segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Paul McCartney: Beira-Rio, Porto Alegre, 07/11/2010



Bom, eu pensei de todas as formas como escrever o que passei ontem no show de Paul McCartney (ou seria Billy Shears?) e, infelizmente para vocês leitores da Collector´s Room, não terá outro jeito do que contar praticamente tudo.

Quero salientar que, como muitos sabem, eu não sou fã dos Beatles, mas tenho uma certa admiração por Wings. Fui no show por três motivos básicos: a compreensão da importância de Paul para a história da música, o show ser no Beira-Rio e o principal de todos: gritar para Paul "Mick Jagger", mas como brincadeira, obviamente, pois sou da linha dos que preferem os Stones e apenas faria isso para me dar de presente de aniversário (sim, eu nasci no dia 07/11) o desafio de gritar o nome de um Stone entre milhares de fanáticos pelos Beatles.

Pois bem, o dia começou com uma surpreendente ligação de uma amiga que tenho um carinho especial por ela, me desejando os parabéns bem no momento em que saía após ter comido um churrasquinho especial que comprei perto de casa (o Rio Grande do Sul tem isso de bom), já que não daria tempo de assar e ir pro show. Depois da calorosa ligação (valeu Pã!!!), peguei o ônibus e passei no meu irmão para receber um abraço e fazer aquele velho comentário que fazemos há muitos anos: "não entendo como que as pessoas gostam tanto de Beatles".

Dali, liguei meu radinho e fui para o Beira-Rio. Na parada para comprar uma cerveja dentro do super o rádio informou que Paul estava saindo do hotel, e para minha total surpresa ele havia mudado a rota inicial que faria em direção ao Beira-rio, indo por uma avenida que fica a poucos metros de onde eu estava. Peguei a ceva e sai correndo feito um louco, tropeçando em pessoas, em pedras, mas enfim cheguei na Avenida Beira-Rio e não havia ninguém lá, somente um policial e o barulho dos carros de polícia que vinham pela avenida. Os locutores da rádio falavam que Paul estava abanando para todos, e eu ali, parado, apenas esperando. Foi quando vi o carro da polícia trazendo Paul, que fez O MOMENTO do dia para mim.

O carro diminuiu a velocidade e então eu vi com esses olhos que já viram muitas coisas algo que jamais pensei em ver: sentado do lado direito do carro, Paul saiu da janela direita e se dirigiu para a janela esquerda. De dentro do carro, ele me abanou e levantou o dedo com um positivo, enquanto com a outra mão batia no coração. EU VI PAUL E ELE ABANOU PARA MIM!!!

Vocês não tem ideia do que é isso! O cara é uma lenda! Ele podia muito bem ter seguido de "cano reto" e nem ter dado bola para um cara parado, com a camisa do Inter, uma lata de cerveja nos pés e uma câmera na mão. Mas não, ele saiu da posição onde estava e veio me dar um aceno. Não apertei a mão dele, não conversei com ele, mas como estava somente eu ali, naquele lugar, senti toda a emoção de saber que Paul McCartney me cumprimentou pessoalmente. Ali, valeu o dia, mas ainda tem mais!

Fui para o Beira-Rio na expectativa de encontrar minha amiga Pâmela, que, apesar de ir no gramado (eu ia de superior), havíamos combinado de que se desse eu receberia o abraço enviado na ligação pessoalmente. Na chegada, uma impressionante multidão tomava conta dos arredores do estádio. Somente na final da Libertadores de 2006 vi tanta gente assim. Filas enormes rodeavam todos os lugares. Fui para a fila do portão 9 na rampa 2. e incrivelmente, para quem conhece o Beira-rio, ela saía da rampa, descia para a esquerda em direção ao portão 4, atravessava para o Gigantinho em direção ao CTG e fazia a volta em todo o Gigantinho pelo lado do estacionamento, chegando até o mastro. No mastro, ela virava em direção à Borges, saindo do complexo do Beira-Rio (tá, quem não conhece o Beira-Rio não tem ideia do que eu estou falando, mas para dar a noção eu caminhei 30 minutos até chegar ao final da fila).

