Durante a década de 70, Brasil e Argentina não rivalizavam apenas no futebol, mas também na formação de grandes bandas. Enquanto o Brasil tinha Secos & Molhados, Mutantes, Som Nosso de Cada Dia e O Terço (só para citar alguns), a Argentina rivalizava com Sui Generis, Vox Dei, Almendra e La Maquina de Hacer Pajaros (também para citar só alguns). Porém, os argentinos tinham um diferencial em suas bandas, já que a maioria delas explorava com muita qualidade as características sonoras de seu país.
Não era diferente com o Anacrusa, um grupo espetacular, que sabia fazer miséria com tango, rock progressivo, mambo, milonga, chamamé e diversos outros estilos comuns ao pampa portenho.
O grupo, cujo nome é uma forma musical europeia, advinda do grego ἀνάκρουσις, que significa retrocesso, tem uma história praticamente obscura, mas graças a geração MP3, o mundo pode conhecer uma das bandas mais versáteis que o pampa portenho já ouviu, que fez questão de retroceder às origens folclóricas de seu país, mas foi além com o passar dos anos e as inspirações progressivas.
Fundado no início dos anos 70, capitaneado José Luis Castiñeira de Dios (violão, charango, cuatro, bandoneón, baixo, arranjos) e pela voz marcante de Suzana Lago (piano, órgão, charango e voz), acompanhados pelo trioAlex Eriich-Oliva (double bass, violões, violoncelo), Julio Pardo (flauta, oboé, instrumentos de sopro) e Elias "Chiche" Heger (bateria, percussão).
Individualmente, as formações eram bastante distintas. Chiche tinha uma formação essencialmente jazzística, e começou sua atividade artística como baterista de jazz no The Royal Garden Jazz Band, que em seguida virou a Diexieland Smugler's, quando começou a receber aulas de percussão do maestro Antonio Yepes. Em 1960, foi designado para representar a Argentina no Primer Festival Internacional de Jazz, no Chile. Posteriormente, passou por diversos grupos do estilo, tanto na Argentina como no exterior, até passar a ser parte do conjunto Trío Juárez, em 1969, gravando dois LPs. Ainda em 1969, funda com o também baterista Eduardo Casalla o Centro de Estudios de Percusión, onde passou a ministrar aulas com regularidade.
Pardo vinha de uma formação clássica no piano e no violão, tendo sido estudante nos conservatórios Julián Aguirre e Manuel de Falla, onde também aprendeu clarinete. Foi com este último que converteu-se em um amante do jazz, tocando ao lado dos conjuntos The Hot Gang, The Modern Dixielands, The New Orleans Stompers, The Saint Louis Stompers e The Dixie Band. Despertou seu interesse pela flauta cm Alfredo Ianelli, ingressando o conceituado grupo de Eduardo Rovira no final da década de 60. Era o flautista principal na Banda Sinfónica da Polícia da Província de Buenos Aires, quando foi convidado para integrar o Anacrusa.
Por fim, Alex Oliva vinha de uma tradição folclórica, tendo como mestres seu pai Ruwin Erlich (piano) e Aldo Tonini (violino). A partir de 1967, integrou o grupo Trio Juárez, gravando dois álbuns. Virou diretor musical em diversos espetáculos do teatro argentino, e contrabaixista da Orquestra de Cámara del Sindicato de Luz y Fuerza, em Buenos Aires.
O cerne do Anacrusa era a dupla Susana Lago e Jose Luis Castiñeira de Dios. Suzana era uma renomada artista argentina, tendo sida enviada para representar o país no September Musical Tucumano, em 1972, e também nos XX Jogos Olímpicos de Munique, no mesmo ano, onde conheceu Castiñeira. Formada no Conservatório Nacional de Música argentina, foi integrante do grupo Cuarteto Cabrakán, bem como foi figura principal no espetáculo Folklore de Rancho y Rascacielo, ao lado de Leda Valladares e Anastasio Quiroga, o qual lotou o Teatro Regina e o Teatro Municipal de San Martín em duas temporadas na década de 60. Depois, mudou-se para a França, onde atuou em recitais por lá e na Espanha, tocando com destaque no Colégio Mayor de Madrid e em rádios e televisões franceses, voltando para a Argentina para fazer seu nome como concertista apresentando-se no Instituto de Arte Moderno Exposhow, Cine Club Mar del Plata, Biblioteca Municipal Verdi de al Plata e também na rádio e TV argentina.
