Quando K. K. Downington anunciou sua saída do Judas Priest, grupo que ele ajudou a formar no início da década de 70, gerando uma longa e contínua legião de fãs através de álbuns clássicos como Sin After Sin (1977), Stained Class (1978) e British Steel (1980), todo mundo apostou suas fichas no final da banda. Eles mesmos chegaram a anunciar uma turnê de despedida, a Epitaph World Tour, que girou o mundo em 2011 trazendo o guitarrista Richie Faulkner para o lugar de K. K., completando uma das formações mais clássicas do Heavy Metal junto com Rob Halford (vocais), Scott Travis (bateria), Ian Hill (baixo) e a alma do Judas, Glenn Tipton (guitarras).
Porém, assim como os 7 x 1 da Alemanha no Brasil, todo mundo foi pego de surpresa quando notícias advindas do twitter oficial da banda, bem como do site oficial do Judas Priest, ainda em 2011, começaram a anunciar que o quinteto britânico tinha entrado em estúdio para a gravação do seu décimo sétimo álbum, e que a Epitaph World Tour não era uma turnê de despedida como haviam divulgado antes.
Depois do fracasso gerado pelo contestadíssimo (e injustiçado) Nostradamus (2008), o grupo ficou excursionando apenas para apresentar seus velhos clássicos, e o próprio Halford havia já anunciado que se fosse fazer algo novo, não seria mais com o Judas, mas sim em carreira solo. Com a saída de K. K. então, para que o Judas ainda existiria? Pois a resposta veio com uma bigorna matadora chamada Redeemer of Souls, um dos álbuns mais pesados da carreira do Judas, e que chegou às lojas mês passado.
Ian Hill, Scott Travis, Rob Halford, Richie Faulkner e Glenn Tipton |
O álbum já começa épico, com os trovões da pesadíssima "Dragonaut", apresentando um marcante refrão e a voz de Halford sempre muito potente. Halford, assim como Biff Byfford (Saxon) é daqueles vocalistas que soube amadurecer sua voz. Sem os gritos agudos de outrora, agora ele investe em encaixar as notas mais fortes junto com os riffs de guitarra, o que ficou muito bom. Além disso, as guitarras de Tipton (sempre na caixa esquerda) e Faulkner (na caixa direita) também encaixaram-se soberanamente, como comprovam os belos solos de ambos nessa canção.
A próxima é a faixa-título, que lembra bastante os melhores momentos do contestado Nostradamus, enaltecendo mais uma vez o peso da cozinha Hill / Travis e os belos duelos de guitarra durante seus solos. O início da épica "Halls of Valhalla" logo me traz à mente o Iron Maiden de Seventh Son of a Seventh Son e Somewhere in Time, principalmente a clássica "The Evil That Men Do", mas a partir do momento que entra o riff da guitarra e as batidas quebradas dos dois bumbos de Travis, com o agudaço de Halford e uma matadora passagem feita por Faulkner, a casa cai, e é impossível não sair pulando pela casa, em outra faixa que também lembra bastante os melhores momentos de Nostradamus, principalmente por conta do coral na sequência final da canção, os vocais duplicados do refrão e a presença dos sintetizadores no solo de Faulkner.
"Sword of Damocles" desmancha qualquer conceito que você possa ter formado até então, iniciando com as guitarras gêmeas hipnotizando seus ouvidos, e Halford rasgando sua voz em um grave que dificilmente encontraremos em outro álbum do grupo, mas também dando o show em um breve momento acompanhado apenas do dedilhado das guitarras. Então vem "March of the Damned", um rock bastante moderno, com os vocais de Halford carregados de efeitos, e que só possui lembranças do clássico Judas Priest no refrão que entoa o nome da faixa, que de jeito nenhum pode ser considerada desprezível, já que a mesma continua fazendo sua cabeça balançar, e para alegria dos admiradores dos álbuns British of Steel e Screaming for Vengeance (1982), "Down in Flames" resgata bastante a sonoridade de ambos, com o Judas soando como Judas deve soar, tendo as guitarras gêmeas, duelos de solo e aquele andamento que só o grupo consegue criar, além de resgatar as guitarras sintetizadas de Turbo (1986) e Ram It Down durante o riff introdutório.
Contra-capa do vinil de Redeemer of Souls |
O clima acalma na introdução de "Hell & Back", meros trinta segundos de ilusão, já que logo na sequência, o baixo de Hill surge galopante pelas caixas de som, trazendo de novo o peso que havia se destacado no início do álbum, também contando com uma marcante participação de sintetizadores e o solo virtuoso de Faulkner. O riff de "Cold Blooded" nos faz pensar que estamos ouvindo algo do Metallica. A canção em si divide-se entre momentos bastante arrastados e pesados com o refrão grudentíssimo: "There is no way / I have no voice / I have no say / I have no choice / I feel no pain or sympathy / It's just cold blood /That runs through me", mas é uma das mais fracas do álbum, que segue com "Metalizer", bastante oposta à sua antecessora, com uma velocidade impressionante nas guitarras e Travis soltando a mão nas peles.
Como quase todo o álbum, o que mais chama a atenção além das performances individuais são as magistrais introduções que o quinteto criou. A de "Crossfire" só pode ter saído de alguma canção que o grupo perdeu no início de sua carreira, ainda com Al Atkins nos vocais, tal a sensação setentista expelida pela mesma, que também está em um patamar bastante elevado dentre as melhores de Redeemer of Souls, ainda mais com a inesperada virada na segunda metade da canção, com Faulkner arrasando com o wah-wah.