Ao chegar no final da fila, um grupo de pessoas vindas não sei de que lugar surgiu do nada, e entre eles um marido desesperado tentava trocar o ingresso de gramado por superior, pois a esposa e todo o grupo haviam comprado ingresso para pista. Prontamente troquei o ingresso com o cidadão, e fui direto para a minha nova fila, agora o portão 7. Durante o caminho descobri que não haveria a possibilidade de encontrar a minha amiga, pois ela estava em outro portão.

A confusão era grande. As filas se entrelaçavam, e era difícil identificar aonde eu tinha que ir. Quando descobri onde começava a fila 7 caminhei mais alguns minutos em direção ao final da fila, que já ia praticamente no início do portão 9 rampa 2 (o começo da história). Portanto, o imbecil aqui deu a volta no estádio sem ter necessidade, era só ter ido direto para a fila 7. Mas eu ia saber que ia ter tanta gente assim?


Enfim, fiquei torrando no sol durante um bom tempo, pois apesar dos portões terem sido abertos perto do horário confirmado (17:30 hs) a demora para entrar no estádio foi muito grande. Mas a espera teve momentos bons, já que foi possível ouvir toda a passagem de som de Paul, e claro, sentir que o bicho ia pegar, pois a gurizada ouvia silenciosamente cada segundo e aplaudia como se já estivesse vendo o próprio show.

Entrada no estádio, todos recebem lenços com a assinatura de Paul, e se quisesse poderia deixar um presente para ele em uma caixa enorme. Ali, vi várias camisas do Inter, do Grêmio e também cuias, uma bombacha e muitas cartas. Vale se destacar: apesar do show ter sido no estádio do Internacional muitas camisas de ambos os times coloriram o Beira-Rio, provando que, sim, é possível rivais conviverem pacificamente.

Então, depois de tudo, quando estou entrando, descubro que é possível sentar na social através do portão por onde eu entrei. Bah, eu que havia visto a montagem do palco exatamente da social, que ficara imaginando como seria ver o show dali, podia agora ir para o lugar onde eu havia demarcado como o melhor para se ver de forma mais barata. Fui direto para lá, e no meio do caminho, quem eu encontro? A Pâmela! Se tivessemos combinado não teria dado tão certo. Trocamos o abraço mais legal do meu aniversário, e cada um foi para seu canto (afinal, ela estava em grupo, e eu preferi não me meter no meio da festa deles), onde rapidamente achei lugar ao lado de um pessoal da serra gaúcha e de um casal de namorados de Porto Alegre.

Sentado, na sombra, com a brisa do Guaíba batendo de frente, fingíamos que estávamos na VIP (que era ao lado de onde eu estava). Aqui, outro detalhe: nunca, mas nunca mesmo, vi tanta mulher bonita por metro quadrado em um show de rock! Era olhar para o lado e surgia uma que era mais gata do que aquela que tu achavas que era a mais gata que tu já tinhas visto. A grande maioria delas saía da Social Vip e ia para a Gramado Vip na nossa frente, com taças de champagne e salgados nas mãos.

Então, eis que surge a palhaçada mor do dia. A banda Dublê sobe ao palco e destrói clássicos do rock com uma versão lounge-pop-pasteurizada terrível. Eles não tiveram nem vergonha de fazer aquilo, tampouco falaram o nome (eu sabia que era a Dublê por que já vi eles tocando em uma festa anos 70), e fizeram uma apresentação de meia hora mais ou menos que não agradou em nada. Todos ao meu redor falaram que se fosse o Kleiton & Kledir teria sido muito melhor (aliás, 100% dos que eu conversei antes e depois do show gostariam de ter visto K&K, mostrando que a RBS não estava errada em colocá-los na abertura). Falando em Kleiton e Kledir, eles passaram ali, na passarela Vip, e troquei um aperto de mãos e algumas palavras com Kleiton, que quando falei que era de Pedro Osório largou um sorriso faceiro e disse: "gosto muito daquela cidade".

