Por Diogo Bizotto
Com Adriano KCarão, Bernardo Brum, Bruno Marise, Davi Pascale, Eudes Baima, Fernando Bueno, José Leonardo Aronna, Leonardo Castro e Mairon Machado
Participação especial de Igor Miranda, redator do site Revista Cifras, repórter do jornal Correio de Uberlândia e editor do próprio site
A edição dedicada a 1978 desta série revelou uma lista de dez álbuns bastante questionada nos comentários dos próprios colaboradores, apresentando grandes surpresas e escolhas que, admitamos, não foram tão representativas do ano, apesar das qualidades de cada disco. Esse fato, porém, não desvaloriza o resultado, cujas diferenças em relação ao que se espera normalmente de uma empreitada dessas ajuda a manter o interesse dos leitores e os questionamentos em alta, que também são o motor da série. A lista referente a 1979, por sua vez, caminha sobre um trajeto mais seguro, alinhado com os rumos que a música popular estava tomando no ano, vide a presença de grandes sucessos de artistas como Michael Jackson, AC/DC, The Clash, Supertramp, Van Halen e Kiss, além, é claro, do grande vencedor da vez, o Pink Floyd, novamente ocupando a posição de maior destaque, como já fez na edição referente a 1973, desta vez com a grande obra conceitual concebida por Roger Waters, The Wall. Lembramos que o critério para elaborar nossa listagem final, baseada nas listas individuais, que podem ser conferidas no final da publicação, segue a pontuação do Campeonato Mundial de Fórmula 1. Além disso, damos prosseguimento à metodologia adotada desde a edição da série dedicada a 1977: revelar aos participantes a lista com os dez álbuns mais votados – a fim de coletar seus comentários – em ordem alfabética, e não seguindo sua ordem de pontuação, do primeiro ao décimo, como costumava ocorrer anteriormente. A única exceção foi o primeiro colocado.
Pink Floyd – The Wall (120 pontos)
Adriano: Esperada e merecida primeira posição. Embora o grupo já tenha aparecido aqui várias vezes, inclusive encabeçando a lista de 1973, não considero isso uma repetição desnecessária. Tendo já trilhado caminhos mais ou menos comerciais, indo da psicodelia ao progressivo espacial, aqui a banda apresenta um som bem diferente, acolhendo novas influências. Podemos notar a temática próxima ao punk, sonoridades dançantes, como no bom hit “Another Brick in the Wall, Pt. II”, na fraca “Run Like Hell” e na perfeita “One of My Turns”, a atmosfera sombria de “Goodbye Blue Sky” e “Don’t Leave Me Now”, a urgência hardeira de “Young Lust”, mas também faixas com um pé no progressivo, mas com forte apelo comercial, como as fenomenais “Mother”, “Hey You” e “Comfortably Numb”. Além disso, o gênio de Roger Waters nos brinda ainda com várias peças teatralescas, todas ótimas, mas das quais destaco a mais do que comovente “The Trial”, composta com Bob Ezrin. Embora o disco autointitulado do Can seja um absurdo de tão bom, toda essa variedade e a habilidade em manter o nível em um disco duplo me fizeram pôr The Wall como primeiro na minha lista. Clássico!
Bernardo: O disco no qual o Pink Floyd rivalizou com Tommy (1969), do The Who. A história de um homem alienado pelos próprios traumas, metaforizado pela figura da “parede” que então rachava ideologicamente o mundo em dois – que é o caso do protagonista “Pink”, perdido em relações instáveis, vício em drogas e surtos violentos. Marco geracional, The Wall trata do difícil tema de relacionar o mundo íntimo com o mundo exterior de forma brilhante, no rebelde e inflamado grito de protesto “Another Brick on The Wall, Pt. II”, acusando em sua batida marcial o sistema de ensino a amedrontar e controlar as crianças, “Mother” e seu ritmo letárgico e a beleza doída de “Comfortably Numb”, balada sobre alienação com clima “aéreo e espacial” pontuado por belos solos. Um álbum extenso que ainda hoje vale a pena a audição inteira cada uma das vezes; a força do seu conteúdo lírico somada ao aspecto visual e performático transformou The Wall, ainda que não seja a obra-prima definitiva do Floyd, naquele que é talvez o clássico mais relevante da banda.
Bruno: Meu disco preferido do Pink Floyd sequer entrou na minha lista, mas eu já esperava que ele ficasse no topo devido ao perfil dos meus colegas aqui do site. É conhecido por ter Roger Waters nas rédeas e alguns dos maiores hits da banda. Gosto dele por ser mais direto, um rock de arena competente e muito bem composto. É um álbum feito pra ser ouvido na sequência, e talvez as suas faixas em separado não funcionem tão bem.
Davi: Um dos meus álbuns preferidos do Pink Floyd, ao lado dos não menos brilhantesThe Dark Side of the Moon (1973) e Wish You Were Here (1975). Embora o projeto nasça da mente do Roger Waters, o que mais me chama a atenção no LP é a guitarra de David Gilmour. Esse cara tem um bom gosto para criar arranjos que chega a ser inacreditável. Trabalho extremamente inteligente e muito bem elaborado. Grande álbum!
Diogo: Hoje em dia posso até admitir que o Pink Floyd tem álbuns melhores que The Wall, mais concisos e musicalmente mais desafiadores. Isso não muda, porém, o fato deste continuar sendo meu preferido. A obra máxima de Roger Waters, meu integrante favorito, pode até ser longa e ter alguns (poucos) momentos menos inspirados (“Don’t Leave Me Now”, “Nobody Home”, “Vera”), mas as canções de destaque são extasiantes, e o conceito por trás do disco funciona e não é hermético, gerando uma sensação de proximidade e entendimento que ajuda a atrair ainda mais a atenção para tão valorosa obra. David Gilmour, apesar da contribuição menor nas composições, entrega uma performance de primeira cantando e tocando guitarra (preciso mencionar o solo perfeito da mais que perfeita “Comfortably Numb”? Bom, agora já citei). Não entrarei em detalhes, pois explicar as qualidades e as sensações provocadas por músicas como “In the Flesh” (as duas), “Mother”, “Hey You”, “Comfortably Numb” e “Run Like Hell”, apenas para citar minhas favoritas, exigiria demais de minha capacidade argumentativa em um momento em que ainda tenho que escrever a respeito de vários outros discos. O Pink Floyd transcendeu o prog e criou uma obra única, acima de gêneros. Bem, talvez The Wall ainda seja sim o melhor álbum da banda…
Eudes: Não entendo direito, mas não sou doido para não reconhecer a importância e a a influência deste disco. Não entendo porque, para meu gosto, entre os álbuns clássicos da banda, este ocupa posição bem modesta (claro, excluo da discografia clássica tudo que veio depois dele). Talvez seja melhor do que More (1969), que, afinal, era uma trilha sonora, com as limitações do formato, e do que o errático disco de estúdio do duplo Ummagumma (1969). Mas é só. E, vem cá, não tem boas canções no álbum? Tem, claro, mas não dão o tom da obra, cuja marca mesmo é a introdução do estilo expressionista de Roger Water que substitui o jogo de sutilezas e intensidades que caracterizavam a banda. Não dá para não ter na estante como obra de referência, mas no toca discos mesmo prefiro tudo que veio antes.
Fernando: Não sei como as pessoas que tiveram contato com este disco em 1979 o absorveram. Eu, como muitos dos leitores daqui, o conheci quando o filme já havia sido lançado, então não consigo dissociar uma coisa da outra. Desse modo, o impacto que este disco teve em mim foi muito grande. Foi um dos primeiros cuja mensagem entendi, ou pelo menos boa parte dela. Este foi, durante um bom tempo, o meu preferido do Floyd, até que ouvi atentamente todos os álbuns. Diante de tudo isso, acho merecida esta primeira colocação.
Igor: Admito que não coloquei este disco na minha lista porque não sou grande fã de Pink Floyd. Mas trata-se de uma obra-prima propriamente dita. Ao meu ver de admirador distante do Floyd (só gosto de algumas coisas), The Wall supera The Dark Side of the Moon em maturidade, conceito e inventividade. Não à toa, a banda sobreviveu ao emergente movimento punk, enquanto semelhantes caíram em termos de popularidade.
José Leonardo: Seus detratores podem falar o que quiserem: chato, sem inspiração, depressivo, pretensioso, irritante, egocêntrico, paranoico etc. Mas não adianta! Não consigo deixar de curtir este disco. Claro que isso tem um quesito sentimental, pois foi o primeiro álbum do Pink Floyd que comprei à época de seu lançamento. E, obviamente, reconheço que não chega ao brilhantismo de The Dark Side of the Moon e de Wish You Were Here, verdadeiras obras-primas do rock. Lançado originalmente em 1979, sob concepção quase ditatorial do baixista Roger Waters e com a mínima participação de Richard Wright, que foi despedido durante as sessões de gravação (e depois contratado como músico de apoio na respectiva turnê), The Wall se tornou um dos discos duplos mais vendidos na história da indústria fonográfica. O álbum traz, talvez, um dos temas mais conhecidos de todos os tempos, o isolamento pessoal e a raiva, simbolizada pelo personagem Pink (o próprio Waters), que cria um muro ao seu redor para se proteger e fugir de seus traumas. Não vou ficar aqui “chovendo no molhado”, pois muito já foi comentado sobre este disco, apenas ressalto que só a presença de “Comfortably Numb”, com um dos melhores solos de David Gilmour, já vale o álbum. Aliás, diga-se de passgem, Gilmour brilha neste disco. Um ponto negativo é a ficha técnica, que não informa a relação de alguns músicos convidados, a saber, Jeff Porcaro, Lee Ritenour e Fred Mandel, entre outros.