Outra canção que lembra bastante as de Nostradamus é "Secrets of the Dead", na qual o maior destaque vai para os sintetizadores, além do solo de guitarras sintetizadas (cortesia de Glenn Tipton), e os fãs das guitarras gêmeas irão se deliciar com "Battle Cry", perfeita para ser apresentada nos shows de divulgação de Redeemer of Souls, e que certamente vai fazer os fãs delirar com os belos solos de guitarra que surgem no decorrer de seus minutos. Por fim, a baladaça "Beginning of the End" faz uma citação lindíssima para Jimi Hendrix em outra introdução magnífica, com um riff que o Deus Negro da guitarra certamente abençoaria bela sua beleza e simplicidade.
Versão DELUXE |
O álbum ainda ganhou uma versão DELUXE com um CD bônus trazendo cinco canções que ficaram de fora da versão final: "Snakebite", "Tears of Blood", "Creatures", "Bring It On", "Never Forget", canções bastante diferentes do que foi lançado na mídia oficial, com a primeira sendo um rockzão anos 80, a segunda sendo a única que poderia estar no track list final do álbum, principalmente por conta da sua pegada na cozinha baixo/bateria, "Creatures" com uma performance das guitarras de tirar o fôlego, a oitentista "Bring It On", que lembra canções de Point of Entry (1981) e Defenders of Faith (1984) e a última uma baladaça para levantar celulares (opa, isqueiros), inimaginável em uma discografia de uma das maiores bandas de metal da história. Além disso, são canções mais curtas e claramente ainda possíveis de serem melhor trabalhadas.
O disco também saiu em uma tiragem limitada de vinil duplo, e até o momento, com pouco mais de um mês do seu lançamento, já vendeu mais de cem mil cópias apenas nos Estados Unidos, tornando-se o primeiro disco do grupo a alcançar o Top 10 da Billboard quando de seu lançamento (atualmente encontra-se na sexta posição).
Com certeza, Redeemer of Souls não irá mudar o mundo, ou tão pouco fará parte do Top 5 de Melhores discos da história do Judas Priest, mas se a banda continuar na ativa fazendo álbuns como esse, certamente ainda arrastará muitos fãs para suas apresentações, as quais não necessariamente precisarão somente dos velhos clássicos para sobreviver.
Contra-capa do CD |
Track list
1. Dragonaut
2. Redeemer of Souls
3. Halls of Valhalla
4. Sword of Damocles
5. March of the Damned
6. Down in Flames
7. Hell & Back
8. Cold Blooded
9. Metalizer
10. Crossfire
11. Secrets of the Dead
12. Battle Cry
13. Beginning of the End
Canções Bônus da versão DELUXE
1. Snakebite
2. Tears of Blood
3. Creatures
4. Bring It On
5. Never Forget
Eu como fã do Judas Priest, gosto de quase todos os discos que a banda lançou (com exceção de Rocka Rolla, Nostradamus e daqueles dois com Tim "Ripper" Owens), e no caso de Redeemer of Souls, acho que a saída de K. K. Downing e a chegada de Richie Faulkner não afetou em nada o som da banda, só acrescentou e muito, como foi comprovado naquela que seria supostamente a turnê de despedida deles, antes mesmo deste disco analisado aqui ser lançado.
ResponderExcluirSobre Redeemer of Souls, gostaria de afirmar duas coisas: PRIMEIRO, a respeito da produção de Mike Exeter em parceria com Glenn Tipton (um dos guitarristas do grupo, hoje ausente do mesmo devido ao mal de Parkinson), um pouco fraca, abafada e de mau gosto. Se o JP tivesse pensado antes e chamado Roy Z ou Andy Sneap (esse sim é fera neste quesito) para produzir este disco, com certeza seria um novo clássico de sucesso na discografia da banda (é só comparar este disco com Firepower, que saiu recentemente, para entender). SEGUNDO: a respeito do repertório escolhido para este álbum em sua versão normal, digo que não gostei apenas de "Crossfire" e "Beginning of the End" que pra mim são músicas que não se encaixam bem no clima geral do trabalho e que fariam sentido se fossem usadas em outras oportunidades (por exemplo, "Crossfire" não faria feio se estivesse em Firepower, com sua produção mais eficiente).
E sobre as cinco faixas bônus da edição "deluxe" deste álbum, afirmo que "Tears of Blood" estaria seguramente no lugar de "Crossfire" como décima-faixa (por conta de seu ritmo veloz e de seu peso), "Creatures" estaria muito bem posicionada entre "Secrets of the Dead" e "Battle Cry", e a belíssima balada "Never Forget" é o oposto de "Beginning of the End" e que encerraria sem problemas este Redeemer of Souls por se encaixar em seu contexto geral graças a sua belíssima letra, em que a banda homenageia e agradece a seus inúmeros fãs ao redor do mundo que sempre acompanham o Priest desde o começo de sua maravilhosa trajetória. Simplesmente isso, patrão!
Obrigado pelo comentário Igor. Saudações e que bom ver você aqui.
ExcluirDe nada, chefe! De vez em quando eu apareço lá na Consultoria do Rock... Só mais uma coisinha que eu esqueci de constatar no Redeemer of Souls é sobre a capa elaborada por Mark Wilkinson. Ela não se parece com a capa do clássico dos clássicos do JP, o super aclamado Painkiller, de 1990? É o mesmo cenário, só que com um personagem diferente, no caso o "redentor das almas" referente ao título ao disco.
ExcluirEnfim, vamos esperar que a banda possa relançar este disco com uma remasterização a altura do que poderia ter sido em 2014 e vamos ver se alguém faça uma resenha sobre o mais novo sucesso do JP, Firepower, para a Consultoria do Rock. Saudações de minha parte a você, chefe Mairon!