Por
que a gente compra um DVD de um show? Bom, em primeiro lugar, para os
colecionistas é uma "figurinha a menos" no seu álbum. Para os que
apreciam um bom som, é uma forma de ver como funciona in the act sua banda favorita, e para quem não tem no que gastar dinheiro, é só um apetrecho a ser levado para casa.
Dito
isso, por que então alguém vai assistir a um show de rock. Obviamente,
por que é fã da banda/artista ou sabe da importância da mesma. Mas duas
vezes o mesmo show, por que? Gastar uma certa quantia em dinheiro para
se ver quase duas horas de uma apresentação na qual você já sabe o que
vai acontecer na maior parte da mesma, ao invés de apenas comprar um DVD
e ficar assistindo no quentinho e confortável sofá de sua casa?
É,
mas tem certos shows que não é um DVD que vai explicar. Somente estando
lá, ouvindo a adrenalina ser exalada pelas caixas de som, a vibração de
uma plateia que ainda não presenciou um cataclisma sonoro como o que
você já ouviu, e claro, a sensação de voltar ao passado e viajar por
solos inimagináveis, entre outros pormenores, que me levaram novamente a
ver o UFO em ação.
Sou
um grande fã da banda, e quando soube de sua primeira vinda ao Brasil
(em 2010) não medi esforços para assistir Phil Mogg (vocais), Andy
Parker (bateria), Paul Raymond (teclados, guitarras, vocais) e Vinnie
Moore (guitarras) em um show inesquecível na cidade de São Paulo, no dia 26 de maio daquele ano.
Saí
de lá estupefato com uma performance avassaladora, e ainda mais fã da
banda. Além de o grupo tocar alguns dos principais sucessos com uma
precisão cirúrgica, o carisma e a simpatia de Vinnie Moore
me conquistaram, e desde então, comecei a buscar sua bela carreira
solo, e claro, conhecer mais sobre o cara que simplesmente substituiu
Michael Schenker, e o fez com tamanha propriedade que hoje pode se dizer
que ninguém mais sente falta do alemão briguento e carrancudo.
O palco do CIEE acende suas luzes para o UFO
E
assim me fui, de mala e cuia, atravessar o Rio Grande do Sul em mais de
dez horas de viagem, para conferir de perto toda a energia do grupo,
que veio pela primeira vez à Porto Alegre através da ótima ação da
Branco Produções. O show aconteceu no belo Teatro do CIEE, um local
pequeno, mas muito acolhedor, que faz as bandas que lá tocam muito mais
próximas de seus fãs, tornando o show um tanto quanto diferente.
Sem
banda de abertura e com um pequeno atraso, o UFO subiu ao palco tendo o
quarteto acima citado e o baixista Rob de Luca, ótimo músico que
substituiu nada mais nada menos que Pete Way, formador da banda lá no
final dos anos 60, quando ainda se chamavam Hocus Pocus. de Luca
Esforça-se para preencher o palco, e toca muito bem, só que é inegável o
quanto as loucuras de Way em cima do palco são ausentes. De cara,
percebemos que a noite seria diferente, pois o clima no espaço aéreo
gaúcho estava propício para contatos imediatos de terceiro grau, e que
apesar de não causar danos aos presentes, fariam seus estragos
temporários durante toda a noite de 12 de maio de 2013.
O
grupo entrou enquanto as caixas de som ainda rolavam um rock anos
sessenta, já com Mogg agradecendo e dando boa noite. Anunciando que iam
tocar "Some experimental rock 'n' roll music", Moore detonou o riff de "Lights Out", e assim começaram as duas horas mais intensas que o Teatro do CIEE já presenciou.
A mão mágica de Vinnie Moore (Phil Mogg a direita)
A mão mágica de Vinnie Moore (Phil Mogg a direita)
Mogg e cia. passearam pela carreira do UFO desde a entrada de Michael Schenker (no seminal Phenomenon, de 1974) até o mais recente Seven Deadly (lançado ano passado) e, diferente da turnê de 2010, concentrada exclusivamente nos clássicos que acabaram registrados em Strangers in the Night
(1979, considerado por muitos como o melhor disco ao vivo da história),
aqui houve espaço para diversas surpresas, e o resgate de obscuridades
quase desconhecidas por terras-tupiniquins. Claro que os dois primeiros
discos do grupo (UFO e Flying, de 1970
e 1971 respectivamente) perderam seus espaços nas apresentações do
grupo desde meados da década de 70, assim como os álbuns dos anos 80 se
quer são cogitados por algum fã em aparecer no set list do grupo, ainda
mais por que no período entre 1974 e 1979, o UFO produziu material
suficiente para no mínimo três set lists de duas horas, um diferente do
outro, e todos excepcionais.
