terça-feira, 19 de abril de 2011

Discos que Parece que Só Eu Gosto: Emerson, Lake & Palmer – Love Beach [1978]



Por Mairon Machado (Publicado originalmente no blog Consultoria do Rock)

Entre os chamados Top 5 do rock progressivo britânico, King Crimson, Yes, Pink Floyd, Genesis e Emerson, Lake & Palmer, o grupo que menos chama a atenção para o bolha que vos escreve é o último. Reconheço todo o talento de Keith Emerson (teclados, sintetizadores), a capacidade vocal de Greg Lake (baixo, voz, guitarras) e claro, a competência e criatividade de um dos maiores bateristas da história, Carl Palmer, mas os discos do grupo não são os meus favoritos para ouvir diariamente.

Apesar de uma sequência sensacional que começou com Pictures at an Exhibition (1971) e terminou com Brain Salad Surgery (1973), sempre vejo o trio como uma mistura de egos muito maior que o Yes por exemplo, onde cada um dos membros tentava ser o maior entre o trio, com solos repletos de virtuosismo (ou melodia, como no caso de Lake) e diversos momentos de triunfo individual superando a qualidade do conjunto.

Mas não é um grupo para ser jogado fora, principalmente pela sequência de álbuns que citei acima. Depois de Brain Salad Surgery, o ELP fez uma longa turnê, que culminou com o excelente triplo ao vivo Welcome Back My Friends to the Show That Never Ends... Ladies and Gentlemen, Emerson, Lake & Palmer (1974), partindo para um longo período de férias.

Tour Book da "Works Tour"
No retorno, em 1977, lançaram os álbuns Works I Works II, voltando aos palcos, dessa vez em uma gigantesca e pomposa turnê ao lado de uma orquestra, que durou pouco tempo, já que os custos financeiros para manter os membros da orquestra, bem como a baixa venda de ingressos para os shows, que estavam em sua maioria programado para estádios de futebol, quase levaram o trio à falência. Além disso, o ELP era um dos principais grupos a serem taxados como "impróprios" pela efervescente cena punk que brotava dos muros ingleses e americanos.

Com a imagem desgastada, e esgotados também financeira e emocionalmente, Emerson, Lake e Palmer resolveram tirar férias no Caribe. Lá, chegaram a conclusão de que o trio não tinha mais por que existir. Mas exigências contratuais deixavam pendentes a gravação de mais um álbum de estúdio, bem como mais um disco ao vivo. 

In Concert foi lançado em 1979, trazendo a gravação do show no Olympic Stadium  de Montreal, em 26 de agosto de 1977, durante a "Works Tour". Antes, porém, o trio fez seu álbum de despedida, em uma espécie de "olhe o que nós fizemos nas férias", que não agradou aos novos fãs, aos velhos fãs e tampouco à gravadora e ao próprio trio.

Lançado em 18 de novembro de 1978, Love Beach é considerado por muitos a pior amostra da decadência do rock progressivo, sendo digno da medalha de lixo como o pior álbum da carreira do Emerson, Lake & Palmer e uma das maiores porcarias apresentadas ao público do rock em toda a história do gênero.

BALELA! BALELA PURA! Love Beach é um disco que mantém a mesma linha de composição de outros álbuns do grupo, como os próprios Works e também Tarkus (1972), porém privilegiando os momentos, digamos, "mais fracos" dos mesmos. Algumas diferenças são notáveis, como a maior inclusão da guitarra (principalmente no lado A) e a ausência de longos solos de teclados. Contudo, no geral, as composições soam como um álbum simples, sem esforços, mas que agrada em uma audição sem compromisso. Alguns malham o disco apenas olhando o nome das músicas, pois quatro das sete faixas parecem ser canções de amor, mas o LP está longe de possuir alguma balada melosa, no máximo uma ótima balada setentista, que é exatamente a melhor canção do LP.
Keith Emerson no estádio Olímpico de Montreal

Gravado nas Bahamas, o disco abre com "All I Want is You", onde Lake apresenta a canção com a guitarra, cantando as frases do refrão e tendo Palmer e Emerson fazendo intervenções para cada frase cantada por Lake, chegando então ao riff central de guitarra e moog, onde o ritmo marcial de Palmer leva a canção. O refrão é repetido, entrando na boa sessão central, com Palmer fazendo seus rolos e com Lake cantando muito bem.

A faixa-título vem na sequência, com baixo, bateria e guitarra seguindo os vocais de Lake em um rock anos 70, onde Palmer novamente chama a atenção por sua técnica, e com Emerson fazendo diversas notas no moog, além da investida AOR durante a ponte para o refrão, principalmente nas vocalizações que entoam o nome da canção.

