "Bacchus Plateau" revela o lado mais virtuose de Lifeson, que encerra o trecho um veloz solo, e então, chegamos a última parte da suíte.
"The Fountain" retoma o riff pesado de "In the Valley", carregado de efeitos, e com Lee gritando mais do que nunca, desesperado com a presença da morte, e também repete o ritmo cadenciado da primeira parte, e nela, Lifeson novamente é o destaque com mais um belo solo. A letra sugere um ciclo através da fonte de Lamneth, mas principalmente, que a vida é um ciclo, pois nosso começo e nosso fim são os mesmos, vindos da mesma fonte, e que "A vida é apenas uma vela, e um sonho deve dar chama à ela".
O personagem aceita sua morte, e compreende que na verdade ele apenas cumpriu uma etapa, e que apesar de ter recebido o sinal (a morte), ele voltará, assim como sol retorna todos os dias por trás da montanha. Uma longa sequência de batidas idênticas traz o violão de Lifeson conforme o início da suíte, e Lee cantando identicamente, porém agora já pós-morte, sabendo que sua alma é eterna, encerrando "The Fountain of Lamneth" com um breve acorde de guitarra acompanhado por uma batida no prato.
Contra-capa de Caress of Steel |
A imprensa caiu em cima do Rush, alegando que o álbum era pomposo demais para os talentos individuais do trio, chamando os de desfocados e prepotentes, fugindo do que os haviam consagrado em Fly By Night. O álbum acabou afundando em vendas, e o grupo, que havia tocado em locais para quase dez mil pessoas, agora voltava aos pequenos bares, tocando para no máximo duzentos presentes, com exceção das apresentações abrindo para gigantes como Kiss (novamente), Lynyrd Skynyrd, Frank Zappa, Blue Öyster Cult, Ted Nugent, Nazareth e Aerosmih.
Caress of Steel foi conquistar ouro nos Estados Unidos (quinhentas mil cópias vendidas) somente em 1973, quase vinte anos depois do seu lançamento. Claramente, a Mercury não aceitou aqueles números, e forçou o Rush a mudar sua direção, voltando para o pop mais simples e conquistar os jovens. Mas, na contra-mão disso, Lifeson, Lee e Peart resolveram apostar na sua convicção, e voltaram aos estúdios para comprovar que o progressivo era o caminho correto para eles. Dessa forma, em 1976, lançam sua segunda Maravilha Prog, a qual veremos em quinze dias sua história aqui nessa seção.
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