Em
Porto Alegre, primeiro o quinteto tratou de ganhar logo o jogo para a
plateia formada em grande número por homens entre 30 e 50 anos, que
conheceram o UFO muito mais por influência de nomes como Scorpions e do
próprio Michael Schenker Group do que por méritos brazucas, já que
poucos álbuns dos ingleses foram lançados no país (inclusive um deles, No Heavy Pettin', de 1976, saiu com as canções de outro álbum Force it, de 1975 - só no Brasil mesmo). Na sequência de "Lights Out", o UFO mandou "Mother Mary", dedicada à todas as mães do mundo.
Mogg
então passou a demonstrar seu lado "apresentador de programa de
televisão", e frequentemente começou a contar histórias e a divertir a
plateia. Muito discontraído, elogiou a acústica do Teatro do CIEE e
também a produção do espetáculo (que por sinal fez um excelente trabalho
tanto nas luzes quanto no som, o qual esteve impecável o tempo
inteiro), e apresentou duas canções de Seven Deadly, "Fight Night" e "Wonderland". Ambas ganharam mais peso ao vivo, e encaixaram-se muito bem no repertório do UFO.
Rob de Luca
Após as duas canções de Seven Deadly, meu lado fã tomou conta de mim. Até então, estava me comportando como um mero espectador, mas ao ver a proximidade que estava de Moore, não resisti, e chamei ele no canto do palco, entregando para ele uma palheta personalizada do site consultoriadorock.com, e pedindo em troca a palheta dele. O guitarrista me atendeu gentilmente, aceitando a troca, mas não parou por aí. Para minha grata surpresa, ele fez um sinal de positivo para a palheta e seguiu tocando com ela(!). Uma alegria enorme preencheu os poros deste que vos escreve. Não tenho como expressar a satisfação de ver um ídolo tocar com um presente dado pelo fã, e não foram segundos, foram nada mais do que seis canções ao todo, com a palhetinha do Consultoria do Rock nas mãos de um dos maiores guitarristas do mundo.
Rob de Luca
Após as duas canções de Seven Deadly, meu lado fã tomou conta de mim. Até então, estava me comportando como um mero espectador, mas ao ver a proximidade que estava de Moore, não resisti, e chamei ele no canto do palco, entregando para ele uma palheta personalizada do site consultoriadorock.com, e pedindo em troca a palheta dele. O guitarrista me atendeu gentilmente, aceitando a troca, mas não parou por aí. Para minha grata surpresa, ele fez um sinal de positivo para a palheta e seguiu tocando com ela(!). Uma alegria enorme preencheu os poros deste que vos escreve. Não tenho como expressar a satisfação de ver um ídolo tocar com um presente dado pelo fã, e não foram segundos, foram nada mais do que seis canções ao todo, com a palhetinha do Consultoria do Rock nas mãos de um dos maiores guitarristas do mundo.
A sequência de canções citadas começou com "Cherry", clássico do álbum Obsession (1978), "Let it Roll" (de Force It), na qual Mogge pediu para uma moça servir como tradutora dele, mas a mesma acabou negando-se, seguiu com mais duas de Seven Deadly ("Mojo Town" e "Burn Your House Down"), "Only You Can Rock Me" (outra de Obsession) e encerrou-se com a imortal "Love to Love" (Force It), na qual a palhetinha voou das mãos de Moore para um fã, como atesta esse vídeo, filmado ao lado de onde eu estava.
