No ano de 1973, o Genesis já figurava como uma das mais importantes bandas do rock progressivo britânico. Graças ao sucesso da turnê de Foxtrot, com o vocalista e flautista Peter Gabriel exibindo uma série de fantasias e encenações que chamavam muito a atenção de um público curioso pela teatralidade apresentada nos palcos, faltava apenas a consolidação através da venda de um single.
O grupo conquistou isso através de Selling England by the Pound, seu quinto disco de estúdio, e que completará 40 anos depois de amanhã, dia 12 de outubro, quando irá receber uma homenagem especial aqui no site Consultoria do Rock. Esse mesmo álbum, que foi o mais vendido na carreira do Genesis até aquele momento, é recheado de Maravilhosas canções, e a tarefa de escolher apenas uma para dar sequência a série Maravilhas do Mundo Prog, que já apresentou "Stagnation", "The Musical Box" e "Supper's Ready".
Mike Rutherford, Phil Collins, Steve Hackett, Peter Gabriel e Tony Banks |
A canção escolhida acabou sendo aquela em que os músicos do Genesis destacam-se mais que as fantasias de Gabriel. Não que as canções "fantasiadas" sejam ruins, só que "Firth of Fifth" é uma exaltação ao talento de Tony Banks (teclados, mellotron, piano, violões), Steve Hackett (guitarra, violões), Mike Rutherford (baixo, violões) e Phil Collins (bateria), além do próprio Gabriel na flauta.
O nome da canção é uma paranimásia, ou seja, uma junção de duas palavras parônimas (com sonoridade semelhante) em uma mesma frase, popularmente conhecido como trocadilho, e refere-se ao estuário de River Forth, na Escócia, conhecido como Firth of Fourth.
O estuário de River Forth, popularmente conhecido como Firth of Fourth, que inspirou nossa Maravilha de hoje. |
Terceira canção do Lado A, após as clássicas "Dancing With the Moonlight Knight" e "I Know what I Like (In Your Wardrobe)" ela abre com sua incrível introdução ao piano, daqueles riffs introdutórios inesquecíveis, que até um macaco ébrio reconhece, com Banks mostrando suas qualidades sozinho ao estilo clássico e trazendo a voz rasgada de Gabriel em um andamento muito suave de bateria, com o órgão e a guitarra fazendo mudanças suaves de acordes. Percebemos ao fundo as bonitas escalas de baixo, executadas com primor por Rutherford, e após duas estrofes vocais, Gabriel fica acompanhado apenas pelo dedilhado de violões e por acordes de moog e órgão. Collins faz marcações nos pratos e chimbais, e os acordes que acompanham os vocais de Gabriel são cada vez mais longos, com o dedilhado incessante de violões ao fundo, retornando então ao ritmo cadenciado e encerrando a primeira parte da letra.
Entramos no coração instrumental de "Firth of Fifth", primeiramente com os acordes de piano e as marcações que dão espaço para Gabriel solar na flauta, arrancando lágrimas dos sulcos do vinil com um tema mais do arrepiante. No meio do solo de flauta, Banks passa a solar ao piano, dando velocidade para a parte instrumental e ganhando o auxílio da marcação do baixo e da bateria, pulando então para o moog, aonde repete o tema da introdução, agora com Collins exibindo-se com viradas e marcações complicadíssimas, acompanhadas primordialmente pelo baixo.
Hackett então surge com arpejos na guitarra, enquanto Banks encerra seu solo no moog, e assim, somos levados ao ponto máximo da canção, que é o solo de guitarra de Hackett. Sem ser virtuosístico, é apenas uma série de notas que capricham no vibrato e nos arpejos, acompanhadas apenas por acordes de órgão e a marcação de baixo e bateria, mas que causam arrepios até em uma formiga. O tema central do solo é talvez o ponto mais reconhecido da carreira de Hackett, ainda mais com a entrada do mellotron acompanhando suas notas, e chega a ser fantasmagórico o que as caixas de som estão retumbando nas paredes.