Leonardo: Não sou o maior fã de Pink Floyd do mundo, e como acontece com praticamente todos os discos da banda, acho impossível ouvir The Wall do início ao fim sem pegar no sono. Ainda assim, uma das melhores músicas da carreira do grupo está neste álbum, “Comfortably Numb”. De qualquer forma, esta é só a minha opinião, e os milhares de pessoas que consideram-no uma obra-prima não podem ser ignorados.
Mairon: The Wall entre os dez melhores de 1979 não é nenhuma novidade, e estar em primeiro lugar tampouco. Afinal, o último – para muitos – disco do Pink Floyd é daquelas obras-primas que a música pariu, e, nesse caso, que a mente conturbada de Roger Waters escreveu com maestria para o mundo. Já “desvendei” a história do álbum junto com o colega Micael Machado aqui e o que posso acrescentar é que, apesar deThe Wall não ser um dos meus favoritos na carreira do Floyd, é um disco obrigatório. Não adianta o fulaninho ficar concentrado nos dois principais clássicos (“Another Brick in the Wall, Pt. II” e “Comfortably Numb”), ele tem que passar pelos 80 minutos do disco e sentir a história do astro de rock que se revolta contra tudo e contra todos e acaba enlouquecendo com isso. Ao lado de Tommy (1969), do The Who, é a principal ópera rock da história. Sua turnê, infelizmente, levou ao final de uma das principais formações da história da música: Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Rick Wright.
AC/DC – Highway to Hell (94 pontos)
Adriano: A voz de Bon Scott não me agrada, e o AC/DC não tem muitos atrativos melódicos ou instrumentais pra mim, então, apesar de já ter ouvido algumas vezes todos os discos dessa fase, não sou expert na banda. Mas o que me parece é queHighway to Hell, embora seja talvez o melhor disco deles até então, não apresenta nenhuma novidade no que eles vinham fazendo, isto é, uma música bem fraquinha. Talvez, no entanto, justamente por ser um disco fraco, ele represente bem o rock feito nesse ano.
Bernardo: A banda dos irmãos Young é uma potência que surgiu na década de 1970 para competir com bandas como o Kiss e o Van Halen na missão de tocar um som rápido, pesado e divertido. E o canto de cisne de Bon Scott marcou época emHighway to Hell, cuja faixa-título, que abre o disco, é presença obrigatória em qualquer show da banda, com seu riff contagiante, refrão explosivo e letra fanfarrona. Fora isso, “If You Want Blood (You’ve Got It)” e “Night Prowler” são outros momentos dignos de nota.
Bruno: Dizem que o AC/DC fez o mesmo disco durante quase 40 anos. Pode até ser, mas, pelo menos até Back in Black (1980), todos são maravilhosos. E se é pra entrar um na lista, que seja este. O produtor “Mutt” Lange conseguiu dar uma polida e um direcionamento interessante para o hard blues sujo dos australianos, deixando o som mais direto e mais redondinho. Disco pra ouvir do começo ao fim sem medo. Infelizmente, o último com o mestre Bon Scott. No mínimo um testamento de respeito.
Davi: Grande álbum dessa banda australiana. Ao lado de Powerage (1978), é meu favorito da fase Bon Scott. AC/DC nunca foi de ficar inventando moda nos seus discos. Sempre mantiveram sua identidade intacta. Riffs impactantes, baixo pulsante, bateria reta e vocal único. É isso que se espera quando o nome do grupo é citado. E é isso que nos entregam neste play. Clássicos como “Girls Got Rhythm”, “Walk All Over Your” e “Shot Down in Flames” são daqui. Essencial!
Diogo: Ao contrário de meio mundo, não sou fã do AC/DC. Na verdade, sequer sou um admirador eventual, tanto que costumo chamá-lo de “a maior banda superestimada de todos os tempos”. Isso não me impede, porém, de admitir quando os caras dão bola dentro, e Highway to Hell certamente é uma delas, pois o disco todo mantém um nível geral satisfatório e constitui uma audição agradável, especialmente se estamos falando de músicas como “Girls Got Rhythm”, “Touch Too Much” e da minha provável favorita, “Night Prowler”. Apesar disso, prefiro seu antecessor, Powerage, um disco mais variado em meio à linearidade consideravelmente previsível do AC/DC.
Eudes: O AC/DC é, ao lado dos Ramones, das coisas mais divertidas que o rock pariu nos anos 1970. Riffs bacanudos, melodias básicas mas inspiradas, peso instrumental e o compromisso com a dança que, afinal, sempre foi o leitmotiv do rock ‘n’ roll, uma música sobre sexo, como se sabe. Este disco é ótimo, com a consagrada canção-título e uma penca daquele mais do mesmo que todos esperamos. Mas o escolhido para esta lista poderia ser qualquer um de seus discos desse período. De minha parte, vou esperar pela edição de 1980 para cravar o AC/DC. Ah, a capa é uma das melhores deste rock de meu deus.
Fernando: Aqui o AC/DC começou a ficar enorme. Com a produção de “Mutt” Lange, a banda ajustou seu som e produziu um clássico. As sacanas “Girls Got Rhythm” e “Touch Too Much”, juntamente com a faixa-título, são os maiores destaques de um disco que ainda contém outras ótimas músicas. Pena que Bon Scott não teve muito tempo para desfrutar o sucesso deste disco.
Igor: Tudo estava muito extremista em 1979. A disco music vivia um momento apoteótico e até mesmo algumas bandas de rock foram “infectadas” pela tendência. Por outro lado, o punk rock emergia. Juntamente do Van Halen, o AC/DC se responsabilizou por colocar ordem na casa. Os australianos vinham em uma crescente até o divisor de águas Highway to Hell. A partir daqui, o AC/DC entrou para a história. E nem mesmo a infeliz morte do vocalista Bon Scott poderia atrapalhar a trajetória impecável do grupo.
José Leonardo: Simplesmente um disco perfeito. Uma das obras primas do hard rock setentista, na qual Bon Scott tinha ainda muito a dar, se não fosse a sua morte ocorrida pouco tempo depois do lançamento deste álbum. Não existe nenhuma canção supérflua, é difícil dizer qual é a melhor. Também na lista de melhores discos do hard rock.
Leonardo: Apesar de o AC/DC vir de dois discos de estúdio e um ao vivo espetaculares, Highway to Hell ultrapassou em tudo seus antecessores. As composições inspiradas, riffs certeiros e solos memoráveis do grupo ficaram ainda mais marcantes com a produção de Robert “Mutt” Lange, o que levou a banda a um novo patamar. O nível do disco é todo muito alto, mas é impossível não destacar a espetacular faixa-título e “Touch Too Much”, que tem toda a malícia que o saudoso Bon Scott imprimia em suas composições.
Mairon: Infelizmente, este é o último álbum do AC/DC a contar com a voz de Bon Scott, que faleceu pouco depois de seu lançamento. É um grande disco, destacando sem dúvidas a faixa-título, um dos principais hinos do rock ‘n’ roll. O que mais me chama a atenção é o crescendo de Angus Young nas guitarras. Seus solos estão cada vez mais energéticos. Em comparação aos discos anteriores do AC/DC, considero este o mais redondinho, com todas as canções no mesmo nível. Ouçam “Night Prowler”, “Girls Got Rhythm”, “Shot Down in Flames” e “If You Want Blod (You’ve Got It)” e garanta a festa com uma das bandas mais animadas da história, e que, ainda bem, conseguiu superar a perda de seu vocalista, tornando-se um gigante em 1980.
The Clash – London Calling (84 pontos)
Adriano: Melhor disco de punk que já pude ouvir! Mas este não é apenas um disco de punk. Além de influências diversas, que vão do soft jazz ao funk, o álbum é fortemente marcado por uma sonoridade ska/reggae, que gera momentos lindos como a versão de “Revolution Rock” (de Danny Ray and the Revolutionaries) e a espetacular “Rudie Can’t Fail”. Destaco a clássica faixa-título, que abre o disco de forma imponente e arrebatadora, mas também a minha faixa preferida da banda, a subestimada “Hateful”, um quase-skiffle que aparentemente fala da “relação” entre um usuário de drogas e seu traficante. Mas boas composições aqui não faltam: embora seja duplo, o disco não apresenta pontos baixos. Posso destacar ainda, no entanto, as ótimas “Brand New Cadillac” (cover de Vince Taylor), “Spanish Bombs”, “Clampdown”, “Death or Glory” e “Card Cheat”.