Durante
essas canções, não deu para segurar a emoção, e Moore foi extremamente
atencioso com quem se colocava na frente do palco. Assim como foi em
2010, frequentemente ele chegava nos fãs, exibindo-se para as câmeras e
"emprestando" a guitarra para o fã tocar. Eu me esbaldei apertando a
alavanca da guitarra, assim como outros tocavam nas pernas do
guitarrista, no braço do instrumento, ou apenas imitavam o jeito de
tocar de Moore, que deitava-se sobre nossas cabeças, como pedindo a
benção aos fãs. Algo raro de um gênio da guitarra. Queria ver um
Malmsteen, um Vai ou um Satriani (três guitarristas do mesmo porte)
fazer algo parecido com isso. Indecifrável. Ver, sentir e ouvir isso
tudo de novo não tinha preço, e nesses minutos, toda a distância e
cansaço haviam sido superados.
de Luca, Moore e Mogg
Durante as canções, Mogg não parou com suas brincadeiras, e principalmente, de elogiar a plateia e a produção. Encantado com o que estava presenciando (a maioria das canções era aplaudidas com uma vibração que fazia tremer o Teatro), por várias vezes Mogg dirigiu-se para a frente do palco para agradecer aos fãs, e conversar individualmente com alguns, além de dedicar determinadas canções para fãs que estavam na primeira fila.
de Luca, Moore e Mogg
Durante as canções, Mogg não parou com suas brincadeiras, e principalmente, de elogiar a plateia e a produção. Encantado com o que estava presenciando (a maioria das canções era aplaudidas com uma vibração que fazia tremer o Teatro), por várias vezes Mogg dirigiu-se para a frente do palco para agradecer aos fãs, e conversar individualmente com alguns, além de dedicar determinadas canções para fãs que estavam na primeira fila.
Com
os dez viajantes minutos de "Love to Love" (a balada mais pesada que
uma banda já gravou), o Teatro veio abaixo, principalmente com o solo
repleto de virtuosismo e melodia saído das mãos de Moore, e com o
público na mão, houve espaço para o UFO entrar em The Visitor (2009), o melhor álbum da era Moore, interpretando "Hell Driver", e surpreender à todos com "Venus", épica faixa de Walk on Water, álbum que marcou o - primeiro - retorno de Michael Schenker ao grupo, já em 1994.
Na
frente do palco, as vibrações causadas pelos bumbos de Parker faziam o
coração bater mais forte, enquanto as escalas de Raymond e de Luca
auxiliavam Moore a arrancar gritos estridentes de sua guitarra,
fazendo-nos imaginar: "Como esse cara está conseguindo fazer isso?".
Moore e Mogg
Um
emocionado Mogg mais uma vez (e foram várias até então), agradeceu e
muito a plateia, e disse claramente: "Eu nunca fiz isso, mas essa noite
eu faço questão de fazer isso ..." e largou o microfone de mão, chamando
um roadie para o palco e descendo do mesmo em direção a plateia. Eu fui
um dos que auxiliou Mogg a descer do palco, e ele, muito gratificado,
abraçou aos fãs, e encarecidamente, pediu ao roadie que tirasse uma foto
dele com a plateia.
Claro
que já vi vários artistas descerem do palco para abraçar os fãs, mas
esperar isso de Mogg, um vocalista tão frio e recluso, foi chocante. Ele
voltou ao palco, e podia se ver a emoção. Novamente ajudei ele a subir
ao palco, ele me agradeceu, e também agradeceu aos LPs do UFO que eu
havia levado na tentativa de um autógrafo, que aquela altura, não
importava mais. Com um sorriso na face, soltou "Tonight, it's too hot
..." e foi a deixa para vir a clássica "Too Hot to Handle",
a qual o público gritou muito alto, e cantou palavra por palavra junto
com o vocalista, que por vezes deixou apenas os fãs cantando. Nessa
canção, Moore exibiu-se com graça ao colocar a guitarra nas costas e
fazer um solo magistral, que poucos conseguiriam fazer com a guitarra na
posição normal. de Luca aproveitou-se do momento e também tocou alguns
segundos com o baixo atrás de suas costas, e claro, no final da canção,
quando Moore entoou o tema do filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau,
o guitarrista foi extremamente ovacionado!
Momento do show em que Phil Mogg tira foto com a plateia (meu braço direito aparece no canto esquerdo da foto) |
Para
completar a primeira parte do show, o público gritava por "Rock
Bottom", e Moore não deixou por menos, soltando o riff dessa que
particularmente, considero o melhor solo de guitarra em todos os tempos.