Enfim, até aqui não comentei nada do show, e desculpe por essa longa introdução, mas esses pequenos detalhes foram inesquecíveis e eu precisava narrar eles para vocês. Agora, vamos então ao show em si.


Após o show da Dublê, os dois telões (que ficavam em cada um dos lados do palco) começaram a mostrar várias imagens da carreira de Paul e dos Beatles, passando-as como um filme. Essas imagens foram reproduzidas durante um bom tempo, até que as luzes se apagaram e eis que surge Paul McCartney, com dez minutos de atraso (raro para os britânicos) entrando no palco solenemente, vestindo terno e calças pretas, com uma camisa branca e acompanhado de sua banda. Depois de reverenciar o público, começam os acordes de "Venus and Mars", seguida de "Rock Show" e "Jet", onde já pude comprovar que, sim, eu gosto bastante de Wings. Ouvir "Jet" ao vivo foi como lembrar do show do UFO em São Paulo, uma daquelas canções que você adora a versão que conhece, mas que quando ouve ao vivaço, pela lenda que a compôs, soa ainda mais forte.

Após a intro Wings, Paul fala em português com a plateia de mais de 50 mil pessoas dando "Oi, tudo bem? Boa noite Porto Alegre, boa noite Brasil!", e mandando ver na clássica "All My Loving". Ali, o baú de lembranças da minha infância, com minha mãe e meu pai ouvindo a Jovem Guarda em peso fazendo versões nacionais para canções inglesas (e a que mais eu lembrava era de minha mãe ouvindo Vips e meu pai Os Incríveis) já fizeram as primeiras lágrimas saírem dos meus olhos, mesmo eu não gostando da canção. Isso é importante demais, pois a música toca você mesmo que você não goste dela, já que é algo que quando você ouve você irá lembrar de uma fase da sua vida que não irá voltar mais.

Paul fala ao microfone "Obrigado gaúchos”, e aí o público vai ao delírio. Abrindo um sorriso enorme solta "Letting Go", e depois começa com a sequência engraçadissima "essa noite eu vou tentar falar português, mas vou falar mais inglês", com um carisma e simpatia fora do comum, e solta "Drive My Car", que fez o Beira-Rio tremer no famoso "bep-bep".

Paul então tirá o terno em um modesto strip-tease, começando "Highway", que foi seguida por "Let Me Roll It", onde a banda improvisou sobre o riff de "Foxy Lady", de Jimi Hendrix, e então foi para o piano, onde interpretou a linda "The Long and Winding Road". Os telões de ambos os lados funcionavam perfeitamente, mas achei estranho que o telão central funcionava (ou mostrava imagens) em apenas algumas músicas.

Enfim, a ótima e setentista "Nineteen Hundred and Eighty Five" (uma das melhores canções do Wings) sacolejou o esqueleto da gurizada, e "Let 'Em In" baixou o pique de todos. Paul, emocionado, lembrou de Linda McCartney, dizendo que escreveu a próxima canção em homenagem a "minha gatinha, Linda", mas que hoje ele dedicava "a todos os namorados presentes", e então começou a bela "My Love", com o refrão cantado por todos, seguida pelo country de "I've Just Seen A Face".

"And I Love Her" trouxe mais lágrimas para quem vos escreve, e a arrepiante sensação de cinquenta mil pessoas cantando ao mesmo tempo. Fantástico! Foi então que Paul soltou "Mas bah, tchê!!!!". O gigante da Beira-Rio veio abaixo ao som de Paul, enquanto ele soltava gargalhadas e puxava "Blackbird", sozinho ao violão. Outra arrepiante, com todos cantando sob o céu estrelado, tendo ao fundo do palco uma árvore iluminada sendo projetada no telão enquanto uma lua descia sobre a cabeça de Paul, que já era abençoada pela gigante bandeira tremulante do Sport Club Internacional. Só quem estava lá sabe o que estava vendo!

