A
sequência de Maravilhas Prog que o Pink Floyd criou a partir de "Atom
Heart Mother" é uma das raras oportunidades de conhecermos sobre o rock
progressivo. Em três álbuns seguidos, vieram pérolas que elucidam o que
há de melhor dentro do estilo, ou seja, "Atom Heart Mother" (do álbum de
mesmo nome, em 1970), "Echoes" (de Meddle, 1971) e "The Great Gig in the Sky" (de Dark Side of the Moon, em 1973).
Seria
o grupo capaz de manter a série? Óbvio que tratando-se de Roger Waters
(baixo, vocais, sintetizadores), David Gilmour (guitarra, vocais, baixo,
sintetizadores), Rick Wright (teclados, vocais, sintetizadores) e Nick
Mason (bateria, percussão) essa resposta é simples: SIM.
A
quarta Maravilha Prog em sequência veio em uma emocionante homenagem
para o fundador do grupo, o guitarrista Syd Barrett, e foi registrada no
álbum Wish You Were Here, lançado em 1975. Neste
disco, o grupo aprofundou ainda mais suas experimentações com
sintetizadores e vocalizações, as quais haviam começado em Dark Side of the Moon.
Com exceção da faixa-título, todas as demais canções contam com pelo
menos um sintetizador fazendo o solo principal, algo que não era comum
aos sons do Pink Floyd. Por conta disso, é notável a importância de
Wright para esse álbum especificamente, fato explicado por ele ser o
mais próximo a Barrett dentre os membros do Floyd. Outro detalhe
importante é que a partir dele, Waters praticamente abandona o baixo
durante as gravações, deixando para Gilmour executar as partes. Somente
na nossa Maravilha Prog que ele participa diretamente tocando o
instrumento, e em alguns momentos, ao lado de Gilmour.
A curiosidade maior nesse período é o fato de que nenhum dos membros da banda sabia se o grupo deveria seguir. Atingido o sucesso maior com as vendas de Dark Side of the Moon, todos estavam com muito dinheiro, carros, esposas maravilhosas e sem expectativa de se deveriam seguir ou não. Jovens, entre vinte e nove e trinta e dois anos, passaram por um doloroso processo de absorveção do sucesso, que culminou com vaias e críticas pesadas as novas apresentações do grupo, parte por que as canções eram muito diferentes do que já haviam sido feitas anteriormente (principalmente no experimentalismo eletrônico de Dark Side of the Moon), parte por que realmente, nenhum deles estava mais interessado em subir no palco. "O fim está próximo!", chegou a dizer Waters após um show em Wembley.
Isto frustrava bastante não só a gravadora Columbia, mas também o produtor Brian Humpries, e principalmente, a Waters. Muito do "domínio" que Waters veio a ter sobre o grupo posteriormente surgiu justamente por ele ter sido o que mais se empenhou para manter o nome do grupo na ativa após Dark Side of the Moon, com a companhia inseparável de Wright.
Lançado em setembro de 1975, Wish You Were Here rapidamente alcançou a primeira posição nos Estados Unidos e no Reino Unido, vendendo mais de vinte milhões de cópias ao redor do mundo, e abre exatamente com a nossa maravilha prog. Ela surgiu de uma simples sequência de apenas quatro notas na guitarra, criada por Gilmour, e que levou Waters a criar uma das mais belas letras que o rock progressivo forneceu em sua história. A ideia, era homagear Syd, o guitarrista fundador da banda que havia desaparecido tanto dos palcos como dos estúdios e da vida dos ex-colegas de banda. Depois de sair do Floyd, em 1968 Syd registrou Madcap Laughs e Barrett, ambos em 1970, e depois, literalmente sumiu do mapa.
Roger Waters, Nick Mason, Rick Wright e David Gilmour, em 1975
Mas antes de chegarmos a ela, contamos um pouco da história por detrás de Wish You Were Here.