Castiñeira integrou diversos grupos folclóricos e de música popular argentina antes de montar o Anacrusa, destacando-se o Trio Eduardo Lagos, o Quinteto Teluria e o Trio Juárez + 2, ao lado de Oliva. Seus estudos levaram-no a conseguir uma bolsa do Instituto de Cultura Hispánica, que permitiu mudar-se para a Espanha em 1965. Por lá, tomou contato com Waldo de los Ríos, participando de diversas gravações do maestro argentino durante o ano de 1966. Fez renome através de trilhas sonoras para filmes e teatro, o que levou a representar a Argentina durante os XX Jogos Olímpicos de Munique, quando conheceu Suzana (com eles também estavam Leda Valladares e Anastasio Quiroga).
O grupo apresentava-se em pequenos locais de Buenos Aires, apresentando um som fortemente influenciado pelos ritmos portenhos e latinos.
Fundado no início dos anos 70, capitaneado José Luis Castiñeira de Dios (violão, charango, cuatro, bandoneón, baixo, arranjos) e pela voz marcante de Suzana Lago (piano, órgão, charango e voz), acompanhados pelo trioAlex Eriich-Oliva (double bass, violões, violoncelo), Julio Pardo (flauta, oboé, instrumentos de sopro) e Elias "Chiche" Heger (bateria, percussão).
"Chiche" Heger |
Individualmente, as formações eram bastante distintas. Chiche tinha uma formação essencialmente jazzística, e começou sua atividade artística como baterista de jazz no The Royal Garden Jazz Band, que em seguida virou a Diexieland Smugler's, quando começou a receber aulas de percussão do maestro Antonio Yepes. Em 1960, foi designado para representar a Argentina no Primer Festival Internacional de Jazz, no Chile. Posteriormente, passou por diversos grupos do estilo, tanto na Argentina como no exterior, até passar a ser parte do conjunto Trío Juárez, em 1969, gravando dois LPs. Ainda em 1969, funda com o também baterista Eduardo Casalla o Centro de Estudios de Percusión, onde passou a ministrar aulas com regularidade.
Pardo vinha de uma formação clássica no piano e no violão, tendo sido estudante nos conservatórios Julián Aguirre e Manuel de Falla, onde também aprendeu clarinete. Foi com este último que converteu-se em um amante do jazz, tocando ao lado dos conjuntos The Hot Gang, The Modern Dixielands, The New Orleans Stompers, The Saint Louis Stompers e The Dixie Band. Despertou seu interesse pela flauta cm Alfredo Ianelli, ingressando o conceituado grupo de Eduardo Rovira no final da década de 60. Era o flautista principal na Banda Sinfónica da Polícia da Província de Buenos Aires, quando foi convidado para integrar o Anacrusa.
Por fim, Alex Oliva vinha de uma tradição folclórica, tendo como mestres seu pai Ruwin Erlich (piano) e Aldo Tonini (violino). A partir de 1967, integrou o grupo Trio Juárez, gravando dois álbuns. Virou diretor musical em diversos espetáculos do teatro argentino, e contrabaixista da Orquestra de Cámara del Sindicato de Luz y Fuerza, em Buenos Aires.