Bernardo: Um dos discos centrais da música das últimas décadas. Junto com outros artistas, o Clash criou a world music, a música do mundo, em que o punk rock da banda praticado com excelência no álbum homônimo (1977) e Give ‘Em Enough Rope (1978) alcança um nível acima, sendo cruzado com reggae, rockabilly, ska e r ‘n’ b. E tome-lhe um álbum de dezenove músicas no qual tudo é obrigatório, como a marcada faixa-título de abertura, o ritmo alucinado de “Brand New Cadillac”, “Spanish Bombs” e seu ritmo “uptempo” para falar de um período negro da história, a Espanha fascista, e os refrãos explosivos de “Clampdown” e “Death or Glory”. Paul Simonon, estrela de uma das capas mais célebres do rock, na qual, circundado pelo logotipo que imita o LP de estreia de Elvis Presley esmagando seu baixo contra o chão, deixa sua marca nos reggaes “Jimmy Jazz” e “The Guns of Brixton”, em que seu groove é uma peça fundamental para criar o ritmo contagiante e estilisticamente repetido e hipnótico. E há também a pulsão frenética e marcada de “The Right Profile” e “Lost in the Supermarket”, na qual Mick Jones canta a letra de Joe Strummer em que se usa uma memória autobiográfica para poder falar do consumismo crescente. O encerramento é com outro auge do disco, “Train in Vain”, canção de amor de um disco essencialmente político, versão ríspida e pesada da banda do rock inglês sessentista. E pensar que tudo ficaria ainda mais radical com Sandinista! (1980)… Mas aqui a história já estava mudada para sempre.
Bruno: Muito já foi dito sobre London Calling: “Obra-prima, melhor trabalho do Clash, mistura perfeita de punk, ska, reggae, new wave e pop, disco revolucionário”. Sim, ele é tudo isso, mas basta dizer que é um álbum de composições impecáveis. Só sendo muito bem escrito pra um play de 19 faixas te segurar até o final.
Davi: Belíssimo disco. Em seu terceiro trabalho, o grupo de Joe Strummer ia mais além e misturava influências de diversos estilos na sua sonoridade punk. Tal atitude faz com que o Clash se destacasse das demais bandas e ganhasse respeito não apenas dos críticos, mas de diversos músicos ao longo dos anos. Recheado de clássicos, como “The Guns of Brixton”, “London Calling” e “Train in Vain”, torna-se aquisição essencial na coleção de qualquer fã de rock que se preze. Clássico!
Diogo: Give ‘Em Enough Rope já havia representado um avanço para o Clash, mas nada que sequer indicasse o quanto a banda cresceria no formidável London Calling, um verdadeiro compêndio de muito daquilo que o rock havia consolidado nas duas décadas antecedentes. Mais impressionante que unir tantos subgêneros é a qualidade apresentada ao longo de todo o extenso álbum, minado de composições que só melhoram a cada audição. Prova disso é que, mesmo em se tratando de estilos com os quais não tenho grande paciência, como o reggae e o ska, o Clash é certeiro, vide “Rudie Can’t Fail”, “Revolution Rock” e a peculiar “The Guns of Brixton”, com os vocais displicentes do baixista Paul Simonon. A versatilidade dos músicos, aliás, é pra derrubar a repetitiva ladainha sobre integrantes de bandas punk (não que o Clash tenha sido exclusivamente punk algum dia) serem incompetentes em seus instrumentos. No mais, são tantos destaques que fica difícil enumerar favoritas, mas ressalto em especial “Train in Vain”, melhor mostra que, acima de tudo, a banda tinha sensibilidade pop de sobra.
Eudes: Como documento de uma época, ou como crítica desabusada da era que pariria Meg Thatcher, o disco não poderia faltar nesta lista. Não me entusiasma musicalmente, mas é inegável que faixas como “The Guns of Brixton”, “Rudie Can’t Fail”. “Wrong ‘Em Boyo”, o rock cinquentista “Brand New Cadillac” e a famosa “Jimmy Jazz” têm seu lugar na história do rock. Tem sentido esta indicação.
Fernando: Não é minha praia, apesar de reconhecer o valor deste disco para o rock como um todo. Chama atenção também o fato de ser um álbum duplo. Que outra banda de punk conseguiu fazer isso? As duas músicas, e talvez únicas, que mais gosto da banda não estão neste disco. Por fim, a curiosidade é da capa ter sido inspirada em um disco do Elvis Presley.
Igor: Nome mais leve do punk rock entre os maiores, o The Clash precisava de mais identidade em seu terceiro disco. O debut foi mais genuíno, mas ainda parecia forçado a se atrelar ao movimento da época. O sucessor, Give ‘Em Enough Rope, trouxe algumas diferenças que serviram para emplacar a banda nos Estados Unidos. Garantidos em termos de repercussão, os músicos presentearam o mundo comLondon Calling. Está longe de ser um de meus discos de cabeceira, mas é um trabalho convincente, especialmente por dar versatilidade ao punk rock do grupo, com flertes legítimos com o rockabilly e o r ‘n’ b.
José Leonardo: Não curto The Clash. Já peguei emprestado este disco nos anos 1980 e não me chamou a atenção. Fui ouvir de novo e continuo tendo a mesma opinião!
Leonardo: Misturando punk, hard rock, ska e diversos outros estilos musicais, o The Clash conseguiu compor um disco homogêneo e forte, ainda que um pouco longo demais. Mas não há como negar a força de faixas como “London Calling”, “Clampdown,” e “The Guns of Brixton”.
Mairon: Meu 11º colocado, e por muito pouco que não entrou. Tenho grande simpatia pelos discos do The Clash, principalmente este belíssimo álbum duplo. Para mim, é o melhor disco punk em todos os tempos. Os vocais de Joe Strummer soam fortes, e é impossível não dançar com a levada da cozinha Paul Simonon/Topper Headon. Além disso, o que Mick Jones faz na guitarra é para acabar com a babaquice de dizer que os punks não sabiam tocar. A faixa-título, “The Guns of Brixton”, “Rudie Can’t Fail”, “Spanish Bombs”, “Clampdown”, “Koka Kola”, “Train in Vain”… Um discaço, que acho que não entrou na minha lista final porque tinha certeza que ele estaria aqui, já que qualquer posição entre os dez mais de 1979 é válida para o álbum, até mesmo a primeira. Resumindo, a melhor mistura de punk, rock, soul, funk, ska, jazz e reggae que alguém pôde fazer. No ano seguinte, o reggae soaria forte no controversoSandinista!, mas aí é já outra história.
Michael Jackson – Off the Wall (81 pontos)
Adriano: Um disco que abre com “Don’t Stop ‘Til You Get Enough” e encerra com a subestimada “Burn this Disco Out”, um dos grandes clássicos de Michael, não pode ser ruim! As faixas intermediárias não são brilhantes como essas duas (muitas têm uma sonoridade à la Stevie Wonder, que não me agrada), mas são todas boas ou pelo menos passáveis.
Bernardo: Com esta obra-prima, Michael Jackson deixou de ser a criança-prodígio do Jackson 5 para tornar-se um gigante da música do século XX e uma das suas figuras mais relevantes. Em parceria na composição e produção com nomes como Quincy Jones, Rod Temperton, Paul McCartney e Stevie Wonder, Off the Wall tornou-se um clássico instantâneo, com as irresistíveis “Don’t Stop ‘Til You Get Enough” e “Rock With You”, dupla de abertura que bota fogo em qualquer salão que toque. E o resto do disco mantém um nível altíssimo, vide “Workin’ Day and Night”, “Girlfriend” e a triste balada romântica “She’s Out of My Life”, com interpretação magistral de Jackson. Álbum fundamental para a música pop.
Bruno: Todo respeito a um dos maiores ícones do pop, se não o maior, mas não sou muito fã do trabalho de Michael Jackson. Seria pura má vontade, porém, não reconhecer toda a qualidade de seus discos dessa época. Talvez goste mais do incontestável Thriller (1982), mas este aqui, com sua roupagem mais disco, também é bem interessante.
Davi: O cara podia ser louco, xarope, o que for, mas era um puta artista. Fazia a diferença na cena pop, que nunca mais foi a mesma depois que o tiraram de evidência por conta dos escândalos envolvendo seu nome. Excelente dançarino, bom cantor, bom letrista, sempre entregou material de alto nível e aqui não é diferente. Álbum deliciosíssimo de se ouvir, com grande influência de disco music, r ‘n’ b e soul music, e que conta com verdadeiras pérolas como “Don’t Stop ‘Til Get Enough”, “Working Day and Night”, “It’s the Falling in Love” e “Rock With You”. Como esse cara faz falta! Pelo menos, consegui assisti-lo ao vivo…
Diogo: Thriller pode ser o maior, o mais vendido não apenas de Michael, mas de todos os tempos em todo o mundo, só que o melhor mesmo é Off the Wall, um atestado de maturidade, não apenas musical, mas em sua completude como artista. Unindo forças com gente muito talentosa e de gabarito, Michael soube “se vender” no melhor dos sentidos e entregou uma obra de alto nível de ponta a ponta, abrindo com a deliciosa “Dont Stop ‘Til You Get Enough”, um convite à mais desavergonhada diversão. Com a emenda “Rock With You”, então, o ouvinte já está entregue, pois, apesar do tempero disco, em voga na época, o que se apresenta é nada menos que soul e r ‘n’ b de primeira grandeza. O que segue não dá descanso e mantém os ânimos em alta o tempo todo, emocionando especialmente nas performances em “Girlfriend”, escrita por Paul McCartney, e na balada “She’s Out of My Life”, uma das interpretações mais belas de Michael, e olha que não são poucas as vezes em que o cantor entregava-se às canções com admirável pureza. Entre os músicos, destaque especial para o baixista Louis Johnson, que arrasa no disco todo, mas dá show em especial na ótima “Get on the Floor”, coescrita com Michael. Que falta faz um artista como esse para o cenário pop atual…
Eudes: De longe, o melhor disco lançado em 1979! Os Jacksons (ex-Jackson 5) tinham chegado no limite da criatividade e, havia alguns álbuns, vinham se repetindo. Enquanto isso, Michael, em carreira paralela, emplacava um hit atrás do outro. Era fatal que, já um homenzinho, Michael lançasse um disco que marcaria definitivamente sua autonomia em relação à banda familiar. Esse álbum foi Off the Wall, com uma penca de grandes canções e produção “state of the art” de Quincy Jones e do próprio cantor. “Don’t Stop ‘Til You Get Enough” é uma viagem por várias tonalidades do soul e do funk, enquanto “Rock With You” nos mata com a virada de bateria que abre a faixa, seguida pelo colchão dos violinos e pela guinada na melodia que a leva para uma paragem de tranquilidade. “Girlfriend” inaugura a parceria com Paul McCartney que renderia alguns clássicos e, não esqueçam, tem a punhalada no coração que é “She’s Out of My Life”.