Lágrimas rolavam como pedras em colinas, e ainda vinha mais! Paul então comunica que "escrevi essa música para meu amigo John". Nesse momento soltei meu "Mick Jagger" apenas como presente para mim mesmo, pois a interpretação que ele fez para "Here Today" já era um presente mais que especial. A Terra então desceu atrás da lua, e ficamos com apenas Paul, a lua, a Terra e o violão, dando uma pequena desafinada, mas o que era mais bonito era o estádio inteiro em silêncio, ouvindo cada segundo sob aquela maravilhosa noite estrelada. Os celulares ligados pareciam formar mais estrelas no chão do Beira-Rio. É indescritível. Procurem os vídeos e segurem a emoção!

Com o  ukelele em mãos veio "Dance Tonight", seguida por "Mrs Vandebilt", para arrebemtar de novo em "Eleanor Rigby". Se não ficou próxima à versão do Esperanto (que é a que eu aprecio de verdade) não dá para negar o poder de cada acorde desse clássico dos Beatles, que começou apenas com o violão de Paul, arrancando aplausos de todos, seguidos pela vocalização do grupo e com as cordas feitas pelo tecladista da banda. Aliás, esse foi um dos poucos pontos negativos. Paul em momento algum apresentou a banda, e, portanto, até agora não descobri quem são os integrantes. O baterista, por exemplo, é um animal, muito bom mesmo.

Paul, novamente com o ukelele, começou "Ram On", mais uma surpresa, e então ele dedicou a próxima para "o meu amigo George", e aí começou a mais linda canção já composta por um Beatle, "Something", a mais esperada por mim, e não teve como segurar as lágrimas. Somente com o ukelele Paul cantou toda a letra, para então a banda surgir tocando a versão original dessa pérola escrita por George Harrison. Todos cantavam em coro, e o arrepio corria como o sangue pelo meu corpo.

"Obrigado gaúchos", e seguiu-se "Sing the Changes". Então Paul pergunta "would you think about my porrtugueis?". Segue "vou tentar falar porrtugueix, portugueeeix, português", a última perfeitamente, e o Gigante veio abaixo novamente. "Band on the Run" veio apoteoticamente, e então Paul anuncia que "todos vão cantar a próxima sozinhos, sendo que é a primeira vez que essa canção será tocada no Brasil", surgindo uma versão fantástica para "Ob-La-Di, Ob-La-Da", cantada em uníssono novamente.

Aqui o show verdadeiramente começou para os beatlemaníacos, pois a partir de então somente os Fab Four seriam revisitados. Paul soltou um "E aí? Tri legal?" e detonou a antológica "Back in the USSR". Então veio "I've Got a Feeling", com um desafio vocal feito por Paul pela plateia, que segundo ele o público venceu, e "Paperback Writer", com todas as vocalizações que tanto marcaram a carreira dos Beatles.

"A Day in the Life" lembrou-me David Bowie na clássica "Young Americans", e foi encerrada com um coro espetacular cantando "Give Peace a Chance". Então Paul foi para o piano e veio "Let It Be", e com muitas frases que eu queria dizer para algumas pessoas. Não deu, cai em lágrimas novamente!

Fracasso! Confesso, é fracasso, mas não adianta, a letra, a história, o dia, tudo levava para isso, e eu fracassei em lágrimas cantando cada palavra de mais um clássico, enquanto o Beira-Rio novamente era iluminado por celulares. Porém, tenho certeza que algumas das pessoas que eu queria dizer aquelas palavras ouviram elas do próprio Paul no dia de ontem.