A dupla Susana Lago e Jose Luis Castiñeira, nos anos 2000 |
Jose Luis Castiñeira de Dios |
Castiñeira integrou diversos grupos folclóricos e de música popular argentina antes de montar o Anacrusa, destacando-se o Trio Eduardo Lagos, o Quinteto Teluria e o Trio Juárez + 2, ao lado de Oliva. Seus estudos levaram-no a conseguir uma bolsa do Instituto de Cultura Hispánica, que permitiu mudar-se para a Espanha em 1965. Por lá, tomou contato com Waldo de los Ríos, participando de diversas gravações do maestro argentino durante o ano de 1966. Fez renome através de trilhas sonoras para filmes e teatro, o que levou a representar a Argentina durante os XX Jogos Olímpicos de Munique, quando conheceu Suzana (com eles também estavam Leda Valladares e Anastasio Quiroga).
O grupo apresentava-se em pequenos locais de Buenos Aires, apresentando um som fortemente influenciado pelos ritmos portenhos e latinos.
A estreia do Anacrusa, com muitos elementos tradicionais |
Não tardou para que assinassem um contrato com o selo Redondel, e em 1973, lançasse seu álbum de estreia, auto-batizado. O disco é muito belo, misturando os elementos do pampa com sutis porções de rock progressivo.
Em pouco mais de trinta minutos, somos apresentados a diversos ritmos latinos, como as cuecas "La Rosa Y El Clave" e "Rio Limay", esta contrastando os violões, piano e bandoneón com majestosos solos de flauta e xilofone, e as canções populares e dançantes presentes no joropo "Lo Que Mas Quiero" e no merengue "Marula Sanchez".
A voz de Susana destaca-se na guajira "Pobre Mi Tierra" e em "Elegia Sobre Un Poema", onde ela realmente assombra, e os destaques ficam para as instrumentais "El Baile del Pajarillo" (joropo venezuelano), "Zamba de Invierno", ambas com um show de Castiñeira e Pardo, "Galopa del Mamboreta", uma galopa com uma empolgante variação de ritmos entre piano e flauta, a andina "Viento de Yavi", todas com ótimas passagens de elementos prog com elementos do pampa, e a mágica chacarera "Piedra Y Madera", sem sombra de dúvidas a melhor e mais elaborada canção do LP.
São canções curtas, mas com um belo apelo emocional, que indicavam um promissor caminho para o quinteto, que na capa do LP, mostrava suas influências progressivas, imitando o Pink Floyd de Ummagumma ao posar com todos os seus instrumentos ao mesmo tempo.
Em pouco mais de trinta minutos, somos apresentados a diversos ritmos latinos, como as cuecas "La Rosa Y El Clave" e "Rio Limay", esta contrastando os violões, piano e bandoneón com majestosos solos de flauta e xilofone, e as canções populares e dançantes presentes no joropo "Lo Que Mas Quiero" e no merengue "Marula Sanchez".
Contra-capa do LP de estreia dos argentinos |
A voz de Susana destaca-se na guajira "Pobre Mi Tierra" e em "Elegia Sobre Un Poema", onde ela realmente assombra, e os destaques ficam para as instrumentais "El Baile del Pajarillo" (joropo venezuelano), "Zamba de Invierno", ambas com um show de Castiñeira e Pardo, "Galopa del Mamboreta", uma galopa com uma empolgante variação de ritmos entre piano e flauta, a andina "Viento de Yavi", todas com ótimas passagens de elementos prog com elementos do pampa, e a mágica chacarera "Piedra Y Madera", sem sombra de dúvidas a melhor e mais elaborada canção do LP.
São canções curtas, mas com um belo apelo emocional, que indicavam um promissor caminho para o quinteto, que na capa do LP, mostrava suas influências progressivas, imitando o Pink Floyd de Ummagumma ao posar com todos os seus instrumentos ao mesmo tempo.
Segundo álbum do grupo |
O álbum vendeu relativamente bem, angariando mais shows para o grupo e permitindo a gravação de um segundo LP no ano seguinte. Anacrusa II apresenta a primeira reformulação da banda, agora com o La Platense Rubén "Mono" Izaurralde no lugar de Pardo.
O grupo continua suas explorações musicais no ano seguinte, e Mono foi A substituição, dando uma nova face para o grupo, já que além de tocar muito bem, também canta, aqui em "Rio Manzanares".
