É comum encontrarmos na música grupos que, apesar de não serem caracterizados como rock progressivo, tem em seu rol de lançamentos uma outra faixa que pode ser perfeitamente classificada como progressivo, ou pior, um ou dois álbuns que acabam fazendo com que os menos avisados classifiquem tal grupo como rock progressivo. Um belo exemplo desse time é o canadense Triumph.
Formado no bairro de Mississauga, Ontario, no ano de 1975, através do office-boy Richard Gordon "Rik" Emmett (guitarra e vocais) e da dupla "Gil" Moore (bateria e vocais) e Michael "Mike" Levine (baixo), o Triumph ficou durante muito relegado às sombras do primo grande, o Rush, ainda mais por conta de ser um trio muito virtuoso, com um guitarrista loiro, um vocalista com uma voz bastante esganiçada e marcante (no caso o próprio Rik) e um baixista que tocava teclados com os pés, além de um exímio baterista/letrista. Ou seja, as coincidências entre o Triumph e o Rush são várias, mas param por aí, já que o Triumph tinha um diferencial que era a proximidade com o pop-rock, capaz de fazer canções mais acessíveis e sem ter uma concentração em suítes como seu irmão famoso.
Gil já havia passado antes pelo Sherman & Pabody, o qual contou com os talentos de Buzz Shearman (Moxy) e Greg Godovitz (Goddo), enquanto os demais participaram de grupos de garagem. O trio se conheceu em alguns pubs canadenses, e não tardou para que a troca de som e ensaios surgisse, formando o Triumph em poucas semanas.
Mike Levine, Rik Emmett e Gil Moore |
No dia 19 de setembro de 1975, com um cachê de apenas 750 dólares, o grupo fez o seu primeiro show no Simcoe High School, em Simcoe - Ontario, tocando um hard rock inspirado em Led Zeppelin e também Uriah Heep. Os que lá estiveram presentes saíram fascinados com a potência da banda, e rapidamente a comparação com o Rush nasceu, graças aos longos cabelos loiros de Rick e pelo conjunto de bateria que Gil usava ser idêntico ao de Peart na época.
Com o dinheiro deste show, gravam a primeira demo e continuam os ensaios, tendo grande dificuldades em realizar novos shows, já que além de serem taxados injustamente como uma imitação barata do Rush, também não possuíam um empresário. Por sorte, a demo caiu nas mãos de membros da pequena Attic Records, que fizeram um teste com o trio, colocando-os para participar de um único show no Gasworks, em Toronto, no dia 09 de agosto de 1976.
Mais maduros, e auxiliados pelo início da fase progressiva do Rush, os três destruíram com uma pegada forte e bem diferente dos co-irmãos, arregalando os olhos dos produtores da Attic, que decidiram por lançar o primeiro álbum da banda.
No dia 13 de outubro, de 1977, chega às lojas canadenses Triumph. Um excelente disco de estreia, que pode ser classificado como hard rock, rockou até pop rock, mas que tem uma pérola progressiva em sua conclusão que o coloca por aqui hoje. Estou falando da Maravilhosa "Blinding Light Show / Moonchild", que encerra Triumph após trinta e dois minutos inesquecíveis, que abrem com "24 Hours a Day" , faixa que nos remete diretamente a Caress of Steel (Rush) por conta de seu dedilhado inicial, mas com um clima bastante oitentista em um grande rock'n'roll para agitar uma festa. "Be My Lover", apesar do nome, é um hard pesado, com um riff de guitarra e baixo de primeira linha, trazendo os vocais de Rik com o uso do talk box. Triumph continua com "Don't Take My Life" e a sua introdução inconfundível, que iria aparecer posteriormente nos shows da banda na clássica "Lay it on the Line", e com uma levada bastante influenciada em "D'yer Maker" (Led Zeppelin). "Street Fighter Man" e "Street Fighter Man (reprise)" encerram o lado A com fortes riffs e muita pegada, com "reprise" sendo mais lenta em relação à sua irmã primeira, em uma canção com leves inspirações no progressivo.
Contra-capa de Triumph |
O lado B abre com o funk-Motoniano da introdução de "What's Another Day of Rock and Roll?", metamorfoseando-se em um belo rock'n'roll capaz de levantar qualquer um do sofá. "Easy Life" e as guitarras dobradas mandam qualquer comparação possível ao Rush embora, em um hard que o outro trio canadense jamais fez igual, e novamente o Led Zeppelin aparece como influência durante "Let Me Get Next You", no melhor estilo "Rock and Roll", inclusive com um solo idêntico ao de Jimmy Page na mesma canção e com Rik imitando os vocais de Plant em frases muito parecidas ao clássico do Led.