Fernando: Não coloquei na minha lista pessoal, mas estava na cara que este disco entraria. Não sou especialista, mas creio que este tenha sido o álbum que o colocou no mapa como artista solo. As pessoas que “gostam” de Michael Jackson talvez nem se lembrem das músicas deste disco. “Don’t Stop ‘Til You Get Enough” é demais!!!
Igor: Não sabia que poderia votar em álbuns fora do rock. Se soubesse, provavelmente deixaria meu agrado a Off the Wall no ranking geral. O verdadeiro debut de Michael Jackson, já amadurecido, é um laboratório para aquilo que ele viria a se tornar depois. Em Off the Wall, o futuro rei do pop mostra a grande vantagem de Jackson: ele era completo. Cantor, coprodutor e, aqui ainda de forma tímida, compositor. Fora o talento na dança, que obviamente não pode ser visualizado na bolacha. Off the Wall marca o início da música pop como conhecemos hoje.
José Leonardo: Passo! Definitivamente não é minha praia…
Leonardo: Perfeito para o que foi proposto. Música pop e disco como nunca havia se visto até então, e como nunca seria visto depois.
Mairon: A senvergonhice da lista aparece sob o nome de Michael Jackson. Ok que ele foi o rei do pop, ok que este álbum tem alguns clássicos da música, mas para melhor de 1979 está muito longe. Thriller ou Bad até entendo que apareçam posteriormente, já que 1982 e 1987, respectivamente, não foram tããão bons assim com o rock, mas no ano em que Frank Zappa lançou pelo menos duas obras-primas (Joe’s Garage Act I e II & III), ocorreu a despedida do Led Zeppelin e o Triumph consolidou-se no mercado mundial, aparecer Off the Wall entre os dez mais é mera piada velha que nem “A Praça É Nossa” irá querer.
Thin Lizzy – Black Rose: A Rock Legend (78 pontos)
Adriano: Mais um disco bacana do Thin Lizzy, provavelmente superior a Jailbreak(1976) e, portanto, mais digno do que aquele de figurar nesta série. Até ouvir este disco, eu procurava e não encontrava elementos de música tradicional irlandesa no som da banda, o que pude finalmente notar na “faixa-título” deste álbum – reouvindoJailbreak, depois disso, creio ter percebido também lá essas referências, como no instrumental de “Emerald”. Black Rose começa com duas faixas que me dizem muito pouco, mas, a partir de “S&M”, o disco ganha muito em qualidade, com destaque pra “Sarah”. Depois disso, voltam canções medianas, até que a faixa-título redime qualquer pecado já na introdução, com seu poderoso riff, a um só tempo céltico e pesado. Uma boa pedida.
Bernardo: Não é ruim, mas, ao contrário de muitos discos em que sempre havia pelo menos alguns clássicos de grande expressão, aqui nada me chamou a atenção além de “Waiting for an Alibi”.
Bruno: O Thin Lizzy, que até então vinha em uma série de discos impressionantes desde 1973, poderia ter suas estruturas abaladas com a saída de um dos principais pilares, o segundo elemento de uma das melhores duplas de guitarristas do rock: Brian Robertson. Mas logo veio o monstro Gary Moore pra botar ordem na casa, e o resultado é um disco absurdamente bom, que só fica atrás das obras-primas Jailbreak (1976) eFighting (1975). Na faixa-título, Gary Moore já mostra a que veio com um solo destroçador e riffs com influências de música celta.
Davi: Grande trabalho do Thin Lizzy. Mais uma vez o saudoso Gary Moore se juntava ao grupo, devido aos inúmeros desentendimentos entre Brian Robertson e Phil Lynott. As gravações foram marcadas pelo alto consumo de drogas, principalmente pela dupla Scott Gorham e Lynott. Entretanto, o resultado final não foi afetado. As faixas mais lembradas são “Waiting for an Alibi” e “Do Anything You Want to”, mas destacaria também as não menos brilhantes “Toughest Street in Town” e “Roisin Dubh”.
Diogo: O Thin Lizzy já vinha em uma sequência incrível desde Fighting, e nem a saída do guitarrista Brian Robertson abalou a estrutura da banda. Contribuiu muito para isso o fato de seu substituto ser uma legítima lenda em formação, o fabuloso Gary Moore. A qualidade da cozinha de Brian Downey Phil Lynott é garantida, mas espere guitarras, mais guitarras e guitarras em profusão durante todo o track list, sob a forma de solos faiscantes e riffs criativos. Black Rose pode não ser meu favorito do grupo, mas está praticamente no mesmo nível, isso graças a músicas como a incrível “Waiting for an Alibi”, “S&M”, “Got to Give It Up” (com Phil cantando suas próprias agruras), “With Love” e a singela “Sarah”. Nenhuma delas, porém, é tão avassaladora quanto a faixa-título, raro momento em que a música tradicional de uma região, no caso a Irlanda, uniu-se ao rock pesado com tamanha perfeição. Nunca mais o grupo faria um disco tão bom quanto, apesar dos saudáveis lampejos de agressividade presentes emThunder and Lightning (1983).
Eudes: Não é mau. Não é avassalador. Havia muitas outras opções mais representativas no ano do que este disco já em descendente da banda.
Fernando: O Thin Lizzy já havia nos brindado com ótimos discos, e quando eles não precisavam mais provar nada a ninguém, lançaram talvez o melhor de sua carreira, que tem o classicaço “Waiting for an Alibi”.
Igor: A consagração do bom momento que o Thin Lizzy passava de 1975 em diante foi o ao vivo Live and Dangerous (1978), sucesso de vendas e uma verdadeira compilação dos clássicos da banda. O guitarrista Brian Robertson saiu, mas isso não foi motivo para que o Lizzy caísse. Black Rose: a Rock Legend contou com Gary Moore na guitarra, além de Scott Gorham. O disco mostra o melhor momento de Phil Lynott como compositor, apesar de muitos clássicos estarem nos álbuns anteriores. E como esses guitarristas tocavam…
José Leonardo: Tenho apenas dois discos do Thin Lizzy que gosto muito (Jailbreak eVagabonds of the Western World, de 1973) e pretendo comprar mais. Baixei este para poder comentar aqui e o que se previa aconteceu: um ótimo álbum! Imprescindível em uma boa coleção de hard rock! As guitarras incendiárias de Gary Moore e Scott Gorham são um show à parte! Gostei muito de “Roisin Dubh (Black Rose) – A Rock Legend”! Assim que achar a versão deluxe com certeza comprarei!
Leonardo: Para mim, o melhor lançamento de 1979. Hard rock direto, classudo, com guitarras gêmeas espetaculares, cortesia de Scott Gorham e Gary Moore, e composições inspiradíssimas de Phil Lynott. Para completar, temos ainda a espetacular faixa-título, uma ode à Irlanda, terra natal do grupo, que mistura riffs e solos certeiros à melodias típicas irlandesas, resultando em uma pequena obra prima.
Mairon: Surpreendente a entrada de Black Rose na lista de melhores, corroborando o fato do Thin Lizzy ter grandes admiradores por aqui. Este disco tem como destaque fundamental a guitarra de Gary Moore, formando a dupla com Scott Gorham e repetindo o início de sua carreira, quando havia tocado ao lado do eterno ídolo Phil Lynott. Acho o disco muito bom, com belíssimas faixas, das quais cito “Sarah”, “Do Anything You Want To”, “Toughest Street in Town” e a faixa-título como audições obrigatórias, mas acredito que o material do Thin Lizzy que deveria estar entre os Melhores de Todos os Tempos já havia sido lançado antes de 1979. Deixaria esse espaço para Triumph, Frank Zappa ou até mesmo Lovedrive (Scorpions), que eu dava como certo nesta lista; mas enfim, são os ossos da escolha, e o disco pelo menos é muito bom.