Concebido como um disco em homenagem à Syd Barrett (que já havia sido
homenageado com "Brain Damage", em Dark Side of the Moon), o álbum
começou a ser gravado no início de 1974, nos estúdios King's Cross, em
Londres. Na turnê que o grupo fez nesse mesmo ano 1974, antes do
lançamento do novo álbum, algumas canções inéditas começaram a aparecer,
e o público começou a se deparar com um novo Pink Floyd em cima do
palco, muito mais concentrado em tocar do que em encantar com luzes ou
algo do gênero.A curiosidade maior nesse período é o fato de que nenhum dos membros da banda sabia se o grupo deveria seguir. Atingido o sucesso maior com as vendas de Dark Side of the Moon, todos estavam com muito dinheiro, carros, esposas maravilhosas e sem expectativa de se deveriam seguir ou não. Jovens, entre vinte e nove e trinta e dois anos, passaram por um doloroso processo de absorveção do sucesso, que culminou com vaias e críticas pesadas as novas apresentações do grupo, parte por que as canções eram muito diferentes do que já haviam sido feitas anteriormente (principalmente no experimentalismo eletrônico de Dark Side of the Moon), parte por que realmente, nenhum deles estava mais interessado em subir no palco. "O fim está próximo!", chegou a dizer Waters após um show em Wembley.
Yoga no lago Mono, ilustrando encarte de Wish You Were Here
Um
ano depois do início das gravações, em meados de janeiro de 1975,
novamente voltam a se reunir, agora nos estúdios da Abbey Road, e o que
se viu nos palcos foi visto nos estúdios. Praticamente, os únicos
interessados eram Wright e Waters, com Mason e Gilmour ficando dias sem
aparecer, passando o final de semana com a família ou dedicando-se a uma
nova paixão: o squash.Isto frustrava bastante não só a gravadora Columbia, mas também o produtor Brian Humpries, e principalmente, a Waters. Muito do "domínio" que Waters veio a ter sobre o grupo posteriormente surgiu justamente por ele ter sido o que mais se empenhou para manter o nome do grupo na ativa após Dark Side of the Moon, com a companhia inseparável de Wright.
Lançado em setembro de 1975, Wish You Were Here rapidamente alcançou a primeira posição nos Estados Unidos e no Reino Unido, vendendo mais de vinte milhões de cópias ao redor do mundo, e abre exatamente com a nossa maravilha prog. Ela surgiu de uma simples sequência de apenas quatro notas na guitarra, criada por Gilmour, e que levou Waters a criar uma das mais belas letras que o rock progressivo forneceu em sua história. A ideia, era homagear Syd, o guitarrista fundador da banda que havia desaparecido tanto dos palcos como dos estúdios e da vida dos ex-colegas de banda. Depois de sair do Floyd, em 1968 Syd registrou Madcap Laughs e Barrett, ambos em 1970, e depois, literalmente sumiu do mapa.
Pink Floyd on the sand
Batizada
de "Shine On You Crazy Diamond", esta é a maior suíte do Pink Floyd,
com mais de vinte e seis minutos de duração. Na letra, Waters exala toda
a sua admiração pelo guitarrista, além também de uma profunda tristeza
por não ter a presença do amigo ao seu lado. Projetada inicialmente para
ocupar todo o Lado A do álbum, ela acabou sendo dividida, e ficou
ocupando os sulcos do vinil tanto no início do Lado A quanto no
encerramento do Lado B.
Nossa
maravilha surge melancólicamente, com um longo acorde em Gm feito pelos
sintetizadores. Sobre esse longo acorde, Wright executa tímidas notas
com o sintetizador ARP String, que se tornaria marcante nesse e no álbum
seguinte do Pink Floyd. Após essas tímidas notas, ainda sob o efeito do
longo Gm, Gilmour passa a solar angelicamente, e então, os acordes dos
sintetizadores alternam-se, ao mesmo tempo que Gilmour continua fazendo
um dos solos mais belos de sua carreira.
