Depois de muitos anos de espera, os britânicos do Uriah Heep saciaram a sede de algumas centenas de gaúchos que preencheram as cadeiras do belo Teatro do Bourbon Country na fria noite do dia 20 de maio. Aproximadamente 800 fãs estavam no local, e durante toda a apresentação, quebraram o protocolo do Teatro, assistindo em pé diante das cadeiras disponibilizadas pelo local, e agitando muito.
O Uriah Heep está passando pelo país com a turnê Latin American Heepsteria, divulgando o novo álbum, Outsider, que deverá chegar às lojas ainda no primeiro semestre desse ano. A turnê, somente no Brasil, conta com shows em São Paulo, onde o grupo apresentou-se para 70 mil pessoas no último dia 17, Ribeirão Preto no dia 18, Porto Alegre, Rio de Janeiro (ontem) e ainda passará por Belo Horizonte (hoje), Brasília (dia 24) e Curitiba (25 de maio). A agenda cheia é um motivador a mais para que Mick Box (guitarra, vocais), Bernie Shaw (vocais), Phil Lanzon (teclados, vocais), Russell Gilbrook (bateria) e o novato Davey Rimmer, responsável por substituir o eterno Trevor Bolder, um dia antes da morte de um dos principais baixistas da história do rock completar um ano (Bolder faleceu no dia 21 de maio de 2013, vítima de câncer no pâncreas).
Mesmo o salgado preço do ingresso não afugentou os seguidores da banda, ainda mais que o grupo já esteve por ir a Porto Alegre duas vezes, mas ambas as apresentações foram canceladas devido a baixa procura pelos ingressos.
Dessa vez, a ampla divulgação e o crescimento no número de pessoas que curtem as famosas linhas de teclados, ou os pesadíssimos riffs de guitarra (e aqui eu me incluo) que consagraram a banda nos anos 70 foram suficientes para o Teatro do Bourbon Country ferver de adrenalina.
O espetáculo abriu exatamente com duas canções inesperadas, no caso a pancada "Against the Odds", uma das melhores canções da fase Shaw (que entrou para o grupo no final dos anos 80, substituindo nomes consagrados como o inesquecível David Byron ou a grande voz do Lucifer's Friend) , responsável por abrir o excelente Sea of Light (1995) e a animada "Overload", lançada no também primoroso Wake the Sleeper (2008).
A partir de então, o carismático Bernie Shaw começou a se derreter de amores e desculpas para o povo de Porto Alegre, perguntando por que não se apresentaram antes na cidade, e passou a desfilar um repertório de clássicos, que segundo ele, iria passar desde o primeiro LP do grupo, Very 'Eavy, Very 'Umble (1970) até o mais recente, Into the Wild (2011), e assim, anunciou o ano de 1972, e do álbum Demons & Wizards retirou "Traveller in Time". Foi a partir daqui que começamos a ver uma performance individual marcante por parte de Mick Box.
O ex-gordinho, agora com longos cabelos brancos, simplesmente destrói seu wah-wah, além de fazer misérias com uma Les Paul branca lindíssima, e faz uma série de bençãos, abanos e outros acenos com as mãos, parecendo receber uma entidade espiritual que o auxilia a fazer todas as incríveis passagens de seus solos, além de mandar ver em riffs pesados que sacudiam o teatro.
Ainda de 1972, mas agora de The Magician's Birthday, veio "Sunrise", cantada em uníssono, e com o público acompanhando com palmas, "Stealin" (Sweet Freedom, 1973) teve o primeiro longo solo de Box na noite. Outro músico que se destaca bastante é Gilbrook. O cara simplesmente é um animal, e foi uma ótima escolha para substituir o ídolo eterno Lee Kerslake, que gravou alguns dos principais álbuns do Uriah Heep em sua carreira. Pulando no banco, Gilbrook tem duas bigornas nos locais dos braços, e durante todo o show várias baquetas sofreram os ataques furiosos do músico.
"I'm Ready" foi a única canção de Into the Wild, mostrando como o Uriah Heep sabe encaixar muito bem os clássicos com novas canções, fato comprovado com "Between Two Worlds" (Sonic Origami, 1998), uma das canções mais belas feitas pelo Uriah Heep nos últimos 30 anos.
De Very 'Eavy, Very 'Umble veio mais um clássico, "Gypsy", com um peso descomunal, e a velocidade de Look at Yourself (do álbum homônimo de 1971) sacudiu o esqueleto de todos no local. "July Morning" (também de Look at Yourself) trouxe Shaw sentado diante da plateia, com Rimmer repetindo o solo que Bolder empregou para a canção nos anos 90, no lugar do solo de teclado, e com Box fazendo mais uma performance sobrenatural, e a apresentação encerrou-se com Box conclamando à todos para cantar uma "Hippie Happy Song" de Salisbury (1971). Era a deixa para todos soltarem a garganta com "Lady in Black", e surpreendentemente, o espetáculo ser encerrado, com pouco mais de uma hora de duração.
Obviamente que a longa espera por uma apresentação do Uriah Heep em Porto Alegre não poderia ser encerrada com tão pouco tempo, e o público não parou de pedir por mais, até que todos retornaram sob muitos aplausos para o palco.
Shaw pediu que algumas mulheres acompanhassem os músicos na próxima canção, e conseguiu arrecadar onze moças (minha esposa entre elas, que prontamente foi lá angariar uma palheta de Box). Não gostando do número, Shaw pediu para um menino de no máximo dez anos que assistia o show na primeira fila subisse ao palco. O Guri foi lá todo envergonhado e com medo, mas viu Box detonar o riff de "Free & Easy" (Innocent Victim, 1977), mostrando ao mundo como o Uriah Heep já fazia Heavy Metal de verdade muito antes de bandas consagradas da década de 80.
Por fim, "Easy Livin'" (Demons & Wizards) encerrou de vez o show, com pouco menos de 90 minutos de duração, e após uma longa distribuição de palhetas e acenos, o grupo deixou o palco, e os fãs foram embora satisfeitos por um show memorável, mas com um gostinho de "Quero mais" o qual Shaw prometeu ser saciado na próxima vez que o Uriah Heep voltar ao Brasil. Tomara que não demore tanto quanto a primeira vez que o grupo finalmente apresentou-se em Porto Alegre.
Set list
1. Against the Odds
2. Overload
3. Traveller in Time
4. Sunrise
5. Stealin'
6. I'm Ready
7. Between Two Worlds
8. Gypsy
9. Look at Yourself
10. July Morning
11. Lady in Black
Bis
12. Free & Easy
13. Easy Living
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