Motörhead – Overkill (49 pontos)
Adriano: Esses discos pesados de fins dos anos 1970 e inícios dos 1980, em que não se pode definir exatamente se ouvimos hard rock, heavy metal ou punk, me agradam. Nada do outro mundo, mas são bons discos. Overkill e Bomber (1979) são dois deles. Nem sei de qual mais gosto, mas provavelmente é de Overkill. Destaque pra “(I Won’t) Pay Your Price”, “Capricorn” e “No Class”, especialmente a segunda. Mas o melhor aqui é uma faixa-bônus do relançamento em CD (1996), uma das melhores versões feitas de “Louie, Louie”. O resto é apenas passável.
Bernardo: Pedrada na moleira. Na época em que o som da banda de Lemmy era mais direto e espontâneo que nunca, Overkill é um testamento de mau-mocismo. Apesar de momentos mais cadenciados, como “Capricorn” e sua levada pouco usual, o que impera mesmo são músicas como a faixa-título, “Stay Clean” e “No Class”, rock rápido, pesado e agressivo, adorado e influente tanto entre bangers quanto entre punks. Isso sim que é música malcriada e em alto volume.
Bruno: Junto do AC/DC, o Motörhead tem a fama de não mudar seu som e lançar discos similares ano após ano. Confesso que realmente não tenho muita paciência para os últimos trabalhos do grupo, mas seus álbuns até 1983 merecem uma boa atenção, eOverkill é o melhor deles. No limite entre o hard, o punk e o heavy metal. Em 1979 nada era tão rápido e violento. Introdução de bateria com pedal duplo, então? Nem pensar.
Davi: Famosa banda “ame ou odeie”. A voz de Lemmy pode ser inconfundível ou insuportável. Para mim, sempre foram brilhantes. Assim como AC/DC, sempre mantiveram sua identidade, nunca se entregaram aos modismos. Overkill é um álbum considerado marco na carreira da Motörhead e fundamental na coleção de quem curte som pesado. Para ouvir no talo!
Diogo: Se o AC/DC é, segundo eu mesmo, “a maior banda superestimada de todos os tempos”, o Motörhead talvez seja a melhor. Isso porque, apesar da persona de Lemmy Kilmister muitas vezes ser exaltada em excesso e o grupo ter sua imagem “colada” à dele, o Motörhead é uma formação avassaladora, especialmente em se tratando de álbuns como Overkill. Muito se fala sobre a faixa-título ser um momento paradigmático em se tratando de sua intensa introdução aos dois bumbos, mas acho isso um pouco exagerado; basta lembrar que o Judas Priest já fazia isso antes, porém com mais classe. Mas não é isso que diminui nem o valor da música, que é um canhão de grosso calibre, nem do disco, pois não dá para ignorar a intensidade de pedradas como “Stay Clean”, “Capricorn”, “No Class”, “Damage Case” e “Metropolis”, evidentes influências para gente que faria história dos anos 1980 em diante, como praticamente todas as bandas de thrash metal. Overkill chegou a rondar minha lista particular e por pouco não entrou.
Eudes: Rock básico, pesado e que, às vezes (poucas), acerta no alvo. Mas é só! O Motörhead é a prova da crise do rock, que, autofágico no fim dos anos 1970, parecia ter perdido uma de suas características essenciais, a capacidade de abrir caminhos.
Fernando: Se todo disco do Motörhead é igual, por que eles não fazem discos tão bons quanto Overkill hoje em dia? Engraçado saber que o produtor era dos Stones. Os rocks simples de “Stay Clean”e “I’ll Be Your Sister” corroboram aquela frase que Lemmy sempre fala antes dos shows: “Nós somos o Motörhead e tocamos rock ‘n’ roll”.
Igor: Já um pouco veterano no rock (tinha 32 anos na época), Lemmy Kilmister sabia o que fazer para chegar ao estrelato. Esse processo começou a ser amadurecido em Overkill, o primeiro disco realmente bom do Motörhead. A personalidade dos músicos começava a se destacar – especialmente do ótimo “Fast” Eddie Clarke. A gênese do thrash metal está aqui.
José Leonardo: Para mim este é o segundo melhor registro do Motörhead (Ace of Spades, de 1980, continua sendo imbatível). Mas, com certeza, é um clássico! A matadora “Overkill” (com um espancamento tão intenso de bumbos!), “Stay Clean” (e o seu solo de baixo), “I’ll Be Your Sister”, a “lenta” “Capricorn”, “No Class”, a blueseira “Limb for Limb”… Simplesmente na lista de melhores álbuns do hard rock de todos os tempos!
Leonardo: O disco que definiu o que o Motörhead queria da vida. Como diria Lemmy na fantástica faixa-título,“THE ONLY WAY TO FEEL THE NOISE IS WHEN IT’S GOOD AND LOUD”! Sujo, alto e rápido, mas sem perder a classe, Overkill mistura blues, hard rock, distorção, álcool e fumaça para forjar uma sonoridade única, e continha diversas faixas que até hoje são obrigatórias nos shows da banda. Influência direta para todos os estilos de rock pesado que viriam a surgir nos anos seguintes.
Mairon: O Motörhead é daqueles grupos que fazem o mesmo estilo de som sempre e você nunca enjoa. O segundo disco da banda – ainda como um trio – é uma paulada que até 1979 não havia nada comparável. Pedreiras como a faixa-título, “No Class”, “Capricorn”, “Metropolis” e o megaclássico “Stay Clean” são audições obrigatórias para aqueles que desejam entender como é o verdadeiro rock pesado. Gosto do disco, mas sequer me passou pela cabeça entrar entre os melhores desse ano, lugar em que até poderia colocar Bomber, seu sucessor, lançado no mesmo ano. Pelo jeito, os álbuns que vieram na sequência (Ace of Spades e Iron Fist, de 1982) também estarão por aqui.
Supertramp – Breakfast in America (45 pontos)
Adriano: “Goodbye Stranger” sozinha é suficiente pra colocar este disco entre os dez melhores de 1979! A preparação de Ray Davies no vocal e piano, acumulando a tensão que extravasa na euforia gay ultradisco do refrão, cantado por Roger Hodgson, mais o solo furioso de guitarra no final compõem um dos momentos mais brilhantes da carreira da banda. Mas ainda temos o clássico absoluto que é “The Logical Song” e seu sax inexplicável, a quase tão boa quanto faixa-título e seu “da-da-da” de arrepiar os cabelos… O disco, embora seja apenas meu terceiro favorito do grupo, é todo bom, mas essas três canções se destacam fortemente!
Bernardo: Banda da qual não compartilho a idolatria de muitos, mas este disco tem grandes músicas que marcaram o final dos anos 1970, como a faixa-título, “Take the Long Way Home” e, principalmente, “The Logical Song”, na qual piano elétrico, castanholas e efeitos sonoros cravam um verdadeiro clássico.
Bruno: Não compartilho do ódio que muita gente tem pelo som ultraproduzido e acessível do Supertramp, mas, ao mesmo tempo, o trabalho da banda não me cativa em nada. Dificilmente elegeria um disco deles como representante do ano.
Davi: Não sou um profundo conhecedor da discografia do Supertramp, mas o pouco que conheço me agrada. O trabalho deles tem bastante qualidade. Este LP tem algumas de suas músicas mais famosas, como “The Logical Song” e “Take the Long Way Home”. Audição extremamente divertida. Comprarei.
Diogo: O Supertramp já vinha cimentando a solidez de sua obra desde Crime of the Century (1974), e foi com Breakfast in America que sua capacidade de fazer o mais pop dos progressivos atingiu o auge, alcançando audiências maiores sem sacrificar seu conteúdo. O disco é redondinho tem a seu favor o fato de mostrar contornos exuberantes sem apelar para faixas longas. Quando o faz, em “Child of Vision”, o resultado não decepciona. O sucesso foi mais que merecido, pois músicas como “The Logical Song”, “Goodbye Stranger”, “Take the Long Way Home” e a faixa-título, apenas para ficar nas mais famosas, grudam da melhor forma possível, cativando pelas boas melodias, não pela repetição excessiva. Citei essas, mas o álbum é todo muito bom. Ressalto ainda o bonito refrão de “Lord Is It Mine”.
Eudes: Sem sacanagem, não entendo como um banda pop mediana como o Supertramp siga magnetizando a atenção de gente inteligente como os nossos consultores. De mais a mais, por que é este disco que finalmente entra na lista e nenhum dos iguaizinhos discos anteriores? Não sou fiel dessa igreja, por isso nem me sinto à vontade para sugerir, mas se fosse na minha jurisdição, o álbum para uma lista como essa seria Crisis? What Crisis?, de que os fieis não lembraram para a edição de 1975.
Fernando: Durante muito tempo eu conheci a capa deste disco sem ter a menor ideia de como era o som do grupo. Quando me interessei por rock progressivo, lá no fim dos anos 1990, foi com o álbum ao vivo Paris (1980) que finalmente vim a conhecer a banda e muitas das faixas daquele disco estão aqui, inclusive a maravilhosa “The Logical Song”, que foi a música que me fez gostar de Supertramp.
Igor: Reconheço o valor do Supertramp no cenário do rock progressivo, mas novamente sinto uma trava ao falar sobre este trabalho porque não sou fã do gênero como um todo. Posso garantir que Breakfast in America é de fácil digestão para quem não gosta do estilo – não à toa, fez muito sucesso no mainstream. As canções mais curtas e bem arranjadas diferenciam Breakfast in America de grande parte dos títulos maçantes do prog rock.