A
parte II inicia com o mesmo longo acorde em Gm, enquanto Gilmour
executa apenas quatro notas na guitarra, que se tornaram épicas,
símbolos de um dos mais importantes riffs do rock progressivo (assim
como é o de "Smoke on the Water" do Deep Purple ou o de "Paranoid" do
Black Sabbath). Mason surge, trazendo o baixo e o órgão hammond, e as
notas da guitarra vão construindo o andamento da canção. Somos então
apresentados ao tema básico de "Shine On You Crazy Diamond", um leve e
emocionante blues, criado pelas quatro notas da guitarra, o
acompanhamento do órgão, baixo e bateria, e em cima dele, Gilmour
desfila seus dedos suavemente, sem virtuosismo, apenas extraindo das
cordas da guitarra o mais doce dos solos que pode ser executado por suas
mãos.
Carlena Williams e Venetta Fields
O
solo ganha vibratos, uma leve distorção, pequenas variações com a
alavanca, e somos levados ao maravilhoso solo de Wright com o ARP
String, que abre a terceira parte de "Shine On You Crazy Diamond". É de
chorar essa introdução. As notas de Wright, de tão simples, parecem
serem enviadas por um Deus que criou tal melodia, e junto com o
acompanhamento bluesístico, facilmente somos embriagados pelos ouvidos.
Por
fim, Gilmour retorna, fazendo um solo um pouco mais vigoroso, abusando
dos bends, mas ainda assim, muito suave, encerrando a terceira parte da
canção.
Waters começa a cantar a famosa frase "Remember when you're young you shone like the sun. Now there's a look in your eyes like black hole sin the sky",
abrindo a quarta parte da suíte, que narra momentos do passado e do
presente de Barrett. O andamento bluesy continua, e aqui, o grande
destaque é o sensacional arranjo vocal entoando o nome da canção, que
conta com a colaboração de Carlena Williams e Venetta Fields.
Gilmour
executa um breve solo baseado em cima de um tema elaborado por
guitarra, baixo e órgão, e a letra continua, contando sobre os delírios
de Barrett, e novamente, arrepios brotam naturalmente de seu corpo
devido as maravilhosas vocalizações.
Dick Parry
O
solo de Dick Parry no saxofone é a principal atração da quinta parte,
começando lentamente com o sax soprano, tendo apenas o andamento bluesy
ao fundo e um espetacular dedilhado de Gilmour. Mason pouco a pouco
aumenta o ritmo da canção, e então o solo explode em um estupefante
grave do saxofone tenor, com baixo e bateria fazendo a marcação
cavalgante enquanto Gilmour dedilha sua guitarra, encerrando apenas com
um longo acorde de sintetizador e Parry fazendo estripulias no saxofone,
quase que em um free jazz.
O
álbum aqui entra em "Welcome to the Machine", que encerra o lado A com
uma bela composição misturando violões e sintetizadores, destacando a
introdução elaborada por Waters, sobrepondo diversos sintetizadores com
diferentes ruídos, criando um clima futurista muito viajante. O Lado B
abre com a pesada "Have a Cigar" (cantada por Roy Harper, criticando
fortemente a indústria fonográfica da época e que é um embrião do que
viria a se tornar o projeto The Wall), a clássica "Wish You Were Here", e
então, voltamos à nossa Maravilha Prog, com ventos abrindo a sexta
parte da suíte após o final da faixa-título.
A
marcação do baixo de Gilmour aparece, trazendo o baixo de Waters em um
tom mais grave, e camadas de sintetizadores ao fundo. Guitarra e bateria
entram, abrindo espaço para Wright solar com o ARP String, abusando de
efeitos no mesmo. O andamento é lento, quase em um clima de filme
científico, com muitas camadas de sintetizadores, mas aos poucos, vamos
reconhecendo a melodia central de "Shine On You Crazy Diamond".
Gilmour
passa a solar no slide, e o ritmo aumenta, voltando a ser o mesmo do
final da Parte V. Os uivos da slide guitar são impressionantes,
remetendo-nos claramente a "One of These Days", e Mason manda ver nos
pratos e na caixa, além do baixão de Waters retumbar pelo recinto.