O solo continua, com Hackett atribuindo mais uma série de notas, e então, ele repete novamente o tema principal de seu solo, tendo o mellotron ao seu lado, como um fiel escudeiro, encerrando um dos momentos mais mágicos do rock progressivo com a suavidade e volúpia de uma borboleta no ar, retornando então ao vocal de Gabriel, que encerra a letra dessa Maravilha acompanhado por órgão, mellotron, as bases de baixo e guitarra e as viradas de bateria, deixando apenas Banks com o piano dedilhando por alguns segundos.
O único ponto questionável dessa obra-prima é do que se trata a letra. Escrita por Banks em parceria com Rutherford (pequenos trechos), sendo que o próprio Rutherford confessou anos depois que é uma das piores letras que já colaborou. Basicamente, é um passeio por um rio, que guarda as lembranças de um passado no qual os homens o utilizava apenas para o trabalho, sem valorizar a beleza de seus caminhos. Esse rio possui cachoeiras, ninfas sedutoras, até desaguar no mar e ser engolido por ele (no caso, o Deus Netuno), enquanto seu caminho está em constante mutação. Desta forma, Banks faz uma alusão com a dificuldade dos homens em aceitar e enfrentar seus destinos.
Em contraste com a simplicidade da letra, sem sombra de dúvidas, o momento máximo do álbum é o solo de Hackett, que facilmente figura entre os melhores solos de guitarra do rock progressivo, ao lado de David Gilmour em "Comfortably Numb", Steve Howe em "Yours is no Disgrace" e Alex Lifeson em "La Villa Strangiato". No álbum, consta que a canção é de autoria do quinteto, mas posteriormente, Rutherford revelou que Banks é o responsável por criar toda a composição. Sua importância é tão grande que, enquanto Hackett permaneceu na banda, ela sempre foi interpretada ao vivo. A introdução ao piano acabou sendo retirada das apresentações a partir da turnê do Outono de 1973, pois Banks achava que o som retirado do piano elétrico não tinha o mesmo efeito que a versão original.
Selling England by the Pound possui no mínimo mais três candidatas a Maravilhas Prog: a já citada "Dancing With the Moonlight Knight", "The Battle of Epping Forest" e "The Cinema Show", sendo a última uma das preferidas da maioria dos fãs do grupo. No próximo sábado, contarei um pouco de detalhes dessas canções, deixando espaço para em um futuro narrarmos cada uma delas com os méritos que elas merecem.
Após Selling England by the Pound o Genesis fez uma bem sucedida turnê, na qual as fantasias (e a imagem) de Gabriel não pararam de crescer. O auge do egocentrismo do vocalista acaba sendo seu último álbum no grupo, o incrível The Lamb Lies Down on Broadway. Uma verdadeira nebulosa de Maravilhas Prog, o disco que narra as viagens alucinógenas de Rael também é de difícil seleção para apenas uma única canção representá-lo. A escolhida para daqui quinze dias fica por conta do principal momento da história, "The Colony of Slippermen", que irá encerrar a nossa série de Maravilhas Prog feitas pelo Genesis, já que certamente, muitas outras quintas-feiras nos próximos anos irão nos brindar com alguma Maravilha advinda de Tony Banks e cia.
Maravilhoso!!!! A música e como vc a descreveu!!!!
ResponderExcluirMuito obrigado por seu comentário Alexxi. Abraços
ExcluirNão existe comentários ante uma maravilhosa qualidade musical como está, agora só está em saber quando voltam a se juntarem±seu pai Phill e com a volta de Peter e Steve, seria maravilhoso e não esperemos muito ou que alguma coisa de ruim aconteça né!!
ResponderExcluirOlá meu caro. Creio que essa reunião infelizmente não ocorrerá mais. Phill está na capa da gaita, e acho que peter e steve não tem mais saco para aguentar o tony
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