O grupo continua suas explorações musicais no ano seguinte, e Mono foi A substituição, dando uma nova face para o grupo, já que além de tocar muito bem, também canta, aqui em "Rio Manzanares".
Contra-capa de Anacrusa II |
O álbum possui canções populares de diferentes países, como a citada "Rio Manzanares" (canción venezuelana), "Coplas de Cundinamarca" (coplas colombianas) e a dançante "Palmero" (marinero peruana), além de "Homenaje", uma cueca legitimamente portenha, e que está no lado B.
Mas com a dolorida "Polo Coriano", o grupo surpreende nas partes instrumentais, enaltecidas nas pérolas "Zamba de la Despedida", destacando o órgão de Susana, e a suíte "Campo Sur", divida na suave "Saque Mi Corazón de la Tierra Quemada", com violão, flauta e piano dividindo as atenções, e a estonteante "Calcufurá", uma incrível canção na qual Susana usa e abusa das notas do piano, e Mono faz misérias com a flauta, encerrando de forma fantástica esse belíssimo álbum, e mostrando os caminhos progressivos que o grupo iria seguir em breve.
União dos dois primeiros LPs em um único CD |
Anacrusa e Anacrusa II foram posteriormente relançados em um único CD, chamado Anacrusa (2001), trazendo todas as canções de ambos os álbuns.
O mercado latino começava a receber de braços abertos o quinteto, que não parava de produzir espetáculos cada vez mais concorridos. Porém, em plena ditadura militar, sobreviver como músico no país vizinho tornou-se uma tarefa complicada, e desta forma, as dificuldades financeiras começaram a aparecer.
Mesmo assim, o quinteto seguiu na luta, e com uma nova formação tendo Castiñera, Mono, Susana, Bruno Pizzamiglio (oboé), Quique Alvarado (baixo e sintetizador), Juan Carlos Lícari (bateria) e Ricardo Martinez (percussão), lançam Anacrusa III, em 1975, pelo pequeno selo Global.
O mercado latino começava a receber de braços abertos o quinteto, que não parava de produzir espetáculos cada vez mais concorridos. Porém, em plena ditadura militar, sobreviver como músico no país vizinho tornou-se uma tarefa complicada, e desta forma, as dificuldades financeiras começaram a aparecer.
Mesmo assim, o quinteto seguiu na luta, e com uma nova formação tendo Castiñera, Mono, Susana, Bruno Pizzamiglio (oboé), Quique Alvarado (baixo e sintetizador), Juan Carlos Lícari (bateria) e Ricardo Martinez (percussão), lançam Anacrusa III, em 1975, pelo pequeno selo Global.
O último disco do grupo lançado antes do exílio |
Se em Anacrusa II, os argentinos colocavam o pé levemente no progressivo, no terceiro disco a situação inverte-se, já que esse é o álbum mais folclórico do grupo, que como todos os demais, possui uma distinção muito clara nos ritmos apresentados.
Nas canções com vocal, temos o joropo de "Pullas", com os vocais divididos entre Mono e Susana, as vidalas "Lamento del Salitral" e "Tanta Lagrima Regada", a marinera peruana de "M'hey de Guardar", a valsa peruana "Maldito Amor" e a milonga "Milonga del Silencio", ambas com dramáticas interpretações de Susana.
Para manter a constante, os arranjos instrumentais do maestro Castiñeira são o que temos de melhor, engrandecendo cada vez mais o nome do grupo para os fãs, através das jóias "Polquita Cruceña", uma polca boliviana com um belo duelo de flauta e oboé, e "Los Capiangos", uma chaya típica representante da sonoridade Anacrusa, trazendo como novidade a presença do sintetizador.
A agitada candomble "Recuerdos de Monserrat", que serviria de base para outra canção do grupo no futuro, destacando a inclusão do xilofone na mesma, é um dos principais destaques, ao lado de "Horizontes Y Senderos", que traz lágrimas em suas três partes, uma mais bela que a outra, e totalmente distintas entre si, mostrando que é possível construir uma ótima canção repleta de variações em apenas cinco minutos.