Para encerrar o álbum, uma aula musical sob o pseudônimo de "The Blinding Light Show / Moonchild, um épico de nove minutos que fará muito marmanjo chorar. Ventos e viradas de bateria trazem o riff principal da guitarra, com um baixo galopante e muitas quebradas, em uma absurdamente apavorante introdução, com um espetáculo a parte para as viradas de Gil.
A insana velocidade do início cai em um fraseado dedilhado da guitarra, carregada de efeitos, e que arranca as primeiras lágrimas do ouvinte. Os vocais tristes de Rik, acompanhados pela guitarra, dão um clima mais melancólico à faixa, contando sobre como nos tornamos parte de um show quando nos apaixonamos cegamente, sendo este o principal conteúdo da bonita letra, com interessantes rimas e emocionalmente muito forte.
Rik Emmett, Gil Moore e Mike Levine em 1977 |
Os teclados passam a acompanhar o dedilhado da guitarra, e a canção ganha um ritmo cadenciado, com a grande presença do baixo de Mike e das batidas de Gil. Baixo e teclado executam as mesmas notas, com Gil marcando no chimbal e com Rik imitando uma sirene na guitarra, voltando à cadência da canção, mas agora com mais destaque para as batidas nos pratos de Gil.
Rik retorna para apresentar mais duas estrofes, entoando os famosos "hoorah" dessa parte da canção, que instrumentalmente encerra-se por alguns instantes, abrindo espaço para um tema instrumental de Rik ao violão clássico, chamado "Moonchild", mostrando por que ele é um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Durante seu solo, Rik faz um lindo dedilhado combinado com diversos harmônicos que causam um transe no ouvinte, e um nó nos dedos de quem se arrisca a tentar reproduzir esse magistral solo.
O clima clássico do violão muda para uma sessão mais apreensiva, com dedilhados rápidos, acompanhados por teclados e vocalizações, até que Rik executa um breve riff, voltando para a continuidade de "Blinding Light Show" com muito peso nas guitarras, que executam o mesmo breve riff do violão, avançando para um solo furioso de Rik, utilizando-se de wah-wah, distorções e arpejos.
Teclados, guitarra e baixo executam as mesmas notas, voltando à cadência original da faixa, e Rik dá continuidade à letra em mais duas estrofes, com o baixo executando um pequeno tema sobre camadas de dedilhados de guitarra e teclados, acompanhado também por um violão, que executa o mesmo tema, e encerrando com um trovão. Simplesmente linda!
Relançamento mundial de Triumph, em 1995 |
Triumph conquistou ouro no Canadá (único país em que foi lançado), mas chamou a atenção da RCA, que decidiu divulgar o trio fora de seu país Natal. Vale a pena ressaltar que o tecladista Laurie Delgrande colaborou no ábum, principalmente nas passagens citadas de "The Blinding Light Show". Triumph acabou sendo relançado mundialmente em CD no ano de 1995 com uma nova remasterização e com o título de In the Beginning ..., mantendo o mesmo track list do álbum original.
Com o contrato assinado com a RCA, o trio fez sua primeira incursão pelos Estados Unidos, acompanhando os conterrâneos do Moxy na apresentação feita no Texas, na cidade de San Antonio, no dia 18 de fevereiro de 1977, o que fez com que o nome da banda pegasse entre os americanos, graças também a uma ampla divulgação do som do grupo nas rádios daquele estado.
Este foi o único show feito pelo Triumph em 1977, e depois, o grupo dedicou-se a gravação do segundo LP, Rock and Roll Machine, lançado em 13 de novembro de 77 e trazendo a Maravilhosa "City", outra grande representante do rock progressivo que o Triumph era capaz de fazer.
O trio nos anos 2000 |
Posteriormente, o grupo mergulhou por diversas vertentes, lançando mais oito álbun que possuem muito pouco ou quase nada de rock progressivo, e vivendo entre muitas brigas e guerra de egos que culminaram com o fim da banda em 1993, com o lançamento de Edge of Excess e já com o guitarrista Phil X no lugar de Rik Emmett. O trio original voltou a se reunir em 2007 e em 2008, mas não por muito tempo, já que o passado nunca foi esquecido por Rik e Gil, cuja rivalidade é muito maior do que o Canadá!
Independente disso, o nome Triumph sempre esteve em evidência, sendo que o grupo foi uma das principais atrações do US Festival de 1983, quando o grupo viveu o auge de sua carreira com o álbum Never Surrender. Uma das maiores bandas do Canadá e do hard mundial, ainda para ser descoberta principalmente em seus dois primeiros álbuns, muito por conta do preconceito que existe por conta do sucesso que o grupo fez nos anos 80 com uma sonoridade bastante pop.
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