O quarteto, sentindo o brilho do sol
Repentinamente, a guitarra então retorna com o tema central, entrando na Parte VII, que encerra a letra da suíte, dizendo "Nobody knows where you are how near or how far" e dizendo dos sentimentos e da falta que Barrett está fazendo aos amigos, na mesma melodia que ouvimos na Parte IV, com as mesma vocalizações.
Encerrada a
letra, chegamos na Parte VIII, a qual começa com o dedilhado da
guitarra, o mesmo que aparece no início da Parte V, e vira um delicioso
funk, contando com Waters na guitarra, e Wright soltando-se nos
estúdios, brincando no órgão com um belo solo, delirando com o moog e
soltando a mão nos sintetizadores, enquanto o funk pega ao fundo.
Levemente,
chegamos na última parte de "Shine On You Crazy Diamond", com as
camadas de sintetizadores sendo ouvidas por mais de três minutos. Quem
comanda as ações aqui é apenas Wright, solando com o moog, cativando com
os acordes do piano e viajando nas longas notas do sintetizador. Claro
que o divino acompanhamento de baixo e bateria auxiliam ainda mais na
pesada dose emocional exalada pelos poros do vinil nesses últimos três
minutos do álbum, mas é Wright o responsável por arrancar suas lágrimas,
fazendo o moog chorar palavras divinas, que nenhum ser-humano
conseguiria reproduzir, encerrando essa Maravilhosa canção com um longo
acorde do sintetizador, e as notas do moog saltitando alegremente por
nossas caixas de som.
Syd Barrett, em junho de 1975
Para
completar, vale lembrar a famosa visita de Syd aos estúdios Abbey Road
durante a gravação de Wish You Were Here. Durante três dias de agosto de
1974, Syd tentou inultimente gravar material para um novo álbum, ao
lado do produtor Peter Jenner e também como auxílio de Gilmour. Foram
momentos tensos, nos quais Syd estava muito obeso e com uma longa barba.
Daquele dia em diante, ninguém sabia do paradeiro do guitarrista.
Até
que chegou o dia 5 de junho de 1975, dia esqte no qual Waters e cia.
estavam concluindo a mixagem de "Shine On You Crazy Diamond". Eis que
eles receberam uma visita mais do que inesperada. O primeiro a ver o
cidadão foi Mason, que olhou para a pessoa, gorda e careca, e não teve
nem ideia de quem era. Os outros começaram a chegar, e apesar de
perceber a presença do cidadão entre os aparelhos de estúdio, ninguém
fez questão de saber quem era o mesmo.
Foi
então que, depois de muito tempo, Waters perguntou a Nick: "Você o
reconhece?". Mason não reconheceu, e Waters então disse: "É Syd!". Todo o
trabalho parou com aquela frase. Traumatizados, membros e produtores
sentaram e ficaram admirando a figura gorda e pálida de Syd, que em nada
lembrava o jovem conquistador de garotas do início do Pink Floyd.
Waters e Gilmour cairam em prantos, e dirigiram--se ao amigo com medo e
tristeza. Esta foi a última vez que Syd foi visto pelo quarteto.
O pacote externo de Wish You Were Here
Outro
ponto a se destacar é sobre a capa do álbum. As figuras apertando as
mãos são pessoais reais, e a foto foi feita em um estúdio da Warner
Bros., em Hollywood. Ronnie Rondell e Danny Rogers foram os atores da
foto, sendo que Rondell é o rapaz loiro no qual foi ateado fogo. Foram
quinze sessões de "ateamento de fogo", até que a imagem fosse obtida.
Mas, para surpresa geral da gravadora, a foto da capa só viria a
aparecer após o fã abrir um pacote especial feito para o álbum, na qual
uma pequena etiqueta com o nome do álbum e da banda era estampada sobre
um fundo totalmente preto. Essa versão inicial é muito rara, assim como
rara é a beleza de nossa Maravilha Prog, a qual não foi a última
elaborada pelo Pink Floyd.
Apesar
de a partir de aqui o quarteto ter entrado em crise, a sequência não
parou, como veremos em quinze dias, com a épica e maravilhosa "Dogs".
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