A agitada candomble "Recuerdos de Monserrat", que serviria de base para outra canção do grupo no futuro, destacando a inclusão do xilofone na mesma, é um dos principais destaques, ao lado de "Horizontes Y Senderos", que traz lágrimas em suas três partes, uma mais bela que a outra, e totalmente distintas entre si, mostrando que é possível construir uma ótima canção repleta de variações em apenas cinco minutos.
Coletânea unindo Anacrusa III com canções inéditas |
Em 2005, esse álbum foi relançado com o nome Documentos 75-76, trazendo cinco bônus, que foram gravadas para o quarto álbum do grupo, o qual seria lançado em 1976, mas não chegou a sair. São elas: "Cuando Llegare", "Vidala de la Tierra Conocida", "Cuando Salgo a Sabanear", "Polo Margariteno" e "Carnavalito Y Vidala", sendo Documentos 75-76 um álbum de mais fácil acesso em comparação aos demais.
A ditadura passou a ficar cada vez mais pesada entre os hermanos, obrigando o grupo a retirar-se do país, buscando exílio na França em 1977. Apesar da saída às pressas de sua Terra Natal, os ares europeus foram revitalizadores, já que lá, o quinteto ampliou seus conhecimentos musicais.
Amigos argentinos e da América Latina em geral, também exilados na França, passaram a frequentar as residências de Susana e Castiñeira, surgindo um novo Anacrusa, agora com Susana, Castiñeira, Pardo e Bruno, Daniel Sbarra (guitarras), Jorge Trasante (bateria e percussão), Juan Mosalini (bandoneon) e Phillipe Pages (piano, órgão). O que estava bom iria fica incrivelmente melhor a partir de então. Os novos rumos ainda levaram o grupo a assinar com o mega selo Philips, e em 1978, chega às lojas El Sacrificio.
Amigos argentinos e da América Latina em geral, também exilados na França, passaram a frequentar as residências de Susana e Castiñeira, surgindo um novo Anacrusa, agora com Susana, Castiñeira, Pardo e Bruno, Daniel Sbarra (guitarras), Jorge Trasante (bateria e percussão), Juan Mosalini (bandoneon) e Phillipe Pages (piano, órgão). O que estava bom iria fica incrivelmente melhor a partir de então. Os novos rumos ainda levaram o grupo a assinar com o mega selo Philips, e em 1978, chega às lojas El Sacrificio.
O melhor álbum do grupo, e o primeiro do exílio |
Desde a estonteante entrada com "El Pozo de los Vientos", e uma impecável mistura de elementos progressivos com latinos, percebemos que o grupo cresceu e muito. Guitarra, baixo e piano misturam-se a flauta, oboé e percussões de uma maneira ímpar, sendo que o trabalho de Sbarra é perfeito, com suas distorções puramente psicodélicas, apresentadas na recriação de "Los Capiangos" e em "Quien Bien Quiere", ambas com um belíssimo arranjo orquestral.
O trabalho instrumental de Castiñeira e Susana é elevado para o nível mais alto, como atestam "Sol del Fuego", com uma ótima participação do bumbo-leguero, e na longa suíte "Tema de Anacrusa", uma canção merecedora de ser chamada de Maravilha, com seus treze incansáveis minutos de variações e andamentos mágicos criados por piano, flauta, saxofone, baixo, guitarras e percussão, além de fantásticas vocalizações de Susana.
Contra-capa do vinil (acima) e do CD (abaixo) de El Sacrificio |
Aliás, o que ela faz com a voz na faixa-título assusta até fantasmas, e quando ouvimos os cinco minutos da Maravilhosa "Homenaje a Waldo", não tem como evitarmos as lágrimas e a tradicional frase cuja sigla é "PQP!", tamanha a emoção e perfeição que os músicos exprimem na mesma.
Um disco perfeito, que ao lado de La Biblia (Vox Dei) e Artaud (Pescado Rabioso), está no topo dos Melhores álbuns já lançados por um grupo da Argentina.