Se não tinha mais como me emocionar e surpreender, estava totalmente enganado. "Live and Let Die" surgiu calmamente, na linha da gravação do Guns N' Roses, e então uma enorme explosão começou um show pirotécnico sem igual, com fogos e explosões atrás do palco. Nem as explosões de "One" (Metallica) ou as próprias feitas pelo Guns em "Live and Let Die" se comparam ao que aconteceu no Beira-Rio. O volume era absurdamente apavorante, e eu sentado sentia o chão tremer apenas com a música. A marquise do Beira-Rio tremeu igualmente da primeira lesão de Fernandão em 2004 (momento Colorado aqui). Os gritos do público eram abafados pelo volume altíssimo, que o próprio Paul reconheceu que estava alto demais. Mas isso não foi ruim, pelo contrário, foi extraordinário!

A emoção e a tensão porque a bateria da minha câmera estava acabando me fizeram mais uma vez um fracassado. Embasbacado com o que estava vendo e ouvindo, preparei a câmera para aquela canção que a minha mãe havia me pedido que gravasse, "Hey Jude". Com tudo pronto, eis que Paul começa a canção que ele escreveu em homenagem a Julian Lennon quando este tinha cinco anos e achava que John não gostava dele. Caraca … bastou a primeira palavra para minha face se transformar em um rio de lágrimas, e tão atordoado e emocionado fiquei que acabei não gravando a bendita canção. Eu ali, com a câmera ligada, parecendo filmar e nada. Grande dã! Quando me dei conta já era a hora do "na-na-na" final, então apertei o botão e gravei o Beira-Rio rugindo como numa final, cantando o refrão mais fácil de todos os tempos durante quase cinco minutos. Lágrimas e abraços eram trocados por todos - eu disse TODOS - no Beira-Rio! O momento mais comovente da história do rock no Rio Grande do Sul estava sendo presenciado por mim no dia do meu aniversário! Mãe, me perdoa a falha, mas posso te afirmar, chorei não só pelo Iago, mas também por ti (para quem não sabe, o Iago é o meu filho que não mora comigo, infelizmente!)


A banda agradeceu o público e em 2 horas e 15 minutos deixou o palco pela primeira vez. Enquanto me recuperava das lágrimas, achando que já tinha passado por tudo, mal sabia eu que ainda tinha mais. Paul voltou, e do nada largou "Ah, eu sou gaúcho!". Ninguém esperava aquilo, tanto que, de boca aberta, aos poucos todo mundo gritou o famoso coro que o resto do país acha que é presunção nossa, mas que não é, é apenas uma forma de mostrarmos o orgulho por nossa terra. Após alguns segundos veio "Day Tripper", com uma pegada muito similar a original, e o estádio dançava em uma grande festa de aniversário em que eu era o aniversariante (modéstia a parte, não podia perder a brincadeira).

Paul troca de instrumentos como quem brinca de jogar videogame, tocando guitarra, baixo, piano, órgão, violão e ukelele com uma naturalidade incrível. "Obrigado gautchos, Porto Alegre, Brasil, oh yeah", e vamos de "Lady Madonna" para todo mundo seguir cantando e dançando como nos anos sessenta. Idosos, crianças, jovens, mulheres, homens, todos se abraçavam e vibravam no estádio, mas não era um gol, era um clássico do rock sendo interpretado pela lenda viva que o cômpos!


"Tudo bem com vocês?", "Yeaaaaaaah!", "Pra nós too!". Essa "pra nós too" foi sensacional, e então veio "Get Back". Aqui a marquise do Beira-Rio dançou junto com todo o estádio, e Paul saiu novamente junto com a banda.

Alguns minutos de "Paul, Paul, Paul" e ele volta apenas com o violão para interpretar "Yesterday". Se eu não tinha mais lágrimas, chorei suor e sangue, por que não dava para não chorar com essa letra fantástica, que poderia ter se chamado "ovos mexidos", e virou a música mais tocada e coverizada de todos os tempos. O arranjo orquestral feito pelos teclados, as estrelas, o público inteiro cantando, caraca, me arrepio só de lembrar. Sensacional!