José Leonardo: Meu disco favorito da banda, ao lado de Crime of the Century. Não só por conter quatro grandes canções pop, “The Logical Song”, “Breakfast in America”, “Take the Long Way Home” e “Goodbye Stranger”, mas porque este dico representa o culminar de um belo trabalho feito desde o lançamento de Crime of the Century. Infelizmente, este é o último trabalho realmente sólido e relevante feito pela banda. Como já li uma vez: uma perfeita combinação entre prog e pop!
Leonardo: Outro disco perfeito no que a banda se propôs a fazer. Produção cristalina, performances perfeitas, composições soberbas. Ainda que não seja o seu estilo musical favorito, é impossível negar sua qualidade.
Mairon: Que legal ver o Supertramp nesta lista. Breakfast in America é um dos meus preferidos do grupo. Só as clássicas “The Logical Song” , “Goodbye Stranger”, “Take the Long Way Home” e a faixa-título já colocam o álbum entre os melhores lançamentos de 1979, mas ainda temos muito mais escondido nos sulcos de um disco perfeito do início ao fim. Afinal, poucos se dão conta da lindeza de “Child of Vision” ou do trabalho instrumental de “Just Another Nervous Wreck”, e ainda a força das obras-primas “Gone Hollywood” e “Lord Is It Mine”, esta forte candidata a melhor balada cantada por Roger Hodgson, e disparada a melhor música do LP. Ainda temos a simplicidade de “Oh Darling” e “Casual Conversations” para tornar o recheio do LP ainda mais gostoso e deixar nossos ouvidos satisfeitos com um marco musical sendo transmitido. O Supertramp já merecia ter entrado em 1974 e 1977, mas pelo menos desta feita ele não foi esquecido. E que venha …Famous Last Words em 1982.
Kiss – Dynasty (45 pontos)
Adriano: Como costuma acontecer com todos os discos do Kiss que já ouvi, este é um álbum com músicas legais, e nada além disso. O único verdadeiro destaque aqui é a ótima versão da já ótima “2000 Man”, original dos Stones. Ace Frehley demonstra ser um cara muito competente em quase tudo o que faz, inclusive versões. Tenho uma certa afeição pelo refrão da clássica faixa de abertura “I Was Made for Lovin’ You”, mas provavelmente isso se deve mais a boas lembranças da minha infância do que propriamente ao meu gosto. Fora isso, e embora faixas como a hard-pop “Sure Know Something”, “Hard Times” e, principalmente, “X-Ray Eyes” não devam nada a canções aclamadas de outros discos, não entendo a inclusão de Dynasty entre os melhores de 1979.
Bernardo: O Kiss deveria continuar praticando o rock esquemático que os consagrou. A tentativa de impulsionar as vendas com alguma novidade resultou em álbuns comoDynasty, em que, após uma gravação feita de maneira turbulenta, traz disco feito por gente que não manjava muito do riscado. Ok, “I Was Made for Lovin’ You”, mas é genérica até cansar. O resto do álbum não melhora muito mais que isso.
Bruno: Confesso que do polêmico álbum discotheque do Kiss eu só conhecia o hit “I Was Made for Lovin’ You”, e sempre gostei. É inegável que Gene Simmons e Paul Stanley, preocupados com a ascensão da disco e suas altas vendagens, resolveram dar uma adaptada no som pra tentar beliscar uma parte desse mercado. Isso custou a perda de vários fãs mais radicais, mas ao mesmo tempo fez a banda ficar ainda mais popular entre os círculos fora do rock. Acho um disco legal, tem boas melodias e a roupagem mais pop até combina com o apelo do Kiss. Agora, jamais colocaria este álbum em uma lista dos melhores de 1979, aí já é um exagero dos grandes.
Davi: Aaaa-le-luia. Aaaaa-le-luia. A-le-lu-ia. A-le-lu-ia. A-leeeee-lu-iaaaa. Que grata surpresa ver nossos amiguinhos do Kiss dando as caras por aqui. Ainda mais com um disco que não é tão óbvio neste tipo de lista. Embora passassem por um momento delicado, o grupo de Stanley e Simmons não se deixou abater e entregou mais um excelente disco. O flerte com a disco music em “I Was Made For Lovin’ You” deixou muitos fãs de cabelo em pé na época, mas demonstrou ser um tiro certeiro. Até hoje tem neguinho esperando pela música nos shows. No entanto, os grandes destaques ficam por conta de “Charisma”, “Sure Know Something”, “Hard Times”, “X-Ray Eyes” e “Magic Touch”. Puta disco bem feito!
Diogo: De tantos discos bons além de Destroyer (1976), que já deu as caras por aqui, o Kiss foi aparecer de novo na série justamente com um de menor qualidade. Ok, entendo que em 1979 a concorrência não era tão grande quanto em 1974, quando foram lançados os ótimos Kiss e Hotter than Hell, ou mesmo 1977, ano de Love Gun. A surpresa, no entanto, passa longe de ser das piores, pois apesar de ser inferior aos antecessores, Dynasty é um álbum bem legal. O grande hit, “I Was Made for Lovin’ You”, nunca me disse muita coisa, mas não chega a incomodar e funciona bem. “Sure Know Something”, porém, é um flerte pop dos mais legítimos, muito mais caprichado, dono de um refrão com a marca das melhores canções de Paul Stanley. “Magic Touch” é outra em que o guitarrista e vocalista manda bem, assim como Ace Frehley destaca-se no ótimo cover para “2000 Man”, que ficou debochadíssimo, sua cara. Aliás, Ace é quem mete o pé no acelerador com mais força, vide as boas “Hard Times” e “Save Your Love”. Gene Simmons também dá boas contribuições através de “Charisma” e “X-Ray Eyes”. Olha só, no fim das contas a adição de Dynasty a esta lista até que não está tão deslocada não…
Eudes: Alguém já disse que a melhor coisa do Kiss é o Kiss Army, a fidelíssima horda de fãs que, a princípio, só tem gente boa. Maldade… O Kiss é uma lenda, e a gente tem de reconhecer, mesmo que, como eu, não não curta muito o som. Neste disco, a banda repete suas virtudes e defeitos já mostradas nos álbuns anteriores, que tinham, entretanto, um certo sabor de novidade. Se tivesse o talento para melodias de Joey Ramone ou a perícia para riffs marcantes de Angus Young, o Kiss poderia ter sido uma banda realmente antológica. Mas não deixa de ser admirável que, tão limitados, eles tenham chegado ao status mitológico que têm.
Fernando: Tá aí uma surpresa. De tantos ótimos discos do Kiss, Dynasty não estava nos meus palpites que entrariam na lista. Os fãs foram à loucura com o baixo pulsante e dançante de “I Was Made for Lovin’ You”, pura bobagem! Apesar que a diferença entre sua versão de estúdio e ao vivo é gritante. Ouçam essa faixa em Alive III(1993)!!! Uma das músicas que mais gosto na carreira do Kiss está neste disco, “Sure Know Something”.
Igor: Uma das bandas infectadas pela tendência disco na década de 1970 foi o Kiss. O grupo estava no auge, mas atravessava crises internas. Tanto que um disco solo de cada integrante foi lançado em 1978 – e chegaram às lojas em conjunto. O que parecia um agrado, na verdade, evidenciou muito as individualidades de cada membro. EmDynasty, de 1979, isso voltou a entrar em evidência: boa parte das músicas dos chefões Paul Stanley e Gene Simmons estavam mais leves e algumas até orientadas para a disco music. Ace Frehley, que teve o disco solo de maior sucesso no ano anterior, decidiu apostar no rock ‘n’ roll. Resultado: o Kiss se tornou um fenômeno de popularidade tão grande que idosos e crianças passaram a gostar da banda. Mas perdeu pontos com os fãs fiéis. Mesmo assim, trata-se de um ótimo disco.
José Leonardo: Passo! Aí está uma banda que nunca consegui curtir, e olha que já tentei… Mas este disco tem uma das faixas mais comerciais da banda (“I Was Made for Lovin’ You”) e um cover dos Stones (“2000 Man”). Isso me faz lembrar uma resenha deste álbum na extinta revista Somtrês, escrita pelo Ezequiel Neves, que escreveu coisas como: “O ótimo (péssimo) Kiss corre perigo: Quer melhorar” e “’2000 Man’ está incluída no LP Their Satanic Majesties Request, autêntica antena do psicodelismo, algo que os componentes do Kiss nunca ouviram falar”. Não estou dizendo que compactuo com as afirmações dele (aliás, nunca gostei da maioria de suas críticas), mas que é engraçado, isso é!
Leonardo: Apesar de ser fã confesso do Kiss, admito que a inclusão de Dynasty nesta lista me surpreendeu, visto que está longe de ser um dos discos favoritos dos fãs do grupo. O que é até compreensível, visto que foi a primeira vez que a banda se afastou um pouco de suas raízes e de sua sonoridade hard rock. Contudo, é inegável a qualidade que emana de muitas das faixas. As músicas compostas por Paul Stanley, como “I Was Made For Lovin’ You”, “Sure Know Something” e “Magic Touch”, têm uma forte veia pop, evidenciada pela produção limpa de Vini Poncia, mas são donas de melodias inesquecíveis. O outro membro do grupo que brilha no disco é Ace Frehley, que assina as músicas mais pesadas e diretas, “Save Your Love” e “Hard Times”, além de cantar no ótimo cover dos Rolling Stones “2000 Man”. Gene Simmons e Peter Criss, que tocou em apenas uma faixa, tiveram uma participação menor, e suas composições estão longe de ser suas melhores contribuições ao catálogo da banda.