O Anacrusa seguiu como um grupo errante, atuando pouco mas concentrando-se bastante nas composições, além de uma grande mudança na formação, agora com Castiñeira e Susana acompanhados de Narciso Omar Espinosa (violão), Tony Bonfyls (baixo), André Arpino (bateria), Jacky Tricore (guitarra), Alain Human (percussão), Rubem Sanchez Resta (percussão), Patrice Mondon (violino), Pierre Gozzes (saxofone), Claude Maisonneuve (oboé) e Raymond Guiot (flautas).
O Anacrusa seguiu como um grupo errante, atuando pouco mas concentrando-se bastante nas composições, além de uma grande mudança na formação, agora com Castiñeira e Susana acompanhados de Narciso Omar Espinosa (violão), Tony Bonfyls (baixo), André Arpino (bateria), Jacky Tricore (guitarra), Alain Human (percussão), Rubem Sanchez Resta (percussão), Patrice Mondon (violino), Pierre Gozzes (saxofone), Claude Maisonneuve (oboé) e Raymond Guiot (flautas).
Segundo disco do período de exílio |
O segundo disco do exílio demorou quatro anos para ser parido, com o nome de Fuerza, e é um forte concorrente para El Sacrificio à posição de melhor do grupo. Temos um álbum muito elétrico, levado principalmente pela guitarra ácida de Tricore.
As únicas canções que trazem um pouco das origens são a quase Weather Report "Monserrat", inspirada nos acordes de "Recuerdos de Monserrat", e a bela faixa-título, com o bumbo leguero se fazendo presente, mas destacando exclusivamente o arrepiante arranjo vocal, mas no mais, o Anacrusa apresenta novidades em seu som, como as baladas "En Paz" e "Vidala de la Tierra", essa com um ótimo arranjo orquestral, e até mesmo jazz-fusion, na incrível "Presion", com Susana dando show ao piano, além de um duelo inesquecível de violino e guitarra.
Contra-capa de Fuerza |
A maravilhosa recriação para "Calfucurá" é tão sublime quanto a versão de Anacrusa II, mas muito mais potente com a presença dos metais e das cordas, além do tom medieval empregado na parte final da canção. O melhor fica para o final, com a estonteante "Chaya", repleta de inspirações diversas, desde o jazz ao tango, e a suíte "Voz del Agua", que certamente irá fazer você pensar "Por que eu não ouvi essa banda antes?", tamanha a profundeza emocional que o Anacrusa nos apresenta ao longo dos seus nove minutos de duração, nesta que é a canção mais trabalhada orquestralmente na carreira do grupo.
Infelizmente, após o lançamento de Fuerza, o grupo separou-se, com alguns músicos voltando para a Argentina e outros permanecendo na Europa. Nesse período, o Anacrusa entrou na obscuridade, e somente Castiñeira ganhou algum destaque, compondo trilhas para diversos filmes franceses e argentinos. Somente nos anos 90, uma nova reunião entre Susana e Castiñeira veio a ocorrer, e a mesma acabou gerando mais um registro fonográfico, o quinto do grupo.
O retorno da dupla Castiñeira / Lago, em 1995 |
13 anos depois de Fuerza, Castiñeira e Susana reencontraram-se em Buenos Aires, registrando Reencuentro (1995), com a participação de diversos músicos convidados. No álbum, revezam-se Arturo Schneider e Rubén Mono Izarrualde (flautas), Adalberto Cevasco e Quique Alvarado (baixo), Enrique "Zurdo" Roizner e Carlos Carli (bateria), Narciso Omar Espinoza e Ricardo Lew (guitarras), além de Bruno Pizzamiglio (oboé), Daniel Binelli (bandoneón), Hugo Pierre (clarinete e saxofone) e Víctor Skorupski (flauta e saxofone).
O grande momento desse reencontro é a faixa que abre o CD, a suíte "Tristes Llanos", com épicos quinze minutos instrumentais nos quais piano, guitarra, flauta e saxofone são os senhores de uma musicalidade quase esquecida nos anos 90.