"Taste of My Love" possui sintetizadores e guitarra no tema inicial, e a entrada de Palmer apresenta o riff da guitarra, para Lake cantar outra boa canção AOR, onde o moog de Emerson e o andamento de Palmer criam estruturas sombrias para a tradicional melodia vocal de Lake.

O blues de "The Gambler" apresenta uma linha vocal à la Jerry Lee Lewis, com direito a gaita de boca fazendo intervenções, com um ritmo dançante de baixo, guitarra e bateria. O solo, feito pelo moog valvulado, e as vocalizações femininas, são os principais destaques.

Chegamos na balada citada, "For You", com sintetizadores acompanhando o tema flamenco da guitarra, para que acordes de piano comandem o ritmo de Palmer. Lake sola na guitarra, soltando a voz, onde baixo e bateria parecem independentes da guitarra, que sola alucinada ao fundo. Grande trabalho instrumental/vocal para uma excelente faixa.

O lado A encerra com a recriação para a peça clássica "Canario (from Fantasia para un  Gentilhombre)" de Joaquin Rodrigo, onde o tema central da canção é repetido por diversos sintetizadores e teclados, além da guitarra, tendo sempre o andamento cavalgante e preciso de Lake e Palmer. Emerson dá show nos seus instrumentos. Essa pode ser considerada a canção mais fiel às composições do Emerson, Lake & Palmer do início de carreira, que abre espaço para a canção que está na outra face do vinil.
Love Beach autografado

A suíte "Memoirs of an Officer and a Gentleman" ocupa todo o lado B. Dividida em quatro partes, essa canção abre com "Prologue/The Education of a Gentleman", onde lentos acordes do piano acompanham a doce voz de Lake, lembrando muito a clássica "The Endless Enigma" (do álbum Trilogy, 1972). Sinos tubulares dão o sinal para a entrada de órgão, baixo e bateria, com o andamento quebrado de Lake e Palmer acompanhando a letra e as viagens de Emerson nos teclados.

"Love at First Sight" vem na sequência, com o dedilhado clássico do piano, na linha dos famosos "Piano Concerto" de Emerson, e com Lake soltando mais uma vez sua belíssima voz. Esse é o momento mais bonito da suíte, com Emerson solando ao piano, sempre no estilo clássico. O violão surge fazendo a melodia vocal, passando a acompanhar os acordes do piano em um bonito dedilhado. A voz de Lake aparece novamente, acompanhada por baixo, bateria e piano, até Lake e Emerson voltarem ao início dessa segunda parte, ficando ambos sozinhos, e começando "Letters from the Front".

Palmer faz o ritmo para Emerson soltar seus riffs no moog valvulado e no sintetizador. Posteriormente, chimbal e sintetizadores fazem a ponte para reproduzir o tema criado pelo moog valvulado. Lake segue a letra, com Palmer quebrando tudo ao fundo, entrando no tema central recheado de lisérgicos acordes de sintetizador. 

Por fim, "Honourable Company (A March)" encerra a suíte, com Emerson apresentando um tema marcial no sintetizador. Caixa e baixo fazem a marcha de guerra do nome da canção, enquanto o tema do sintetizador é repetido por diversos instrumentos, tendo também intervenções de sinos tubulares e de leves solos no baixo, deixando um gosto de quero mais para a suíte, que parece terminar do nada. 

Emerson, Lake e Palmer (1977)

Este foi o último álbum do ELP até Black Moon (1992), constituindo um fracasso de crítica e de vendas (em comparação a seus antecessores), chegando apenas na posição de número 55 da Billboard, o que mesmo assim lhe garantiu disco de ouro em 25 de janeiro de 79. Entre todas as críticas negativas, a que ficou mais célebre foi a do próprio Carl Palmer, que chamou o disco de "fiasco" e comparou a foto da capa com a fase disco dos Bee Gees.

No entanto, desde a primeira vez que ouvi o LP, gostei do que estava em seus sulcos. Não é um excelente disco, uma obra-prima essencial e nem de longe o melhor álbum do Emerson, Lake & Palmer, mas sim, um bom disco de rock, para ser ouvido sem preconceitos ou dedicada atenção, por exemplo, enquanto se escreve uma tese de doutorado (como foi meu caso em alguns dos longos dias dos últimos meses). Talvez, por isso mesmo, eu seja o único a gostar dele. Estou certo nisso?

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