Mairon: Assim como foi na lista referente a 1978, com a entrada de Never Say Die!(Black Sabbath), Dynasty surge entre os dez melhores de 1979 para acabar com mais uma cisma imbecil que a mídia especializada colocou na cabeça dos jovens durante a década de 1980 e mostra todo seu valor. Sou um grande fã do Kiss mascarado, e aprecio a fase sem máscaras, e no meu top 3 da banda, Dynasty está em segundo lugar. Não é à toa que o coloquei em minha lista final, pois o que o quarteto mascarado faz no álbum foge às regras comuns que eles haviam apresentado nos álbuns anteriores, saindo daquele rock básico, que aparece nas canções de Ace Frehley, a quase punk “Save Your Love” e a excelente versão de “2000 Man” (original do The Rolling Stones), mas apostando em novos estilos, como o pop sensual das baladaças “Sure Know Something” e “Magic Touch”, o suíngue de “Dirty Livin’” ou o hard sujo de “X-Ray Eyes”. Para complementar (ou melhor, para abrir os trabalhos), a melhor canção do Kiss em todos os tempos, “I Was Made for Lovin’ You”, com o baixão de Gene Simmons (para mim o principal músico do disco) fazendo terremotos na sala, e Paul Stanley cada vez mais revelando-se como o melhor vocalista do Kiss. Um disco diversificado e perfeito do início ao fim, que ficou menosprezado pelos fãs e pelos audiófilos de plantão durante algum tempo, mas que agora está vingado entre os melhores de 1979. Parabéns aos consultores pela eleição, e aguardo com curiosidade sua colocação final.
Van Halen – Van Halen II (43 pontos)
Adriano: Ouvi este disco bem menos vezes que o primeiro da banda, mas fiquei com a impressão de que ele é tão bom quanto. Achei os arranjos e a sonoridade mais redondinhos. E “Spanish Fly” faz certamente mais sentido pra mim do que “Eruption”. Não creio que Van Halen II tenha acrescentado muita coisa importante à música da época, mas vale a ouvida.
Bernardo: Como não se divertir com o Van Halen dos primórdios? Se ainda restar dúvida sobre isso, basta colocar para tocar o segundo LP, que segue o caminho do primeiro com segurança e pouco risco, e ouvir faixas como “Dance the Night Away” e “Somebody Get Me a Doctor” – rock pesado, rápido, técnico e para cima que criou uma verdadeira legião de fãs. Disco após disco a banda dos irmãos Van Halen foi se tornando um verdadeiro gigante, apesar de II não ter o mesmo brilho do debut e deWomen and Children First (1980).
Bruno: Como já disse nos comentários do mês anterior, tenho todo o respeito pelo Van Halen e não sou nem maluco de dizer que a banda é ruim, mas o som dos caras nunca me cativou. Este disco é uma bela continuação da explosiva estreia, talvez até com uma melhora nas composições, mas não faz muito a minha cabeça.
Davi: Essa é aquela banda que fez um trabalho de estreia tão foda que arrumaram sarna pra se coçar. Afinal, tinham que manter o nível no tão aguardado segundo álbum. E os caras não fizeram feio. II é quase tão bom quanto o debut e possui canções simplesmente memoráveis, como “Dance the Night Away”, “Somebody Get Me a Doctor”, “Beautiful Girls” e “You’re No Good”. Foda!
Diogo: O ritmo de trabalho do Van Halen era tão intenso quanto sua música, e não demorou muito para que a banda cravasse mais um clássico em sua poderosa discografia, que até 1984 só rendeu petardos. Assim como no primeiro, Van Halen IIé formado por musicão atrás de musicão, executados com garra e técnica que só os muito teimosos insistem em desvalorizar. Acima de tudo, porém, o cerne da obra, as composições, são todas no mínimo muito boas, pra não falar nas totalmente sensacionais, como as metalizadas “Somebody Get Me a Doctor” e “Light Up the Sky”, exemplos de quão essencial o Van Halen foi para moldar a sonoridade do rock pesado na década seguinte, influenciando milhares de bandas. Em se tratando de soar mais melódico, o grupo também é certeiro, pois “Dance the Night Away” e “Women in Love” não me deixam mentir. E o deboche? Disco do Van Halen sem essa característica não é Van Halen, é Van Hagar! “Bottoms Up”, “Outta Love Again”, “Beautiful Girls”… Sério que ainda há quem não reconheça o valor dessa banda? É muita amargura na vida…
Eudes: Adianta reclamar? Vai dar Van Halen até nos discos em que o histriônico vocalista David Lee Roth não estava mais ao microfone. Divertido, bem tocado e é só. A palavra “clássico” anda muito banalizada.
Fernando: Depois de ganhar nossa eleição de 1978, o Van Halen aparece novamente com um álbum que, se for inferior ao primeiro, é por uma gilete!!! “Dance the Night Away”, um título que foi usado por outras bandas, foi a faixa que me fez gostar dos norte-americanos.
Igor: Li algumas críticas de colaboradores da Consultoria em relação à suposta supervalorização do Van Halen no artigo direcionado ao ano de 1978. Vi até uma comparação ao punk. Mas acho importante ressaltar que o grupo, sozinho, influenciou tanto quanto – ou até mais – que o punk. O hard rock e o heavy metal da década de 1980 respirava e pulsava Van Halen. Eddie Van Halen revolucionou a guitarra e David Lee Roth deu um novo conceito para a expressão “rockstar”. II é uma boa continuação do debut de estreia. Similar a ela, o disco mantém o ritmo, mas já mostra a pressa que existia em liberar novo material: o período de gravação durou apenas três semanas. O resultado poderia ter sido melhor se não fosse tão compactado.
José Leonardo: Como disse em outra oportunidade, do Van Halen conheço apenas os hits (“Pretty Woman”, “Dance the Night Away”, “Jump”, “Panama”) e uma que outra música, além dos covers para canções dos Kinks (“You Really Got Me” e “Where Have All the Good Times Gone”). Ouvi no YouTube e não achei lá o bicho. Nada ruim, mas não me empolgou!
Leonardo: Depois da espetacular estreia, o Van Halen pisou um pouco no freio no seu disco seguinte. Ainda assim, com a produção mais limpa e composições menos agitadas, o quarteto não decepcionou, com mais um conjunto de canções extremamente marcantes. “Dance the Night Away” e “Beautiful Girls” se tornariam clássicos da banda, e todo o talento de Eddie Van Halen veio à tona em “Spanish Fly”, faixa instrumental tocada ao violão, sem efeitos.
Mairon: Quando elegemos Van Halen como o melhor álbum de 1978, afirmei que a trupe de Eddie Van Halen havia chegado para conquistar com sobras o lugar do Led Zeppelin, tese que defendo novamente aqui com a inclusão do excelente segundo disco do grupo. Apesar de não tão impactante quanto seu antecessor, é outra pérola brilhante na carreira do quarteto, trazendo as clássicas “Dance the Night Away”, “Somebody Get Me a Doctor” e “Bottoms Up”, além da revisão de “You’re No Good” (original de Clint Ballard Jr.) e as enfurecidas (e pra mim as melhores do disco) “D.O.A.” e “Women in Love”. Ah, ainda temos mais um momento solo de Eddie, “Spanish Fly”, que deixa aquela pulga na cabeça lhe perguntando: “Como ele consegue fazer isso?”. Mais um disco essencial, cujo único defeito é sua curta duração (31 minutos apenas), e, por isso, não entrou na minha lista final.
Steve Howe – The Steve Howe Album (43 pontos)
Adriano: Não reouvi este álbum pra compor minha lista, até porque ele sempre me pareceu inferior ao disco anterior de Howe, Beginnings (1975). Quem espera uma musicalidade progressiva, como a que se encontra no Yes, certamente irá se surpreender (se positiva ou negativamente, isso vai depender do ouvinte). Howe costumava aproveitar seus discos solo pra explorar suas fortes influências de violão country, jazz e erudito, principalmente, e é isso o que percebemos aqui, em meio a canções como a hardeira “Pennants”, a semiprogressiva “All’s a Chord” (com Bill Bruford na bateria) ou até o folk de “Look Over Your Shoulder”. Não sei como este disco veio parar aqui, sua representatividade é bem questionável pra esse ano, mas quem não ouvir – o que, creio, será o caso de alguns, por pura implicância com o Yes – é quem irá perder.
Bernardo: Não é minha praia.
Bruno: Quando não conseguem emplacar o Yes, dão um jeito de enfiar disco solo de algum integrante. Tá louco, hein…
Davi: Segundo trabalho solo de Steve Howe. Falar que é bem tocado, neste caso, é chover no molhado. Afinal, o cara é um dos grandes guitarristas da história do rock, certo? O trabalho é bom, diversificado, brilhante em alguns momentos, mas não o considero um dos grandes lançamentos de 1979.