O grande momento desse reencontro é a faixa que abre o CD, a suíte "Tristes Llanos", com épicos quinze minutos instrumentais nos quais piano, guitarra, flauta e saxofone são os senhores de uma musicalidade quase esquecida nos anos 90.
Contra-capa de Reencuentro |
Depois, temos quinze canções que variam bastante os estilos, algumas reaproveitadas de obras já compostas por Castiñeira, com Susana prestando sua voz para "Alla Viené Un Corazón" , "Ya Me Voy", e a excepcional "Hasta Volver", que são as canções mais folclóricas do álbum. Como sempre, os momentos instrumentais são os que mais chamam a atenção, destacando "Gotas", "Violento", "Bajo Otro Sol", "Noche de Cueca", Prisión" e "Glaciares", todas com complexos e belos arranjos.
Há ainda canções que perambulam entre agradar ou não, que são as baladas vocais "Procesión" e "Estilo", e as instrumentais "De Aca Y de Alla", com flautas andinas fazendo o solo principal, mas com um magnífico bandoneón na sua segunda parte, e "Subiendo Cuestas", tendo como destaque o charango, mas um ritmo muito sonolento.
Encarte de Reencuentro |
Os deslizes ficam para "Canto a la Tierra" e "Elegía", totalmente descartáveis. Um disco ameno, que podia ser mais curto (principalmente nas canções com vocal), mas cuja importância é muito relevante, já que algumas pérolas são encontradas apenas aqui.
Seguiu-se um longo hiato novamente, e somente em 2005 os fãs puderam se surpreender com mais um lançamento do conjunto, Encordado.
O último álbum do grupo até o presente momento |
Com Susana, Castiñeira, Alejandro Santos (flauta, saxofone, quena, sikus), Hugo Pierre (saxofone, flauta, clarinete), Ricardo Lew (guitarra, violão), Enrique "Zurdo" Roizner (bateria) e Allan Ballan (baixo, violoncelo), e apresentando também um quarteto de cordas, bem como diversos convidados, o Anacrusa surpreendeu os fãs com Encordado, no qual o o grupo homenageia o Brasil com "Nordestino", uma canção que, como o nome diz, remete ao nordeste brasileiro através da flauta, cordas e percussão.
No álbum, há uma recriação mais lenta para "El Sacrificio", e também, "Mamboreta", nada mais que uma versão moderna para "Galopa del Mamboreta", do primeiro álbum. As canções populares soam cansativas, e aqui encaixam-se "Rema Rema", "Rio Rio", "La Partida" e "Atardecer". Por outro lado, o instrumental continua impecável, como atestam "Prision", "Galeron" e "Cautiva". "Candombe de Alain", "Cruz de Sal" e "Zamba de Invierno" são o trio de ouro de um álbum mediano, mas bem melhor que seu antecessor.
No álbum, há uma recriação mais lenta para "El Sacrificio", e também, "Mamboreta", nada mais que uma versão moderna para "Galopa del Mamboreta", do primeiro álbum. As canções populares soam cansativas, e aqui encaixam-se "Rema Rema", "Rio Rio", "La Partida" e "Atardecer". Por outro lado, o instrumental continua impecável, como atestam "Prision", "Galeron" e "Cautiva". "Candombe de Alain", "Cruz de Sal" e "Zamba de Invierno" são o trio de ouro de um álbum mediano, mas bem melhor que seu antecessor.
O único registro ao vivo do grupo |
Uma pequena série de apresentações acabou fazendo com que mais um registro ocorresse, dessa vez do álbum En Vivo, registrado em novembro de 2005, no Teatro Presidente Alvear, em Buenos Aires, e lançado no mesmo ano.
Desde então, Castiñeira segue sua carreira como compositor, e aguarmos por uma reunião que parece, por enquanto, existir apenas nos sonhos dos fãs de uma das melhores bandas da América do Sul.
Desde então, Castiñeira segue sua carreira como compositor, e aguarmos por uma reunião que parece, por enquanto, existir apenas nos sonhos dos fãs de uma das melhores bandas da América do Sul.
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