Com quinze minutos de duração, novamente o Teatro do CIEE veio abaixo,
curvando-se perante a genialidade e o virtuosismo de Moore. Ele repetiu
nota por nota o solo original de Schenker, e fez muito mais. Abusou da
guitarra como se ela fosse uma frágil presa, fazendo estripulias que
muito guitarrista metido a tocador não chega nem perto de fazer. Parker,
de Luca e Raymond, ficaram apenas fazendo a base, embasbacados como
todos os presentes com o que Moore estava fazendo, de olhos fechados,
ora deitado sobre a cabeça dos fãs, ora diante de todos, no centro do
palco.
Ele
sorria ouvindo nossas vocalizações acompanhando a melodia de sua
guitarra nos temas consagrados do solo, balançando a cabeça como um
sinal de positivo, e essa retribuição fazia-nos cantar mais alto, e ele
respondia com mais sorrisos e mais solos. Os minutos passaram-se
despercebidos, e quando o solo acabou, foi como um êxtase orgásmico:
todos estavam perdidos, com a cabeça girando após aquela maravilhosa
experiência, sem saber o que era para acontecer, inclusive o
guitarrista, que talvez tenha feito seu solo mais inspirado em toda a
sua carreira.
Alguns
segundos passaram-se para que Moore voltasse à si e puxa-se de novo o
riff inicial de "Rock Bottom", ao mesmo tempo que Mogg entrou sacudindo a
camiseta e dizendo "Vinnie Moore, from Delaware", e os aplausos eram
tão altos que encobriam o volume da guitarra, assim como assovios e
gritos de pessoas que nunca imaginariam ver e ouvir algo parecido. "Rock
Bottom" acabou, assim como a primeira parte do show, e todos passaram a
entoar "U - F - O", pedindo o retorno da banda.
Moore
foi o primeiro a aparecer, distribuindo palhetas e agradecendo bastante
à todos, que agora já estavam em pé, ocupando o "gargarejo" do palco.
Os demais músicos apareceram, e depois de Mogg agradecer mais uma vez,
veio a clássica "Doctor Doctor".
Descrever essa canção é impossível, até por que, apesar de não ser a
favorita de muitos, ela é como uma "Stairway to Heaven", uma "Rock and
Roll All Night" ou uma "Smoke on the Water". Não tem como não cantar,
gritar, espernear e pular ao som desse petardo, que foi apresentado para
alguns através do Iron Maiden, banda que nunca negou suas influências
no UFO (e que talvez nem existisse se em 1973 Steve Harris não tivesse
assistido a um show do grupo). Eu fui um dos que puxou o coro do riff
principal da canção, e fui agraciado com diversos sorrisos de Moore por
conta de minha atitude.
O
espetáculo encerrou-se com "Shoot Shoot", e todos saíram bestificados,
abduzidos pelos seres espaciais que se apresentaram para os mortais na
noite de doze de maio.
Ainda
houve tempo para uma breve sessão de fotos e autógrafos com Moore e de
Luca, que gentilmente apareceram no hall para conversar com dezenas de
fãs que os aguardavam ansiosamente com LPs, CDs e revistas alusivas à
banda. Mais uma vez, Moore provou que além de um grande guitarrista, é
um homem muito íntegro e humilde. Atendeu um por um com um sorriso nos
lábios e uma gratidão benevolente.
de Luca e a palheta do Consultoria do Rock (abaixo);
Moore e o bolha fã (acima)
Moore e o bolha fã (acima)
A
mim, me reconheceu como "the pick man", agradeceu a palheta, disse que a
mesma era ótima, e eu prontamente entreguei outra palheta, a qual ele
beijou e guardou no bolso de sua jaqueta (também entreguei uma palheta
para de Luca, que fez questão de fazer pose com ela).
A
turnê pelo Brasil está encerrando-se amanhã, com uma apresentação em
Goiânia, cidade na qual o grupo também se apresentou em 2010. Ontem, o
grupo tocou no Rio de Janeiro, e depois da terra brasilis,
volta para a Europa. Se você está em Goiânia, vá sem medo. A abdução é
pacífica, apesar de que certamente, você irá carregar eternamente as
marcas de duas horas insanas do mais alto nível do hard rock mundial.
Set List
1. Lights Out
2. Mother Mary
3. Fright Night
4. Wonderland
5. Cherry
6. Mojo
7. Burn the House
8. Only You Can Rock Me
9. Love to Love
10. Hell Driver
11. Venus
12. Too Hot to Handle
13. Rock Bottom
Bis
14. Doctor Doctor
15. Shoot Shoot
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