Diogo: Por seu trabalho estupendo no Yes, considero Steve Howe como um de meus guitarristas favoritos. Confesso, porém, que apesar disso nunca corri atrás de seus discos em carreira solo, então ouvir The Steve Howe Album foi uma nova experiência. Acredito que o mais interessante foi perceber com mais ênfase a influência da música country norte-americana em meio a seu estilo peculiar (ouçam a ótima “Diary of a Man Who Vanished”), algo curioso considerando a constante presença de Howe através do Yes (e agora sozinho) nesta série e o quase completo desprezo ao gênero que tanto contribuiu ao rock. De qualquer maneira, trata-se de um álbum muito agradável, de audição tranquila e confortante, que certamente merecerá uma exploração mais minuciosa de agora em diante. Pouco representativo para 1979? Sim. Supresa? Também. Mas a alternância entre obviedades e surpresas ajuda a manter o interesse nesta série.
Eudes: Bom álbum de Howe, um dos guitarristas mais bacanas do rock, mas representa um degrau abaixo de Beginnings, seu álbum de estreia solo, de 1975. Se era para ter um disco entre os Melhores de Todos os Tempos, seria aquele.
Fernando: Talvez a maior surpresa da lista. Steve Howe é um dos meus guitarristas preferidos, daqueles de se contar nos dedos de uma mão, mas não sabia que os meus colegas gostavam tanto deste álbum. Para falar a verdade, sua carreira solo nunca me animou muito. “Look Over Your Shoulder” é o destaque.
Igor: Talento. Essa palavra resume Steve Howe, que tocou 14 instrumentos de corda diferentes neste, que é o seu segundo trabalho solo. Tive boas impressões deste álbum nas escutadas que dei. É versátil e bem estruturado. Apesar disso, não me sinto confortável o bastante para tecer muitos comentários sobre este disco, já que não sou muito fã de rock progressivo.
José Leonardo: Este é o segundo álbum solo de Steve Howe e é, na minha opinião, infinitamente superior à sua estreia, Beginnings, lançada em 1975. Para este disco Howe tem o que os seus fãs queriam: menos vocais, mais guitarras. Isto é o que deveria ter sido Beginnings: Howe mostrando seu virtuosismo em temas clássicos, country, folk, prog em grandes temas instrumentais. Apenas duas canções com vocais: “All’s a Chord”, com o vocal “estranho” de Howe, e a bela “Look Over Your Shoulder”, com o vocal de Claire Hamill (que teve uma breve passagem pelo Wishbone Ash, em 1981), talvez a melhor faixa do disco. Um presente para os fãs do Yes!
Leonardo: Não dormiu com The Wall? Pois escute este disco na sequência que não tem erro…
Mairon: A fabulosa estreia de Steve Howe em 1975 foi totalmente esquecida pelos meus colegas nas suas respectivas listas, mas eu o coloquei na quarta colocação (atrás de Physical Graffitti, do Led Zeppelin, o campeão daquele ano, de outro injustiçado, Armageddon, e do fabuloso Come Taste the Band, do Deep Purple). Naquele álbum, Howe tentou fugir das complicadas criações do Yes e revelou sua voz ao mundo, não agradando a muitos. Mas em termos de musicalidade, o que ele toca no LP é anormal (padrão Steve Howe, como sempre). Quatro anos depois, Howe afastou-se do que tentou criar em seu primeiro álbum e resolveu dessa vez apostar no seu talento, gerando o melhor disco de 1979 na minha opinião, e o melhor disco solo de um membro do Yes. Howe atua em diversos estilos que o influenciaram, seja com o violão, seja com as diversas guitarras que estampam a capa interna do LP, e, com uma competência rara, atinge o nível de excelência em todos eles. Assim, você ouve um trabalho 100% acabado no country (“Cactus Boogie” e “Diary of a Man Who Vanished”), no jazz anos 1920 (“The Continental”), no flower power de “Look Over Your Sholder”, com os vocais arrepiantes de Claire Hammill, em construções tipicamente Yes (ouvir a única canção que Howe canta no álbum, “All’s a Chord”, tendo a participação de Patrick Moraz no piano e Bill Bruford na bateria, e não imaginar a voz de Jon Anderson no lugar da de Howe é como procurar uma agulha no palheiro), na irmã mais nova de “The Clap”, a alegre “Meadow Rag”, e na steel guitar de “Pennants”. Acima de todas essas incríveis composições, estão duas gemas nutritivas e fantásticas, que são a versão ao violão clássico para “Concerto in D (Second Movement)”, de Antonio Vivaldi, totalmente rearranjada por Howe, e a suíte “Double Rondo”, mostrando o talento de Howe não só como músico, mas também como compositor, ampliando o trabalho que havia feito na faixa-título de seu álbum de estreia em uma peça clássica acompanhado por uma orquestra fazendo uma canção emocionante, totalmente criada por esse GÊNIO em letras garrafais. Em 1979, não teve ninguém próximo dele. O melhor disco do ano na minha opinião. Fico muito feliz por vê-lo entre os dez mais, consolidando o fato de que não estou errado.
Listas individuais
- Pink Floyd – The Wall
- Can – Can
- Silvio Rodríguez – Rabo de Nube
- Supertramp – Breakfast in America
- The Clash – London Calling
- Serú Giran – La Grasa de Las Capitales
- Tarancón – Rever Minha Terra
- George Harrison – George Harrison
- Michael Jackson – Off the Wall
- Scorpions – Lovedrive
- The Clash – London Calling
- Michael Jackson – Off the Wall
- Talking Heads – Fear of Music
- Joy Division – Unknown Pleasures
- Pink Floyd – The Wall
- Neil Young & Crazy Horse – Rust Never Sleeps
- The Pop Group – Y
- Motörhead – Overkill
- Gang of Four – Entertainment!
- Joe Jackson – Look Sharp!
- Joy Division – Unknown Pleasures
- The Clash – London Calling
- Thin Lizzy – Black Rose
- Motörhead – Overkill
- Neil Young & Crazy Horse – Rust Never Sleeps
- The Specials – Specials
- AC/DC – Highway to Hell
- Joe Jackson – Look Sharp!
- The Jam – Setting Sons
- Stiff Little Fingers – Inflammable Materials
- Michael Jackson – Off the Wall
- AC/DC – Highway to Hell
- The Clash – London Calling
- Van Halen – Van Halen II
- Pink Floyd – The Wall
- Whitesnake – Lovehunter
- Kiss – Dynasty
- Rainbow – Down to Earth
- The Pretenders – The Pretenders
- Motörhead – Overkill
- Pink Floyd – The Wall
- Michael Jackson – Off the Wall
- Van Halen – Van Halen II
- Thin Lizzy – Black Rose
- Eagles – The Long Run
- The Clash – London Calling
- Scorpions – Lovedrive
- Neil Young & Crazy Horse – Rust Never Sleeps
- Supertramp – Breakfast in America
- David Bowie – Lodger
- Frank Zappa – Sheik Yerbouti
- Michael Jackson – Off the Wall
- Bruford – One of a Kind
- Odair José – O Filho de José e Maria
- Chico Buarque – Ópera do Malandro
- AC/DC – Highway to Hell
- ZZ Top – Degüello
- Gang of Four – Entertainment!
- Belchior – Era Uma Vez o Homem e seu Tempo
- Patativa do Assaré – Poemas e Canções
- Pink Floyd – The Wall
- AC/DC – Highway to Hell
- Whitesnake – Lovehunter
- Supertramp – Breakfast in America
- Scorpions – Lovedrive
- Thin Lizzy – Black Rose
- Motörhead – Overkill
- Eloy – Silent Cry and Midnight Echoes
- U.K. – Danger Money
- Riot – Narita
- AC/DC – Highway to Hell
- Thin Lizzy – Black Rose
- Kiss – Dynasty
- Van Halen – Van Halen II
- Motörhead – Overkill
- Scorpions – Lovedrive
- Blackjack – Blackjack
- Whitesnake – Lovehunter
- Led Zeppelin – In Through the Out Door
- ZZ Top – Degüello
- Pink Floyd – The Wall
- Steve Howe – The Steve Howe Album
- Neil Young & Crazy Horse – Rust Never Sleeps
- Jethro Tull – Stormwatch
- Led Zeppelin – In Through the Out Door
- Frank Zappa – Sheik Yerbouti
- Motörhead – Overkill
- AC/DC – Highway to Hell
- David Bowie – Lodger
- Supertramp – Breakfast in America
- Thin Lizzy – Black Rose
- Riot – Narita
- AC/DC – Highway to Hell
- Kiss – Dynasty
- Motörhead – Overkill
- The Clash – London Calling
- Cheap Trick – Dream Police
- Van Halen – Van Halen II
- Whitesnake – Lovehunter
- Scorpions – Lovedrive
- Steve Howe – The Steve Howe Album
- Supertramp – Breakfast in America
- Keith Jarrett – Eyes of the Heart
- Kiss – Dynasty
- Triumph – Just a Game
- Pierre Moerlen’s Gong – Downwind
- Led Zeppelin – In Through the Out Door
- Frank Zappa – Joe’s Garage Acts II & III
- David Bowie – Lodger
- Bruford – One of a Kind
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