A versão “U2ana” de "Helter Skelter" levantou até os cabelos do suvaco. O peso das guitarras e da bateria estouraram os ouvidos dos pagodeiros que foram para o estádio apenas por causa do nome RBS envolvido no espetáculo, bem como os funkeiros que tentavam dormir no Morro Santa Tereza (localizado ao lado do estádio Beira-Rio). Tenho certeza que até agora esses funkeiros estão se perguntando como pode ter trovejado tanto e não chovido! O longo solo de guitarra foi o feito que nos fez ver que aquilo não era nenhum DVD,ou CD com uns bonequinhos no palco. Aquilo era real!

Terminado "Helter Skelter", Paul apontou para o meu lado, e sei lá por que cantou "Happy Birthday to You" (vá saber quem estava de aniversário naquele lado do palco). Então, apontou para duas meninas que estavam com um cartaz dizendo "Paul, por favor, assine meu braço para eu fazer uma tatuagem". Paul fez a enquete se o público achava que ele deveria assinar o braço das gurias, e então como um bom comediante inglês falou que não seria uma falha dele fazer isso. Também brincou que tinha um cidadão dizendo que era baterista, mas que ele já tinha um baterista nessa turnê. Quem sabe na próxima!

Então as meninas subiram ao palco, e Paul fez elas se apresentarem. A primeira menina, Elisa, era de Porto Alegre, e a segunda, Annie (acho que é esse o nome da guria), de Florianópolis. Aqui o momento vergonhoso do público gaúcho: quando a menina falou Florianópolis metade do estádio vaiou. Uma vergonha! Apesar da rivalidade entre os estados, não precisava disso. Ainda bem que outros aplaudiram e o próprio Paul abraçou a menina e falou "não se preocupe, eu sou de Liverpool, c'mon". Paul assinou o braço das duas garotas, e ainda deu a palheta para Annie, num gesto que somente um lorde pode ter. Quero ver um Axl Rose da vida fazer algo assim!

Então, veio "Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band (Reprise)", e infelizmente tivemos que ir depois de 3 horas de show (incrível, mas foram mesmo três horas! O velhinho ainda detona!). Após a saída do estádio, entre abraços e beijos de felicitações dados pelas gurias da serra, comprei minha camisa do show (que no início estava 40 reais e veio para o meu peito por 15) e ainda recebi um jornal exclusivo do grupo RBS trazendo comentários do pré-show e do início da apresentação.




Podem falar o que quiserem, mas a RBS e o Inter souberam promover muito bem o show. Duvido que alguém tenha algo para falar em termos da produção. O show pode ter pecado na organização das filas, mas o som estava ótimo, assim como a organização dos bares, banheiros e segurança foi perfeita, mostrando claramente que mais shows de grande porte podem ser realizados no Beira-Rio.

Cheguei tarde em casa, embasbacado, com fome e sem a mínima noção de que tinha ficado mais de 15 horas sem comer ou beber nada. Na real, eu estava sendo alimentado por um mestre, que somente com sua música e carisma vai dando para diferentes gerações algo que poucos conseguem, que é a capacidade de expressar o que você está sentindo através da música.

E assim encerrou a temporada de shows 2010 para mim. Depois de Metallica, Focus, Guns N' Roses, Grande Mothers, Ney Matogrosso, Mutantes, UFO, ZZ Top, Ozzy Osbourne, Rush e Aerosmith, esse foi o show derradeiro de um ano muito especial!

Com certeza não foi o melhor show que eu já vi, tão pouco foi o mais surpreendente. Saí com a mesma opinião de antes (prefiro Wings do que Beatles, e Stones é muito melhor do que os dois juntos). Faltou a apresentação dos músicos. Faltaram “n” canções clássicas, mas, enfim, posso ser honesto o suficiente para admitir: foi o maior show de rock que o Rio Grande do Sul já viu!

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